Sarabi escrita por Akiel


Capítulo 5
Capítulo IV - O Ódio


Notas iniciais do capítulo

Não pensei que fazia tanto tempo que tinha parado de escrever essa fanfic... Enfim, agora eu voltei! O/



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Sarabi

O Ódio

A chuva ainda se mantém presente na manhã seguinte e, em uma escola da cidade Dominó, quatro amigos conversam próximos à entrada. Encostado na parede e de frente para os amigos, Yugi explica tudo o que aconteceu durante e depois de seu encontro com Serena, inclusive o quase duelo contra Bakura.


– Então, agora, além de termos que cuidar do Marik também temos que nos preocupar com o Bakura? – Tristan pergunta, tentando compreender a situação.


– E as lembranças do faraó acerca da rainha, Yugi? – Téa pergunta – Tem alguma ideia de como podemos recuperá-las?


– Não. – Yugi diz com o olhar baixo – Serena não disse nada sobre como podemos recuperar essa parte das memórias do faraó, mas...


– O que é, amigo? – Joey diz, encorajando o outro rapaz a continuar.


– Bakura chamou Serena de ‘rainha’. – Yugi diz – Quando perguntei sobre isso, ela apenas disse que odeia ser chamada assim. Não disse o porquê de Bakura tê-la chamado assim.


– Talvez seja algo ligado ao fato dela ser uma guardiã da tumba. – Tristan arrisca – Ela é uma Ishtar, não é?


– É... – Joey diz, o olhar escuro observando a entrada – E acabou de chegar.


O comentário de Wheeler faz com que todos olhem na direção em que ele olha. De fato, Serena acaba de chegar e logo percebe o olhar do quarteto sobre si, um suspiro exasperando escapando por entre os lábios finos. Ignorando a atenção dispensada a si, a garota continua seu caminho, seguindo para a escada, mas tem seu caminho barrado por Tristan e Joey.


Observando a irmã de Ishizu, Yugi percebe que não há mais o pano preto ao redor do braço esquerdo dela. Serena usa o casaco que faz parte do uniforme, mas a mão esquerda está visível e não há nenhum tecido ao redor dos dedos longos e finos – diferente da noite anterior –, há apenas a tinta de uma tatuagem marcando a pele morena. Lembrando-se das marcas nas costas de Marik e na face de Odion, Yugi se pergunta até onde a tatuagem vai e se é essa mesma tatuagem o que Serena escondia sob o pano negro.


– Posso ajudá-los? – a garota pergunta, cruzando os braços sobre o peito e olhando para os rapazes que bloqueiam seu caminho.


– Serena... – Yugi começa, atraindo a atenção da Ishtar para si – O que aconteceu ontem? Por que você estava duelando contra Bakura?


– Com todo respeito, Yugi. – Serena responde – Isso não é da sua conta.


Imediatamente, a guardiã da tumba sente as costas colidirem contra a parede, as mãos de Joey fechadas firmemente em seu casaco. Tristan tenta fazer o amigo soltar a garota, já que a atitude do rapaz atraiu atenção demais dos outros alunos.


– Joey, solte-a antes que algum professor te veja! – Tristan diz, puxando o amigo para longe de Serena.


– Por favor, Serena. – Yugi pede – Explique-nos o que está acontecendo. – o pedido do garoto é ignorado pela guardiã da tumba, que permanece em silêncio.


– Esquece, Yugi. – Joey diz – Ela não vai nos ajudar. Talvez ela nem esteja do lado do faraó. Talvez ela esteja com o Marik, afinal, você disse que os dois são irmãos, não?


É a vez de Joey ter as costas prensadas contra a parede pelas mãos de Serena. Medo nasce no olhar escuro de Wheeler quando o rapaz sente a aura que emana da guardiã da tumba, uma aura forte, poderosa, sombria. Olhando nos olhos azuis, Joey é capaz de distinguir uma sombra dourada nas íris escuras.


– Acredite, Wheeler, eu tive a oportunidade. – Serena responde, o tom de voz baixo, controlado – Eu poderia ter me unido a Marik anos atrás, teria sido tão fácil. Mas não o fiz. – o toque da Ishtar no uniforme de Joey se torna mais firme e sua aura, mais forte – Você não sabe nada sobre mim. Então não questione minha lealdade ao faraó ou você pode acabar tendo sua alma presa no recanto mais escuro do Domínio das Trevas.


Dito isso, Serena solta Joey. Os outros três observam em silêncio, atônitos. Todos perceberam a aura sombria da guardiã da tumba, parecida demais com a de Marik quando possuído por sua parte maligna. A garota respira fundo e olha para Yugi, vendo o mesmo medo que havia nos olhos de Wheeler nos olhos do receptáculo do faraó.


– Eu gostaria de poder fugir disso. – A Ishtar sussurra, o olhar ainda preso ao do duelista – Eu não quero falar sobre isso aqui. Encontrem-me no museu depois das aulas.


Sem dizer mais nada, a guardiã da tumba volta a caminhar em direção à escada. Os quatro amigos apenas observam. O faraó, por sua vez, se encontra intrigado com o que foi dito por Serena. Do que ela quer fugir? E por que teria sido fácil se unir a Marik? Apesar das dúvidas, o antigo soberano sente que, se questionada, Serena não responderia.


– O que foi isso? – Tristan pergunta para ninguém em particular.


– Eu não sei, mas não estou a fim de repetir. – Joey diz.


– Pelo menos agora você sabe que não deve provocá-la – Téa comenta.


Yugi olha para o faraó, materializado ao seu lado. Você confia nela? O rapaz pergunta. Não. É a resposta dada pelo faraó. Há algo em Serena que impede o antigo soberano do Egito de confiar na guardiã da tumba, mesmo que ela afirme ser leal a ele. Algo extremamente familiar.


Yu-gi-oh!

Sozinha na sala de aula, Serena apóia os braços sobre a mesa e esconde o rosto nas mãos. O peito da Ishtar dói, assim como a cabeça, a alma. Ela está tão cansada disso! De procurar e não encontrar, de fugir e se esconder. Ah, teria sido tão mais fácil apenas ficar ao lado de Marik quando o lado negro dele nasceu! O ódio nos olhos do irmão... Ela conseguia compreender aquele ódio tão bem...


“Serena!”­ a voz de Marik ecoa na mente da guardiã da tumba, vinda de uma memória há muito enterrada. “Serena, por favor!” uma das mãos de Serena se afasta do rosto, os dedos se fechando sobre o braço esquerdo com força, como se quisessem rasgar a pele. “Serena!”


Ah, o ódio que nasceu naquela noite...


Yu-gi-oh!

– Você desistiu muito facilmente, Bakura. – Marik diz com um sorriso maligno nos lábios.


– Por que você não tenta derrotar a sua irmã em um duelo enquanto ela é protegida pelo faraó? – o antigo ladrão de tumbas responde.


Marik apenas ri da réplica. Ambos se encontram em um dos muitos becos da cidade. Frente a frente, os dois trocam provocações e insultos, se unindo momentaneamente apenas em beneficio de seu objetivo em comum. A derrota de Serena.


– E por que ao invés de derrotá-la... – Marik sugere – Você não tenta fazê-la trair o faraó?


– Ela é tão leal ao faraó quanto os outros. – Bakura responde – Deu para perceber no modo como ela duelava.


– Não. – o guardião da tumba diz, o sorriso aumentando – Serena vive no limite da lealdade.


– O que está dizendo? – o dono do Anel do Milênio pergunta, olhando de maneira desconfiada para o outro.


– Serena odeia o faraó.


– O quê?! – Bakura diz pergunta, incrédulo, e então ri – Está louco? Ela odeia o faraó?


– Sim. – o outro responde, o sorriso dos lábios não diminuindo – Se Odion e Ishizu não tivessem impedido, Serena teria se aliado a mim anos atrás.


– E você tem certeza de que esse ódio ainda existe?


– Ah, ele existe...


Duas altas gargalhadas ecoam nas sombras.


Yu-gi-oh!

Ao entrarem no museu, o grupo de amigos encontra Serena sentada em uma cadeira, próxima a entrada e em frente a uma grande placa de pedra, guardada em uma caixa de vidro. A primeira coisa que os quatro percebem é a coroa na mão da garota.


– Serena, você irá nos explicar o que está acontecendo? – a pergunta de Yugi chama a atenção da guardiã da tumba, que sorri, reconhecendo o recém-chegado.


– Sim, meu faraó. – a Ishtar responde – Sentem-se. – com um movimento da mão, Serena indica as cadeiras colocadas ao seu redor e que logo são ocupadas – Marik e Bakura estão atrás disso. – a garota mostra o artefato na mão – A coroa do faraó.


– Por quê? – Joey pergunta.


– Porque é uma das Relíquias do Milênio. – Serena responde – Assim como as outras, possui um grande poder guardado dentro de si e, além disso... – a garota faz uma pausa – Há fragmentos da memória do faraó guardados nessa coroa, fragmentos que revelam a existência de certo mistério.


– Que mistério? – Atem pergunta.


– A existência da sua rainha. – a guardiã da tumba responde.


– Sarabi. – o nome deixa os lábios do antigo faraó em um fraco sussurro.


– Sarabi? – Téa pergunta.


– Sim. – Serena confirma – Sarabi, princesa do leste e rainha do Egito. Os fragmentos de memória na coroa mostram a ascensão dela como rainha.


– Pensei que suas fontes acerca de Sarabi fossem histórias. – Atem comenta.


– Também. – Serena diz, sorrindo.


– Então essa Sarabi era... Esposa do faraó? – Tristan questiona.


– Sim. E mãe da filha dele. – a Ishtar responde.


– Filha?! – os quatro perguntam ao mesmo tempo.


Ante a pergunta, Serena se levanta e caminha até a placa de pedra, sendo seguida pelos outros. Na pedra, a guardiã da tumba mostra a figura de uma mulher rodeada por homens ajoelhados, cujos rostos permanecem ocultos por capuzes.


– O nome dela era Serin. – Serena começa a explicar – Quando o faraó morreu, ela ainda era um bebê e permaneceu sob os cuidados do sacerdote Seth até ter idade para subir ao trono. Preocupada em proteger a memória dos pais, Serin, ao se tornar rainha, confiou os segredos de seus pais a uma família de sua confiança. A partir de então, os membros dessa família passaram a ser conhecidos como guardiões da tumba.


– Como você sabe disso tudo? – Joey pergunta, o olhar fixo na imagem gravada na pedra.


– É mais fácil estudar a vida de Serin do que a vida do faraó. – Serena responde, se afastando.


– Por que Bakura chamou você de ‘rainha’? – Atem pergunta, voltando-se para a Ishtar.


– Minha aparência se assemelha às descrições da rainha Sarabi. – a guardiã da tumba responde dando de ombros – Pele morena, olhos de um azul escuro, cabelo vermelho como sangue...


Mentira. É o primeiro pensamento do antigo faraó ao ouvir a resposta. Por que acha isso? Yugi pergunta. Se a resposta fosse tão simples, Serena não teria se recusado a dá-la antes. Atem responde.


– Yugi nos disse que você explicou a ele que a memória que o faraó recuperou estava incompleta. – Joey diz – Como podemos recuperar a parte que falta?


– Como disse ao Yugi, essa parte que falta é a que se refere às lembranças sobre a rainha. – Serena responde – Acredito que essas lembranças só poderão ser recuperadas quando a alma de Sarabi for libertada.


– Libertada da onde? – Tristan pergunta.


– Do Domínio das Trevas.


Puro choque pode ser visto nos rostos dos quatro amigos.


– Como podemos libertá-la? – Atem pergunta, a ansiedade clara em sua voz.


– Eu não sei. – Serena diz – É o que venho tentando descobrir. – um alto trovão é ouvido e a guardiã da tumba volta o olhar para a entrada do museu, vendo que voltou a chover – Vocês deveriam ir.


– Queremos ajudá-la. – Joey diz.


– Não quero ajuda.


– Se a ajudarmos, ajudaremos o faraó e esse é o nosso interesse. – Wheeler diz, olhando nos olhos de Serena.


Tão leal. Serena pensa e sorri de canto, desviando o olhar - Que seja.


Os quatro assentem e se encaminham para a saída. Durante o trajeto, o olhar de Atem cruza com o de Serena e, por um momento, o antigo soberano vê nos olhos da Ishtar os olhos da mulher de sua lembrança – aquela que ele julga ser Sarabi –, mas com mais sombras e dor.


Yu-gi-oh!

– O que acham de tudo que ela disse?


– Eu não sei, Téa. – Joey diz – Eu não consigo confiar nessa garota.


– Ela não disse tudo o que sabe. – Atem, ainda com o controle do corpo de Yugi, diz – E nunca dirá. Se quisermos descobrir os segredos que Serena esconde, teremos que fazer isso por contra própria.


Todos concordam com a afirmação do antigo faraó.


Yu-gi-oh!

De olhos fechados e deitada no chão do museu, Serena se recorda dos sentimentos despertos mais cedo pelas palavras de Joey. Raiva, mágoa... Sentimentos há tanto esquecidos... A garota abre os olhos ao sentir um suave carinho em sua face.


– Eu não o odeio mais. – Serena diz olhando nos olhos azuis daquela que a acaricia.


– Eu sei. – Sarabi responde, os dedos longos e finos tirando alguns fios vermelhos de perto dos olhos de Serena.


– Mas eu ainda não gosto do que eu sou. – a guardiã da tumba continua.


– Eu entendo. – a antiga rainha assente.


– Eu quero te libertar.


– Você irá. – Sarabi diz, sorrindo e beijando a testa de sua protegida.





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