Lavi ainda não tinha se recuperado totalmente dos ferimentos derivados de sua captura pelos noahs e já estava recebendo instruções para como proceder no próximo ataque e/ou missão.

O ruivo fingia estar ouvindo tudo o que Komui lhe dizia, porém seu olhar e pensamentos estavam na bela garota de cabelos não mais tão curtos que servia café ao grupo da Divisão de Ciências. A verdade é que tudo nela lhe encantava: seus olhos, sempre tão luminosos, verdadeiros poços de esperança, seu sorriso, capaz de contagiar e acalmar os outros, a graciosidade do seu andar, seus movimentos, o jeito como era gentil com todos.

Por mais errado que fosse Lavi tinha se apaixonado completamente pela chinesa irmã de seu Supervisor. Sabia que Komui iria mandar matá-lo – ou o faria com as próprias mãos – se descobrisse, mas aquele era um sentimento que o jovem Bookman não conseguia, e nem queria, evitar. Isso sem comentar que a garota, além de não saber, provavelmente não sentia o mesmo por ele.

“Ela ainda deve estar preocupada com o Allen...” – Pensou, deixando um suspiro escapar de seus lábios.

- Algo te incomoda, Lavi-kun? – O Supervisor chamou-lhe a atenção. – Parece disperso.

- A-ah não, tudo bem. – Ele rapidamente voltou seu olhar para o chinês.

- Você ouviu alguma coisa que eu disse? – Komui o encarou, ajeitando melhor os óculos no rosto.

- C-laro! “Ficar alerta, pois todos os exorcistas podem ser chamados a qualquer instante”, “tente não se machucar demais”, eu ouvi sim. – Sua sorte era possuir o treinamento de Bookman, do contrário, não ouviria uma palavra sequer.

- Está bem, então. Pode ir se quiser. – O mais velho sorriu cansado e recostou-se à cadeira. – Lenalee, me traga um café, sim?

- Pode deixar, nii-san! – A garota sorriu. – Vai querer também, Lavi-kun?

Ele fez que sim com a cabeça. Lenalee concordou e foi à cozinha pegar o café para eles. Ele acompanhou com o olhar o caminho feito pela garota até a porta até ela sumir através desta. Komui tinha se levantado para pegar uns documentos em outro canto da sala, enquanto Reever se aproximou do ruivo.

- Hey, tenta disfarçar melhor senão o Komui vai perceber. – Ele cutucou de leve o garoto e puxou um banco para sentar-se.

- Q-quê?

- Tá na cara que você tá apaixonado pela Lenalee. Cuidado com seu pescoço, você pode ficar sem ele por isso.

- Hã?! N-não, que nada... – Sorriu meio nervoso. Será que estava tão óbvio assim? – Ela é só minha amiga, só isso, sabe?

- Hum sei, só porque você quer. Aposto que se chamasse ela pra sair ela aceitava.

- Que. Ela só pensa no Allen. – Suspirou pesadamente, olhando rápido para verificar se o Supervisor não estava ouvindo a conversa. Voltou os olhos para o loiro ao se certificar de que o chinês estava ocupado com alguns papeis.

- Eu acho que ela o vê como um tipo de irmão mais novo, só isso.

- Não sei não... Ela está sempre tão preocupada com ele.

- Ela se preocupa com todo mundo, Lavi. Em vez de ficar pensando se ela gosta ou não do Allen, você deveria tomar alguma atitude a respeito disso. – Ele se levantou e foi gritando para onde Komui estava. - Hey, cuidado com essa pilha, Supervisor! Os papeis podem...!

Tarde de mais. Quando Komui puxou um dos arquivos de baixo, a pilha inteira desmoronou, fazendo com que naquela área em volta não se pudesse mais ver o piso do escritório. O Supervisor desculpou-se com o australiano, rapidamente se abaixando e ajudando os outros a arrumarem tudo de novo, provavelmente com medo do Chefe da Divisão de Ciências.

- Nii-san, já fazendo bagunça aqui? – Lenalee voltava da cozinha com uma bandeja em mãos com o café para todos na sala.

- Aah, Lenalee, foi um acidente! – Choramingou Komui, pegando sua caneca azul com um coelhinho rosa gravado.

Logo, todos pegaram suas canecas e ela se dirigiu para o aprendiz de Bookman.

- Aqui, Lavi-kun. – Ela entregou a caneca ao garoto, sorrindo e sentando-se ao lado dele em seguida. – Então, parece que já vão te liberar pra outra missão, né?

- Acho que eles não ligam muito pra o seu estado, desde que você consiga ativar a Innocence e matar alguns akumas. – Ele respondeu, o sarcasmo sendo perceptível em sua voz, antes de beber um gole do café.

- Não é bem assim... – Ela respondeu, mesmo sem ter muita confiança nas próprias palavras.

- Bom... Você quer, hum, sei lá, ir para um lugar mais calmo? – Lavi apontou discretamente com a cabeça para a briga entre os membros da Divisão de Ciências e o Supervisor que estava ocorrendo lá atrás, depois olhando para a amiga.

- Acho que é uma boa ideia. – Ela sorriu em resposta, o que fez os batimentos do ruivo se acelerarem. Os dois saíram da sala sem serem notados.

Após alguns minutos de conversa e perambulando pelos vários corredores da Ordem, atualmente situada na Inglaterra, os dois resolveram ir para o pátio da frente da Igreja, onde havia algumas plantas, bancos e espelhos d’água.

Ao sentir a brisa gelada da noite soprar contra si, Lenalee esfregou os braços com as mãos, em uma tentativa um tanto quanto falha de espantar o frio. Logo ela sentiu o braço de Lavi rodeando seus ombros e aproximando mais ambos. Sentiu o frio se dissipar rapidamente de seu corpo, enquanto suas bochechas tomavam uma coloração avermelhada que, por sua sorte, não ficou muito evidente por conta da escura noite.

Lenalee não tinha certeza do porque seu coração parecia ter se acelerado mais com o gesto do amigo. Desde que ele havia retornado à Ordem depois do sequestro pelos noahs, ela tinha começado a agir e pensar de forma diferente quanto a ele. Sua preocupação com o aprendiz de Bookman parecia ter aumentado, era um prazer cada vez maior ficar ao lado e conversar com ele, sem contar que seus batimentos cardíacos pareciam acelerar bastante ou um incomum – e parcialmente imperceptível – nervosismo tomava conta de si quando ele estava por perto. Ela não queria acreditar que estava apaixonada, principalmente porque sabia que seu irmão iria surtar se descobrisse.

- Lenalee. – Lavi agora tinha parado de andar e estava de frente para a garota, de modo que seu braço não estava mais a envolvendo.

- Sim?

Ela levantou a cabeça de forma rápida buscando o olhar dele, quando sentiu a mão do jovem Bookman pegar sua cintura, puxando-a firmemente para mais perto e selando seus lábios com um beijo.

A chinesa sentiu uma vermelhidão se apropriar de seu rosto, mas, mesmo assim, fechou os olhos e correspondeu o beijo, apoiando uma das mãos no rosto dele. Ficaram assim por um ou dois minutos até o ar lhes faltar. Lavi pôs uma das mãos no rosto dela, afastando uma mecha de cabelo dos olhos violetas da garota.

- L-Lavi...

- Eu gosto de você, Lenalee. Muito. – Lavi envolveu a menina em um abraço. Sua mão esquerda acariciava os curtos fios roxos que não estavam presos em marias-chiquinhas. – Mesmo que isso faça o Komui e o velho panda me espancarem até a morte, eu não quero desistir de você.

- Então eu cuido pro meu irmão não descobrir tão cedo. – Lenalee sorriu, desfazendo o abraço para poder olhar para o ruivo. – Eu também gosto muito de você, Lavi.

O ruivo sorriu. Era tudo o que ele precisava ouvir da garota antes de puxá-la para mais perto e acabar com o espaço entre eles, beijando-a de forma calma e suave. Logo os dois se separaram.

Lenalee pegou em uma das mãos dele e entrelaçou seus dedos. Eles fizeram seu caminho de volta à Ordem lado a lado, agora conversando mais animados, mas logo que alcançaram o portão se afastaram para não causar nenhuma suspeita. Apenas trocaram olhares e sorrisos e voltaram para onde os membros da Divisão de Ciências ainda brigavam com o Supervisor Komui.

Talvez não tivessem tanta dificuldade em esconder sua relação do Supervisor se ele continuasse atarefado como estava e, além do mais, Lavi sabia muito bem como driblar o Bookman. Os dois exorcistas acreditavam que sua relação seria duradoura e estável, pelo menos até algum membro da Ordem Negra descobrir. Até lá, eles iriam aproveitar a companhia um do outro e deixar esse sentimento mútuo florescer e se consolidar.