No cenário coberto pela neve branca um garoto caminhava sozinho. Ele aparentava ter quinze anos mais ou menos, suas roupas não eram quentes, pois essas não passavam de trapos. Trapos sujos e desgastados. Ele tremia de frio, mas continuava andando. Andava talvez em busca de um abrigo, um abrigo que ele nem sabia se encontraria e muito menos se existia.

Ele não tinha família, não tinha conhecidos mas tinha um nome. Seu nome era Kim JaeJoong, era a única coisa que se lembrava. Seus cabelos eram pretos, sua pele branca e seus olhos igualmente pretos.

Apesar da vida nunca ter sido boa com ele, naquela época do ano em que a neve caia mudando todo o cenário, ele agradecia por continuar vivo. Apesar de sozinho, apesar de não ter abrigo, apesar de vagar pelas ruas sozinho, Kim JaeJoong agradecia por ver mais uma vez a neve, agradecia por poder tocá-la e senti-la em sua pele, mesmo que esta esfriasse mais ainda seu corpo.

Na época do Natal ele gostava de ir para o centro de Seoul e ficar observando as casas enfeitadas com os enfeites que descreviam essa época de fim de ano, gostava de observar - ainda que escondido - a ceia, a família trocando presentes, ele se sentia aquecido com isso. Claro que JaeJoong queria ser parte de uma dessas famílias, afinal, ele nunca teve uma noite assim. E se teve não se lembrava, sua mãe havia morrido quando ele tinha sete anos e seu pai era um alcoolista e o expulsou de casa logo após a morte de sua mulher, desde então JaeJoong estava sozinho.

A neve então começou a cair com mais frequência, o fazendo sentir mais frio. Ele procurava apertar os panos em seu corpo na tentativa de se manter quente, coisa que não foi bem sucedido, pois logo um torpor começou a tomar conta de si, o fazendo cair no chão desacordado. A neve que não parava de cair era a única coisa que o cobria, trazendo mais frio do que já estava sentindo.

(…YJ…)

E de repente todo o frio que o envolvia deu a lugar a um calor, um calor que nunca havia sentido em sua vida.

Seu corpo descansava em uma superfície macia e cobertas o protegiam do frio, uma toalha quente estava em sua cabeça para ajudar a esquentar a temperatura.

Ruídos eram escutados de fora do quarto em que estava. Eram como se alguém estivesse quebrando algo na cozinha. Só que não foi isso que fez com que o moreno se levantasse da cama e sim, a voz que acompanhava os ruídos praguejando alguns palavrões baixinhos, provavelmente para não o acordar. O moreno então se encaminhou cuidadosamente pelo corredor, passando por uma sala onde havia uma arvore de Natal. A mais bela arvore de Natal que já havia visto em todos os anos em que ele caminhava. Ela era toda enfeitada com enfeites vermelhos do topo ao final. Os pisca piscas eram coloridos e no topo na arvore havia uma linda estrela dourada.

Ele estava tão entretido observando a arvore com um sorriso tão bobo em sua face que nem percebera que estava sendo observado pelo seu anfitrião.

Encostado no batente da porta da cozinha estava um moreno com um sorriso igualmente bobo em seu rosto com uma bandeja em mãos. Na bandeja continha uma ramén e um chá para o outro tomar.

Achando que já tinha feito um papel de bobo o suficiente resolveu se pronunciar.

— Vejo que já acordou. - a voz dele soou calma, mas isso não impediu o outro moreno de se assustar e o fitar com os olhos arregalados. O anfitrião apenas deu um sorriso — Meu nome é Jung YunHo, pode ficar calmo, eu não vou fazer nada de mal com você - se aproximou a passos curtos e calmos, logo estendendo a bandeja para o outro que a pegou com um sorriso sem graça — Você pode se sentar no sofá para comer… se quiser.

O moreno apenas se sentou no sofá, com a bandeja no colo. Enquanto o outro se sentou em uma poltrona que ficava do lado da bela arvore.

— Obrigado pela comida. - O JaeJoong agradeceu antes de começar a comer.

O outro moreno observava todos os seus movimentos, observava ele a comer depressa, porém de forma graciosa e não estabanada.

— Eei, você pode comer mais devagar, não vai passar mais fome. - Resolveu se pronunciar quando viu o outro se engasgando e tomando um gole de chá. — Se você comer assim depressa não vai saborear o gosto da comida que eu fiz.

—  Desculpe - JaeJoong sussurrou e começou a comer devagar, e dessa vez saboreando o ramén que realmente estava muito bom, logo não havia nada em seu prato. Sobrando assim na bandeja apenas o prato e a xícara de chá que também estava vazia — Obrigado pela comida, hyung.

Ele sorriu aberto deixando o moreno mais velho imensamente feliz por tê-lo encontrado.

A vida de YunHo não era tão boa quanto diziam os tabloides, ele podia ser um grande empresário, mas também era um homem solitário. Não havia companhia para os seus dias, não havia para quem voltar, não havia quem o esperava e não havia ninguém para trocar presentes naquela época do ano.

Sua arvore podia ser bonita e grande, mas debaixo dela não havia nada. A única coisa que o moreno fazia era montá-la e enfeitá-la apenas para passar a noite de Natal a fitando com deleite por ter feito algo tão bonito.

Mas com a chegada do moreno mais novo algo em seu íntimo dizia que tudo iria mudar. E que em breve ele teria alguém para lhe fazer companhia, alguém para quem voltar, haveria alguém para o esperar, haveria alguém para trocar presentes e mais que isso, alguém para compartilhar conquistas.

 — Não precisa me agradecer… - nesse momento ele sentiu vergonha de si mesmo por não ter perguntado o nome do outro — Sabe, eu nem mesmo perguntei o seu nome… - falou sem graça.

 — Meu nome é Kim JaeJoong. - O moreno mais novo respondeu com um sorriso no rosto, um sorriso mínimo mais que aquecia o coração do outro que o observava — E foi eu quem não me apresentei… - ele abaixou o olhar — Eu… Eu devo estar te atrapalhando, certo? - perguntou mas em seu íntimo desejou que a resposta fosse um ‘não, você não está me atrapalhando em nada’, ele não queria ir embora, não queria voltar para o frio que o envolvia antes. Não queria se separar do calor que o moreno lhe fazia sentir.

 — Você não está me atrapalhando. - Sorriu para o outro — Eu agradeço muito por ter te encontrado lá fora.

— E eu por você ter me encontrado.

Os dois trocaram olhares e sorrisos cúmplices.

Logo YunHo já contava toda a sua vida para o moreno mais novo que ouvia pacientemente e quando era hora, ria fazendo o moreno mais velho ficar cada vez mais encantado.

JaeJoong descobrira que YunHo tinha 24 anos e era um homem com uma vasta conta bancária, mas que não gostava de esbanjar suas riquezas porque se por um acaso o fizesse, os inúteis - como ele descrevera os puxas sacos que o rondavam no emprego e fora dele - seriam em números cada vez maiores e ele não queria ficar cercado de inúteis.

YunHo ouvira a história de JaeJoong e não acreditava que aquele menino com apenas dezoito anos já havia passado por todas aquelas coisas e ainda assim conseguia sorrir. Conseguia sorrir como se nunca fosse expulso de casa, conseguia sorrir como se tivesse vivido uma vida boa e não esses anos em que nem comia direito e nem abrigo tinha. Em seu íntimo jurou que sempre protegeria JaeJoong e que não deixaria que nada lhe faltasse.

Logo a conversa dos dois fora cortada pelo relógio que começou a soar as doze badaladas que indicavam que já era noite do Natal e os dois ao mesmo tempo se levantaram e se abraçaram.

 — Feliz Natal. - Falaram em uníssono.

(… YJ … )

Anos depois, na mesma época.

Um casal observava a arvore que mais cedo ambos enfeitaram. Ambos estavam sentados no chão, o mais velho tinha o mais novo entre as suas pernas com a cabeça apoiada em seu ombro.

Estavam em silencio pois sentiam que não precisavam falar nada um para o outro.

Cinco anos do primeiro encontro se passaram, cinco anos que moravam juntos, há quatro anos que ambos estavam apaixonados; Nesses cinco anos compartilharam conquistas e ciúmes. Cinco anos em que já faziam cinco anos que brigavam e faziam as pazes, quatro anos que dividiam a cama.

E praticamente fazia cinco anos que JaeJoong não deixara YunHo entrar na cozinha, pois uma vez o moreno quase botara fogo na mesma. A única coisa que o moreno mais novo deixava o outro fazer na cozinha era suco, nada mais e nada menos que isso, apenas suco.

YunHo não reclamara porque no fundo, no fundo sempre odiou cozinhar e preferia três mil vezes a comida que o companheiro fazia para si do que ficar esquentando a barriga no fogão.

Os dois conquistaram muitas coisas juntos, conquistaram uma relação, conquistaram um gato, conquistaram confiança, conquistaram sabedoria, conquistaram todos a sua volta. Ambos se conquistaram.

Assim como na primeira vez, as doze baladas soaram, o agora loiro Kim JaeJoong já estava virado de frente para o moreno e ambos novamente falaram Feliz Natal juntos. As faces foram se aproximando e os lábios se tocaram, o beijo era lento e cheio de sentimento. As línguas em meio ao ósculo se entrelaçavam… Ainda não faltavam ar nos pulmões mais algo os fizeram parar o beijo.

Lembram-se que eu havia falado que ”conquistaram um gato”? Então, esse chamado Jiji havia se enfiado no meio dos dois, fazendo o moreno fazer uma expressão de desgosto e o loiro rir.

— Feliz Natal, pra você também Jiji. - O loiro afagou os pelos cinzas macios do bichano.

— É, feliz natal, Jiji. - O moreno também afagou os pelos do gato.

O que diferenciava esse Natal do primeiro em que passaram juntos, não era apenas o fato de ter presentes de Natal debaixo da grande arvore.

O que diferenciava também além disso era que o íntimo do moreno estava certo, depois daquele Natal em que encontrara o moreno envolto a neve branca, ele realmente havia encontrado alguém para lhe fazer companhia, alguém para compartilhar as conquistas, alguém para quem voltar, alguém que o esperasse chegar do trabalho, alguém que o ajudasse a enfeitar a arvore natalina e alguém para trocar presentes.

E além disso o frio nunca mais tocou em JaeJoong pois mais do que nunca ele se sentia quente. E YunHo era esse calor que o envolvia, o embargava e o esquentava todas as noites até nas mais frias.

E ambos sabiam que aquele Natal em que se encontraram fora o melhor presente que Deus podia ter lhes dado.

The End.

Feliz Natal ~. ’ ~’