Levantei melhor do que quando eu fui dormir. O dia anterior tinha sido meio tenso, por assim dizer. Tom ficou comigo mais um tempo ate eu me recuperar por completo, tinha sido estranho esse flashback, não me fez bem.

Enfim, fui me arrumar, hoje o dia ia ser divertido, eu acho... (roupa)

Hoje, pra me fazer melhorar mais rápido, Tom me prometeu me levar ate o parque. Tudo bem ir ate lá, mas não é só isso, ir ao parque, não, ele TINHA que levar o demônio que ele chama de cachorro de estimação. Ele me mostrou que o Scott não era mal, que ele só queria brincar comigo, mas eu não dei meu braço a ser mordido, aquele cão dos infernos me odeia, tenho certeza disso.

- Mas olha a carinha de fofurinha que ele tem – disse Tom se matando de rir do meu medo

- Vai se foder Tom – falei mostrando o dedo do meio pra ele. Eu estava sentada encima do encosto do banco da praça, o mais longe possível do cachorro. – Ele tem cara de sanguinário! Veja esse olhar que ele manda pra mim! Puro ódio mortal!! – falei desesperada porque Scott tinha chegado mais perto de mim. Tom riu ruidosamente, atraindo alguma atenção pra nós, droga.

- Gisella, pára de ter medo do Scott, ele não vai fazer nada com você! – ele disse ainda rindo e como eu não sai do lugar, ele pegou a guia e prendeu na coleira do cachorro – Vem, vamos tomar sorvete

- Sorvetee?? Ondeeee??? – sai correndo ate onde Tom estava, ficando do lado oposto do animal-sanguinário-que-quer-me-matar

- Logo ali – ele disse apontando pra uma sorveteria mais adiante. Estava um pouco cheia, então pegamos uma mesa do lado de fora do estabelecimento. – Qual você vai querer? Hoje, e só hoje, é por minha conta – ele disse abrindo o cardápio

- Hm... – disse folheando as paginas – acho que vou querer essa aqui – disse e mostrei ao Tom

- Vaca preta? Sorvete de creme com Coca-Cola? – ele disse espantado – não vai te fazer mal, Gisella?

- Não, eu já tomei isso uma vez, é uma delicia – menti descaradamente, eu não estava nem ligando pelo sabor ou se ia ou não me fazer bem mais tarde, eu só escolhi porque eu achei a combinação curiosa.

- Ok né, se você já tomou antes deve ser bom – ele chamou o garçom, que na verdade era uma garçonete – Vamos querer uma Vaca Preta e um sorvete de Passas ao Rum, por favor

A garçonete anotou o pedido e deu uma piscadela pra Tom, e me deu um olhar de desprezo. Epa! Quem essa menina pensa que é?

- Vadia... – disse em voz baixa quando ela se afastou pra atender outra mesa

- O que? – Tom disse se virando pra mim

- Nada – disse olhando pra rua com pouco movimento

Meu sorvete estava bom, tinha um sabor diferente, eu amei. Tomei dois, Tom quis matar, era meio caro o sorvete sabe...

Saímos da sorveteria e voltamos para o parque, que tinha mais gente agora. Eu e Tom nos sentamos em um dos poucos bancos que restava, eu estava olhando a paisagem quando de repente passa um carrinho de crepe doce

- Tom olhaa!!! – eu disse apontando

- O que? Jessica Alba?? Ondee??? – ele disse olhando pra todos os lados menos pra onde eu apontava

- Ali seu animal – disse virando a cabeça dele na direção do carrinho – Crepee!!! Eu queroo um de chocolate e um de doce de leitee – disse fazendo carinha do gatinho do Shrek olhando pra ele

- Ah neem vem, eu já te paguei dois sorvetes hoje – ele disse bravo – se você quer, você paga

- Mas Tom... – disse ainda o olhando com a mesma carinha – por favor, por favorzinhoo??

- Não

- Aff eu te odeio – disse cruzando os braços. De repente eu tive uma idéia. Me levantei e fui em direção ao carrinho – Ooi moço, quanto é o crepe de chocolate? – falei com a melhor cara de inocência

- 7 euros mocinha – o homem disse

- Hmm você pode me fazer um e depois meu irmão te paga? Ele esta logo ali – disse apontando para Tom, ainda no banco, distraído

- Hm – o homem olhou bem pra mim, eu fiz minha carinha de gatinho – tudo bem

- Ebaa! – falei feito uma criança – eu quero um bem caprichado

O homem me entregou o crepe fumegando ainda, eu dei uma mordida e queimei minha língua. Depois eu sai andando normalmente em direção ao banco onde Tom estava.

- Pronto pra correr muito? – eu disse e ele me olhou curioso

- Porque? – ele disse. Eu me virei pra olhar o homem do crepe, ele nos olhava atentamente, hm, dei mais uma mordia no crepe, precisava acabar com ele rápido pra correr muito depois.

- Ta vendo aquele cara ali? – disse mexendo somente os olhos, mais uma mordida, já estava na metade

- Aham, o que tem ele? – Tom disse ainda não entendendo

- Bom... – disse apontando para o crepe na minha mão – eu disse que você ia pagar ele

- O quê?

- O Scott sabe o caminho de casa sozinho? – falei olhando o cachorro deitado no chão, pronto terminei meu crepe

- Sabe, mas porque?

- Levanta devagar, o cara ta nos observando. Ah, primeiro solta o Scott – falei e Tom fez o que eu disse – Ok, agora CORRE! – disse e sai em disparada pelo lado oposto ao carrinho de crepe

Scott estava correndo ao meu lado e Tom logo atrás. Me virei e vi o homem correndo e xingando nós, eu dei uma risada alta e corri mais ainda. Cheguei a uma esquina e virei correndo, entrei em uma lan house com vidros escuros e fiquei esperando Tom aparecer. Ele passou correndo e eu o puxei pra dentro. O homem passou reto pela loja e puxei Tom pra fora e corremos na direção oposta do cara do crepe. Chegamos ofegantes em casa e Bill estava na sala com Scott:

- O que houve? Scott chegou correndo feito um louco em casa e agora vocês assim, ofegantes. O que vocês aprontaram?? – ele quis saber

- Nada... que... você... precise... saber... – falei respirando com dificuldade e me apoiando na parede

- Hm – ele disse olhando de mim pra Tom – você poderia me responder?

- Depois... eu... te... conto... – Tom disse também se apoiando na parede

Bill revirou os olhos e saiu levando Scott pro jardim dos fundos.

- Você é uma louca sabia? – Tom disse se recuperando

- Eu sei – disse rindo, muito, tive um acesso de riso – Mas você adorou essa aventura, não? – falei entre risos

- Hm – ele me olhou e começou a rir também – sim, eu gostei. Fazia tempo que eu não fazia isso.

Fui pra sala assistir um pouco de TV, estava cansada demais pra fazer outra coisa. Parei em um canal que estava passando um filme muito violento, mudei para um canal onde passava clipes de musicas. Comecei a assistir, mas não prestava atenção no que estava passando, eu sentia que tinha alguma coisa faltando... Parei um minuto e fiquei pensando, o que era que estava faltando?...

Olhei pela janela e vi Bill dando banho no cachorro, melhor dizendo, Scott estava dando um banho em Bill. Ri com essa cena. Olhei as arvores e vi um pica-pau no tronco de uma árvore próxima da janela, isso fez despertar alguma coisa na minha mente...

- MEIN GOTT, MARK!! – dei um grito e sai correndo pra garagem, Tom estava lá arrumando alguma coisa dentro do carro – Tom me dá uma carona ate o centro?? Rápido!! – disse entrando no Audi A1 preto fosco

- Claro – ele disse dando a partida e saindo rápido da garagem – onde você quer que eu te deixe?

 - Hm pode me deixa ali na esquina que dali eu vou ate a loja a pé – falei apontando na esquina adiante

- Ok – ele parou e eu desci – você quer que eu venha te buscar?

- Não precisa, eu volto de metrô mesmo – disse e fechei a porta. Andei ate a loja torcendo que ainda estivesse aberta, já era quase 6 horas da tarde. Ela estava aberta, ufa!

Entrei e logo avistei Mark de costas arrumando uma das prateleiras.

- Ooi! –disse o cutucando, ele se virou e sorriu

- Oi, finalmente chegou. Pensei que não viria – ele disse e eu sorri

- Eu tive alguns problemas e só deu pra vir agora – falei segurando o riso, me lembrando do homem correndo atrás de mim e de Tom

- Hm, problemas... – ele disse me olhando – sérios?

- Não, problemas estúpidos que me roubaram algumas horas – disse dando uma risadinha

- Hm – ele disse e sorriu – então você vai mesmo à festa amanhã?

- Sim – falei feliz – mas antes eu vou precisar das minha tintas pra melhorar minha aparência

- Ah claro, eu já separei elas pra você – ele disse indo em direção ao balcão – aqui – ele tirou as tintas debaixo e colocou pra cima – são essas?

Analisei a cor e sorri:

- Sim, essas mesmo! Vou pintar hoje mesmo, pra amanhã eu estar arrasando! – falei rindo

- Você não precisa dessas tintas pra arrasar – ele disse me olhando, fiquei meio sem graça com esse comentário. Ele sorriu – Fica em 45 euros as tintas

- Hm – apalpei meus bolsos e achei um cartão de credito. Olhei curiosa pra ele e pensei: Tom. Entreguei o cartão para Mark e ele passou na maquina

- Pronto, agora você pode pular de felicidade – ele disse e eu dei um pulinho, o fazendo rir – então, você quer que eu te pegue amanha na sua casa?

- Ah, tudo bem. Você sabe onde é?

- Sei, Tom uma vez fez uma festa lá – ele disse – eu passo te pegar lá pelas 8 horas

- Obrigada Mark! Até amanhã – falei e sai da loja

Cheguei em casa e corri para meu quarto pra pintar meu cabelo, estava ansiosa pra ver minhas madeixas coloridas novamente.