Luzes De Natal escrita por Anny Andrade


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Para minha amiga Winnie Cooper, e também para todos que chegarem a ler... E Feliz Natal!



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Eu deveria saber que seria difícil. Eu deveria ter me preparado para isso. Quando ficar de olhos abertos é doloroso demais, e fecha-los é injusto. Eu só gostaria de mudar essa data, de fazer com que ela deixasse de existir, pois é justamente nesse momento que mais me lembro dela e dos seus olhos analisando cada centímetro e fazendo com que todos os planos fossem seguidos e concretados. E eu simplesmente me pergunto o porquê dela nos deixar, e tento me manter forte e fingir que a vida ainda possui um sentido. Na verdade ela ainda possui dois sentidos.

“Noite de Natal, mais outra luta.

Lágrimas que nós choramos; um dilúvio.

Tenho todos os tipos de veneno,

veneno no meu sangue.”

Estou trancado no nosso quarto, esperando o momento certo de descer e fingir sorrisos que por dentro significam dilúvios de lágrimas presas, trancada e que eu tento enterrá-las como a enterrei. Como eu gostaria de saber demonstrar meus sentimentos, mas nunca fui realmente bom nisso. E ela sempre soube disse. Porque ela sempre me conheceu. E eu posso até mesmo jurar que sempre me amou exatamente por nossas diferenças. Droga eu deveria ser mais forte, já enfrentei tantas coisas e deveria ter aprendido que a vida sempre nos tira. Existe uma regra básica tudo que ganhamos possui um preço e ela foi o preço por toda a felicidade que me cercou durante esses anos incríveis.

Noite de Natal e todos estão aqui, e eu sei que todos fingem está bem... Mas nós choramos, choramos por causa da ausência dela, pela a falta que a garota dos meus sonhos faz, nós vivemos em um diluvio interno de forças e fraquezas. E eu sou o que mais sofre, o que mais sente os venenos da alma, e também aquele que percorre o sangue dando uma vontade imensa de voltar para o lado dela. Se não fosse o fato dela possivelmente acabar comigo por abandonar suas joias eu já tinha ido me juntar ao único sorriso que pode iluminar meu dia.

E mais uma luta, completando as diárias, as noturnas e todas as madrugadas que me envolve com seu silencio, seu frio e sua solidão, me fazendo sentir como se algo me rasgasse em mil pedaços e nunca me dando a solução para esses sentimentos que duram, que são eternos e que fazem tudo parecer nada. Nesse momento tudo realmente é nada. Sem ela o mundo não é mundo é simplesmente um lugar para sobreviver esperando a hora de dizer o tchau definitivo.

“Peguei a estrada,

para a rua Oxford,

tentando consertar algo errado.

"Apenas vá embora",

aquelas janelas disseram,

mas eu não acredito que ela se foi.”

Eu tinha que desaparatar, tinha que relembrar os momentos que mais marcaram nossas vidas. Sei que todos estão em casa, eles precisam ter a certeza de que vou superar mesmo que no fundo saibam ser algo impossível. Estou sozinho encarando as janelas da minha casa. Daquele lugar que um dia eu cheguei a detestar, mas que guardaram nossos momentos mais doces, mais humanos, quando nossos momentos começaram realmente a ser nossos. Minha casa onde tudo começou.

Suas janelas antigas e cheias de pó parecem me olhar. Elas me encaram de uma maneira vazia, mas ao mesmo tempo maldosa. Um jeito que deixa um arrepio frio que me faz tremer. Elas estão me dizendo através de sua escuridão e de seu silencio para que eu me fosse. Gritaram para mim “apenas vá embora”, mas eu apenas consegui ficar parado voltando a encarar suas bordas cobertas por neve recém caída, eu apenas gostaria de consertar tudo, consertar esse erro do destino. Essa crueldade que fez meu coração se transformar em apenas um órgão teimoso demais para deixar que o sangue permaneça parado em apenas um lugar, para deixar o ar escapar dos pulmões e nunca mais retornar. Eu tinha que ser teimoso para tudo nessa vida.

E eu não consigo acreditar que ela tenha ido. Eu não consigo entender o porque dela precisar ir antes de mim. Eu queria todos os nossos momentos de volta. Queria poder dizer o quanto realmente a amava, queria sentir o perfume de seus cabelos e também ouvir o barulho irritante de seus pés batendo no chão ansiosamente enquanto continuava a devorar um livro atrás do outro. Eu queria ouvir sua risada sempre que as coisas saiam como pretendia, e queria ser obrigado a comer aquelas gororobas que ela chamava de comida. Eu não acredito que ela tenha ido, e me deixado aqui.

“Quando você ainda está esperando a neve cair,

Não parece que é mesmo o Natal.”

Olho para o céu esperando que a neve volte a cair, o frio dela parece preencher o vazio do meu coração, mas as estrelas estão tão grandes e brilhantes, parece até que elas também estão querendo comemorar o Natal. Eu trocaria de lugar com elas, porque elas parecem muito mais próximas dela do que eu estou. Neve sempre me lembra dos tempos de Hogwarts, e os passeios que sempre fazíamos. Como sinto falta daquele tempo.

A vida parecia um problema, mas na realidade ela era tão mais fácil. Tão mais bonita, e tão mais viva. Parece que a neve não quer agradar a ninguém esse ano, e esperar por ela faz com que não pareça o mesmo natal. Esperar pela volta da minha garota também faz com que o natal não pareça o mesmo de sempre. E eu queria apenas voltar o tempo e congelá-lo assim nós ficaríamos para sempre juntos, para sempre sendo nós mesmos. Preciso voltar para o nosso quarto antes que notem minha ausência e deduzam o pior, eles nunca confiaram muito em mim, e nem eu mesmo confiava. Mas sou forte. Só sendo forte para suportar a ausência dela.

Nosso quarto parece tão vazio, é como se minha vida tivesse sido retirada de mim e mesmo assim eu continuasse sentindo tudo em volta. Como se eu fosse apenas um sopro do que eu sempre fui. Nossas fotos espalhadas, nossos cheiros nas paredes, minhas lembranças voltando como filmes e tendo suas pausas ou me fazendo rebobinar e sentir como se vivesse tudo novamente. Como eu queria realmente voltar a viver.

“Um grupo de velas trêmulas,

Oh elas tremem e elas flutuam.

Mas eu estou aqui em cima segurando

Todos aqueles lustres de esperança.”

Todas as pessoas já devem ter se agarrado a esperanças absurdas, querendo fazer do dia apenas um sonho ruim, e acordar o mais rápido possível. Eu estou aqui olhando as chamas de velas que tremem e flutuam na esperança delas me trazerem de volta a minha vida. Com a esperança de piscar e ver que tudo não passou de medo, de puro medo de perdê-la. Só que estou aqui em cima apenas segurando todos os lustres de esperanças falsas. Não é um sonho. Não vai mudar. Ela não vai aparecer e me resgatar do desespero. Ela não vai voltar para a nossa vida.

Não reparei quando as lágrimas começaram a tomar conta de mim. E nem quando minha voz começou a ser aumentada em gritos de dor. Os gritos que deveriam ter saído antes, mas que agora parecem tão mais altos e tão mais intensos. É aquele desespero de ver tudo a sua volta mudando, desmoronando, como se nada nunca tivesse existido, como se nada tivesse sido realmente seu. Não queria parecer esse louco jogado ao chão entre fotos que se mexem, entre cheiros que serão eternos com os olhos injetados de raiva, de mágoa, e de dor. Uma dor que nem mesmo o melhor escritor poderia definir, uma dor que nada pode amenizar. A dor de perder metade da alma.

“Como alguns Elvis bêbados cantando,

Eu vou cantando fora de sintonia.

Cantando como eu sempre te amei querida,

E eu sempre amarei.”

E eu escuto a voz de outras pessoas se misturando a minha. Eles também cantam a dor, eles também parecem a ponto de um colapso. Mas além da dor eles cantam o amor. E eu devo dizer que eles adivinharam o jeito certo de cantar a nossa história. Eles vão cantando como eu sempre te amei querida, e como sempre amarei. E mesmo sem conhecer as letras eu posso acompanha-los, porque posso sentir o mesmo que eles sentem.  Nós estamos conectados pois eles me entendem como no momento ninguém mais poderá entender.

São cantores que eu nunca quis conhecer, mas que ela sempre manteve por perto. Espalhados pela casa e fazendo sempre coro com os seus sorrisos, e com os sorrisos das crianças. Se tornando até mesmo uma obsessão que tanto juntou ela ao nosso primeiro filho. O mundo trouxa os tornava completamente parecidos, assim como os livros tornavam ela e Rose tão unidas, tão iguais. E é só por eles. Por Hugo e Rose que eu ainda estou aqui, mesmo que ela não esteja. Por eles eu prometi a Hermione que continuaria vivo, mas passaria todos os dias esperando pelo o momento de voltar a encontra-la.

“Essas luzes de natal,

Iluminam a rua,

Onde o oceano e a cidade se encontram.

Que todos seus problemas vão embora logo

Oh luzes do natal, continuem brilhando.”

Com os olhos turvos eu vou para a janela e observo as luzes de natal que tomam conta de toda a cidade. Eu consigo enxergar o além da montanha e imagino o encontro das águas do oceano com a cidade, e tudo parece tão brilhante e tão iluminado que a dor quase se transforma. Por um momento escuto a brisa trazendo as palavras que possivelmente ela me diria, ela diz que todos os meus problemas vão embora logo. E eu só peço que as luzes de natal continuem brilhando. Eu só imploro que as luzes de natal continue acesas.

E é simples os meus pedidos, enquanto as luzes de natal continuarem a brilhar eu continuarei a me lembrar dela. Do seu sorriso e do seu brilho. E terei forças para continuar fazendo com que os planos dela continuem dando certo. Porque as luzes de natal parecem estrelas, e Hermione sempre será a minha estrela guia e ela não precisa está aqui para que eu entenda que o amor dela está.  Sei que estou chorando novamente enquanto sinto a brisa gelada e percebo os primeiros flocos de neve caindo do céu em direção a terra, como se fosse o jeito dela me tocar. Como se fosse seu beijo na pele de todos que ama.

— Pai! Está nevando. — A voz adentrou no quarto fazendo com que as lágrimas fosse secas apressadamente.

— Eu sei Hugo, estava vendo pela janela. — Respondo forçando um sorriso.

— Precisa descer pai, e conhecer o namorado da Rose... — Hugo parou por um momento. — Será uma surpresa desagradável, mas se lembre que é natal.

— O Rony se lembrará, pode deixar isso comigo Hugo.

— Obrigado tio Harry... E estou agradecendo pela Rose. — Hugo saiu nos deixando sozinhos. Eu e meu melhor amigo.

— Está nevando... — Harry disse olhando pela janela.

— É ela... — Respondo displicentemente.

— O que?

— É Hermione mandando me dizer que está de olho, e beijando cada um de nós com o que ela mais gostava. — Respondo finalmente encarando meu amigo.

— Quer saber Rony... Está certo... Ela sempre estará conosco... — Harry disse me abraçando.

— Sempre mesmo... — Respondo respirando fundo de deixando nosso quarto.

Antes de sair posso jurar que senti o perfume dela, todos os cheiros que senti a quase trinta anos dentro da sala de poções quando a poção do amor mais poderosa me fez entender que eu realmente a amava. Esses cheiros sempre vão está em volta de mim, assim como o amor dela sempre estará dentro da minha alma. E eu só peço que essas luzes de natal continuem brilhando.

The End


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