Epílogo

Respirei fundo, concentrando toda a minha atenção no simples ato de encher meus pulmões de ar.

Sabia que se deixasse meus pensamentos soltos eu acabaria chorando, e então toda a minha reputação de durona ia por água abaixo, principalmente porque minha casa estava cheia, com todos fazendo uma festa de despedida.

É, eu estava indo embora.

Bem, não só eu. Cameron também estava.

Terminei de arrumar minha última mala, colocando algumas roupas e por cima, um álbum de fotos com as mais variadas fotos de toda a minha vida. No total, eu tinha “algumas” malas, leia-se: muitas.

Peguei a mala que acabara de fazer, a última que restara também afinal às outras já estavam no carro, e rumei porta a fora, parando um instante antes apenas e olhando por sobre o ombro meu ex-santuário também chamado de quarto.

Suspirei, sorrindo bobamente para o nada enquanto fechava a porta e ia em direção às escadas.

No andar de baixo, encontrei todas as pessoas que fizeram alguma importância em minha vida reunidas ali na minha sala.

Fui recebida com sorrisos e abraços que me fizeram ter certeza que eu havia quebrado uma costela. Okay; exagerei.

– Nós vamos sentir sua falta – disseram Trisha e Anne em uníssono, esmagando-me em um abraço de urso ao mesmo tempo.

Ri.

Eu também sentiria falta delas.

– Trisha, você vai fazer faculdade de moda na França. Vai achar um francês lindo de morrer que vai suprimir todas as suas necessidades. – Ela revirou os olhos, sem conseguir deixar de sorrir. Virei-me pra Anne. – E Anne, você vai pra Harvard. Sabe o que isso quer dizer?! Quer dizer que lá pelo menos deve ter um nerd bonito! – Intercalei meu olhar entre as duas. -Vocês ficarão bem sem mim – disse por fim, o que só as fez chorar enquanto me esmagavam mais uma vez em um abraço de urso.

Elas se separaram de mim com um sorriso meio triste ao ver que a mãe de Cameron se aproximava.

Sem avisos, ela me abraçou.

– Sabia que você dois, no final ficariam juntos – disse Sheyla em um sussurro.

Mesmo não querendo, senti meu rosto queimar.

Ela saiu rindo, e já o pai de Cameron – meu sogro, e nossa, como isso é estranho – só apertou minha mão em um ato formal.

Minha mãe me abraçou toda chorosa, e nenhuma palavra sequer que ela falou, consegui entender.

Porém meu pai, esse sim me surpreendeu, pois ele ainda não havia aceitado minha escolha de ir para a faculdade de artes, então quando ele me abraçou fiquei completamente sem reação. Sem palavras. Mas esse era o jeito dele de dizer que sentiria minha falta.

Por fim peguei minha mala que se encontrava no chão e rumei porta afora, com Cameron com uma mão enlaçada em minha cintura enquanto a outra segurava a sua própria mala.

Colocamos a bagagem no banco de trás do carro, pois o bagageiro estava já abarrotado.

Fechamos a porta.

Cameron me abraçou.

Olhei em direção à porta da minha casa, vendo todos ali na área acenando para nós. Acenei de volta, com uma melancolia tomando conta de mim. Isso era óbvio que aconteceria, afinal vivi minha vida toda aqui, só não achei que sentiria falta desde já.

– Está pronta para ser a melhor artista do mundo? – Perguntou Cameron em um tom brincalhão ao pé do meu ouvido, mordendo levemente o lóbulo da minha orelha.

É; ele realmente tinha um dom pra me fazer derreter.

– E você? Está pronto para ser o melhor músico que alguém já viu?

Ele riu.

– Com você do meu lado, estou pronto pra tudo – falou ele em uma falsa cantada barata, olhando-me com malícia.

Balancei minha cabeça em repreensão, sem conter o sorriso em meus lábios.

Ele selou seus lábios nos meus.

Por mais que eu não soubesse naquele momento, minha vida mudaria drasticamente dali pra frente.