Esdrúxulo escrita por Glauber Oliveira


Capítulo 2
1. A Primeira Impressão




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Tudo começou quando minha mãe engravidou de um jogador de futebol famoso, então enquanto ela resolvia alguns negócios sobre a pensão, eu tive que morar por um tempo com meu pai.

Depois que eu arrumei minhas malas, fui com minha mãe para o aeroporto. Dentro do carro, as janelas estavam abaixadas, pois o bebê tinha soltado um pum. Estava fazendo 40°C em Félix, e eu já tinha passado protetor solar fator 50 para evitar insolação. Eu estava vestindo minha blusa favorita: branca, de manga curta, escrito “Me Transformem em vampira!”. Chegando no aeroporto, olhei para minha mãe e me despedi dela.

– Tchau mãe!

– Filha, você sabe que tem que ir, não é?- minha mãe perguntou, enquanto segurava meus ombros e me olhava seriamente.

– Eu quero ir!- Eu menti. Pois na verdade eu queria implorar, gritar, esbravejar, me debater no chão como uma menina mimada e dizer: "MÃE, EU NÃO QUERO IR! Odeio aquele lugar e aquele povo! Se eu e a TV de plasma do meu pai desaparecer, a primeira coisa que ele irá se preocupar em procurar vai ser a droga daquela televisão!". Mas eu não disse isso, pois eu tinha que ir.

Enquanto seguia em frente, resolvi não olhar para trás, mas não me agüentei e me virei.

– Tchau querida!- disse minha mãe, acenado com a mão, se despedindo de mim - Não se esqueça de comprar absorvente!

Depois que entrei no avião, só me restou esperar até chegar em São Paulo. Minha mãe não gostava do meu pai, mas já que eu era menor de idade, pois tinha 17 anos e não podia ficar sozinha, ela só tinha a opção de me deixar com ele. Meus pais eram separados... Bom, na verdade meu pai disse que iria comprar cigarros e nunca mais voltou. Minha mãe não ficou com raiva dele por causa disso, mas sim porque ele não deixou nenhum cigarrinho pra ela.

Quando pisei no aeroporto de São Paulo, logo após ter chegado, senti que meus mamilos congelaram e ficaram menores do que eram. São Paulo era um lugar muito frio, pois onde eu moro era muito quente. Estava chovendo, mas não era surpresa, São Paulo sempre chovia.

Depois que saí do avião, Xarles (meu pai) estava me esperando ao lado da viatura - ele era chefe da polícia - eu não o chamava de "pai", achava muito estranho chamar assim um homem que nem sabia o nome da própria filha. Mas como minha mãe me disse que eu estava proibitiva de chamá-lo de Xarles, tive de me esforçar (MUITO) um pouquinho para chamá-lo de pai.

– É bom ver você, Bella. - Xarles disse, enquanto me abraçava.

– Pai, - pra mim foi um sacrifício dizer essa palavra - meu nome é Betty!

– Eu já sabia, estava apenas brincando!- ele respondeu parecendo envergonhado.

Logo após entrarmos no carro, fomos em direção á Fox, uma cidadezinha fora do mapa, onde Xarles mora. Fox era uma cidade pequena, escrota e do gueto.

Dentro do carro o silêncio tomava conta de tudo, até que Xarles enquanto dirigia resolveu dizer algo, tentando "quebrar o gelo".

– Seu cabelo cresceu.

– Cortei desde a última vez que te vi.

– Acho que é aplique! – ele disse meio sem graça.

Quando chegamos, saí do carro, então levamos as malas pra dentro do barraco de Xarles. O lugar era muito pequeno, então fomos com minhas malas até meu quarto/sala/banheiro/área de lazer.

– Deixei o quarto do jeito que estava – ele respondeu, olhando ao redor.

O quarto estava vazio, não havia nada, nem ao menos um tapete. Depois que desfiz as malas, fui lá fora. Meu pai estava me esperando com um homem de cadeira de rodas, junto á um garoto moreno de cabelos compridos parecendo ser seu filho.

– Betty, se lembra do Bill Blake?- Xarles perguntou, referindo-se ao cadeirante.

– Oi. –cumprimentei Bill- Você está muito bem!- mas no fundo eu queria dizer: "Cara, você está horrível, deve tá se sentindo um grande imprestável! Se eu fosse você eu me matava!". Mas eu não disse isso, basta estar em uma cadeira de rodas já é terrível.

Então Xarles e Bill foram conversar, e o garoto de cabelos compridos, que parecia mais uma garota bombada que tomou esteróides, resolveu se apresentar.

– Oi. Eu sou Jacobino. Agente brincava de médico quando era pequeno!- disse com um olhar malicioso.

– É. Eu era a sua ginecologista e fazia exame de "mamografia" em você, seus mamilos eram maiores que os meus. Ainda usa sutiãs?- de repente aquele olhar sumiu.

– Betty, tenho um presente pra você!- disse meu pai.

Então Xarles colocou a mão no bolso, enquanto tentava tirar algo de dentro dele. Nesse mesmo momento, olhei para o lado e havia uma picape laranja que estava estacionada no quintal. Eu tinha certeza que meu pai iria me dar aquele carro, e o que ele estava tirando de dentro do bolso era a chave da picape que iria ser minha. Eu estava tão ansiosa, até que ele tirou a mão do bolso e meu deu... UM VALE TRANSPORTE! Que droga de presente é esse?! Pensei que ele ia me dar uma picape!

– Tá de sacanagem?! - perguntei fula da vida.

– Eu disse que ela ia adorar! – Xarles disse á Bill.

Depois disso, peguei o maldito vale transporte e fui á escola. Era o meu primeiro dia de aula, algo meio difícil, não porque eu era aluna nova, mas porque a maioria dos alunos eram negros e ficavam me olhando como se eu fosse uma garota branquela e sem graça (na verdade eu era mesmo).

Enquanto passava pelo corredor da escola, em direção a sala de aula, um garoto japonês de cabelos lisos (que eu nunca pensaria em encontrar naquela escola, onde 99,9% dos eram negros) veio em minha direção.

– Hi, I'm Derick!- disse ele.

– O quê?- perguntei sem fazer a mínima idéia do que ele disse.

– Me desculpe, é que estou estudando para a prova de inglês! Você é Elizabeth Swank a garota nova. Oi eu sou Derick!

– Me chame só de Betty!- Odeio que me chamem de Elizabeth. Faz-me parecer Velha!

– Tudo bem!Se precisar de alguma coisa é só me chamar. - disse Derick.

– Acho melhor não! Sou o tipo de garota deprimida, sem um pingo de senso de humor, que por estar na puberdade, se interessa apenas por garotos bizarros que escondem um segredo esdrúxulo.

Então fomos para a aula de inglês.

Além de Derick, conheci Michael, Rosangela e Jessie. Na hora do almoço me sentei com eles, e enquanto Jessie não parava de falar, um grupo de adolescentes de rostos pálidos e roupas estilosas entraram no refeitório. Não conseguia parar de olhá-los, pois eles eram mais brancos do que eu.

– Quem são eles? - perguntei á Jessie.

– Pedro, Alice, Roberta, Diego, Tomás e...

– Não estou falando dos idiotas da novela "Rebelde", estou falando deles!- quando então lancei um olhar de volta á mesa dos adolescentes pálidos, que pensei até em serem albinos.

– Ah, são os Dullen. Demmentt, Rose, Hasper e Alicia. Todos eles estão juntos... Sabe, namorando! - disse cochichando.

– E quem é ele? - me referindo ao garoto pálido de cabelos ruivos.

– Aquele é Edwin Dullen. Ele é tão gato! Mas não pega ninguém!

Quando me virei, fiquei olhando para Edwin, então ele começou a me encarar. Ficamos trocando olhares até eu ficar vesga de tanto olhar para ele! Edwin virou seu rosto para o lado. Também virei meu rosto, mas continuei a espiá-lo, até que o sinal bateu, ele saiu rapidamente e fui para a sala de aula.

Chegando na sala, lá estava ele sentado. Era aula de biologia, então me sentei ao lado de Edwin, pois ele não tinha um parceiro e nem eu. Então ele tampou seu nariz com a mão, parecendo que algo estava fedendo. Acho que era eu, devo ter me esquecido de raspar a virilha ou de passar desodorante.

– Por acaso eu estou fedendo? - perguntei envergonhada á Edwin.

– Sim. Cheiro de alho!- respondeu.

Nesse mesmo momento joguei fora a pizza de alho que estava na minha mochila.

– Oi, sou Edwin Dullen. Você deve ser Betty Swank, não é?

– É. - respondi balançando a cabeça.

Em seguida, começamos a conversar sobre coisas muito estranhas, que acho melhor não comentar. Então ele empurrou um vidro de perfume em minha direção, quando fui pegá-lo minha mão encostou-se à dele e senti que sua pele estava muito gelada. Edwin ficava me observando a aula inteira, até que o sinal bateu e ele saiu.



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