Lembro que um dia, no meu primeiro dia de aula, minha professora de biologia deu uma explicação facil e detalhada sobre “dores” e disse alias, que havia um lado bom em toda a dor, por que era por ela que sabíamos que havia alguma coisa errada com a gente.

Mas estava claro que a vaca nunca havia passado por uma ressaca.

E o pior é que além da dor de cabeça inquestionável, eu ainda tenho que aguentar os roncos do meu irmão. Veja bem, a noite foi longa ontem e tudo o mais, nada que incluísse belas tailandesas sem roupa na minha cama, foi apenas isso, uma noite longa.

Não que eu me lembre de muita coisa, porque, veja bem, eu estava bêbado.

Mas me lembro perfeitamente bem do rosto claro, das bochechas rosadas e dos lábios finos que sorriram para mim.

E claro, de troca de frases incluindo a palavra proibida “amor”.

Até ai, tudo bem.

Ou pelo menos até eu não lembrar que disse tais palavras para Katie Gardner, a garota que possivelmente me odeia mais que qualquer uma nesse acampamento.

-Eu disse para você não beber, Travis.

Mandei um olhar de fuzilamento para Chris, que já estava acordado e arrumando seu beliche.

-Ótimo, até meu irmão quer me dar lição de moral.

-Eu sei – Chris disse rindo – Alias, a Katie veio te procurar hoje de manhã.

Espera, o que?

Por todos os deuses do Olimpo, agora eu estou ferrado, provavelmente ela veio jogar na minha cara que não sente o mesmo por mim, que vai casar com um filho de Apolo, ir morar em uma casa grande e amarela em New Jersey, ter um cachorro chamado Rex, quatro filhos lindos e saudáveis e uma vida perfeita com seu marido perfeito, que eu orava para Afrodite para não ser o Will.

Mas no fim eu não disse nada disso.

-É? Legal, eu vou dar uma volta.

Chris apenas deu de ombros, me deixando pegar minha toalha velha e suja em cima da cama e ir para os chuveiros.

Sabe aqueles momentos em que você acha que o mundo não poderia ser pior?

Então esse era o momento de surtar como uma garotinha, pois eu não tinha me tocado o quão perto os chuveiros eram dos campos de morangos. E para a minha sorte lá estava a filha de Deméter que eu menos queria ver naquele momento e para meu dia melhorar ainda mais, ela me viu, se levantou e veio na minha direção. A coisa mais sensata a se fazer era fugir. Dei meia volta literalmente fugindo da Katie, a minha única alternativa era dar uma volta inteira no acampamento para chegar aos chuveiros.

Você por acaso tem idéia do que é andar um acampamento inteiro para fugir de uma garota jardineira psicopata? Eu sei e não te recomendo.

Cheguei aos chuveiros totalmente ofegante, entrando no lugar e me sentando em um banco para poder respirar. Foi quando eu fiquei branco de medo pela figura de cabelos castanhos e olhos bem verdes em pé a minha frente, como se eu devesse algum tipo de explicação para ela.

-Travis.

-Katie! Que bom te v-

-Deixa eu te perguntar uma coisa – ela me cortou – Foi você que roubou o meu regador? Eu estou realmente precisando dele.

Engoli em seco, isso só pode ser brincadeira com a minha cara.

-Não.

-Ah, valeu.

Só isso? Ela correu até aqui só para me perguntar por um regador?! Ela se virou para ir embora, mas eu fui mais rápido e a segurei pelo pulso.

-Como chegou aqui tão rápido?

-Fácil, peguei um atalho. Quer que eu te ensine?

Balancei a cabeça, ainda a segurando pelo braço.

-Pelos Deuses Travis, me solta, eu ainda tenho que voltar para os campos de morango.

-Katie, você veio aqui simplesmente... Para me perguntar pelo seu regador?

-É.

Ela disse como se fosse obvio.

-E sobre ontem?

-Quando você ficou bêbado e falou como o maior babaca do século? Por que falar sobre isso?

Suspirei, ok, Katie Gardner só podia estar mesmo brincando com a minha cara.

-E-Eu me declarei para você.

-Eu sei.

-E você não tem nada a dizer sobre isso?

Cara, o que esta acontecendo comigo? Pelos Deuses, eu ainda nem dei um beijo nela!

-Não Travis, eu não estou nem ai para os surtos que você tem quando está bêbado.

-Sabe o que você está merecendo Katie? - ela levantou uma sobrancelha – Um banho.

-Como assi- Puxei-a para dentro de um box a impedindo de continuar com seu papo chato. Cara, como eu quero beijar essa garota.

-Qual o seu problema, garoto?

-Você Katie, você é o maior dos meus problemas e o único que eu quero ter por muito tempo.

Ela pareceu bem assustada, por que arregalou os olhos verdes e bateu em mim. Doeu cara, mas não é como se eu não soubesse que Katie Gardner tem uma mão forte.

-Isso é jeito de falar comigo, garoto? - ela perguntou toda histérica, enquanto saia do box – Agora estou completamente molhada, por que certos filhos de Hermes não entendem que filhas de Deméter não tem o mesmo poder que os de Poseidon.

Suspirei, pelo visto, tinha muitos suspiros para soltar hoje.

-Poxa Katie, você acha que eu não me lembro que você me disse que sentia o mesmo? - sorri – Eu já entreguei os pontos, Katie.

Esperava que ela saísse correndo ou algo do tipo, mas Katie me surpreendeu ao segurar meu rosto com as mãos. Sorri, eu sabia que Katie não resistia ao meu charme e me beijaria com toda sua paixão reprimida.

-SÓ NUNCA, OUVIO BEM? NUNCA, NUNCA ME MACHUQUE E SE VOCÊ FICAR BÊBADO DE NOVO EU TE IMPOSSIBILITO DE GERAR FILHOS!

Bem, pelo menos ela me beijou depois disso.