Era noite de véspera de Ano Novo. Rushvalley queimava em luzes que haviam continuado ali mesmo depois do natal e as vozes felizes vinham das casas em todos os lugares.

-Ed, Ed, onde está aquela colher de pau que eu deixei em cima da pia? –Berrei da cozinha, tinha quase certeza que ‘sumiço’ da colher era coisa dele.

-Bem, se é a que estou pensando, eu coloquei dentro da pia. –Ed berrou dos fundos da casa, de cima de uma escada, estava arrumando um festão vermelho que escorregava de cima da janela.

-Achei! –Berrei em resposta tirando a colher de dentro da pia e enfiando-a dentro da panela, onde fazia um guisado com carne e legumes.

-Ei, Winry, quando será que todos vão chegar? –Disse Ed chegando sorrateiramente na cozinha, a ponto de quase me assustar. Eu me questionava como ele podia ser tão rápido com as coisas mesmo não sendo mais alquimista... Nem baixinho.

-Bem, a vovó disse que ela virá com o Al e mais alguém, ela só não se lembra quem. –Respondi colocando uma gota do caldo que borbulhava dentro da panela com a colher e experimentando.

-Será que não devemos buscá-la na estação de trem? –Perguntou Ed com sua velha ansiedade de sempre.

-Ora, largue mão de ser impaciente, eles vão chegar a tempo, além do mais, seu irmão está com a vovó, nada pode dar errado. –Disse levantando uma sobrancelha e olhando a para ele um pouco nervosa.

-Ah, desculpa se eu te irritei. –Disse ele bufando.

-Tudo bem, está desculpado. –Disse fingindo ainda estar brava para fazê-lo se aproximar. Via a preocupação dele e quando estávamos próximos, pulei em direção a ele e roubei-lhe um beijo, que teve tempo de ser retribuído, apesar do barulho irritante da campainha ao fundo.

-Já vai! –Berrou ele me dando um selinho e indo até a porta.

-Nii-san! –Disse uma voz conhecida. Tirei o avental e saí da cozinha, indo até a porta.

-Al, vovó! –Exclamei feliz e fui na direção deles para abraçá-los.

-Oi Winry, como vai? –Disse Al entrando e pendurando o casaco próximo à porta, no pendurador de roupa.

-Estou bem. E você vovó, não vai me cumprimentar? –Disse lançando um sorriso quase iluminado para minha avó. Ela retribuiu o sorriso e isso foi o suficiente para que eu pudesse saber que ela estava feliz em me ver.

-B-Bem... Posso entrar também? –Perguntou uma voz aguda, de uma garota ainda criança, pode-se dizer assim, que surgiu por de trás de Al.

-May, o que está fazendo aqui? –Perguntou Ed olhando para ela.

-Bem, o Al-sama me convidou para vir, sabe, eu estava passando um tempo em Resembool, então, aceitei o convite. –Respondeu ela com um sorriso tímido. Vi que May estava maior do que da última vez, parecia agora tem por volta de 11 ou 12 anos, mas não se separava daquele pequeno gatinho preto e branco, que eu sempre achei muito parecido com um panda.

-Ei, Al, vem aqui um minuto. –Disse Ed fazendo um sinal para que o irmão se aproximasse. Al foi até ele com um tom de estranheza e assim que se aproximou, Ed puxou-o para um canto e começaram a cochichar. –Então a princesinha de Xing estava na casa da vovó, não é? Al, eu sempre soube que você tinha esse dom...

-Nii-san, pare, ela pode ouvir!

-Al... Vocês estão namorando?

-N-Não! Pare com isso nii-san!

-O que aqueles dois tanto tagarelam feito imbecis? –Perguntei a mim mesma em voz alta, olhando envergonhada para a cena dos irmãos Elric.

-Espera, que cheiro é esse? –Disse May torcendo o nariz para senti-lo melhor.

-Ah meu Deus, eu estava esquecendo do guisado! –Disse e saí correndo em direção à cozinha, antes que meu trabalho de quase uma hora fosse arruinado. Ao chegar até ela, corri o máximo que pude até o fogão e apaguei o fogo. Depois disso, me joguei sobre uma cadeira que estava desencostada da mesa, sentindo um tanto de cansaço, algo estranho.

-Winry, está tudo bem? –Perguntou minha avó entrando na cozinha e me vendo ofegante.

-Ah, sim, estou, por quê? –Respondi com um sorriso amarelo no rosto.

-O Ed me contou na carta que vocês mandaram no mês passado sobre alguns mal-estares que você teve, ele disse que você até desmaiou, por acaso é algo grave? –Perguntou ela preocupada puxando uma cadeira para sentar-se ao meu lado.

-Bem... Eu não sei! Sabe, eu e o Ed estamos tão felizes casados, faz um ano só e, ah, é confuso, não quero ter que contar pra ele bem agora que estamos indo tão bem e que ele finalmente tomou sossego e está aprendendo a mexer com auto-mails! –Resmunguei em tom de desabafo, colocando as mãos sobre o rosto, o que bagunçou minha franja.

-Winry, se acalme, o Ed não pode achar que você é a errada, aliás, ninguém está errado nos seus enjôos e dores de cabeça. –Disse minha avó me tranqüilizando, com a mão sobre meu braço, na altura do bíceps.

-Acha mesmo? –Perguntei olhando para ela e engolindo algumas lágrimas que ameaçavam sair de meus olhos.

-Tenho certeza disso, aliás, se ficar nervosa, pode passar mal e com certeza não seria bom. Winry, a queima de fogos será daqui a pouco, falta pouco para a meia-noite, então, prometa que você vai falar para ele, certo?

-Tudo bem vovó, eu digo. Só espero que o Ed não fique com raiva de mim. –Disse meio desanimada olhando para baixo, pensativa.

-Ei, vovó, Winry, o nii-san está chamando vocês para irem lá fora, o vizinho de vocês chamou todo mundo para ir até a rua olhar os fogos que logo vão começar a estourar e para fazer o primeiro brinde do ano. –Disse Al entrando na cozinha de repente, me surpreendendo. –Está tudo bem?

-Claro que está, ora, por que não estaria? – Respondeu minha avó evitando gerar qualquer desconfiança da parte de Al. - Só a Winry que está falando para mim sobre aqueles enjôos e dores de cabeça estranhas, ela disse que acha que deve ser cansaço.

-Entendo. Acho que você devia tirar férias, Winry-chan. –Disse Al com um sorriso.

-Winry, Al, vovó, venham aqui! –Berrou Ed com entusiasmo quase infantil, o que fez todos nós corrermos até a porta. Paramos diante da rua e olhamos o imenso céu que agora estava repleto de tiras de cores que se espalhavam. Olhei para o céu encantada, mas tirei os olhos dele rapidamente quando senti a mão de Ed sobre a minha, acariciando-a. Olhei para ele um tanto corada, eu ainda tinha essa mania, apesar de já estarmos casados há quase um ano.

-Feliz Ano Novo, Winry. –Disse ele baixinho e depois sorrindo para mim. Senti o coração dar um pulo no peito e um frio balançar minha barriga a ponto de que ela doía um pouco e eu parecia querer ficar enjoada.

-Ed, eu tenho uma coisa para te contar. –Disse olhando para baixo, podendo ver nossas mãos unidas. Eu apertei a mão dele com força sentindo o enjôo aumentar e uma ânsia de vômito começava a surgir.

-Diga, assim vai me deixar curioso e, bem, preocupado também. –Disse ele tocando meu queixo com a mão e levantando meu rosto, a ponto de que ficamos com os olhos bem próximos.

-Ed... Sabe, eu estive num médico a pouco tempo depois de ter passado mal mais uma vez. Ele me examinou e disse, bem, ele disse...

-Ele disse o que Winry? Diga logo! –Disse ele nervoso me olhando com preocupação. Senti a mão dele apertar a minha com um tanto mais de força e depois soltá-la como se tivesse percebido que aquilo doía.

-Ed, bem... Eu estou grávida! –Disse fechando os olhos com força, sentindo algumas lágrimas de alívio saírem deles. Abri-os lentamente para não ter que ver a expressão dela, mas foi impossível e logo eu estava encarando o rosto dele, que parecia estampar um misto de nervosismo e surpresa.

-Winry, isso é sério? –Perguntou ele lançando os olhos um pouco para o chão.

-S-Sim... Ed, é isso mesmo, eu estou grávida. –Disse com força e em voz alta, nem me importando com todos que estavam ao redor e que subitamente, passaram a nos encarar.

-Winry... WINRY! –Berrou ele depois de dizer meu nome em voz baixa. Ele deu um salto em minha direção e me acolheu nos braços dele com ternura, me abraçando apertado. –Winry, então, então... Winry, nós vamos ter um filho, um filho!

-Nii-san, parabéns! –Disse Al em voz alta.

-Winry-san, Edward-san, parabéns! –Disse May sorrindo para nós quando finalmente nos separamos um do outro e ficamos apenas com as mãos unidas.

-Ah, obrigado. Acho que ainda terei que me acostumar com a idéia, afinal, logo vai ter mais gente aqui e tudo mais... –Disse Ed coçando a cabeça, envergonhado.

-Isso mesmo, melhor ir se acostumando senhor Edward Elric, é melhor ir se acostumando, afinal, você irá trocar muitas fraldas dentro de alguns meses. –Disse provocando-o.

-Eu sei, eu sei, mas eu aprenderei, acho. –Disse ele com um sorriso, o que me fez rir também.

-Olha, mais fogos! –Disse minha avó apontando para o céu. Viramo-nos todos para aquele céu que agora voltava a se encher de cores com mais fogos de artifício. Olhei para Ed rapidamente, ele fez o mesmo e nossos olhos se encontraram exatamente no mesmo tempo.

-Ano que vem mais alguém poderá ver essa queima de fogos, não é? –Disse ele voltando os olhos para o céu.

-Sim... Ed, você acha que será o que, menino ou menina?

-Bem, nem sei dizer, mas para mim tanto faz, acho que vou amá-lo ou amá-la tanto que o sexo nem importa.

-Verdade. Mas se nascer uma garota, eu escolho o nome!

-Ok, mas se for um garoto, eu escolho.

-Tem certeza? Não quero que você pense em nenhum nome estranho.

-Pode deixar, não vou pensar. Winry... Eu te amo.

-Eu também te amo Ed. – E assim dizendo, pousei minha cabeça sobre o ombro dele enquanto ele pousou a outra mão sobre minha barriga.

FIM