Terminei de dirigir até o prédio, Near era meio estranho, aquela falta de sentimentos dele me irritava de certa forma. Chegamos em casa e eu escutei barulho de tiros, Near somente olhou para os lados e então viu Matt jogando Left 4 Dead. Eu o empurrei para dentro e Matt parou o jogo e nos olhou, sua cara de interrogação me fez tentar abafar a risada, mas acabei não conseguindo. Near olhou para mim e para Matt umas quatro vezes, logo o senhor goggles abriu a boca.

–Okay, Mihael Keehl, me explica agora tudo!

Explanations of Life

-Certo eu explico, Near pode ficar aqui na sala. Tem comida na geladeira se você quiser.

-Obrigada Mello...

Levei Matt até meu quarto. Peguei uma coca e a abri, tomando um pouco do conteudo. Ele me olhava um pouco impaciente, bem, paciencia era o que ele menos tinha nessa vida... Me sentei ao seu lado na minha cama, ele continuava me olhando enquanto eu bebia um pouco  mais do refrigerante.

-Mello...

-Hm?

-Será que DAVA PRA VOCÊ PARAR DE ENROLAR E CONTAR LOGO O POR QUE!?

-O por que do que? - O olhei provocando, ele sorriu sabendo o que eu estava fazendo. Joguei minha cabeça pra trás e ri. - O garoto também é orfão.

-O que?

-É isso mesmo. - Me levantei e sentei na pequena mesa que havia ali. - Ele não tem pra onde ir, deixe-o ficar aqui até que o machucado melhore.

-Nunca vi você sendo bonzinho dessa maneira, Mello - Ele riu alto e jogou a cabeça pra frente.

-Na verdade não é bondade, e você sabe do que eu estou falando.

-É, eu sei como é dificil perder os pais e ficar vagando por ai sem lugar pra ficar.

-Você se lembra quando nós fugimos do orfanato, não é?

-Lembro muito bem. - Disse o ruivo se apoiando na parede com as mãos na nuca. - Como se a gente ainda tivesse nossos dez anos... - Sorri e as memorias vieram a minha cabeça.

Flashback On

Estava frio, era um inverno muito rigoroso, mas era a nossa única chance de sair daquele lugar. Estavamos fazendo nossas malas, não, malas não, era menor e mais facil de transportar. Havia colocado algumas roupas ali e o retrato de meus pais, Matt havia feito o mesmo. Fui para a janela e olhei o céu, nevava e não dava pra ver a lua direito, eu tinha apenas dez anos, como eu ia saber que a maior nevasca da nossa vida ia ser bem no dia em que finalmente saimos daquele lugar. Faziam pelo menos quinze minutos que haviamos conseguido nossa liberdade, então começou. O frio aumentou, vamos dizer, em dez vezes. Matt tinha poucos agasalhos, tivemos que correr para nos proteger de uma hipotermia. Naquela noite ficamos num beco, com a compania um do outro. Não só naquela noite, ams também pelas longas noites de inverno, mas dois anos depois,  quando a primavera veio, chegou uma luz para nos ajudar...

Flashback Off

-E a gente tá vivo até hoje por causa daquela senhora.

-Pois é Matt. Por isso chamei aquele garoto, o Near, para ficar conosco, até ele achar um lugar pra ficar - Sorri para Matt.

-Entendi, entendi.

-Mas tem algo nele, que me incomoda...

-O que Mello? - Ele se levantou e encostou na parede perto de mim.

-Ele não demonstra absolutamente nada. Nada, sabe o que é isso?

-Eu sei muito bem o que é Mello. - Ele deu um soco de leve no meu ombro e eu fiz o mesmo com ele. - Estranho, para alguém tão novo como ele...

-Até eu sou explosivo as vezes.

-As vezes Mello? Tem certeza que é só as vezes?

-Cala a boca senhor goggles!

-Olha o que eu acabei de falar... - Ele revirou os olhos, abriu a porta e saiu numa pequena corrida, eu fui atrás.

-Volta aqui seu...

Parei ao ver Matt parado também e olhei para a sala, Near havia dormido. Seu rosto era extremamente angelical enquanto ele dormia, não parecia ser tão seco assim, e eu tinha que admitir, ele ficava bonito daquela forma. Balancei a cabeça negativamente, dispersando o pensamento. Olhei para Matt, que agora me encarava.

-O que foi!?

-Nada não Meldonna. - Ele riu infantilmente. - Eu vou arrumar uma cama pra ele, onde eu posso fazer isso?

-Pode ser no meu quarto, eu me responsabilizo.

-Aham sei da sua "responsabilidade". Não é pra abusar do muleque não eim!

-Idiota, EU LÁ TENHO CARA DE GAY!?

-Bem... - Eu o olhei com raiva e engoliu as palavras. - Só não faz barulho pra não acorda-lo. Vou colocar um colchão no chão do teu quarto.

Matt o fez e logo após me chamou. Peguei o garoto no colo, e pra uma pessoa daquele tamanho ele era bem pesadinho. O coloquei no colchão, não fiz questão de colocar outra roupa nele. Me troquei e me joguei na minha cama. Sonhei com o dia em que Matt e eu fugimos do orfanato. Pela manhã acordei com um barulho alto pra caralho na cozinha. O que diabos tá acontecendo!?