Capítulo 11

Manu mal se concentrou nas aulas. Sua mente estava bem longe dali. Pensava em JP, no quanto estava contente por poder fazer as pazes com ele. Se tinha alguma certeza na vida, era que amava o rapaz e lutaria para que nada os separasse novamente.

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À medida que João Pedro foi ficando mais pálido, Hugh percebeu que algo de grave tinha acontecido. Preocupado, esperou que o amigo terminasse de falar no celular para então saber o que era, mas, para seu espanto, o rapaz fechou o seu celular, disse um até logo e foi embora sem nem olhar pra trás, sem nem explicar o que tinha escutado no telefonema e sem dizer se estava bem ou não.

Ele viu o amigo se distanciando cada vez mais da universidade, porém achou melhor nada fazer. Se JP precisasse de ajuda, com certeza acabaria por pedir.

Entretanto, o carioca em nenhum instante pensou que pudesse ter preocupado o inglês. Na verdade, o rapaz estava completamente zonzo e a única coisa que conseguia pensar era: “Ela não faria isso comigo, ela não me trairia! Ou faria?”

Esse tipo de pensamento o consumiu até que ele chegasse em casa.

Sentou-se em frente ao computador e viu que Manu não respondera seu email. Apesar de ter ficado chateado, era outro email que ele estava esperando. E não desligaria o pc antes de recebê-lo.

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Cínthia desligou o telefone e achou graça. Apesar de não ter planejado nada, seu plano saíra completamente certo.

Tirara o ID do seu celular e ligara para o rapaz se identificando como uma amiga. Dissera que o achava muito legal para ser enganado daquela forma.

Ele, obviamente, não entendera nada e então ela lhe dissera que Manu o enganava. Mal voltara ao Brasil e já estava de caso.

- Isso é impossível! – ele respondera num tom que mostrava dúvida.

- Você não percebeu que ela mudou?

- Sim, mas...

- Eu posso provar o que estou dizendo. Fotos valem mais que mil palavras. Você me passa o teu email e eu te mando a prova de que sua namorada é infiel. E se você quiser continuar tendo a testa enfeitada, aí será um problema seu.

O rapaz passara e dizendo que em breve mandaria as fotos, ela desligou.

A parte 1 do seu plano estava pronta. Agora precisava ir pra parte 2. Ela precisava arranjar fotos comprometedoras e apenas uma pessoa poderia proporcionar isso...

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Babi acordou melancólica. Sonhara que Helena a largara para ficar com a vocalista. Sabia que tinha sido apenas um pesadelo, mas não conseguia deixar de sentir uma dor no peito ao pensar nessa possibilidade.

Pensou em ligar para ela, mas lembrou-se que a catarinense deveria estar na aula. Como suas aulas eram à noite, a baterista podia sempre se dar ao luxo de acordar bem tarde.  Sem conseguir voltar a dormir, resolveu pegar seu caderno e escrever alguns versos que poderiam se transformar numa canção.

Precisava dar um jeito de diminuir aquela dorzinha chata e se concentrando, começou a escrever...

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João Pedro ouviu seu celular tocar e ao olhar para o visor, não atendeu. Não queria falar com a garota até ver as tais fotografias, até saber se realmente tinha sido traído ou não.

Manuella não quis deixar recado na secretaria eletrônica do rapaz e então resolveu ligar mais tarde. Já ia guardando o aparelho quando ele começou a tocar.

- Alô?

- Oi, Manu! – cumprimentou entusiasmada.

- Olá, Alicinha. – disse a outra num tom distante.

- Tudo bem? – perguntou estranhando o tom de voz da outra.

- Sim... Foi bom você ter me ligado. Preciso conversar contigo. A gente pode se ver hoje a tarde?

- Claro. No mesmo lugar da última vez?

- Sim, sim, pode ser... – respondeu sorrindo. – E no mesmo horário.

Manu desligou a chamada confiante. Acertaria tudo com a mais nova e estaria totalmente pronta pra voltar com o namorado. Já Alice estava preocupada. O telefonema que recebera da prima fora muito estranho. Pedira que lhe avisasse o horário e o local onde encontraria a garota e pedira que lhe beijasse quando a visse, dizendo que Pierrot com certeza adoraria essa surpresa.

Mesmo sem entender, avisou Cínthia do combinado e, na hora marcada, a baixista estava muito bem posicionada pra tirar as fotos do beijo cinematográfico que Alicinha dera na vocalista.

- Hey, calma. A gente não pode fazer isso. – disse Manu lhe afastando.

- Por que não? – perguntou confusa.

- Vou voltar com o João. Ele me mandou um mail e a gente vai se acertar. Me desculpa se estou te machucando, mas eu gosto muito dele. Não quero correr o risco de perdê-lo.

A loirinha abaixou a cabeça e nada disse. Fez força para conter as lágrimas, mas não obteve sucesso. Elas começaram a descer cada vez mais fortes.

A mais velha lhe abraçou.

- Não fica assim, Alicinha. Não mereço tuas lágrimas. Você merece o mundo, minha linda!

- Mas não mereço você, né? O que eu represento na tua vida? Um grande zero, né? – falou magoada.

- Alicinha, sempre disse que amava o João.

- Mas ontem você disse que ia tentar comigo.

- Eu sei, mas seria um erro. Só acabaria te machucando ainda mais. Me entende, por favor!?!

- Tudo bem, Manu. Não se preocupe. Vou pra casa, você já deve estar atrasada pro ensaio da tua banda.

Ela ia dizer que isso não importava, mas resolveu ficar quieta. Era melhor deixar a mais nova sozinha.

- Você tem razão. As meninas já devem estar me esperando. A gente se fala outro dia então. – falou acariciando o rosto da garota e indo embora.

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Cínthia viu a prima ir embora e ficou entristecida por ela. Sua feição mostrava o quanto estava sofrendo e aquilo lhe incomodou, apesar de não poder fazer nada. Aquela visão lhe deu mais forças pra seguir com o seu plano e consultando o relógio, percebeu que não tinha tempo de ir em casa passar as fotos.

Parou numa lan house e descarregou a câmera. Selecionou as melhores fotos e as anexou. Ficou alguns segundos pensando se devia mesmo enviá-las ou não. Sabia que aquela era uma atitude muito baixa, entretanto achava que estava fazendo o certo e então clicou em enviar...

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- Você demorou, Manu! – se queixou Babi.

- Ah, a Cínthia também não chegou.

- Ela disse que ia chegar um pouco atrasada, mas que podíamos ir começando sem ela. – falou Letícia.

- Queria mostrar uma letra que fiz hoje. – disse a baterista. – Nem preciso dizer que foi pra minha namorada, né? – emendou sorrindo e deixando Naná surpresa.

- Pra mim?

- Claro, amor! Espero que goste.

As meninas pegaram o papel e começaram a ler.

Sabe, o meu coração
Guarda um tanto de amor
É o fruto do que você semeou
Você pode regar
Que o que der é só teu
Benza a Deus que você apareceu...

Tive um sonho ruim,
Vi você me deixar
Tava meio sem jeito de falar
Que bom poder desabafar...

Teu amor me mudou
Fez o ser que eu sou
Sabe dar tudo que eu quero
Você me trouxe a paz
Mal de amor nunca mais
Quero amor eterno...

- Nossa, é linda, Babi! – disse Letícia.

- É muito linda mesmo. Quero tocá-la logo e ai qualquer coisa mudamos algumas notas, o que acham? – perguntou Pierrot animada.

- Você gostou, Helena? – perguntou Bárbara baixinho, vendo o silêncio da catarinense.

- Demais! Nem sei o que dizer... Me desculpa pelo meu comportamento estranho? Eu te amo muito, Babi, muito mesmo! – respondeu enlaçando o pescoço da garota e lhe dando um beijo bem apaixonado.

- Uiiii... Esperem chegar em casa, a gente não precisa ficar vendo isso. – brincou Manu.

O casal sorriu e se dirigiu aos seus instrumentos.

Cínthia chegou algum tempo depois e logo o quinteto ensaiava como nos bons tempos...

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JP perdera a conta de quantas vezes checara seu email sem encontrar o que queria. Já estava quase desistindo quando finalmente viu um mail com o assunto fotos.

Seu coração acelerou rapidamente e suas batidas lhe davam a impressão de que podia ter um ataque a qualquer momento. Sentiu um frio enorme na barriga e uma dor no estômago.

Ficou olhando algum tempo para o monitor sem ter coragem de clicar. O que veria ali poderia mudar sua vida, mas não era isso que o assustava. O que o assustava era a idéia de descobrir que todo aquele tempo vivera uma mentira e criando uma coragem que não sabia de onde surgira, ele clicou.

Foi descendo a página e vendo as várias fotos. Seu coração estava ainda mais acelerado, o frio na barriga muito maior e a dor era tão forte que ele se encolheu todo, tentando diminuí-la.

As lágrimas rolaram incessantemente e sem perceber, ele se viu olhando pro nada... E depois de algum tempo constatou que já não tinha chão, não tinha rumo, não tinha planos, nem sonhos... Tudo o que tinha era uma alma despedaçada e um coração partido em vários pedacinhos...

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Quando a turma foi embora, Pierrot se viu finalmente sozinha e pronta para ligar para a Inglaterra. Seu coração estava aos pulos enquanto esperava o rapaz lhe atender.

Depois do quinto toque, ele disse alô.

- Oi, amor! Finalmente consigo falar contigo. Fiquei tentando um tempão e nunca conseguia. Por que você não atendeu minhas outras chamadas?

- Manuella, por favor, não me procura mais. – ele falou sombrio.

- O quê? – ela perguntou sem entender. – Por que você está me dizendo isso, João? Você me mandou uma música tão linda, uma declaração de amor tão perfeita que me fez ir ao céu de tanta felicidade. Por que você está fazendo isso comigo agora?

- Não precisa mais fingir. Já sei de tudo.

- Tudo o quê? – perguntou irritada. – Eu sou louca por você, João! Te amo como jamais pensei que pudesse amar novamente. Passei o dia todo louca pra poder te encontrar, pra poder fazer as pazes e você me trata desse jeito, todo frio comigo. O que foi que eu fiz?

- Me traiu! – ele respondeu sem qualquer alteração na voz, deixando a vocalista totalmente chocada.

- O quê?

- Sabe o que estou vendo nesse momento? Você beijando uma garotinha aí no Rio.

Manu ficou sem palavras. Como ele podia estar vendo isso?

- Como? Você mandou alguém me seguir?

- Não seja ridícula! Uma amiga sua me mandou várias fotos. Enquanto eu chorava por medo de te perder, você se divertia com outra. Vou te enviar as belas fotos. – falou debochado.

- João, eu não tenho nada com essa garota. – ela disse enquanto corria até o quarto para abrir seu email.

- Não tenta me enganar, Manuella. Não piora as coisas. Assuma e pronto.

- Acredita em mim, João! Por favor! Eu não tenho nada com a Alicinha. Ela me beijou, foi só isso. É você quem eu amo.

O rapaz ficou em silêncio, olhando pras fotos. Manu também viu e ficou ainda mais chateada. Aquele fora um beijo de surpresa, ela não tivera culpa alguma.

- João, foi ela quem me beijou. Acredita em mim, por favor!?!

Ele ficou olhando pros braços da garota envolvendo a cintura da loirinha. Queria acreditar, mas não podia. Aquelas imagens falavam por si só.

- Não. Eu não acredito em você. Por favor, não me liga mais, não quero mais saber de você! – falou começando a chorar e desligando o telefone para que ela não ouvisse o sofrimento dele.

A escritora ficou olhando pras fotos enquanto as lágrimas escorriam. Não era justo! Quando finalmente encontrara o amor que sempre quisera, ele era tirado dela dessa forma. Sabia que o namorado jamais a perdoaria e aquilo lhe machucava muito. Entretanto, no meio de toda aquela dor, ela teve um momento de lucidez e então sentiu a dor aumentar ainda mais.

Ela fora traída. Apenas alguém que sabia do envolvimento dela com Alicinha poderia ter tirado essas fotos. E as únicas pessoas que sabiam eram as meninas da banda. Não conseguia acreditar que alguma delas poderia ter feito isso. Só poderia ter sido alguém a pedido de Alice.

Sentiu a raiva brotar em seu coração. Só podia ter sido ela. E de uma coisa ela tinha certeza... Alicinha se arrependeria profundamente de ter feito isso...