Capítulo 1

                - Nada me faria tão feliz quanto ouvir você dizer sim.

                Manuella olhava para o jovem que estava a sua frente sem saber o que responder. Aproveitou para olhar o seu corpo magro, mas musculoso, seus cabelos castanhos com pequenos cachinhos que ele deixara crescer a seu pedido. A barba também castanha por fazer como ela tanto gostava. Ele deixara de usar o cabelo curto e deixara um pouco de barba só para agradá-la e tinha ficado ainda mais lindo que antes... Parecia um anjo caído do céu...

                - João Pedro, não acha que é muito cedo? Estamos namorando há apenas um mês.

                - Minha linda, nos amamos, estamos sempre que possível juntos. Não vejo razão para pagarmos dois aluguéis, quando poderíamos economizar esse dinheiro e gastar com outras coisas. Venha morar comigo, Manu...

                A vocalista sentou no sofá tentando ganhar tempo. Se dissesse sim, passaria praticamente a ser uma mulher casada, mas sabia que o namorado estava certo.

                Parecendo adivinhar o seu temor, o rapaz sentou-se também e disse:

                - Fique tranqüila. Não será um casamento. Apenas iremos morar juntos. Isso é tão normal por aqui...

                - Mas não é no Brasil.

                - Só que nós moramos aqui, meu amor. Ainda sou muito jovem pra casar. Não quero nem pensar em filhos tão cedo. Será como se fôssemos colegas de quarto, com a diferença de que dormiremos juntos. – falou sorrindo.

                Seu sorriso sempre acalmava a escritora. Ao lado dele ela encontrara a paz de um amor tranqüilo e sereno. Sentia-se protegida e segura.

                - Poderemos tentar. Se não der certo, voltamos a orar em lugares diferentes. – ele disse vendo-a quase convencida.

                - Bem, se é assim, acho que podemos tentar.

                - Isso é um sim? – perguntou esperançoso.

                - Sim! – ela respondeu sorrindo.

                João Pedro lhe beijou com amor e algum tempo depois os dois se amavam ali mesmo...

333

                Manu abriu os olhos ao perceber a movimentação no avião. As pessoas se ajeitavam para poderem jantar.

                Consultando seu relógio, Pierrot constatou que decolara há aproximadamente uma hora. Mexeu as pernas e se ajeitou para poder comer.

                Um filme que ela já assistira passava no monitor e as músicas que tocavam nas 9 rádios oferecidas não lhe agradavam. Os outros canais não transmitiam filmes interessantes e ela percebeu que voltaria a relembrar os últimos meses da sua vida, assim como fizera antes do jantar...

333

                Os dois primeiros meses em Londres foram mágicos. Ela e João Pedro começaram a namorar uma semana após desembarcarem e ambos viviam passeando pela cidade, querendo conhecer todos os lugares bonitos.

                Tinham vários pontos em comum, gostavam dos mesmos filmes, das mesmas bandas.

                A música os aproximou ainda mais porque o rapaz adorava tocar violão. Depois que foram morar juntos, cantavam todos os dias.

                Em pouco tempo formaram uma dupla afinada. Ela cantando e ele tocando. Divertiam-se bastante e com o passar do tempo foram sendo chamados para tocar em festas pelos amigos que fizeram em seus cursos.

                Numa dessas festas veio o convite para tocar num pub. Eles aceitaram e ocorreu o primeiro show profissionalmente.

                Fora um sucesso. Os ingleses adoram o Brasil e isso ajudou que a dupla passasse a se apresentar semanalmente nesse pub.

                Certo dia, João Pedro voltara da faculdade com um sorriso brilhante.

                - O que aconteceu, meu amor? – perguntou Pierrot curiosa.

                - Olha essa reportagem no jornal.

                O seu sorriso foi aumentando a medida que lia.

                - João Pedro e Manuella são dois artistas muito competentes e que agradam aos bons ouvintes de música brasileira e da música em geral. – leu em voz alta um dos trechos do artigo.

                - Você ficou linda nessa foto, minha princesa. – disse o rapaz orgulhoso. – E tenho certeza que muitas pessoas irão ao pub para ouvir o nosso som.

                A escritora sorriu contente e abraçou o namorado.

                - E tudo isso graças ao Peter que nos viu naquela festa. – disse referindo-se ao dono do pub. – Nem acredito que tudo aconteceu tão rapidamente.

                - Sim, mas não podemos esquecer que também temos mérito. – ele falou beijando-a em seguida.

                - Hey, mocinho, vá com calma. – disse ela contendo os avanços dele. – Esqueceu que hoje é dia de irmos tocar?

                - Tudo bem! – ele disse soltando-a. – Mas quando voltarmos você não me escapa!

                Ela sorriu feliz e ele foi se arrumar.

                Seu sorriso foi morrendo ao lembrar que em breve suas aulas no Rio de Janeiro começariam. A idéia de voltar para casa lhe assustava. Temia que voltasse a ser a antiga Manuella atormentada pelos amores frustrados, sem a vontade de buscar a felicidade. Temia voltar a pensar constantemente em Roberta e em Helena.

                Aqueles meses longe do Rio lhe mostraram que Colombina fora apenas uma intensa paixão, mas mesmo assim temia se deixar envolver novamente pelos encantos da catarinense.

                Sabia que ela estava bem com Babi e desejava de todo o coração que as duas ficassem juntas para sempre.

                Beta tornara-se uma lembrança e a escritora apesar de lembrar-se muitas vezes dela, aprendera que precisava continuar indo em frente e que a ex-namorada só poderia ser uma doce recordação.

                Além do mais, em Londres tinha o namorado que sempre fora atencioso e amoroso. Amava-o!

                Manu ouviu o chuveiro ser desligado e parou de pensar no passado. Reconstruíra sua vida na Inglaterra e estava feliz assim. Decidida, resolveu que telefonaria aos pais no dia seguinte dizendo que não voltaria para casa...