Aiba-chan é indecente...

Esse era o pensamento que assolava a cabeça de um Sakurai atormentado naquela fatídica manhã de quarta feira. Isso tudo porque algum gênio, com o perdão do sarcasmo, tinha resolvido entregar nas mãos de Aiba Masaki um pirulito sabor morango.

Ah, aquela droga de pirulito. Pensava Sakurai.

E como pode um simples pirulito nas mãos do inocente Aiba atormentar alguém? Simples, porque na cabeça nada casta de Sakurai Sho não haviam nada mais do pensamentos totalmente impróprios para aquele horário da manhã.

Sim, pois na visão dele, Masaki se encontrava não apreciando um delicioso pirulito, mas sim quase fazendo amor com ele. A forma como ele rodava o pirulito em sua boca, ou como o lambia de cima em baixo lentamente enquanto franzia a testa concentrado que estava em ler sua revista estava começando a deixar as calças de Sakurai apertadas. Mas o pior era mesmo quando Aiba tirava o pirulito da boca e passava a língua lentamente pelos lábios para aproveitar o sabor que permanecia ali, o que acabava deixando aqueles lábios obscenamente fartos com uma deliciosa e super tentadora cor ainda mais avermelhada. E para o desespero de Sakurai, logo Aiba voltava a colocar o pirulito na boca e o ciclo recomeçava.

Sakurai nem sequer se dera conta de ter deixado um gemido baixinho escapar de seus lábios até sentir algo pesado bater em sua cabeça. Virou-se surpreso apenas para dar de cara com um Matsumoto que o encarava de cara feia.

- Ai... – gemeu baixinho enquanto observava Matsumoto colocar de lado o livro com o qual tinha batido em sua cabeça.

- Pervertido – resmungou o mais novo – Ao menos limpa essa baba antes que afogue todo mundo nesse camarim.

E só então Sakurai de dera conta de que se encontrava dentro do camarim junto com os seus colegas de banda. Todos eles. O que significava que estivera secando Aiba descaradamente por pelo menos cinco minutos com o Arashi inteiro presente. Nem podia contar por quanto tempo Ninomiya riria da sua cara de bobo... “Quando se trata do Aiba-chan você não tem mesmo orgulho nenhum Sho-chan, você precisava ver a sua cara...”

Mas por algum milagre divino, ao procurar os olhos divertidos de Nino sobre si dizendo claramente “Eu vi o que você estava fazendo!”, Sakurai deparou-se apenas com o amigo entretido demais em suas brincadeiras com Ohno para notar sua presença. Suspirou aliviado... Até dar de cara com Matsumoto que ainda o encarava com um ar desaprovador.

- Eu vi o que você fez – ele comentou, mas pelo menos MatsuJun tinha o bom senso de falar baixo.

- Não é culpa minha se ele fica me provocando desse jeito! – respondeu calmamente. Sequer se importou em fingir que não estivera observando Aiba. Tinha esse tipo de amizade com Jun, podia falar sobre o que quisesse que dificilmente espantaria o mais novo – apesar de Matsumoto viver reclamando em altas vozes que viver com outros quatro durante todo aquele tempo tinha o traumatizado para toda a vida.

Matsumoto era o único pra quem ele tinha realmente tido coragem de contar que tinha se apaixonado por Aiba. Nino também sabia, mas só porque o gamer era inteligente – Sakurai diria enxerido- o suficiente para ligar os pontos e descobrir por si próprio, e ainda sim toda vez que Nino perguntava Sakurai negava categoricamente.

Mas não com Matsumoto. Ele sequer perguntara ou o aporrinhava com o assunto, apenas ouvia quando Sakurai queria conversar porque sabia que se o mais velho não colocasse pelo menos um pouco daquele sentimento pra fora ele enlouqueceria. Mas de certa forma sabia que seu apoio não estava mais sendo lá de grande ajuda. Sho simplesmente não conseguia mais disfarçar seus sentimentos por Aiba, e estava claro que durante todo aquele tempo gostando de Aiba, no qual o rapper abdicara, infantilmente na opinião de Matsumoto, de qualquer relação física com outro que não fosse Masaki, Sakurai estava sentindo falta de alguém que lhe tirasse o atraso.

- Ele não está te provocando, Sakurai – respondeu Jun  exasperado – Ele não está fazendo nada demais.

- Ele está fazendo sim! – retrucou Sakurai fazendo uma careta – Quem no mundo chupa um pirulito assim?

- E por um acaso existe outra forma de chupar um pirulito? – indagou o mais novo vendo Sakurai fazer outra careta desgostosa.

Matsumoto não pode deixar de rir ao ver o estado do mais velho.

- Fale com ele – repetiu a mesma frase que já tinha dito a Sakurai pelo menos uma centena de vezes.

- Eu não posso! – Sakurai suspirava derrotado.

- Por que não? – perguntou Jun.

- Você não entende...

- Vou entender se você me falar.

- Eu não quero falar.

- Ah, Sakurai pare de ser tão bobo! Quantos anos você tem, afinal? Por um acaso nós voltamos ao colegial e ninguém me contou nada?

- Jun-chan...

- Não me venha com essa de Jun-chan! Eu estou ouvindo suas baboseiras sobre como Aiba-chan é legal, como Aiba-chan é bonito, como Aiba-chan é perfeito por dois anos! Se eu já estou farto de ver esse seu amor platônico por ele quem dirá você! Seja homem uma vez na vida, tome uma atitude!

- Não fale tão alto!! – Sakurai tampou a boca de Matsumoto com as mãos venho que o mais novo começava a se exaltar e aquela conversa aos sussurros estava começando a se tornar uma discussão a altas vozes.

Olhou em volta para se certificar que Aiba continuava absorto em sua leitura e Nino e Ohno continuavam entretidos em seu próprio mundo para ouvirem a explosão de Jun. E para a sua sorte tudo parecia tão normal quanto antes.

- Não fale coisas assim tão perto dele, ele pode ouvir! – implorou, desesperado.

- Ora Sakurai, tenha a Santa paciência! – explodiu Matsumoto, afastando as mãos do mais velho pra longe – Fale com ele!

- Eu não posso! – sibilou o outro, cada vez mais desesperado para acalmar Jun.

- Por que não?! – Matsumoto finalmente perdera o controle e se levantara, esquecendo-se da presença dos outros.

E dessa vez todos os olhares da sala foram parar nele.

- Hm? O que foi MatsuJun? – indagou Aiba, que finalmente despregara os olhos da revista.

- Nada... – respondeu Matsumoto corando de leve. Voltando a sentar e olhando para Sakurai como se pedisse desculpas.

Mas o rapper não o encarou de volta com o olhar de censura que esperada. Sakurai limitou-se a fitar Aiba  que agora olhava para ele e depois para Jun com um claro ponto de interrogação estampado na testa franzida. Foi só quando ele deu de ombros e voltou a se concentrar em sua revista que Sakurai deu um longo suspiro de alívio e voltou a fitar Jun.

- Nunca mais faça isso! – voltou a murmurar como antes – Nunca mais! Imagina se ele desconfia de alguma coisa?

-  Ora, vamos combinar que ta mais do que na hora, não é?

- Não diga isso nem de brincadeira MatsuJun!

- Ainda não entendo por que você simplesmente não conta pra ele.

- Eu não posso, droga! – Sakurai voltou a se exasperar.

- É, isso você já disse, o que eu quero agora é saber o por que! – Matsumoto revirou os olhos para o teto.

- Ele é tudo o que eu tenho, você pode não entender, mas ele é tudo pra mim, eu não poderia contar isso nunca – o mais velho deixou escapar num suspiro, passando as mãos no rosto cansado.

- Mas por que, Sakurai? – perguntou Jun, se aproximando do amigo.

- E se ele não me aceitar? E se não me amar de volta? E se ele não me quiser como eu o quero? Como eu posso viver com isso, hein MatsuJun? E se ele não me quiser mais como amigo? E se nada mais for como antes? – foi a vez de Sakurai indagar.

- Ele gosta de você, Sakurai... – tentou Jun.

- Como amigo, sim! Mas e como mais que isso? O Aiba-chan é tão inocente e tenho certeza que ele jamais pensou em mim como eu penso nele. E se eu contar o que se passa pela minha cabeça quando ele está por perto... As coisas que eu tenho vontade de fazer com ele! E se ele ficar com medo de estar perto de mim depois disso?

- Ele nunca faria isso!

- Mas poderia, e eu daria toda razão do mundo pra ele! – rebateu Sakurai – Eu mesmo teria medo...

- Mas você não pode saber se você não contar pra ele... – murmurou Jun.

- Eu sei... E não pense que eu nunca quis contar pra ele, por pra fora, me ver livre desse peso que é esse sentimento – Sakurai bufou cansado e depois fitou Matsumoto com um sorriso fraco – Mas toda vez que penso no que pode dar errado, toda vez que penso que posso não tê-lo ao meu lado nem como amigo... Eu não sei, acho que já vivi com esse amor por tanto tempo que prefiro viver com ele do que com a dor de perdê-lo.

- E se eu gostar de você de volta? – uma voz que não era a de Matsumoto soou próxima a Sakurai.

E quando ele olhou pra cima deparou-se com um Aiba irritado que lhe fitava com as mãos na cintura.

- O... O que? – perguntou Sho, atrapalhado – Você... Você... Como?

- Acho que se você não queria que ninguém ouvisse essa conversa era melhor não tê-la num camarim tão apertado, Sho-chan – Nino comentou rindo alto.

- Mas nós estávamos falando baixo! – retrucou o rapper.

- Aparentemente não o bastante – Matsumoto se pronunciou, rindo. E observou Sakurai fuzilá-lo com os olhos como se dissesse “Você sabia que ele estava ouvindo!” – Qual é, Sakurai... Já estava mesmo na hora dele saber... E de qualquer forma, você não ia contar se eu não te desse essa forcinha.

E terminando de falar, foi até o lugar onde Nino e Ohno estavam sentados e os puxou para a porta pelos pulsos.

- Vamos estar lá fora, qualquer coisa é só chamar! – continuou com um sorriso sincero – Mas, sinceramente? Acho que vocês não vão precisar.

Os olhos de Sakurai varreram o lugar vazio e se detiveram apenas por um segundo no rosto perfeito do amigo antes de se voltarem para o chão, estava envergonhado. Imaginara sim, muitas vezes, o momento em que ele finalmente tivesse coragem para contar para Aiba tudo aquilo que sentia, mas em de todas as vezes que se pegara imaginando a cena, nenhuma delas nem de longe se parecia com aquele momento que estava vivendo agora.

Imaginara-se dizendo coisas bonitas, jeitos românticos de se declarar, não Aiba ouvindo uma conversa com Matsumoto na qual ele não media palavras para se expressar. Bom trabalho com aquela coisa de não assustar ele, Sakurai. Pensou consigo mesmo. Queria cavar um buraco e se enfiar nele pra nunca mais sair.

- Sho-chan, olhe pra mim... – pediu a voz melodiosa, e Sakurai fechou os olhos chutando-se mentalmente por gostar tanto daquela voz e não conseguir desobedecê-la

Olhou para Aiba e seus olhos se encontraram, o rosto do amigo parecia impassível diante da revelação.

- É verdade o que você disse pro MatsuJun? – Aiba voltou a falar, e Sakurai teve que esperar vários segundos até sua mente processar a questão.

- Eu... Eu... Eu não sei... Ai droga, é verdade! Pronto, falei! Agora você pode me odiar e me evitar pra sempre, eu vou entender.

Mas tudo o que Aiba fez foi rir sonoramente.

- Sho-chan como você é bobo!

- O... O que? – indagou Sakurai, ainda mais confuso – Por quê?

- Como eu poderia odiar alguém que tem sentimentos tão lindos por mim?

- Mas... Mas eu pensei que...

- O teu problema é que você pensa demais, Sho-chan! Eu jamais odiaria você, nem repudiaria seus sentimentos.

- Isso quer dizer que você gosta de mim? – Sakurai arregalou os olhos, parecia impossível demais.

- Bem... Sim! Quer dizer... Não! Na verdade... Eu não sei... – gaguejou Aiba.

- Como assim? – perguntou o mais velho, começando a ficar impaciente.

- Eu gosto de você! Sempre gostei... E é diferente do que é com todos os outros, sempre foi! Mas eu não sei lidar com tudo isso muito bem. Eu nunca estive nessa situação antes... – Masaki corou levemente ao fim da frase.

- Bom, nem eu.

- Pois é...

- E o que agente faz agora? – perguntou Sakurai.

- Você... Você pode tentar me conquistar de vez – sugeriu Aiba com um sorriso maroto, rosto corando dando um ar ainda mais adorável á ele.

- Como assim? – indagou Sakurai, tentando ignorar o quão lindo Masaki parecia naquele momento.

- Eu gosto de você, mas eu queria saber se consigo te amar assim como você me ama...

- E como eu faço você saber disso?

- Me conquistando, oras.

- E como eu vou fazer isso, criatura?

- Bom... Você pode começar me dando um beijo! – sussurrou o mais novo envergonhado.

- O... O que? – Sakurai parecia não se cansar de se espantar naquele dia.

- Ai Sho-chan não me faça repetir! – brigou o outro, tapando o rosto com as mãos.

- Você quer um beijo? É isso mesmo?? Na boca?

- Ai Sho-chan você não pode simplesmente calar a boca e me beijar de vez? Se quer saber eu não quero mais nada com você!  - Aiba berrou irritado e cheio de vergonha, fez uma careta para Sakurai e começou a andar em direção a porta em passos firmes.

- Não... – Sakurai murmurou, puxando Aiba pelo braço e colando seus corpos – Espera...

E antes que pudesse se conter Sakurai finalmente juntou seus lábios nos de Aiba pela primeira vez, num beijo doce mas lascivo, que imprimia nele todo o sentimento que ele jamais conseguia colocar em palavras.

- Eu te amo Aiba-chan – sussurrou quando eles se separaram – Muito, muito, muito.

- Acho que desse jeito não vai demorar muito pra eu poder dizer o mesmo – Aiba sorriu sapeca, e de alguma forma Sakurai pode ver naqueles olhos que não importava o que, Aiba era seu e, afinal, sempre fora.

- De nada viu, Sakurai? – eles ouviram Matsumoto berrar do outro lado da porta, o que arrancou uma gargalhada gostosa de Masaki.

Sakurai também riu, mas os agradecimentos tinham que esperar, afinal ele tinha dois anos de amor acumulado para extravasar com o aquele indecência em seus braços.