Depois de desfazer minha única mala e trocar minha roupa por uma coisa mais quente, eu decidi que uma hora eu teria que enfrentar a Tia Rosie.

Tia Rosie não é exatamente a tia que eu pedi a Deus. Talvez quando eu tinha de anos ela poderia ter sido, mas não agora. Ela tem seus quarenta e tantos anos, é viúva e tem três filhos, Sammy, Andrew e Kayla. Ela é daquelas que nasceram para serem mães, totalmente atenciosas e preocupadas e que cozinham bem.

Eu nunca vi a Tia Rosie brava. Nem quando eu quebrei o braço quando eu tinha seis anos pulando da varanda. Nem quando Sammy sujou a roupa nova quando brincávamos de bolo no quintal. Mas ela era daquelas que não desgruda do seu pé, quando quer.

E tudo que eu menos precisava era de alguém que ficasse no meu pé. Porém, mesmo que eu quisesse, eu não poderia ficar para sempre no sótão. Então eu decidi descer e falar alguma coisa com ela, quem sabe perguntar aonde eu poderia encontrar um celular.

Desci as escadas do sótão e parei no segundo andar, olhando para uma menininha linda de cabelos loiros e encaradolados, em roupas de inverno. Ela me encarava com a testa enrugada, como se decedisse se chamava ou não a polícia.

- Quem é você? - ela disse por fim.

- Eu sou Valerie, e você deve ser Kayla. - disse suspirando, até porque eu não era muito fã de crianças.

- Ah, Valerie, eu ouvi sobre você. A menina problemá... -ela ia continuar, só que uma mão tampou sua boca e outra mão pegou seus pés, a levantando de chão.

Mas essas mãos não eram minhas, mesmo eu pensando eu fazer exatamante aquilo. Aquelas mãos eram de Sammy. Que estava incrívelmente grande.

- Cale a boca Kay! - ele disse colocando ela no chão, ficando entre nós duas - Mamãe quer falar com você.

- Ah. - ela disse pensando, depois olhou para mim e de novo para ele - Então eu vou lá.

E saiu saltitando pelos degraus da escada.

Sammy se levantou sorrindo e balançando a cabeça e me olhou. Seu sorriso aumentou.- Valerie! - ele falou me puxando para um abraço, qual eu fiquei sem reação e não correspondi - Meu Deus, você está enorme! - ele disse depois de me soltar.

- É, você também, Sammy. - respondi ainda meio grogue por causa do seu perfume forte.

Ele estava de jeans e com uma jaqueta de frio cheia de neve, como se tivesse acabado de voltar da rua. Seu cabelo loiro estava embaixo de um boné, então eu não podia ver, já que ele usava curto. As maças do rosto estavam vermelhas e ele estava tirando as luvas de suas mãos.

- Minha mãe disse que voltaria, mas eu não acreditei. Quer dizer, você nunca voltou, porque voltaria agora? - ele perguntou rindo.

Ok, ele não sabia.

- Eu não estou aqui porque quero. - respondi dura - Estou aqui obrigada.

- Oh. Então acho melhor você ir falar com minha mãe. E quanto a Kayla, dê um tempo a ela. Ela irá se acostumar a você. - ele disse.

- Eu não quero que ela se acostume. - respondi passando pro ele - Quem sabe assim eu volto para casa mais rápido.

Desci as escadas sem olhar para Sammy, que ficou lá em cima e fui até a cozinha, onde Tia Rosie conversava com Kayla na cozinha, enquanto assava biscoitos.

- Mamãe, é a estranha. - Kayla disse quando eu cheguei no ultimo degrau da escada, balançando o ombro da mãe.

Tentei ignorar a vontade de bater nessa garotinha idiota e me virei para minha tia.

- Oi, eu acho que temos que conversar. - falei tentando não parecer amigável.

Tia Rosie me olhou e depois olhou para Kayla, pegando a filha no colo e a deixando no chão.

- Porque você não vai brincar lá fora? Eu vou conversar com Valerie. - ela disse e Kayla saiu correndo para sala - Pegue um agasalho, está nevando!

Kayla saiu de casa e Tia Rosie finalmente me encarou. Fui até ela e encostei na bancada.

- Você sabe o que eles estão fazendo certo? - perguntei a ela.

- Sim - ela disse ainda me analisando - E eu concordo com eles. Eu li a revista. E soube o que você anda fazendo.

Aquilo me deixou com muita raiva.

- Oh, claro, eu devia me acostumar com isso. - falei, tentando não gritar - Todo mundo sabe da minha vida mesmo. - o tom de desgosto era visível na minha voz.

- Valerie, eu sei que não é fácil ter pais fam...

- Não, você não sabe! Porque você não tem, então não vem tentar fingir que você sabe como é, porque ninguém sabe o que eu passo, ok? - gritei.

Saí da cozinha e fui para sala, passando a mão nos cabelos.

- Eu já estou cansada disso! Não quero ficar em internatos o anos todo, para chegar em casa e ficar sozinha o dia e a noite inteira! - gritei.

- Valerie, se acalme. - minha tia falou doce.

- Não. Eu não vou me acalmar ok? - gritei saindo da casa e batendo a porta atráz de mim.

Kayla que estava no quintal, se assustou com o barulho e ficou me olhando enquanto eu descia a varanda e saía dos terrenos da casa em direção a qualquer lugar.