Então eu senti uma lágrima percorrendo meu rosto ao surgir uma dúvida em minha cabeça, uma dúvida que eu mesma não consegui responder.

Seria possível estar completamente apaixonada por duas pessoas ao mesmo tempo?

Acordei perdida no tempo e no espaço, com uma dor de cabeça martelando meu cérebro. Peguei o celular pra ver a hora e já eram 18h. Eu adormeci chorando e então passei o resto da manhã e a tarde inteira dormindo, era isso?

Decidi que eu precisava respirar ao ar livre. Precisava ir àquele parque perto de minha casa, era a única coisa que me acalmava nessas horas.

Fui do jeito que estava, sem me importar com a maquiagem borrada ou meu cabelo que mais parecia uma juba. Eu não tava com o mínimo humor pra ligar. Ao chegar lá, deitei na grama, perto de onde duas crianças faziam um piquenique. Fechei os olhos, a dor de cabeça me matando.

– Hayley? – depois de uns 15 minutos ali deitada, senti alguém me cutucando, e eu abri os olhos pra ver quem era. Ah não. – Você tá bem?

– Oi, Josh – eu respondi, abrindo o começo de um sorriso pra ele. Quanta sorte. Eu havia vindo aqui pra tentar parar de pensar nesse assunto, e olha quem me aparece? – Eu tô bem sim – menti.

– Ah, é que de manhã você pareceu tão atordoada... E, vou admitir, só vim aqui porque sei que você sempre vem ao parque quando se sente assim. – eu corei um pouco ao ouvir isso.

– É que eu queria ficar um pouco sozinha, Josh.

– Claro, eu te entendo. Na verdade eu só queria te pedir desculpa por tudo o que eu joguei na sua cara hoje, sobre você e o Taylor. Só quero que você seja feliz. – eu o observei se afastando de mim, com uma certa admiração que devia estar mais que estampada em meu rosto.

Enfim, quando eu pensava que teria paz, meu celular tocou. Ah, que ótimo. Respirei fundo, puxando-o do meu bolso e atendendo sem ver quem era.

– Alô?

– Oi, Hayles. – eu senti borboletas percorrendo meu estômago.

– Oi, Tay – eu disse, a voz falhando.

– Como é que você tá? Eu nunca mais te vi, apesar de sermos... Vizinhos – eu senti que ele queria dizer outra palavra ao invés de “vizinhos”.

– Eu tô bem – respondi, como num modo que já era automático. É claro que eu não estava bem. – E você, como está?

– Na verdade nem tão bem. – ele suspirou. – Sinto sua falta.

As borboletas em meu estômago se agitaram freneticamente.

– Taylor...

– Não, não precisa responder, sério. Eu só queria que você soubesse que eu não te esqueço. Nunca. - Eu parei de respirar por um momento, com o rosto em chamas. – Fica bem, Hayles – ele disse, como se soubesse que eu não estava bem, mesmo eu afirmando o contrário.

Afinal, o que eles queriam de mim? No momento que eu mais queria esquecer desse assunto, o Josh aparece dizendo que só quer que eu seja feliz e o Taylor me liga dizendo que nunca me esquece. Eu sai de casa pra arejar a mente, e tudo o que eu consegui foi ficar mais dividida ainda.

Definitivamente, eu precisava conversar com alguém, desabafar. E tinha que ser com Jeremy. Decidi me levantar daquele chão e ir até a casa dele. Kath não se importaria se eu o alugasse por uns minutos, mesmo que num sábado a noite.

Toquei a campainha, e foi ele quem atendeu.

– Hayley? Tá tudo bem? – ele me perguntou, e então eu me lembrei que estava com o cabelo arruinado e a maquiagem totalmente borrada. Ah, não! Josh me viu desse jeito no parque. Alguém me enterra, por favor?

– Na verdade não...

Ele me olhava preocupado. Então nós nos sentamos na calçada em frente de sua casa.

– O que houve, baixinha?

– Eu tô mal – respondi.

– Mentira! Sério? – ele disse. – Vamos, Hayles. Você sabe que você pode me contar qualquer coisa.

– Bom... Você já deve ter percebido que não é a mesma coisa entre mim e o Taylor...

– Humm – ele disse, concordando.

– E, bem, você já deve ter percebido que eu saio bastante com o Josh... Quer dizer, isso não era pra ser nem um pouco errado – eu suspirei. – Se não fosse pelo fato de eu achar que estou começando a sentir algo mais por ele – menti um pouco. Já estava mais que claro pra mim que eu não estava apenas “começando a sentir algo mais por ele”.

– Hm, isso é realmente bem estranho, Hayles. Quer dizer, há um tempinho atrás, você não queria nem mais saber da existência de Josh Farro. Não queria vê-lo nem pintado de ouro, além de que você e o Taylor sempre pareceram se amar de verdade.

– É verdade – eu disse, sorrindo ao me lembrar de alguns momentos. – Mas a gente se afastou de uma forma que eu nem percebi, quando vi já tinha acontecido. Quer dizer, ele nem sequer me procurou. Só hoje, quando me ligou dizendo que não havia me esquecido. Depois de tanto tempo, deve ter sentido pena.

– Posso te garantir com toda a certeza que não foi pena – ele disse, e eu pensei se teria algo a ver com o que eles estavam conversando no apartamento de Taylor hoje mais cedo. – Eu acho que ele realmente sentiu sua falta. Mas e você, o procurou?

– Eu sou muito mais orgulhosa que ele – respondi, dando o mais ridículo dos argumentos pra me justificar.

– Hayles, não se trata disso. Quando você ama alguém, você não liga pra qualquer coisa, muito menos pro seu orgulho. Você vai atrás dela, porque você sente falta dela. Você a procura, simplesmente porque estava com saudade. – que ótimo, todo mundo agora me dava lição de moral sobre o que era amor. - Você fez isso ultimamente com o Taylor, Hayles?

Baixei a cabeça. – Não. Mas tenho que admitir que com o Josh sim.

Agora eu e o Jeremy ficamos em silêncio. Depois de algum tempo, ele se pronunciou.

– Pese tudo na balança e faça o que achar melhor, baixinha.

Pensei um pouco no que ele havia dito. – Obrigada, Jerm, sério. Bom, acho melhor eu parar de te alugar agora. – ele me deu um tapinha no ombro e eu levantei da calçada, pensando no caminho de volta pra casa em tudo o que ele havia me dito.

Eu estava dividida, é verdade. Mas pensei no que seria melhor pra mim. Pensei que eu deveria optar por quem eu confiasse. Deveria optar por quem eu era mais próxima, optar pelo meu melhor amigo. Deveria optar por quem eu já tinha uma história junto.

Ao chegar em casa, eu decidi tomar um banho quente antes de dormir. Não parava de pensar em minha decisão por um segundo, o que tornou o sono realmente difícil de chegar...

*****

Acordei naquela manhã, mais nervosa do que nunca. Tomei meu café da manhã e fiz minha higiene matinal. Então vesti uma roupa qualquer e saí de casa, rumo ao apartamento dele.

Toquei a campainha ao chegar, com os nervos á flor da pele.