Alice ouviu seu celular tocar. Isso era incomum, porque seu celular na verdade tinha poucos números e era raramente usado. Ela olhou para o número na tela e ficou pálida.

- A-alô? - ela falou, tentando manter a voz o mais estável possível. Por alguns minutos ela esteve em silêncio. - sim , senhor. N-não. Obrigada. S-sim... sim. Afirmativo.

Ela deixou o telefone em cima da cama, e ficou olhando para o nada por alguns segundos. Ela deu um passo, depois outro, descendo as escadas devagar até a cozinha.

- Oi, amor! - Hitsugi falou, com um sorriso radiante, tirando sua atenção do próprio café.

Hitsugi e Alice estavam juntos havia alguns meses, e alguns breves pensamentos de casamento já haviam passado pela mente dela, por mais que ela não tivesse certeza que ia dar esse passo à frente.

O sorriso dele desapareceu, e as lentes de contato nos seus olhos não conseguiram esconder sua preocupação.

- O que aconteceu? - ele perguntou com jeito.

- Eu... - ela começou a falar, com a voz tremendo, mas levemente.

- Você...? - Hitsugi respondeu, e se aproximou dela, até que eles estivessem a menos de um palmo de distância.

- M-me chamaram de novo - ela falou devagar, com a voz meio rouca - acabaram de me ligar. E... eu tenho que ir imediatamente.

- Onde...? - ele perguntou a ela, mesmo que parecesse que ele tinha levado um soco no estômago.

- Pra... - ela respirou fundo - pro Iraque. E eu... não... vou voltar.

Hitsugi estava pasmo. Ele não acreditou no que estava ouvindo. Não, não podia ser verdade.

Ele pôs as mãos nos ombros de Alice, suas mãos começando a tremer.

- Por favor, não faz isso - ela falou, dando um passo para trás e mordendo o lábio inferior. - Não faz isso mais difícil do que já é...!

Alice se virou e foi correr até a escada, tentando segurar as lágrimas. Hitsugi agarrou o pulso dela, forçando-a a parar.

Ela virou para ele, mordendo o lábio e agora deixando as lágrimas rolarem, e puxou o pulso, forçando Hitsugi a soltá-la.

Ele mal ouviu ela fazendo as malas. Ele ficou ali parado, no corredor, chorando. Ele inteiro tremia, tentando forçar a si mesmo a acreditar que não era verdade aquilo. Ele finalmente se mexeu. Foi até o quarto, praticamente gritando:

- Você não pode fazer isso - ele falou, com a voz tremendo muito. Alice parou de ajeitar as coisas na mala.

- P-pára Hitsugi. Eu te disse -

- Eu não ligo! Você não pode simplesmente ir embora assim! - lágrimas e mais lágrimas rolavam no seu rosto. Ele simplesmente não conseguia controlar o choro.

- Você não entende! Eles precisam de mim!

- EU preciso de você! - dessa vez ele gritou mesmo, abraçando-a forte por trás. Alice sentiu uma lágrima cair na sua bochecha. Por mais que ela tivesse treinamento militar, ela estava ficando sensibilizada por tudo isso. Mesmo assim, ela o empurrou, pegando a sua mala e descendo as escadas rapidamente. Hitsugi foi mais rápido que ela e bloqueou o caminho, olhando nos olhos dela.

- Sai - Alice falou numa voz grossa e estanha

- Não - Hitsugi respondeu, simples mas firme.

- Eu falei sai - ela pegou a pistola e a apertou contra o peito dele. As lágrimas não paravam de sair dos olhos dos dois. E o rosto dela estava totalmente vermelho.

- Alice... - ele disse, segurando um soluço.

Respondendo com um soluço de si mesma, ela o empurrou para fora do caminho e saindo porta afora.

Foi a jornada mais dolorosa que eu já fiz na vida. Minhas pernas... parecia que Hitsugi estava preso à elas, persistente no pedido para eu ficar. Ele era tudo no que eu pensava, enquanto eu ia ao aeroporto. Eu tive um ataque de choro lá, foi horrível. Tudo no que eu pensava se ligava a ele, tudo. O último pedido dele para eu ficar ecoava nos meus ouvidos, durante todo o vôo. Foi inacreditável que eu nunca havia pensado que ir embora seria tão doloroso. Alguma coisa dentro de mim esqueceu de me avisar que me apaixonar por ele havia sido a pior besteira desde o início. Trabalhando como militar, eu tinha me treinado para ficar longe de qualquer relação amorosa. O porquê de eu deixar isso tudo acontecer e ter deixado Hitsugi se aproximar tanto de mim, eu não sei nem nunca vou saber. Só não queria ter feito ele sofrer.

Realmente, eu teria passado o resto da minha vida com ele, se ele tivesse pedido.

Mas agora...

Eu nunca vou vê-lo de novo.

Adeus, meu amor.