Na noite mais bela em todos os dois últimos milênios, onde as nuvens lutavam para cobrir a lua — mais brilhante, grande e perfeita já vista — que tentava abrir espaço entre as mesmas para brilhar sozinha, acompanhade de pequenas estrelas no céu, foi quando eu soube que minha ‘vida’ mudaria daquele dia em diante. E por acaso, foi quando a conheci.

Quando Esther Trevino, deu a luz a sua filha mais velha, e isso foi a bons dezenove anos atrás. Desde então, meu trabalho de anjo dobrou, triplicou e por aí vai. Hanna é a menina mais teimosa e trabalhosa que já vi.

— Lion, você vai ficar com a Joaine, mas no final de semana eu e você vamos nos divertir muito no parque, tudo bem? — Hanna sibilava para Lion, o irmãozinho menor enquanto, agachada, ajeitava sua blusa e seu cabelo. Hanna estudava numa faculdade interna, no sul de Nova Iorque, e nos fins de semana se dedicava toda e completamente ao irmão.

— Você quer uma carona? — perguntou de repente Esther ao descer as escadas, seus sapatos faziam barulho na madeira a cada passo seu. Hanna negou com a cabeça, explicando que pegaria carona com Jessie e Matt, seus melhores amigos.

Hanna deu um último beijo em Lion, seguido de um forte abraço. Lion sorriu e seus olhos brilharam. — Hanna, fique bem. Seu anjinho da guarda está ao seu lado. — afirmou Lion olhando para seu lado, onde se encontrava meu amigo Joe, que por acaso é o anjo da guarda de Lion, o menino tinha um dom especial; ele podia ver e falar com os anjos, o que era incrível e absurdamente raro.

Eu só consegui ver uma expressão confusa no rosto de Hanna.

O dia passou lentamente, e as nuvens no céu estavam cada vez mais acinzentadas e pesadas, cairia uma tempestade a qualquer momento, isso se o céu não desabasse por completo. Fiquei olhando para o céu por alguns minutos, lembrando-me de como era lá em cima, eu gostava muito de ficar aqui com Hanna e os mortais, mas sentia falta do meu lar.

— Matt, já estamos chegando? — perguntou Hanna quebrando o silêncio enquanto tamborilava os dedos nervosamente na perna. Eu sabia que ela estava inquieta e chateada, não sabia o motivo, mas não conseguia mais vê-la daquela maneira.

Matt fitou-a pelo retrovisor com um olhar curioso, e quando seus olhos se encontraram ela apenas desviou os dela.

— Só mais alguns minutos, e estaremos lá. — ele checou o retrovisor e fez uma manobra arriscada ao ultrapassar um carro que — a segundos atrás — estava na nossa frente.

Jessie finalmente manifestou-se, olhando para trás na direção de Hanna e encarando-a.

— Por que essa pressa?

Hanna olhou para baixo sem responder, verificou se alguém ainda olhava pra ela e voltou a olhar para seus pés.

Estiquei meu braço, passando-o por trás de Hanna, sua pele arrepiou-se levemente, mas ela não demonstrou nenhuma reação bruta e, de certa forma, fiquei aliviado por isso.

De repente, ela virou seu rosto, drasticamente na minha direção. Sentia seus olhos verem através até da minha alma, e ficamos assim por alguns segundos, até que percebi que seus grandes olhos azuis não me encaravam, e sim, viam o desastre que estava prestes a acontecer.

Olhei para trás, onde estava a janela, e vi uma van correndo em alta velocidade até nós, e eu só tive alguns segundos para reagir. Sem pensar duas vezes, abracei Hanna com todas as minhas forças, transferindo segurança para seu corpo.

E então, buuum. Tudo explodiu.