Flashbacks escrita por anearlywitch


Capítulo 6
Capítulo 6 (Dia 5)


Notas iniciais do capítulo

***Atenção: muitas emoções***



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O sol subitamente aparece no quarto, e a silhueta de uma pessoa na frente da janela deixava uma divisão na luz que penetrava. Ele, ainda confuso, aperta os olhos para tentar observar melhor, a luz ainda o cegando um pouco. A pessoa já estava olhando para ele, com as mãos na cintura.

 “Bom dia, dorminhoco” ela dizia enquanto se apoiava na cama e dava rapidamente um beijo nele.

“Keltie...?”

“A própria!” ela retirava seu casaco e pendurava em um cabide, logo depois o colocando no roupeiro. “Uma colega minha quebrou o pé, e ela era importante... tivemos que cancelar os shows. Então... eu cheguei antes de você sair em turnê! Yey!” ela batia pequenas palmas enquanto saia do quarto e ia em direção à cozinha, parando no meio do caminho para dar atenção para a cadelinha que latia sem parar.

Ryan se levanta e a segue até a cozinha. Ela tinha trazido um bolo de chocolate e passado um café. De repente, ele se sente mimado. Era o segundo dia seguido que as pessoas compravam comida para ele. Ela tinha esse sorriso idiota no rosto, e ele ainda não tinha assimilado tudo o que estava acontecendo. Ela não devia ter chegado agora, ela deveria ficar por mais uma semana trabalhando... Longe.

“Como passou esses dias sem mim?” ela o analisava um pouco. “Hm, pelo visto, eu faço falta!” ela sentava em uma cadeira e batia em outra, pedindo para ele se sentar. Ele obedece com uma cara desconfiada.

Ele olhava para o relógio na parede: nove horas. Ele devia ter dormido no máximo duas horas naquela noite, e sua cabeça doía – assim como as costas, pernas e ombros. A noite foi uma das piores que ele já tivera, perdendo para uma na qual seu pai tinha chegado bêbado de um bar, na madrugada, e começou a bater em sua mãe. Aquela ia estar sempre no topo da lista.

O sorriso que ele dava em retorno ao dela era o mais falso que ele já havia dado. Ela podia ser muito sufocante às vezes. “Então... como foi o trabalho, amor?” ele teve dificuldade em falar a última palavra, mas conseguiu disfarçar com um sorriso enquanto cortava um pedaço de bolo.

“Ah, foi ótimo. Em Chicago-...” ao fingir escutar o que a namorada falava, ele se perguntava onde estava Bill. Ele não tinha citado nenhum amigo ou familiar, nem que tinha que comprar algum livro para a escola. São boas desculpas, mas ele não tinha mencionado nenhuma delas antes. Ryan se pergunta se ele deveria telefonar, mas ele repensa e decide o deixar ter um pouco de liberdade. “E eu disse não, eu quero ver o Ryan, e ele disse tudo bem sua apaixonada!” ela falava entusiasticamente e um pouco alto demais. “Mas e esse Bill, onde está?”.

“Não sei. Na casa de um amigo, talvez”.

“Ah, ele te deu muito trabalho, Ryry?” ela apertava a bochecha inchada de bolo dele, que só sorria e acenava com a cabeça, engolindo.

“Ele é bem metido”

“Isso não será um problema, nós não temos nada para esconder! Talvez a Hobo seja uma agente secreta, mas nada de mais!” ela ria enquanto tomava um pouco do café e dirigia o olhar para o chão. Era possível que ela amasse o cachorro mais do que ele, mas, fazer o quê?

Ele ria secamente e também olhava para Hobo, que tinha se deitado no chão de barriga para cima. “É. Agente secreta” ele ria mais um pouco antes de escutar a porta sendo aberta. Logo depois Bill passa pela porta da cozinha, parando surpreso ao ver pessoas ali.

“Ah. Oi” ele fala sem sair do lugar.

“Você deve ser o Bill. Eu sou a Keltie, tudo bom?” ela tinha um sorriso simpático no rosto.

“Aham” ele pendurava o casaco em um cabideiro do lado da porta. Ele não sorria. De fato, ele nem olhava para ela. “Eu tenho coisas pra fazer” ele então pega o notebook e se retira, olhando para o chão. A porta do seu quarto é fechada.

Keltie se vira para Ryan com uma expressão de dúvida no rosto. “É. Adolescentes” ele diz e toma um gole de café. Ele entende porque Bill não gostava dela. Ele sabia da história com o Brendon, e ele queria o oposto daquilo. Ryan não podia culpá-lo. Ele sabia o que achava certo. “Eu vou tomar uma ducha” ele se levanta da mesa.

“Tudo bem. Eu vou arrumar as coisas aqui,” ela olha para a pia cheia de louça suja, “nós poderíamos ir no cinema... talvez?”

“Claro” ele dava um sorriso e ia para o banheiro. Ele não conseguia suportar a ideia de ficar perto dela agora.

***

Ao sair do banheiro, o ar gelado o fez estremecer, e o piso do corredor parecia ser ainda mais gelado. No seu caminho ao quarto, ele para e escuta uma conversa.

“Quer ir junto no cinema? Podemos ver o que você quiser”

“Não, pode deixar”.

“Vai ser divertido”.

“Não. Obrigado” ele dizia secamente e uma porta era fechada. Ryan ia com a toalha enrolada na cintura em direção à sala, onde encontrou Keltie olhando para o chão com um olhar triste.

“Ei. Não se preocupe com ele. Ele é assim” Ryan dava um beijo rápido nela e depois a abraçava.

“Ele não gosta de mim”

“Sh, ele não gosta de ninguém. Não se preocupe em desperdiçar saliva com ele” ele se afastava do abraço e sorria para ela.

“Se você diz... ah, está frio! Eu separei uma camisa que eu comprei pra você em Chicago. Está em cima da cama”.

“Não precisava... se eu soubesse que você viria eu-“

“Sem problemas. Vai se vestir, seu magrelo” ela dava um tapa de leve na bunda dele, que sorria timidamente e se retirava da sala.

A camisa era floral, uma das que ele amava. Ele se veste calmamente e depois vai para a porta do garoto, batendo suavemente. “Bill, sou eu, abre”. Ele espera um pouco, encarando a porta na sua frente. Ele demora um pouco, mas finalmente a abre. Ele parecia entediado e um pouco brabo. “Olha, eu não quero que você a ame, mas, pelo amor de Deus, não precisa tratar ela assim!” depois, um pouco mais baixo ele acrescenta “ela não tem culpa de nada”.

Bill solta um longo suspiro, olhando para seus pés, depois para Ryan. “Vou tentar” ele pausa, umedecendo os lábios. “Mas eu não vou no cinema. Você não pode me obrigar”.

“Tanto faz. Almoça ali em baixo então” ele disse e depois andava até a sala novamente. O garoto não precisava sentir na pele tudo o que Ryan sentia, apesar de ele ser o culpado da situação toda. Fazer isso não ia adiantar em nada.

Ele chega na sala e encontra Keltie retocando sua maquiagem. Ela dá um sorriso ao vê-lo, se endireitando no sofá e guardando suas coisas na bolsa. “Vamos?” ela diz e pega a mão dele, o puxando até a porta.

Nas escadas, ele olha para o relógio do celular. “São onze horas. A gente espera pra almoçar ou...?”

“Hm, o café me estufou. Podemos... ir direto pro cinema?” ela dizia enquanto o barulho do salto alto batendo no chão ecoava pela estreita escada.

“Claro”.

***

Na entrada do cinema, eles decidiam o filme que iam assistir. Ryan realmente não queria escolher nada, ele ia aceitar qualquer coisa. Provavelmente ele estava ali só pela pipoca.

“Tem esse,” ela apontava para um cartaz. “De um cachorro que salva seu dono e... parece extremamente cliché” ela ria para si mesma. “Pode ser aquele?” ela apontava para o de um homem andando sozinho pela rua.

“Sim. Eu vou comprar os ingressos. Você, pipoca” ele apontava para onde o cheiro que estava o hipnotizando surgia. Ela sorriu e, sem protestar, foi até lá, rebolando um pouco demais.

Ele compra os bilhetes, e a aparência do atendente prende sua atenção. Ele tinha as costeletas grandes, o cabelo preto... Os olhos castanhos. Ele não podia se deixar pensar naquele assunto, então ele paga ao homem, sorrindo educadamente. 

Eles entram no cinema, trocando um longo beijo – Ryan deveria admitir que era um pouco automático demais – enquanto o filme não começava. O filme começa, e ele tenta prestar mais atenção na pipoca que estava comendo do que aos personagens. De repente, o filme o chama a atenção. ‘Eu acho... Que é o melhor. Eu não consigo mais. Eu não consigo te perdoar’. Pouco tempo depois, aparece a mulher em sua casa, chorando pela separação. Ryan começava a prestar cada vez mais atenção, a mão de Keltie apertando a sua enquanto a mulher chorava. Eles se reencontram, o homem aceitando dar uma carona para ela. Ela começa a falar em meio a soluços. ‘Eu cometi um erro. Ele não foi nada para mim’ e então o carro capota. O homem inutilmente tenta salvar a mulher, sem sucesso, chorando e se perguntando o motivo de aquilo ter acontecido.

Aquilo fora o suficiente.

Ele se levanta no escuro do cinema, tropeçando uma vez ou duas. Ele procura a saída luminosa, apertando os olhos e se sentindo tonto ao ver tanta luz à sua volta quando ele finalmente a atravessa. Ele se senta em um banco do lado da porta, com as mãos na face. Keltie não demora muito para chegar.

“O filme te chocou?” ela sentava do seu lado e colocava um braço nos ombros de Ryan, e ele o retirava, olhando-a fixamente.

“Eu-“ ele pausa e logo depois se levanta, olhando as pessoas que saíam das outras salas de cinema. “Eu preciso falar uma coisa”. Ele não falava tristemente, e precisou conter um sorriso.

“Fala, fala” ela levantou também, o fitando desconfiada.

“Keltie” ele sorria para si. “Você é uma mulher maravilhosa, e, se não deu certo com você, não vai dar com ninguém!” ele falava, enfatizando cada palavra. Ele ainda tinha um sorriso nos lábios. “Você precisa de alguém melhor do que eu!”

“Ry... o que tá acontecendo?” ela não ria como ele, com um olhar preocupado, a voz trêmula.

“Keltie” ele falava de novo o seu nome.  “Eu sou gay”, e esse enorme peso pareceu cair dos seus ombros.

Ela o fitou por um tempo, rindo logo depois. “Para de brincar comigo”.

“Eu por acaso faria uma brincadeira dessas?” ele agora estava sério, comprovando o fato. “Eu te amo, e é por isso mesmo que eu não posso continuar nessa mentira”.

“Não pode ser” nesse momento o balde de pipoca já estava no chão, com pequenos pontinhos amarelos por todo o chão. “Ryan-“

“Eu tenho que ir. Nossa, eu tenho que ir” ele saiu correndo do hall do cinema, se dirigindo à saída, correndo pelas ruas o mais rápido que podia. Ele percebeu que suas pernas não eram rápidas o bastante, então ele espera um táxi e diz o endereço.

Ele esperava que não fosse tarde demais.

***

No banco solitário da rua escura, ele se sentia derrotado, porém seu coração ainda palpitava rapidamente. Ele olhava para o celular, que não tocava. A rua do apartamento de Brendon estava quase totalmente escura, um poste de luz iluminando fracamente a rua no meio das árvores. Ele pensava seriamente em desistir.

Brendon não estava em casa e não atendia ao telefone. Spencer também não podia ser encontrado. Jon estava ocupado com um de seus gatos doentes. Ele não sabia o que fazer.

A noite era fria, nem um pouco aconchegante. Ele perdera a conta de quanto tempo ele já tinha ficado sentado ali, esperando. Pelo o fato de a lua já ter aparecendo, era muito. Quando ele finalmente decide ir embora, seu celular vibra.

“Ryan, ah meu Deus! O que você fez?” ele estava com uma voz feliz e preocupada ao mesmo tempo.

“Bill...?”

“Eu não tô acreditando! Onde você tá?”

“Eu vim procurar o Brendon, mas ele não está em casa e-“.

Ele soltava um suspiro feliz e que provavelmente não conseguiu conter.  “Ele e o Spencer foram a uma festa... Num tal de Avalon? Eles-“.

Ryan não espera o resto da frase e desliga, correndo pelas ruas, já que o lugar era ali perto.  Ele corria com toda a força que conseguia encontrar – e ele admitia que não era muita . Seu coração parecia estar na garganta, e ele não sabia se era pela ansiedade, pela fadiga, ou pelos dois.

Ele chega, pagando apressadamente o ingresso e se misturando na multidão, e ele permanecia ligando para o celular de Spencer, que poderia ser legal e atender. O lugar estava lotado, e depois de meia hora dando voltas, ele ainda não achou quem procurava. A luz em conjunto com a música alta faziam seu coração bater ainda mais rápido do que já estava batendo. Ele se senta no bar, cansado, pedindo alguma coisa enquanto varria o salão com os olhos mais uma vez. Ele recebia o drink, e o levava à boca, observando a pista de dança. Tudo muito ordinário para uma festa, até que...

Não.

Não podia ser, era um truque da sua imaginação. Ele deveria estar delirando, talvez sua mente cansada de tanto correr estivesse brincando com ele. Era óbvio que ele não seria capaz.

Mas ele podia ver com muita clareza as costas de Brendon enquanto ele beijava outro homem na pista de dança.

***

Ele entrava automaticamente no apartamento, com os olhos inchados e seu corpo tremendo. Ele agora estava em casa. Ele se senta no sofá, encarando a mesa de centro, quase não sentindo mais as lágrimas que escorriam em seu rosto.

“Me conta TU-DO” Bill se sentava do outro lado do sofá, com um sorriso apreensivo. Ele finalmente enxerga a face do homem do seu lado, percebendo que alguma coisa estava errada.

Ryan se volta para ele, limpando a face e tentando se recompor. “Ele estava na festa... com-... com outra pessoa” nesse momento as lágrimas já escorriam de novo, as palavras saindo falhadas de sua boca.

“Ai meu Deus” Bill olhava um pouco assustado para ele. “Vem cá” ele envolvia o adulto magro em seus braços, afagando seu cabelo, sem saber o que fazer enquanto ele soluçava. “Você não foi falar com ele?”

“N-não. Eu não conseguia” ele falava em meio às lágrimas.

“Calma, calma” ele sussurrava.

E assim durou por um longo tempo. O adolescente segurando e apoiando o adulto que chorava por amor.


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