Eu já estava acabado. Meus braços não agüentavam mais a quantidade de heroína que eu injetava, eles ficavam machucados, muitas das vezes sangravam também. Eu estava acabando com a minha vida aos poucos.

A turnê do Blood Sugar estava sendo muito cansativa, shows e mais shows, eu não sabia como agüentar toda aquela pressão, e assim “descontava” na bebida e nas drogas. Flea e Chad tentavam me ajudar, mas meu orgulho idiota não dava abertura para que eu me salvasse.

A minha respiração já não era mais a mesma, fazendo com eu perdesse o fôlego na hora de cantar com Anth. Minhas pupilas ficaram pequenas, e meus músculos flácidos. Cheguei a ter duas crises de convulsão durante a turnê, fazendo com que os rapazes me levassem correndo para o hospital no meio da noite. Aquilo estava sendo cansativo pra mim, mas pra eles estava sendo muito mais, uma batalha cravada para me salvar.

Fazia tempo que Kate não ligava para dizer como estava como iam às coisas... Nem mesmo para Chad, que ficou preocupado com isso, até que no sábado, ela finalmente deu sinais de que estava viva. Ela havia dito que iria fazer uma viagem para o Japão, e coincidentemente nós faríamos um show lá, então Chad a convidou e mandou os ingressos pra ela por correio. Será que finalmente eu veria Kate?

Bom, eu realmente esperava que sim, pois a sua ausência piorava as coisas cada vez mais. A sua presença me trazia paz, ela era como um anjo que caiu do céu pra me salvar, me tirar deste mundo insano... Mas com a sua partida, tudo foi se perdendo e eu não via mais sentido para a vida. Kate era tudo pra mim, e naquele momento, depois de ficar sabendo da possibilidade de ela vir para o show, as minhas esperanças cresceram dentro de mim.

Eis que o dia chega.

Eu estava super nervoso com aquilo, algo dentro de mim dizia para não fazer aquele show, na manha daquele dia eu havia consumido muita droga, estava um tanto eufórico, mas não seguro de si... Nos bastidores eu resolvi não subir no palco.

- O que? Como você não vai John? Que historia ridícula é essa?! – Disse Anth, furioso.

- Não vou, e acabou. Fim. Não há ninguém que me obrigue a fazer isso.

- John, que ridículo! Pare com isso, essa sua frescura, suba naquele palco e toque, como você sempre faz! – Flea disso isso, com um ar de desgosto.

- Já disse! Eu não vou. – Neste momento, vi Chad conversando com um dos seguranças, eu não fazia idéia do que ele estava pensando, até que ele virou, veio até  mim e disse:

- Acho que tem uma pessoa aqui, que te fará tocar.

Ah, claro ele só poderia estar falando de Kate.

- Kate? Não, acho que nem Kate salvará vocês esta noite. – Ao terminar de dizer isso,  vejo Kate entrando pela porta do nosso camarim. Anth virou-se para ela e disse:

- Vê se você consegue dar um jeito no John hoje, porque a sua frescurite aguda já foi longe demais, cansei disso. E desculpe por estar sendo grosso com você, mas John não reconhece o que estamos tentando fazer por nossos fãs.

- Como é John? – Ela virou-se pra mim, indignada com o fato.

- Isso mesmo que ele disse Kate, não me leve a mal. Não vou tocar hoje, já disse.

- E tem algum motivo pra isso? – Ela indagou.

- Não vou dizer isso aos quatro ventos, pra todo mundo ouvir. –Essa foi uma indireta para que todos saíssem do camarim, e parece que haviam entendido.

- Bom, agora que todos saíram você pode me dizer o que houve para não querer tocar hoje? – Ela sentou-se do meu lado e eu a abracei.

- Não há um motivo concreto... Mas meus braços doem Kate, eu não tenho mais força e também não tenho mais vontade, tudo esta desmoronando sobre mim, não acho mais necessário viver. – Abaixei a minha cabeça, encostando-a no colo de Kate.

- Não... Não diga uma coisa dessas John! Você tem que viver, e também tem MUITO, o que viver! Vá tocar, para todos aqueles que estão aqui, e que te admiram, e muito. Por favor, John... – Ela levantou a minha cabeça, segurou em meu queixo e lançou-me um olhar esperançoso.

- Kate... Desculpe-me eu não consigo, já decepcionei tanta gente, e eles nem se importariam com isso. Não vou tocar hoje, e essa é a minha palavra final. – Kate sabia que não adiantaria insistir mais naquilo, do jeito que me conhecia... ela sabia que essa seria minha palavra final e que eu não voltaria mais atrás, e apenas disse:

- Não quer tocar, não toque, mas tem uma condição pra isso... – Ela levantou a sobrancelha.

- E qual seria?

-  Você ainda quer se salvar? Quer sair dessa situação horrorosa que esta te rondando faz tempo?

Eu levei algum tempo para pensar... Olhei para ela e disse:

- Sim Kate, eu necessito disto.

- Então ta, agora uma dose de coragem. Vá lá fora, diga aos rapazes que você vai sair da banda para se internar em uma clinica de reabilitação, pois do contrario irá morrer.

- O que? Clínica? Esta insinuando que eu fiquei louco?

- Não coloque palavra na minha boca, e também não queira discutir. Você é um drogado e precisa de ajuda, já esta cansado de saber que a morte esta ai andando ao seu lado, mas esta adiando o seu dia faz muito tempo. Entenda, você ira para a clínica e fim. Não vou discutir mais sobre isso!

Eu sabia que Kate estava certa, e aceitei aquele fato.

- Ok Kate, você venceu.

Ela torceu os lábios, e disse-me seca.

- Então vá falar com eles, eu estarei esperando você lá fora.

Ela saiu do camarim, e ficou uns cinco minutos lá fora explicando para eles o que haveria de acontecer... Quando eles entraram, eu estava de cabeça baixa, e Chad me indagou:

- E então, o que resolveu? Vai tocar ou não?

- Não, não vou.

Anth ficou indignado, mesmo Kate tendo falado com ele lá fora:

- Merda! – Ele sentou-se no sofá, e colocou suas mãos sobre a cabeça, tentando pensar em alguma coisa. – E o que diremos pra eles?

- Anth... Apenas diga a eles que eu enlouqueci.

Depois disso, peguei minhas coisas e sai, encontrei Kate lá fora, e ele me ajudou a caminhar até o carro e então saímos em direção ao hotel para pegar as minhas coisas.

Pegamos o primeiro vôo que havia para o Estados Unidos, chegamos lá na manha seguinte, onde fomos para casa de Kate e logo depois para a minha pegar as minhas coisas e fazer uma pequena mala para dar entrada na clínica de reabilitação.