Apolonyx escrita por Veneficae


Capítulo 16
Alianças




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De tarde... melhor dizendo, no crepúsculo fui me arrumar. Sequei a túnica branca e vesti. Era levemente, mas bem levemente azul marinho. Vinha até uma palma sobre o joelho, cheio de pregas, com um pano transparente brilhoso extra da cintura até a barra e uma papoula prendendo as alças no ombro direita. Logo descobri um colar com pingente de uma estrela, que então percebi que era para usar na cabeça – o pingente ficaria bem no meio da testa. Prendi o cabelo num rabo de cavalo em cascata, mas deixei um cacho solto.

Ouvi uma movimentação lá fora.

Logo que fui colocar a coisinha na testa, Tánatos entrou na casa – furioso.

- Diego, o que foi?

Me deu um olhar... mortífero e se jogou no sofá.

Fui até lá e ajoelhei-me a sua frente.

- Me olhe desse jeito de novo e...

- E o que?! - levantou.

- Calma! - o fiz sentar. - Me diga o que aconteceu, sou sua irmã. - que estranho falar isso.

Abaixou os olhos.

- Problemas no Mundo Inferior.

- Tem a ver com... Humbaba.

- Sim, mas não fale o nome dele.

- Se eu tivesse ficado quieta, não teria acontecido.

- Teria sim. A situação já estava por um fio. - colocou a cabeça entre as mãos, apoiando os cotovelos sobre as pernas. - Estou exausto, e olha que sou uma divindade.

- Essa é a vida, Die. - encostei minha cabeça na dele.

Me olhou nos olhos.

- Está bonita. Desculpe. Não percebi com tudo isso acontecendo.

- Obrigada.

- Sempre. - pegou minha mão, abriu-a e pegou o “colar”. - Vamos para essa droga de festival e, depois, preciso falar com você. - e prendeu-o na minha testa.

- Por quê não agora?

- Porque não quero você triste antes de se divertir.

- Mas...

- Calma, ok? - sorriu, com os olhos cansados. - Antes, quero te dar isso. - tocou no seu próprio colar, que se duplicou e prendeu-o no meu pescoço. - Você me ajuda, eu te ajudo. Com esse colar sempre vou estar com você, sempre poderá me ver, me encontrar.

Olhei para o colar e voltei-me para ele.

- Por que tudo isso?

- Porque ainda tenho esperanças de te convencer a ficar comigo pelo resto da sua vida em vez de se virar sozinha como maga.

- Tánatos...

- Ih, falou meu nome! Estraguei tudo, pelo jeito. - se levantou novamente e abriu a porta da entrada. - Vamos, antes que eu arranje uma briga com você.

Apoiei a mão na cintura, já de pé.

- Pare. Só que – abaixei a cabeça, rindo. - pareceu que estava me pedindo em casamento.

Ele estava incrédulo.

- Esquece! - caminhei até ele. - Ridículo, né? Paranoia minha. - resmunguei, fechando a porta.

- Hei. Tecnicamente eu estava pedindo.

- O que? - fitei-o.

- Olha, se você aceitasse, em vez de anel, eu já teria dado o colar. Igual aos indianos.

- Está falando sério?

- Claro! - senti um frio emanar dele.

Virei o rosto.

Não era coisa que se decidia de uma hora pra outra. Aliás, aquela não era hora... ou talvez fosse. Um pouquinho de alegria no meio de todo esse fuzuê – confusão – seria bom, não é? Era algo para se pensar, afinal. Além disso, eu ainda tinha de acertar as coisas com os tal deuses sumerianos que iam me ajudar nos elementos. Mesmo se aceitasse me casar com Diego, eu ainda queria me tornar maga e puder cuidar de mim sem precisar de outros.

O festival parecia mais Halloween, só que mais animado e menos ousado.

Bem legal... até.

Cheguei até Beccs, que estava lindamente produzida e perguntei:

- Onde está esses tal deuses?

Seu sorriso desapareceu.

- Vem comigo. Tánatos, por quê não contou a ela? - perguntou, caminhando para mais longe da festa.

- Pensei que o festival a... ajudaria a digerir o que temos a dizer.

- Bem pensado, mas devia ter me comunicado antes. - suspirou. - Sente-se, Dafni. - apontou para uma rocha.

- O que está acontecendo?! - senti-me pronta a chorar.

- Preste atenção. A guerra que Nyx começou é muito séria. Considerando que estamos em menor número e, que os que estavam do nosso lado vai ser obrigado a passar para o outro, por questões de... antigas alianças. Apocalipse, Fim do Mundo, Acerto de Contas, Armagedom, Ragnarok, tudo estava relacionado a essa guerra. A terra vai ser o campo de batalha e a humanidade perecerá pelos seus próprios criadores e protetores de desde a antiguidade.

- Quer dizer que...

- Quase o mundo inteiro está do lado dos deuses gregos. Alguns que queriam estar do nosso lado vão ser obrigados a passar para o outro. Os sumerianos também.

- Espere ai! Mas eu ouvi que Wer...

- Ele não pode ajudar mais. De certo modo, ele está ligado diretamente com Humbaba, tanto que é seu patrono. Estamos encurralados. Seu plano de virar maga já era. O mundo está na reta final. Nossa morte está chegando.

Ai comecei a ficar desesperada.

- Mas... não! Quem tanto está do nosso lado?

- Por sorte os da mitologia nórdica não tem uma relação muito boa com de Zeus, Thor e Herácles já tiveram uma dispensar, e vão amar lutar do nosso lado. É claro que Loki, seus filhos e os gigantes vão para o lado dos monstros. Até um bom número, os relacionados a noite também vai estar do nosso lado e... os titãs também.

- Como?

- Nyx vai soltar os titãs. Felizmente ela tem controle sobre eles, coisa que Zeus nunca teve, embora tenha os prendido. Os deuses primordiais também estará do nosso lado, menos Érebo, claro. E também tem alguns outros, mas não posso citá-los. Só temo que... ela tente despertar algumas coisas que... nunca deveriam ter existido. Monstros que foram banidos dessa dimensão por serem horríveis demais, tanto que ninguém sabe seus nomes. Quem baniu? Sua mãe e os outros primordiais. E, como são monstros, o feitiço pode virar contra o feiticeiro.

- Mas... por que Zeus e os outros deuses gregos se juntaram aos monstros? Pensei que ficariam contra.

- Você acha que meu querido pai perderia uma chance de acabar com o perigo que Nyx representa? Mas é claro que não. Sempre ficaram apreensivos com Nyx, obedecendo tudo que ela pedia, caçando alguém que não pode ser caçado, tentando bani-la como baniu os titãs... etc. Nyx não é alguém que possa ser banida, e sim exterminada. Assim que matá-la, o posto de deusa da noite passará para Selene, a lua.

- Mas isso é ultraje!

- Sei. Por isso Selene está do nosso lado, como as horas, o panico, o medo e todos as coisas que precisam da noite para sobreviver.

- Até meus irmãos?

- Uhum, infelizmente.

- Mas então como nós vamos ganhar essa guerra?

Tánatos tossiu.

- Primeiro: Nessa guerra, só há uma mínima provabilidade de Nyx e os outros do seu lado ganharem. E segundo: como assim nós?

- Você vai lutar do nosso lado... não vai?

- Sou personificação da morte. Por mais que eu queira, tenho de ficar do lado dos monstros. Foi isso que Rebecca quis dizer quando disse: Alguns que queriam estar do nosso lado vão ser obrigados a passar para o outro. - suspirou. - Rebecca tem escolha, eu não.

- Mas... eu... você não pode... - levei as mãos aos olhos, triste, decepcionada, querendo arrancá-los, mas sem coragem. - Tudo bem. - respirei fundo. - Eu vou dar meu jeito.

Levantei, empurrei Tánatos para o lado e embrenhei-me no bosque.

- Dafni, volta aqui! - não respondi. - Dafni!

Primeira coisa a fazer” pensei, listando esperançosa meus planos. “Preciso descobrir o que é exatamente esse “antidoto da imortalidade” dos deuses. Descobrir, buscar, pegar, fazer um trato com Zeus e acabar com essa guerrinha de primário ridícula o mais rápido possível. Segundo: Conseguir conversar com Humbaba. Pedir desculpas por Tánatos, embora ele não tenha feito nada de errado naquela hora. E terceiro: Se não der certo com Humbaba, tentar falar com Hades. Ele é deus do Mundo Inferior e tecnicamente manda nos monstros. Talvez fazer uma troca, tranquilizar os monstros por alguma coisa que ele queira que eu possa dar.”. É, era um plano ótimo. Caso tudo desse errado... bem... seria minha morte. Não só minha como de Beccs e de todos que estariam do lado de Nyx – minha mãe, claro.

Ouvi um farfalhar de folhas.

Me virei.

- Beccs, é você?

Sabe quando você sente alguém te observando?

Ouvi então passos.

- Tánatos?

Vi uma sombra em contraste com a lua, que se punha (sim, era madrugada). A sombra foi crescendo, crescendo, crescendo e crescendo até ficar com dois metros e meio de altura.

Por sorte, não consegui ver sua aparência.

Ele era enorme.

- Você ser Pandora, filha da Noite? - perguntou o monstro, com um leve sotaque sumeriano.

- Depende.

- Você ser irmã semideusa do deus que insultar Sete Espíritos?

- Do Tánatos? Sim, por quê?

- Porque Sete Espíritos mandar vingar ele.

E pulou.

É sério! Não estou brincando! Ele pulou mesmo. Pulou acho que uns... sessenta pés de altura – mais ou menos vinte metros. Além disso, dobrou de tamanho, parecendo pesar uns 500k. Tentei correr, mas lá de cima ele parecia me seguir enquanto despencava do céu.

Juro que faltava uns quinze centímetros para me atingir quando uma alguém o fez sumir numa névoa cinzenta.

Um homem encapuzado, só dava para ver a boca branca.

- Irmã. Cuidado. - sussurrou uma voz rouca. - Normalmente o demon Alu só esmaga pessoas adormecidas, mas acho que minha querida maninha é exceção.

- Irmã?

Deu um leve sorriso.

- Sou Akhlys, um dos seus irmãos.

- Você não é... a nevoa da morte?

- Sim, mas infelizmente monstros não se afetam totalmente ao meu poder. - pegou minhas mãos e colocou o seu dedo indicador sobre o meio da minha testa. - Ele vai volta, mas daqui há umas nove horas. Temos tempo.

- Tempo para o que?

- Temos de ir. Respire fundo. - tentei falar, mas apertou mais o dedo sobre minha testa. - Respire.

Quando o fiz, fechei os olhos e então não pude abrir mais... por um tempo. Ao abrir, estava literalmente nas nuvens.


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