Apolonyx escrita por Veneficae


Capítulo 12
Despedidas




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Enquanto arrumava as malas, Yudy tagarelava sem parar e Tânatos parecia ao ponto de explodir.

Ino me ajudava a arrumar o necessaire.

-... Quíron volta hoje e ele vai te impedir!

- Cala a boca, Yudy! Mas, Dafni, você tem mesmo que ir? - fechou o zíper.

- É o mínimo que posso fazer pela minha irmã e... vamos dizer que não vai ser nada mal me tornar maga elementar.

- Você não pode ir... não vou te deixar ir... - e começou a tagarelar de novo.

Quando olhei para Tânatos, a poltrona em que estava sentado virava carvão e um cheiro de queimado começou a poluir o ar.

- Tânatos!

- O que?! - ele abriu os olhos, que estavam vermelhos e pulou do móvel – que virou pó. - Aah, desculpe. Vou esperar no jardim. - e saiu.

Dei ombros.

- Ino, por favor, vá buscar Beccs para mim..

- Claro.

- E leve essa hiena daqui. - apontei para Yudy.

- Ouh! Hiena é você!

Ino pegou Yudy pelo colarinho e o arrastou para fora.

Antes de sair do quarto, observei o retrato de Nýchta que levei para o meu criado-mudo.

- Será que estou fazendo o certo?

Ted se desenrolou do meu braço, chegou perto do retrato e imitou a forma da minha irmã. Tive vontade de chorar, mas ignorei-o.

Peguei as malas e arrastei-as para fora.

Tânatos parecia melhor.

- Irmão? - sorri. - Droga, ainda não me acostumei.

- Pode me chamar de Die, se quiser. É “morte” em inglês, como sabe. As vezes... hum... Nyx... me chama de Diego.

- Você é muito próximo da minha... nossa mãe?

- Faço uns favores a ele, ultimamente bastante. Sabe, sempre te protegendo... muitas mortes... bastante trabalho para mim, sabe.

- Falando nisso, quem está cuidando das...?

- Nyx me duplicou. Tem um de mim aqui e outro fazendo meu trabalho, até que eu volte.

- Hum. Voltar. Bom pra você.

- Se eu voltar, criança.

- Não me chame de criança, por favor. Não é só porque tem milhares de anos que pode me chamar assim.

- Então como quer que eu te chame? De irmã ou – se agachou, pegou uma Papoula bem vermelha e colocou atrás da minha orelha, aproveitando para mexer nas mechas do meu cabelo. Abaixei os olhos, constrangida.

Senti alguém se aproximando do chalé.

- Dafni?

Era Pierce no final da colina, não parecia muito feliz.

Me afastei de Tânatos... ou Die... Diego?

- Eu, Dafni Aghata Pandora, autorizo o meio-sangue Flinn Pierce a entrar no chalé e templo de Nyx, personificação da noite e deusa da magia. - dava para perceber o imperceptível véu transparente abrir quando Pierce veio até nós.

As sobrancelhas de Tânatos... Diego se arquearam.

- Hum... quem é...? - apontou.

- Esse é Pierce. - se cumprimentaram. - Pierce, esse é...

- Tânatos, personificação da morte, segunda geração e muito mais. - Diego parecia se sentir... ameaçado.

Percebi que havia muita força naquele aperto de mãos.

- Sou filho de Hefesto com uma semideusa filha de Ares. - disse Pierce, por algum motivo fuzilando-o. Quando soltaram as mãos, a dele estava vermelha. Diego parecia triunfoso. - Posso falar com você?

- Pensei que não quisesse falar comigo.

- Por favor.

Suspirei.

- Diego... hum... leve por favor minhas malas para a árvore de Thalia, estamos bem atrasados. Chego lá em cinco minutos.

- O.k. - os olhos dele ficavam aos poucos mais vermelho. - Vou avisar também Rebecca, para ir direto ao ponto de encontro. Vou deixar vocês... as sós. - e saiu, deixando um rastro de Papoulas mortas.

Por algum motivo, engoli a seco.

- Éh... - olhei em volta. - O que foi?

- Ouvi Beccs falar sobre esse ai. Onde pensa que vai?

- Não penso, eu vou.

- Onde?

- Bem, acho que é... Floresta dos Cedros, sul da Mesopotâmia acho.

- Por que?

Expliquei toda a história para ele e, a cada palavra, parecia mais descontente. Quatro minutos tinham se passado fácil e logo eu já estava atrasada. Pude ouvir gritaria de saudação ao longe, Quíron e os sátiros tinham voltado.

Era a hora.

- Pensei que seria uma conversa pelo menos agradável, mas me enganei. Está seguindo os passos da sua irmã e vai acabar como ela.

- Pierce!

- Não que desejo sua morte, só acho que tem que seguir seu próprio caminho.

- Mas eu estou! Quero poder cuidar de mim mesma e tudo isso que aconteceu agora só foi um empurrãozinho. Me tornar maga vai ser me tornar... livre. Sem precisar de ninguém para me proteger. - olhei em volta, alarmada com o meu atraso. - Vou voltar, mas agora preciso ir.

- Eu te protegeria.

Alguma coisa se remexeu no meu estômago.

- Como Beccs te protegeu, com Nyx te protegeu, como eu e Yudy e Yumi, embora eu odeie admitir. Todos nós a protegeríamos sem nenhum problema.

- Esse é o problema: eu posso me cuidar sim. - Pierce abriu a boca. - Eu sei o que você vai falar, mas adianta. Vou me tornar maga, voltar aqui e mostrar como sou de verdade. Vai dar tudo certo. Confie. - sorri. - Te trago uma lembrancinha. Aliás – peguei uma coisa do bolso. - Bem... eu não sabia exatamente como fazer isso, mas... tome. - entreguei um colar com uma esfera como pingente. Dentro da esfera de vidro tinha uma tempestade, parecia tão cheio de nuvens escuras e raios que a sensação era de que uma hora iria explodir. Pulsava. Palpitava. Era gelada.

Pierce pegou e analisou-o, passando entre os dedos.

- O que é isso?

- Hã-hãm. - inspirei. - Encontrei no antigo quarto da minha irmã. Eu soube que você e ela antes eram namorados e pensei: por que não? Acho que Nýchta gostaria que você tivesse uma lembrança dela.

- Já faz oito anos. - apertou a esfera na palma da mão. - Umpf, obrigado. Foi realmente... gentil.

- De nada. - dei ombros.

Silencio...

- Mas ainda não gosto da ideia de você sair daqui.

- Pierce!

- Tudo bem, tudo bem, calma. - de algum modo, eu conseguia sentir a impaciência de Tánatos de longe. - Vá. Sei que está atrasada.

- Boa sorte, aqui. - ele me acompanhou para fora do circulo de proteção do chalé. Eu podia ver quase transparente o tecido, toquei, mas não senti nada. - Vou embora... mas volto para cá... para casa. - o tecido brilhou, tornou-se azul e então senti que ele não abriria até que eu voltasse.

Sorri.

- Aah, uma coisinha também. - entregou rápido um pulseira de bronze detalhada com cortes “acidentais”. - Só aperte-a quando precisar de ajuda.

- É uma...? - meus olhos brilharam.

- É, mas só quando precisar. Agora vá! Vai!

Comecei a correr.

- Vou sentir saudades! - e o chalé logo foi sumindo junto com Pierce.

Enquanto ia até lá, vi vários sátiros – espécies impressionantes, aproposito. Eles falavam algo sobre cheiro forte, mas não conseguiam identificar. No meio deles havia um centauro junto com Paul, com certeza Quíron. Não era tão diferente como era descrito no livro, mas com certeza mais velho ou maduro. Corri mais rápido.

Há alguns metros da árvore de Thalia estava Beccs e Tánatos dentro de um circulo preto e branco.

- Estamos super atrasados, amiga.

- Eu sei, Beccs. Despedidas são sempre longas.

- Pois é. Os irmãos Yudy e Ino queriam se despedir melhor, mas consegui fazê-los entender que tínhamos horário há cumprir... e que presente é esse? - apontou para meu pulso.

Eu ri.

- Nada não. - mas então fiquei séria. - O que tenho de fazer para podermos ir?

Beccs não parecia satisfeita.

- Coloque o Vazio sobre as marcas que fiz no chão. Vai virar um portal, chegaremos antes do anoitecer.

- Vazio?

- Isso que você tem no braço. - era o Ted.

- Um dos privilégio de ser descendente de Nyx. Érebos, deus primordial da Escuridão e do Vazio, é irmão gêmeo dela e você e Nýchta pegaram um pouco da magia dele. Não só deles, Nyx e Erebós, como de Eros (amor da criação), Gaia e Tártaro. O Vazio é na verdade só energia de criação, você tira ele do vazio, então ao entrar no plano material fica sólido e ganha vida como se tirado da própria célula ou energia de Nýx.

Diego irradiava morte.

- Caramba! Era só dar uma explicaçãozinha, mas você dá logo uma aula!

- Eu chamava o Vazio de Ted. - murmurei simplesmente.

Silencio...

Então riram.

- Que ridículo!

- Beccs! - exclamei, primeiro pela implicância, depois para alertá-los. - Gente! - ouviam-se passos.

- Sentiram meu cheiro. Temos que ir.

- Deuses também tem cheiro?

- Sem explicações!

- Ok, ok! - peguei Ted, coloquei sobre as marcas e entrei no circulo. - Vamos! - falei “vamos” no sentido de “o que vai acontecer agora?”, mas os Ted's brilharam e nos transportaram para outro lugar ao dizer essa palavra.

Descrição da viagem?

Um piscar de olhos.


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