Laboratório do prof° Elm, Johto.

Crystal ajudava o professor com os dados atualizados de pokémon de Johto em seu laboratório. Era uma tarefa tão árdua que os dois mal saiam de lá. Gold estava por perto, entediado. Acabara de "chocar" outro ovo e observava os pokémon bebês brincando no jardim do laboratório.

– Que tédio...

Resolveu então entrar. Foi direito para a cozinha fuçar a dispensa, não por fome e sim por tédio. Pilhas e pilhas de sacos de ração pokémon.

– Caramba, o que a Crys e o Professor comem?

Desistiu dali, se estivesse realmente com fome, comeria alguma das besteiras que sempre levava consigo. Salgadinhos, doces, latas de refrigerantes...

Então, saiu andando pelo lugar. Saindo da cozinha ia pela sala de estar. Subiu as escadas até onde ficava uma biblioteca lotada e empoeirada. O jovem tossiu um pouco, afastando a poeira abanando uma das mãos. Não viu nada ali que não fossem estantes de livros. Já estava para se retirar quando ouviu uma leve respiração naquele lugar. Intrigado, adentrou mais profundamente o cômodo.

Dormindo em uma pequena poltrona ladeada de uma escrivaninha e com um livro aberto no colo, Silver, o ruivo que sempre passava despercebido por todos.

– Silver? Ei, Silver! - Chamava, mas o outro não respondia.

Gold se aproximou devagar, nunca vira Silver com uma expressão tão tranqüila como aquela. Reparou que o livro em seu colo estava aberto em uma página onde havia um desenho distorcido de um Celebi. Gold se lembrou imediatamente.

"Então ele ainda..."

Silver ainda buscava uma maneira de recuperar seu pai, o líder do Rockets, Giovanni, que fora ferido por Deoxys. O poder de cura de Celebi era exatamente o que Silver precisava para isso.

Durante o sono, Silver suspirou, virando o rosto para o outro lado possibilitando Gold vê-lo melhor. Era tão sereno... Mesmo sendo um garoto de 15 anos, dormindo daquele jeito Silver parecia uma criança fofa. A criança fofa que ele nunca pode ser.

Claro que, depois de todo o tempo que passaram juntos seja como parceiros ou rivais, Gold adquirira certos "sentimentos" pelo ruivo. Sim, o moreno com fama de mulherengo estava apaixonado por um garoto. Gold meio que aceitava isso já que Silver era "bonito como uma garota".

Envergonhando, ele foi tomado pelo impulso de tocar o outro. Com o braço bem esticado, acariciou-lhe o topo da cabeça. Silver gemeu em resposta então Gold recolheu a mão imediatamente.

– E-ele não vai acordar, né?

Repetiu o feito, dessa vez aproximando-se mais. Deslizou a mão do topo da cabeça de Silver até a ponta dos cabelos próxima ao pescoço. Silver moveu-se novamente, fazendo com que sua bochecha tocasse a mão de Gold. O moreno corou na hora, tirando a mão de lá.

Achando que seria melhor ir embora antes que Silver acordasse e percebesse o que se passava, deu-lhe as costas voltando para a porta. No caminho, pôs a mão em um dos bolsos da bermuda, tirando de lá uma caixa de pockys de chocolate. Abriu-a e para sua decepção, só havia um último pocky ali. Estava prestes a pô-lo na boca quando se lembrou da conversa que teve com Silver quando este chegou ao laboratório de manhã.

"Oh, Silver! O que faz por aqui?"
"Preciso de um livro desta biblioteca. Não vou levá-lo, irei ler aqui mesmo."
"Não precisa ser tão sério" Estendeu a mão, oferecendo a caixa de pockys "Quer um?"
"Não estou com fome agora, mas guarde um pra eu comer depois."
"Okay"

Gold encarou o pocky solitário e depois olhou pra Silver dormindo. O moreno queria comer aquele pocky, mas tinha prometido guardar para o amigo. Para alguém com a mentalidade de Gold, isso era um enorme dilema. Comer o pocky e decepcionar o amigo, ou agradar o amigo e ficar com fome? Obviamente Silver não daria a mínima pra isso, mas Gold...

Foi quando teve uma ideia idiota e ao mesmo tempo brilhante: dividir aquele ultima doce com Silver. Gold voltou até o ruivo dormindo, segurando cada ponta do doce com uma mão, preparando-se para parti-lo ao meio, até que Silver suspirou novamente.

O coração do moreno disparou. Embora fosse apaixonado pelo ruivo, não era capaz de se confessar ou demonstrar isso indiretamente. Talvez aquele pocky fosse uma boa razão para tentar algo.

Engoliu seco, e depois de respirar fundo, levou o pocky a boca de Silver. Claro, como ele estava dormindo, o doce apenas ficou fincado entre seus lábios. Enquanto Silver segurava o pocky, Gold apoiava-se nos braços da poltrona. Então, mordeu a ponta livre. A proximidade era tanta que o fez corar mais ainda, então resolveu concentrar-se no doce em vez de no rosto do ruivo.

Já na primeira mordida, seu foco acabou. Gold não conseguia parar de mirar a face angelical de Silver. Era uma expressão muita rara, uma respiração muito leve.
Na segunda mordida, já sentia o hálito pelos suspiros que escapavam através da fenda entre os lábios.
Na terceira, os narizes se tocaram. Silver reagiu apertando o rosto. Gold ficou nervoso, mas não queria parar agora. Mesmo que Silver acordasse, fechou os olhos e foi em frente.
A quarta mordida ocasionou um beijo leve, um simples tocar de lábios que demorou bastante para se desfazer.

Não havendo mais como avançar, Gold teve uma última ideia. A ponta do pocky ainda estava "presa" entre os lábios de Silver.

Ainda naquele selinho, Gold se aproximou mais, pressionado os lábios contra os do ruivo. Feito isso, abriu um pouco a boca, passando a língua pela fenda dos lábios do outro, e assim, resgatando o ultimo pedaço de chocolate.

"Agora ele não pode dizer que não dividi com ele."

Com o rosto vermelho, separou-se de Silver. Encarou-o por mais um tempo até ouvir Crystal o chamando. Respondeu um "já vou" sem vontade nenhuma, tocou os cabelos do ruivo uma última vez e saiu.

Ao ouvir o som da porta se fechando, Silver abriu os olhos, também com o rosto vermelho. Levou uma das mãos a boca, a tocando com a ponta dos dedos.

– Aquele egoísta...