–Você pretende montar a árvore de Natal esse ano,filha?

Indagou minha mãe com ironia, pois a árvore já estava quase montada, só faltava arrumar os galhos e enfeitá-los.

–Vou sim, mãe.

–Você parece distante...

Sua voz se distanciava de mim cada vez mais, como se ela fosse levada. Segurei uma das bolinhas prateada em mãos, e vi meu próprio reflexo nela. Passei a encará-la. Aquela Sakura era outra pessoa, não era mais a menina de anos atrás...

*x*x*x*x*x*x*x*x*x*

–Ei, pessoal! - eu corria... Corria desesperada até meus amigos.

–Calma Sakura, você vai cair desse jeito! - advertiu Ino na companhia das garotas.

–Minha mãe vai montar a árvore de Natal essa noite e eu vou ajudar! -éramos pequenas. Tínhamos, apenas, oito anos na época.

–Grande coisa!Esse ano eu montei a árvore sozinha! - debochou uma das garotas, mas nada me desanimava. -Sua mãe nunca deixará que você faça isso sem ela por perto.

–Não é verdade! - gritei.

–Aposto como ela vai sair bagunçada, você mal sabe arrumar um arranjo de flores. - disse outra garota.

–Vocês estão com inveja de mim, isso sim!

–E por quê, testa de marquise? - meus olhos embargaram, mas eu resisti fortemente.

–Sasuke me defendeu, isso significa que ele gosta de mim. - elas riram alto.

–Sasuke nunca olhará para você.

–Mas...

–Ele fez isso por pena!

–Cale a boca e deixem minha amiga em paz, ok? - disse Ino, encarando-as.

–Vamos, Chieko, elas não são de nada.

–Sim, Cho. Vamos no ichiraku, depois...

E, assim, partiram. Eu não me aguentei mais e comecei a chorar. Ouvi deboches não era o de menos, mas reduzir minhas esperanças com Sasuke era desesperador.

–Não fique assim Sakura, elas estão com inveja.

–De mim, Ino-chan?

–Sim. Você não é tão tímida como antes, agora os garotos gostam de você. - ela sorriu e ajeitou meu laço no topo da cabeça. -Quer passar o natal na minha casa?

–Ah! Eu adoraria, mas minha mãe vai fazer uma ceia bem deliciosa.

–Está bem. Feliz Natal!

–Feliz Natal, Ino-chan! - eu observava-a se afastar e não cansava de admirá-la.

Antes de voltar, passei no campo e recolhi algumas flores. Minha mãe adora flores, pois diz que a casa ganha vida e alegria, e o cheiro do campo deixa o ambiente natural. Eu não entendia sua obsessão por coisas tão delicadas, mas já seguia seu exemplo.

A neve deixava os campos escondidos debaixo dela, o gramado queima perdendo seu verde, e as flores sobrevivem por alguns dias.

–Acho que essas ficarão lindas na sala. - levantei sacudindo a saia do vestido rodado.

–Sasuke, vamos parar por aqui.

–Por que, Nii-chan?Eu ainda tenho forças.

–Não seja tão precipitado, um dia você será tão bom quanto eu.

Meu coração disparou rapidamente, pois eu sentia a presença de Sasuke. Corri até onde ele e o irmão mais velho estava. Carregava as flores com cuidado, mas os passos aceleravam cada vez mais.

–Sasuke-kun? - chamei por ele recebendo sua atenção.

Sorri observando-o. Minhas bochechas queimavam,as pernas amoleciam, mas eu não me intimidava. Diferente do meu comportamento, Sasuke encarou-me com sua habitual expressão.

–O quê você faz aqui?

–Minha mãe gosta de flores, por isso vim até o campo recolher algumas.

–Vá embora, você está atrapalhando meu treinamento.

Meus olhos embargaram e eu não pude conter as lágrimas.

–Ei, garotinha, não chore. - o Uchiha mais velho se aproximou. -Como você se chama?

–Sakura... Sakura Haruno. - falei secando o rosto com as próprias mãos.

–Hum. Não precisa chorar, Sasuke só está alterado por causa do treino, mas ele vai se desculpar. - olhou o irmão. -Não é, Sasuke?

Sasuke cruzou os braços e olhou outra direção. Parecia emburrado comigo.

–Preciso ir ou minha mãe ficará preocupada.

–Você quer ajuda com as flores? - perguntou gentilmente.

–Não, obrigada Ita... 

–Itachi. - completou ele.

–Adeus, Itachi-san! - acenei, correndo entre as árvores.

'Sasuke-kun não se importou comigo... '

–A árvore está tão linda!

–E hoje você fez muita coisa nela. Está orgulhosa?

Lembrei do comentário das garotas e me decepcionei.

–Sim, mas... você me ajudou.

–Não tem problema, chegará o dia de você arrumá-la sozinha.

–Minhas amigas fazem isso.

–Cada pessoa tem seu tempo, Sakura. - agachou. -Não seja uma pessoa precipitada, espere seu tempo, ele chegará um dia.

'Não seja precipitado, um dia você será tão bom quanto eu.'

–Sim, mãe, eu entendo. - sorri, pendurando as últimas bolinhas.

Compartilhávamos os mesmos alimentos. Meus pais falavam sobre muitas coisas, às vezes eu não compreendia, por isso eu ia à procura dos meus amigos depois da ceia, e da troca de presentes.

–Posso sair agora, pai? - perguntei.

–Está começando a nevar...

–São pequenos flocos. - comentei sorridente. -Ino-chan está me esperando para fazermos bola de neve.

–Deixe-a ir, querido, sabemos o quanto é divertido brincar com os colegas na neve.

–Está bem, mas não demore lá fora.

–Obrigada. - antes de sair, peguei um pequeno embrulho.

As pessoas adultas se protegiam da neve, mas as crianças se divertiam nela. Abracei o embrulho e baixei a cabeça, havia um lugar que eu gostaria de ir.

–Ei, Sakura, vem brincar com a gente!

–Depois, Ino!

–Espere!Onde você vai com tanta pressa?

–Eu já volto! - corri.

No rosto, um sorriso sincero. Nos pés, a incerteza. Há cada passo que eu dava apertava mais o embrulho. Só alguns passos...

Parei de súbito deparando-me com Sasuke, saindo do bairro Uchiha. Andava com as mãos dentro dos bolsos, cumprimentava as pessoas que cruzavam seu caminho.

–Sasuke-kun...

–Você aqui? - apertei o embrulho nos meus braços.

–Olhe, é para você. - estendi os braços para que ele pegasse o presente. -Eu mesma fiz. - ele exitou, mas pegou. -Obrigada por ter me defendido aquele dia.

–Você já me agradeceu e há muito tempo. - abria o presente.

–Não importa, serei grata sempre.

–O quê é isso? - perguntou erguendo o presente.

–É chocolate no formato do símbolo do clã Uchiha. - sorri. -Está um pouco torto, mas minha mãe disse para eu não me precipitar, um dia conseguirei fazer direito.

Ele guardou o chocolate, surpreendendo-me. Prosseguiu com seu caminho, mas parou.

–Você não vem? - perguntou, fazendo-me segui-lo.

–Onde você vai? - perguntei. -Você vai fazer bolas de neve também?

–Não. Irei há um lugar especial para mim.

–Posso ir com você?

–Não. - baixei a cabeça tristemente. -Você vai para sua casa.- corei.

–Por quê está me levando até lá?

–Meu irmão disse que as garotas não podem andar por aí sozinhas, é perigoso.

–Ah, é, meu pai diz a mesma coisa. - continuamos com os passos. -Você gostou do presente? - calou-se por alguns instantes.

–Meu irmão também disse que eu devo ser gentil. - parou, olhando-me, enquanto o vento frio acariciava nossas faces. -Talvez um dia... eu possa retribuir sua gentileza.

–E como seria?

Ouvindo minha pergunta, ele sumiu.

*x*x*x*x*x*x*x*

A neve começava a cair, trazendo novas recordações. Deixe a árvore de lado e corri atá a janela. A brisa gélida acariciou meu rosto e uma lágrima despencou sobre ele.

'É, Sasuke-kun... como seria?'

–Como eu queria tê-lo perto de mim agora... - murmurei entre lágrimas.

'Não seja uma pessoa precipitada, Sakura. Cada pessoa tem seu tempo, e o seu chegará um dia.'

Sim, eu lembrava daquelas palavras, e elas, naquele momento, me serviram de consolo.

–Eu vou te esperar, Sasuke, não importa o quanto.

Fim