A Vilã Morre No Final . escrita por Liz03


Capítulo 16
16) Passe argamassa na parede




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Para quem pode derrubar um avião com uma submetralhadora e duas costelas quebradas entrar sem convite numa festa é moleza. Eu não sabia se seria uma festa muito chique, por isso optei por um vestido preto básico e sapatos scarpins vermelhos, gargantilha e brincos de brilhantes, anel com um diamante discreto , deixei o cabelo solto (homens preferem assim), o decote do vestido era em V, aquele maldito curso de maquiagem que eu fiz em Paris tem que servir para alguma coisa. O blush deu uma corzinha as bochechas, o corretivo disfarçou olheiras e marcas de expressão, contornei os lábios com um pequeno pincel (o pincel deixa a textura mais nítida que o batom em si), não pus uma cor muito berrante, algo bem simples, eu queria concentrar a atenção nos olhos e no decote. Nos olhos porque o Daris tinha medo de me encarar e quando temos medo ou receio ficamos tão curiosos....e no decote bem...testosterona é testosterona . Destaquei as partes superior e inferior onde ficam os cílios, com uma tonalidade preta, destacando a cor da íris, e chega de falar disso que eu não trabalho em salão de beleza. Peguei a bolsa carteira, o que precisamos levar para a festa....vejamos: Dinheiro, cartão de crédito, um pozinho alucinógeno(nunca se sabe quando vamos precisar colocar algo na bebida de alguém, não é mesmo?), sonífero (e também não sabemos quando queremos encerrar a conversa antes da meia noite, não é mesmo?),preservativos(caso eu tenha que apelar, honestamente, prefiro que não aconteça) estojinho para retocar a maquiagem e claro, uma pistola Caracal F(que é de fácil desmontagem) com sistema blowback que dispensa destravamento da culatra.É como dizem mulher prevenida vale por duas. Algumas borrifadas de Wild Wind de Gabriela Sabatini, pronta para o ataque.

Acelerei o elipse 2000 , até que estava bem lavadinho. Parece que o Daris tem complexo de super herói, salvando os fracos, os oprimidos, os frágeis, coloquei-o no seu devido lugar. Cheguei ao salão, tinha um estacionamento próprio do outro lado da rua – o que deixava as coisas mais fáceis- sai do carro e não precisei esperar muito até outros convidados chegarem. Fui caminhando ao lado de um casal, trombei propositalmente com o homem fingindo que tropeçava. Pus a mão discretamente no paletó. Que surpresa os convites estavam no bolso!Peguei um.

– Você está bem? – O homem me deu apoio pelo cotovelo

– Ai sim – Pus a mão no tornozelo e dissimulei uma cara de dor - Obrigada, o sapato escorregou

– Não por isso

O casal seguiu caminho, e eu fui logo atrás. Parece que eles tiveram um probleminha na entrada, só tinha um convite, estranho....E eu entreguei o meu e adentrei no salão, decoração fina mas simples, nada muito pomposo. Pelo que eu entendi era uma festa de despedida. Algumas pessoas foram me cumprimentando na certeza de que me conheciam de algum lugar só não sabiam de onde, na verdade,não conheciam, mas a boa educação manda você acenar com a cabeça. Procurei meu alvo, lá estava ele, e , infelizmente, ela. Que romântico patetas dançando juntinhos uma música aí da Celine Dion. Ela estava com um vestidinho roxo de brechó e ele com uma camisa azul “social” que ele deve ter comprado com ela. O garçom passou e eu peguei um copo de uísque, minha vontade era tomar num gole só, mas vamos comporte-se como uma dama, não chame atenção, bla bla bla. Dei uma bebericada tímida. E eles ainda estavam dançando. C-H-A-T-O.

Eu esperei, é uma das minhas qualidades, eu sei agir na hora certa. Deixe o casalzinho aproveitar a festinha, uma hora ela vai sair para ir ao banheiro (por necessidade, para retocar a maquiagem ou para fazer charminho) e quando ela largar eu pego.Quem sabe acidentalmente o vestido dela não rasga ou ela fica presa no banheiro, seria uma pena não é? Mais uma dose por favor.

Uma boa meia hora se passou, e conversavam, e se beijavam, e se abraçavam, e riam, e ficavam só se olhando, e eu estou aqui empunhando um copo e na bolsa maquiagem e uma pistola.

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Ela estava simplesmente fantástica. Vestido roxo, cabelo preso e um sorriso, ah, um sorriso de fazer o mundo parar de girar só para olhar mais um pouquinho. Eu olhei e olhei e olhei mais um pouquinho.

– O que foi?

– Am?

– Por que você tá me olhando assim?

Eu dei duas respostas, a primeira foi sorrir como um bobo, que foi o que eu consegui fazer mais rapidamente, depois consegui formar uma frase – É que você tá muito linda

Ela corou e sorriu para o chão – Você também está muito lindo – Mais sorrisos

Eu? Ah eu só estava com uma calça preta social, sapato preto e blusa azul social dobrada até o cotovelo. Fomos de táxi até a festa. Chegamos ao salão de festa e eu já estava me perguntando que horas eu deveria fazer o pedido, decidi esperar um pouco. Entramos , eu encontrei Karina cumprimentei a , desejei sorte nessa nova etapa. Sentamos numa mesa. Certo eu só treinei até essa parte, então foi ela quem quebrou o silêncio.

– Vamos dançar? – Ela disse isso já se levantando e segurando minha mão

– Vamos – Levantei da cadeira e fomos para a pista de dança

No começo estava tocando uma música mais agitada, mas quando mudou para “Because you loved me” da Celine Dion. Puxei-a mais para perto segurando pela cintura e encostei minha bochecha lado do rosto dela. Ficamos ali balançando até o fim da canção, sem dizer nada, nem uma palavra, só um passo para lá, um para cá, no ritmo da música. “For all the joy you brought to my life.”(Por toda a alegria que você trouxe para minha vida). “For all the love I found in you I'll be forever thankful baby.” (Por todo amor que eu encontrei em você, eu serei enternamente grato, baby). Ela chegou mais para perto, beijou suavemente minha orelha. Admito que um arrepio bom percorreu minha coluna e chegou até a nuca.

– Você é muito especial para mim – Eu disse isso aproveitando a coragem súbita que me surpreendeu.

Ela me olhou de uma maneira carinhosa, me deu um beijo e depois me segurou mais pelo pescoço.Quando a última nota da música sumiu das caixas de som voltamos para a mesa. Conversamos muito, eu não vou lhe dizer sobre o que, largue de ser curioso(ou curiosa) isso aqui é um papo entre futuros namorados, viu rapaz (ou dona moça)?

Alguns beijinhos, que ninguém é de ferro, e às vezes bastava ela falar e eu ouvir. Ficar ali admirando a já era o suficiente para mim. Quando estamos carentes nos sentimos incompletos, eu sentia agora que Luiza era a peça que faltava para eu me sentir inteiro.

– Vou ao banheiro – Ela me deu um beijo na bochecha e se levantou

– Certo – Devolvi o beijo na bochecha dela – Eu prometo não sair daqui – Ela sorriu, eu a fiz sorrir, e saber disso é gratificante.

Peguei um copo de refrigerante, um salgadinho de queijo (que estava uma delícia). Estava muito bom, mesmo assim quando eu olhei para a pessoa que estava vindo na minha direção me engasguei com o salgadinho e acabei babando o refrigerante. Espremi os olhos, chacoalhei a cabeça, isso que me deram foi soda ou vodka? Olhei de novo. Deus é mais! Era ela.

Não.

Não.

Por favor não.

Emiliane Cortez caminhava exuberante na minha direção, ela se destacava facilmente entre as pessoas, estava diferente, cabelo solto, maquiagem, vestido, decoooooote..... Mas os olhos verdes estavam mais brilhantes que nunca, mais assustadores que nunca. Não olhe. Não olhe. Mirei o enfeite na mesa, ela não vai perceber que eu estou aqui. É só não chamar a atenção. Prendi a respiração. Me curvei o máximo que eu pude sem parecer idiota.

– Perdeu algo no chão Daris? – Levantei um pouco os olhos, vi sapatos vermelhos, não se mexa, ela vai pensar que é engano e vai embora, não se mexa, não se mexa, droga!

– Capitã? – Me levantei e instintivamente fiz continência

– Ora pare com isso! – Ela me empurrou de volta para a cadeira e sentou onde antes Luiza estava – Como está a festa?

– Boa...- Limpei a baba da mesa, e olhei sem graça para ela – E para a Senhora?

– Senhora? – Ela sorriu de um jeito educado – Pode me chamar pelo nome, Tomás

Certo. Para tudo. Dá um zoom, mais zoom. Emiliane Cortez está sentada do outro lado dizendo que eu a chame pelo primeiro nome, e me chamando pelo nome também. Ou ela bateu a cabeça no caminho para a festa ou já tomou doses demais de uísque. Só me restou sorrir de uma maneira muito constrangida, nem quero imaginar como minha cara deve ter ficado. Ela pegou meu copo em cima da mesa e bebeu um gole.

– Ah não! Refrigerante?

– É q-que eu nã-não be-bebo

– Hum...Não bebe, mas gagueja, né?

– E-e-e-e-eu ...- Percebi que estava gaguejando mais uma vez, me calei de súbito. Senti minhas bochechas esquentarem.

– Não fique assim – Ela puxou a cabeça e ficou ao meu lado – Se você não bebe eu bebo – Deu um gole generoso no copo de uísque e olhou para mim, olhou para mim de um jeito que eu simplesmente não pude não olhar de volta...e fiquei ali...olhando... – Vai ficar me encarando? – Olhei para o enfeite da mesa – Não, assim também não – Ela levantou meu queixo com o dedo indicador e me fez olhá-la mais um pouco.

A essa altura dos acontecimentos meu coração estava acelerado, até mais do que eu gostaria de admitir. Será que dava para ela ouvir? Espero que não porque seria muito constrangedor. Ela levou o dedo do meu queixo até o meu nariz.

– Não tenha medo Tomás – Ela tinha uma voz ligeiramente rouca – Você tem medo de mim?

Eu quis responder, tipo, eu queria dizer alguma, o quê eu não sei. Mas nem consegui, a saliva foi embora da minha boca, a garganta ficou apertada. Ar? Ar? Onde você vai? Volte meu filho. Dei uma tossidinha, servia para fugir da pergunta e para tentar desentalar a garganta. Agora ela estendeu a mão sobre os meus olhos, aproximou a boca da minha orelha.

– O primeiro passo é o mais difícil Tomás, depois parar que é difícil – Dizendo isso ela tirou a mão dos meus olhos.

Eu estava no que os médicos chamariam de “estado de choque”. Ela se aproximou mais,e mais, e mais do que era permitido para Capitãs do exército. Parou a 2 cm de mim e ficou ali me olhando por alguns segundos. Não me julgue por eu não ter me mexido, meus pensamentos estavam congelados, meus músculos rígidos e meus olhos arregalados. Ela aproximou sua boca da minha, até não haver mais espaço algum, ela me beijou. A boca dela invadiu a minha, e como um morador estático que tem sua casa invadida eu não soube o que fazer. Fiquei absolutamente petrificado. Ela se afastou lentamente, olhou ligeiramente para o lado. Eu continuei mirando o nada. Ela pareceu sorrir, mas eu não posso assegurar, porque ainda não havia voltado do lugar distante onde eu estava. Apenas se levantou e foi embora. Depois de um minuto e poucos segundos também olhei para o lado.

Luiza estava a poucos metros da mesa, quando olhei para ela pude me dar conta da cena que provavelmente ela presenciara, me levantei para poder explicar tudo. Dei alguns passos, parei. Qual era mesmo a explicação? Afinal, o que acabou de acontecer? Eu não tinha respostas para minhas próprias perguntas, imagina para as dela.

– Luiza- Suspirei – Eu não fiz isso, eu não a beijei , ela que...- Mais um suspiro, era verdade, você sabe que era, mas soava como mentira. O rosto dela fez meu coração bater dolorido, eu pude sentir a intensidade de sua mágoa sem precisar ouvir uma palavra.

– Não fale mais comigo, tá bem? – Ela foi em direção a porta, aquilo no rosto dela era uma lágrima? Eu estou fazendo com que ela chore? Não, isso não está acontecendo, fui atrás dela – Luiza, ela está bêbada ou louca, ela é Capitã do exército, escuta, a gente conversa no caminho

–Ah ela é Capitã? Todo esse tempo você estava com ela?

– Não!Eu...

– Fique longe! – Ela voltou a caminhar

– Amanhã a gente conversa então – Eu voltei a andar ao lado dela – Pelo menos deixe eu lhe levar pra casa

– Amanhã? Não tem amanhã, nem depois, nem depois! Eu não quero mais te ver,e não se sinta na obrigação de me levar pra casa, estar perto de você seria muito pior do que qualquer coisa que eu possa encontrar pelo caminho

Eu balbuciei alguma coisa, mas ela já estava muitos passos a frente, e minha tristeza me deixou preso ao chão. Umas lágrimas escorreram. Não podia ser verdade. Bati com as mãos na cabeça. Droga! Emiliane Cortez. Cadê aquela desgraçada?Ah ela vai comigo explicar tudinho para Luiza, ô se vai. Procurei por toda a festa, até no banheiro feminino eu entrei, o que gerou vários gritnhos, ela não estava mais lá. Falei com o cara do estacionamento disse como ela era e que carro dirigia, ele disse que ela já tinha ido. Chutei um pneu com raiva, o pneu nem se mexeu mas meu pé doeu muito. Não estava tudo perdido, eu iria encontrá-la de qualquer jeito segunda-feira, aí ela vai falar a verdade para a Luiza, dou minha palavra.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? O biscoitinho da sorte continua! Comentando ganha frase, verso, estrofe... : D
Bjao