A Vilã Morre No Final . escrita por Liz03


Capítulo 13
13) Instale uma conexão feita de pvc


Notas iniciais do capítulo

Capítulo Longo (para os que não curtem >espero não estar chato, para os que curtem > apreciem sem moderação).



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Levantei e fui bem pontual, cheguei cedo e fiquei esperando os outros chegarem, sentei num pedaço de tronco que estava um pouco afastado. Sargento Teixeira e Capitã Cortez chegaram dez minutos depois, trouxeram alguns materiais: Uma maca, um boneco de simulação, malinha de primeiro socorros . E voltaram para dentro do batalhão. Fiquei mexendo os pés e encarando o mato, até que eu gostava do treinamento do lado de fora, parecia mais real. Eles voltaram carregando uma mesa. Me levantei e corri até eles. Ofereci ajuda.

– Pode deixar eu ajudo – Segurei a ponta da mesa que estava com a Capitã

– O que? – Ela tirou minhas mãos e começou a segurar de novo – Quem pediu sua ajuda calouro?

– Só quis ajudar...pensei que estava pesado – E saí do caminho

– Espera idiota – Sargento Teixeira deu sua parte da mesa para que eu carregasse, deu uma risadinha sacana e voltou para a parte de dentro.

Capitã Cortez foi na frente carregando a mesa, que era mais pesada do que eu tinha pensado, de costas para mim. Repousamos a mesa perto das coisas que já estavam lá. Ela se virou e me encarou um pouco, como de costume estanquei e não me mexi.

–Certo...- Ela disse isso quase como se fosse um suspiro na verdade acho que nem era para eu ter ouvido. Apoiou-se num lado da mesa e ficou olhando para o nada,até que quebrou o silêncio – Aquele idiota não voltou ainda – Novamente ela não estava dizendo isso para mim

Pouco a pouco os calouros foram chegando, o Sargento também voltou e me disse que saísse de onde eu estava. Fui ficar em posição de sentido junto com os calouros. Por fim o treinamento do dia começou, pontualmente, hoje teríamos mais uma aula de primeiros socorros. O Sargento ficou apenas fazendo papel de figurante, Capitã Cortez explicou como proceder em diversos casos: Pessoas baleadas, ataque cardíaco, afogamento, ataque de animais peçonhentos, fraturas, e até partos – o que foi engraçado, pelo menos eu achei- fizemos alguns exercícios práticos.Bem os dias se sucederam sem nada de interessante para eu dizer a você, afinal minha vida não é assim tão novelesca, cada dia uma novidade de lhe fazer suspirar. Mas em mais um fim de semana que minha família tinha um compromisso eu optei por ficar no batalhão mesmo. Fui tomar café lá na padaria, sabe aquelas manhãs que você acorda com muita fome? Parecendo que durante a noite você caminhou do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul pulando e cantando faroeste caboclo? Eu estava assim nesse estado de buraco no estômago. Pedi um sanduíche de mortadela, uma vitamina , café, pão com manteiga e um bolinho de sobremesa. Fui comendo o sanduíche de mortadela até que alguém preencheu o último lugar vago no balcão(ao meu lado). Eu sei que você já sabe quem era, mas eu não sabia. Desculpa se você é vidente.

– Pelo andar da carruagem no almoço você vai comer um boi – Ela disse e encarou minha coletânea de pedidos para o café da manhã.

Eu tirei os olhos da mortadela e olhei para a dona da voz. Certo, Capitã Cortez estava olhando com uma expressão de desprezo para o meu banquete. Mostrei um sorriso sem graça e respondi com um simples “estou com fome”. Ela fez um gesto com a mão como se dissesse “que seja”. Pediu um sanduíche de mortadela e uma cerveja, sim era 07:30 a.m e ela pediu uma cerveja no café da manhã.

– Então você não tem onde passar os fins de semana ? – Ela puxou assunto sem olhar para mim, deu um gole direto na garrafa de cerveja (sim, não era latinha ).

– É que a minha irmã e a minha mãe às vezes saem, e para não ficar em casa sozinho fico por aqui mesmo – Eu disse depois de tomar um gole de vitamina para ajudar o pão a descer – E a Senhora?

Eu não sei se foi a minha imaginação mas poderia jurar que ela repetiu a palavra senhora baixinho antes de dizer – Eu não tenho o que fazer sozinha em casa – E deu mais um gole na cerveja – Além do mais – Ela fez um aceno de cabeça – Se eu fosse para casa – Mais uma bebericada na cerveja – Eu não veria calouros que socam tão mal um saco de pancadas – E ela deu mais um gole na cerveja, eu fiz uma cara de ofendido, olhei para ela, ela nem mudou de expressão dei uma risadinha

Eu nem pensei no perigo de responder a uma Capitã do exército, simplesmente saiu – E eu? – Fiz um gesto de desinteresse com a mão – Que fico pra ajudar pessoas que desmaiam e ainda sou enforcado?! – Dei um gole generoso na vitamina, olhei para ela pelo canto de olho ela estava me encarando, por isso tomei fôlego e continuei tomando a vitamina até o fim , ela ainda estava lá olhando para mim, então não pude não olhar de volta para ela . Ela apontou meu rosto e passou o dedo na própria boca indicando que minha cara estava suja, passei um guardanapo e tirei a manteiga de lá, fiquei um pouco envergonhado. Na hora de voltar para o batalhão não tivemos como não ir juntos afinal estávamos no mesmo lugar , indo para o mesmo destino.No início da caminhada andamos calados e fingindo que estávamos entretidos olhando para qualquer outro lugar. Foi ela mesma que quebrou esse silêncio um tanto desconfortável.

– Sabe que aqui - Ela apontou para um praça que estava do outro lado da rua - Existia um grande lago?

– Sério ?!- Eu nunca tinha ouvido falar em um lago ali - Mas era artificial?

– Não, era natural mesmo - Ela parou e olhou - O problema...- Capitã Cortez fez um pequeno suspense com a voz-...é que haviam patos

– Patos?

–Sim. Patos.

– E o que eles fizeram?

– Bem , no início eles vinham até o lago e apenas nadavam, mas o problema mesmo aconteceu num dia bem atípico

– O que aconteceu?

– Nesse dia a temperatura caiu muito rápido - Ela fez uma voz alarmante - Tipo coisa de 3 segundos, sabe? - Respondi rapidamente com um “anham” - Aí os patos ficaram presos no lago, mas um dia eles saíram voando e levaram o lago com eles - Pausa para um suspiro - Ouvi dizer que o lago está no Amapá por esses dias

Eu estava com os olhos arregalados olhando para frente, admito que levou alguns segundos para que eu percebesse que aquela história não fazia sentido. Olhei para ela surpreso, ela estava me olhando com uma cara de criança que acaba de aprontar uma traquinagem. Não consegui não rir, ri muito aliás, ri da história maluca que ela contou, ri mais ainda por ter sido ela a contar, e depois ainda ri mais um pouquinho lembrando da cara que ela fez. Eu poderia apostar que ela chegou a esboçar um sorriso também, mas seria uma aposta, apenas uma aposta.

– Vamos calouro! - Dizendo isso ela voltou a andar

Nos despedimos com um leve aceno de cabeça, eu segui para o meu quarto. Tolói tinha ido para casa, ele morava com a noiva.Sentei na cama e, confesso, ri mais um pouco. Tirei o tênis e deitei na cama, peguei meu mais novo livro de cabeceira “ A sombra do vento”. Eu nem tinha começado direito a ler o livro quando alguém bateu na porta do quarto.Me levantei, descalço mesmo,e abri a porta.

– Você teria algum tipo de bala ou chocolate? - Capitã Cortez estava do lado de fora do meu quarto bem mais pálida do que eu tinha visto da última vez (a menos de 10 minutos)

–O que?

–Doce?

– Ah...ah...- Tempo para carregar- Doce! - Fui até minha mochila e peguei uma barra de chocolate- Tó - Entreguei

Ela abriu a embalagem, deu uma mordida, e depois outra, certo, ela comeu a barra inteira em menos de 3 minutos. Devolveu a embalagem (coisa muito útil uma embalagem vazia). Depois disso ela apenas foi embora. Isso mesmo, você leu certinho, ela bateu na porta do meu quarto, pediu doce, comeu minha barra de chocolate inteira e foi embora.

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Eu já tinha feito isso , sabe? De conquistar alguém, é bem fácil, principalmente no caso dos homens, o segredo é se pareça com uma modelo e faça o tipo dele. Seja ele quem for. Eu não gostava nem um pouco disso, esses safados pensam que eu sou o que? Umazinha que fica na esquina? Eu sempre pensava isso, logo depois eu refletia mais um pouco: Muitas dessas mulheres que vendem seu corpo por dinheiro são mais honradas do que eu. Porque estando ali sustentando a família delas, sendo que , muitas vezes, elas foram vendidas pelas próprias famílias. E eu? Eu sinto nojo de mim, eu me desprezo, você tem idéia do que é viver ou sobreviver assim?

O que me intriga nessa história toda? É que dessa vez estava sendo um tanto quanto estranho, eu não podia dar em cima do Tomás Daris e depois ensiná-lo a atirar com uma Glock 45 mm junto com outros calouros. E também não era só por isso, ele tinha um jeito de menino perdido da mãe no supermercado sabe? Toda vez que eu tentava prestar atenção nele ou ele estava rindo ou estava lendo ou estava treinando boxe –ele não era muito bom, para falar a verdade . Decidi então que eu teria que me esforçar mais do que de costume primeiro encomendei uma pesquisa sobre ele a um “amigo” hacker que eu só conhecia pela internet, paguei 2500 reais por isso, mas a pesquisa era boa, toda a vida de uma pessoa em mínimos detalhes, era um verdadeiro dossiê.Demoraria 3 dias para receber o meu pedido, aproveitei para tentar uma aproximação com o Daris, também não podia ser algo assim repentino.

Quando ele ficou para o fim de semana tratei de ficar por lá também e quando foi comer na padaria tratei de , convenientemente, ir também. Ele estava comendo a padaria inteira, tentei puxar assunto , mas acho que seria realmente difícil, ele sempre olhava de uma maneira muito assustada (admito a culpa era minha). Fui tentando puxar assunto na padaria e na volta para o batalhão passamos por uma praça e eu me lembrei de um filme que vi a muito tempo atrás (Tomates verdes fritos). E comecei a falar do “lago”. Eu já tinha pesquisado sobre o perfil dele, eu sabia que ele riria, mas não sabia que seria uma risada tão boa de se ouvir, como risada de bebê, que contagia, não é assim? Admito meus lábios se contraíram levemente, algumas pessoas chamam isso de sorriso, mas sorriso não é coisa de gente feliz? Tratei de arrancar isso da minha boca logo que percebi o que tinha acontecido.

Enfim, chegamos ao batalhão, fui ao quarto e comecei a usar meu notebook. O dossiê ainda não tinha chegado, conferi meus emails, extrato da conta (para que tantos zeros se eu não usufruo?), aí começaram os mesmos sintomas. Tontura.Fraqueza. Suor frio. Maldita Hipoglicemia! Procurei qualquer espécie de doce no meu quarto. Revirei a mala, as gavetas, nada. Por que eu sempre esqueço da porcaria do açúcar? Tantas coisas para eu providenciar e eu vou ficar comprando balinha? Ah vai para...

As coisas começaram a rodar mais depressa e minha visão ficou cada vez mais azulada. Droga! Que porcaria dos infernos! Se eu não puser logo um doce na boca vou desmaiar, desci as escadas até o dormitório dos calouros (isso não foi uma tarefa fácil). Fui até o quarto do Daris, veja que romântico, bati a porta, pedi um doce. O idiota demorou para entender o significado da palavra D-O-C-E . Mas por fim me deu uma barra de chocolate salvadora, devorei a barra o mais rápido possível, a cada dentada a tontura passava. Eu sei que devia ter dito no mínimo um “obrigado” mas quando dei meia volta e finalmente percebi que deveria ter agradecido já era tarde para olhar de volta. Fui para meu quarto sentindo a tontura ir embora e as pernas parando de tremer a cada degrau.

O meu quarto nas acomodações do exército eram bem menor do que meu apartamento (na verdade o banheiro do apartamento era maior que esse quarto inteiro), contudo, se eu não estivesse ali para invadir e roubar informações do exército usando um dos calouros, eu até que gostaria de viver naquele quartinho. Tomei um banho de água fria (água fria é como andar de roda gigante pela primeira vez, no começo é meio ruim mas depois fica muito bom), pus um short preto e uma blusa verde escuro (mais tarde eu iria treinar uns socos quem sabe eu não encontrasse meu pior aluno lá), e comecei a ler um pouco. Eu comprei o mesmo livro que o Daris está lendo, quem sabe não descubro um pouco mais sobre o patetão que não sabe o que doce significa. “A sombra do vento” , examinei o título por alguns segundos, de repente fazia todo sentido que ele lesse um livro com esse nome. Fui lendo e lendo e lendo. OK, admito,eu estava realmente gostando. Parei, era hora de ir ao saco de pancadas, mas confesso que desci as escadas com uma frase do livro na cabeça: “Os acasos são as cicatrizes do destino”. Cicatrizes. Elas estavam em toda a parte, por fora e por dentro.



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Notas finais do capítulo

Gente,ei foram umas 2 mil palavras esse capítulo e tudo que eu peço > 1 palavra (repetindo>1 palavra)>>> COMENTÁRIO.
Vai lá e me estimule a trazer um novo capítulo fresquinho em breve, ok?
Alguns créditos:
1) Já falei sobre A sombra do vento aqui, não falei? Pois bem você vai gostar, oh yeah.
2) Como vocês perceberam tem um pouquinho de Tomates verdes fritos >> Se puderem assistir o filme... ^^ Towanda!
Um bjão e sabe a curiosidade que você está para ler o próximo capítulo, multiplique por 10, é a minha vontade que você comente...não me faça fazer macumba de novo aushahus
Xau