Deitado em meio aquele enorme jardim ele mantia seus olhos fechados, a sua volta os únicos sons presentes era o cantar dos pássaros e o som do vento ao passar pelas enormes arvores de sakuras, que cercavam o jardim. Sentia-se calmo ali, como se todos os seus problemas nunca tivessem existido: nada de guerra, tristeza ou coelho...

               Geralmente ele preferia seu próprio quarto para meditar, mas sabia que seria o primeiro lugar onde o procuraria, ali ele estaria a salvo ninguém o procuraria, ninguém o olharia. Kanda havia acabado de voltar de uma difícil missão, estava ferido mais não queria ir à enfermaria, e ser tratado corretamente. Ele já sabia que não seria curado tão rapidamente como costumava ser, ele não precisava da enfermeira-chefe ou o Komui dizer-lhe, ele estava muito bem ciente de tudo, não precisava de ninguém o falando nada. No fundo ele simplesmente não queria que eles olhassem para ele com os olhos tristes e piedosos em seu rosto. E, além disso, ele foi tratado para cuidar de lesões e dor por si mesmo.

               Permitiu-se soltar um suspiro em silêncio, já estava começando a se sentir um pouco melhor a cada momento.

- Yuu-chan ~! O que está fazendo aqui? Usando só essas roupas, pode acabar pegando um resfriado – Gritava Lavi, com uma voz que Kanda considerava irritante, analisando o moreno.

-Calado, Usagi! Já falei para não me chamar assim – Retrucou Kanda automaticamente.

               Lavi estava certo, Kanda não estava usando seu habitual manto de exorcista, usava apenas uma leve camisa de gola alta branca. Era outono e começava a esfriar, então até que ele talvez pudesse pegar um resfriado

               A raiva começava a subir pela cabeça do exorcista moreno, tingindo seu rosto de um tom avermelhado, voltou a fechar os olhos tentando se acalmar. Era tudo que ele não precisava, ele estava em seu momento de paz até segundos atrás, quando chega Lavi para estragar tudo. Definitivamente, deveria ser o propósito de vida do ruivo fazer a vida de Kanda mais difícil. Quando voltou a abrir os olhos, viu Lavi correndo em sua direção.

- Se você da valor a sua vida fique ai mesmo – Murmurou Kanda, pousando sua mão sobre Mugen. Ele podia ouvir Lavi parar para pensar antes de continuar vindo em sua direção. Ao que parecia, suas ameaças não tinha mais efeitos no ruivo.

- Não seja assim Yuu! – Reclamou Lavi, deitando ao lado de Kanda, passando a observar o céu. Aquele não seria a primeira nem a ultima, longe disso, vez que Kanda o ameaçava matá-lo, afora suas tentativas de castrá-lo ou arrancar seu olho fora com Mugen, mais de qualquer forma ele não estava mais preocupado.

– O que você quer Lavi? – Suspirou Kanda 

- Preciso de um motivo para querer vim vê-lo? Não posso apenas querer ficar com você. - Indagou Lavi, fingindo-se de chateado, mas ao ver o brilho nos olhos de Kanda, riu- Você venceu, quem iria acreditar nisso? Nem os Akumas desfrutariam de sua companhia, e olha que os maus são eles!

               Kanda desembainhou Mugen e apontou-a em direção a Lavi. Mesmo ele sendo praticante de meditação quase sua vida toda, de nada adiantava se tratando daquele ruivo; na verdade isso não tinha lhe adiantado quase nada nos últimos anos, ele estava se irritando com muita mais facilidade do que anos atrás.

- Calma Yuu não é para tanto – Riu Lavi, já com os braços levantados em proteção.

              Kanda considerou um momento antes de colocar Mugen a distancia.

- Não se aproxime – Murmurou Kanda fechando seus olhos novamente, hoje realmente não estava com paciência para aturar o Lavi, ou qualquer outra pessoa.

- Como se eu fosse lhe deixar agora que enfim o encontrei. Nunca o deixarei. – Anunciou Lavi, sério pela primeira vez desde que encontrará Kanda. A cor do rosto do exorcista moreno estava tingida em um tom avermelhado, notando isso Lavi prosseguiu – Além disso, eu vim apenas para recebê-lo de volta, Yuu-chan – acrescentou com um sorriso perverso olhando para Kanda.

- Como se eu fosse cair nesses seus joguinhos pervertidos - Resmungou Kanda, desviando o rosto

                “Ele está fazendo isso novamente...” pensou Lavi, isso era realmente incomodo, ele sabia que Kanda era o tipo de pessoa que não abriria a mão de seu orgulho não importava o que acontecesse. E sabia que estar com ele, admitindo que gostava dele,  havia sido grande coisa para ele. Mas, não seria seu Kanda se aceitasse tudo e o recebesse de braços abertos

               O que era realmente irritante era o fato de que não importava qual fosse à situação Yuu sempre lutava, sempre fazia as coisas mais difíceis serem ainda mais difíceis do que elas eram realmente, ele sempre agia como um irritado, mal-humorado e anti-social. Claro que Lavi foi avisado disso: Kanda era assim há anos, desde muito antes deles se encontrarem.

                Eles estavam juntos há quase um ano, ele havia confessado seu amor por Kanda e bem esse tinha seus próprios meios. Houve em algumas ocasiões, luz, toques suaves, palavras doces. Era necessário muito trabalho para fazer Yuu mostrar seu lado mais suave, um lado que só ele conhecia. Ter Kanda consigo mesmo havia exigido muito trabalho duro e muito amor. Mas Lavi havia tomada a decisão que esta seria a sua missão; uma missão muito exigente e quase impossível. Ele sempre gostou de Kanda, de irritá-lo e provocá-lo... No inicio tinha sido difícil admitir que ele realmente gostasse de Kanda em todos os sentidos, mais depois de observar suas próprias ações em torno do espadachim tinha que admitir...  

               Mas Kanda admitir era outra historia. Uma historia que ele queria contar para seus netos, ou na verdade para os netos de seus amigos, ou para qualquer outra criança que queira ouvir uma historia de amor.

–Você é um completo idiota – Murmurou Lavi, antes de começar seu joguinho. Ele segurou Kanda e empurrou-o na grama, ficando em cima dele, tendo controle sobre ele, apertava suas mãos e colocou-as sobre sua cabeça. Kanda lutou e chutou mais ele ainda não estava completamente recuperado e Lavi permaneceu firme em sua posição

– O que você esta fazendo, seu Usagi idiota? – Falou Kanda com raiva.

- Não o vi durante semanas, e quando você finalmente voltou soube que estava ferido e se recusava a ir à enfermaria. O que você acha que eu estou fazendo? Quero ver, por mim mesmo, se você está bem. - Disse Lavi parecendo irritado, ferido e chateado, ele olhava diretamente para Kanda que começava a corar. - Eu amo você, seu bastardo estúpido – Murmurou Lavi.

– Eu estou bem, sempre estou bem – Kanda tentou soar como se fosse óbvio, mais suas palavras acabaram saindo como um murmúrio

– Claro! Continue a repetir isso para si mesmo – Riu Lavi, um sorriso apareceu em seus lábios enquanto observava Kanda, sentia que o gigantesco desfiladeiro que separavam eles começava a ceder.

               Kanda também se preocupava com Lavi quando estava em missões, sempre pensava nele, tinha vontade de deixar tudo de lado e ir ao seu encontro. Então ficou feliz em ouvir o ruivo pronunciar aquelas palavras. Mais Lavi mostrava tanto emoção ao falar “eu te amo” que ele não estava preparado. Ele não estava pronto para devolver de forma igual.

               O sorriso de Lavi aumentava e ele abaixou-se para beijar os lábios de Kanda. O primeiro toque era leve mais como um carinho. Ele continuou pequena plantação de beijos na boca Kanda.

-Bem vindo de volta, Yuu. – Sussurrou Lavi entre os beijos.

               Seu corpo parecia gostar das caricias do ruivo, mas em sua mente uma batalha estava sendo travada, Kanda não queria admitir ter sentimento que não sejam raiva ou ódio. Afinal, ele era Kanda Yuu um exorcista que era temido por todos e estava muito bem, obrigado, assim não tinha vontade de deixar qualquer um pense que ele tinha um lado mais suave.

               Mais com Lavi tudo era diferente, ele meio que gostava de quando era pressionado o fazia sentir-se amado, ele gostou quando Lavi colocou os braços em torno dele e abraçou-o isso o fazia se sentir seguro. E ele estava feliz. Quando Lavi o irritava quando o chamou pelo seu nome ou das coisas mais estúpidas, porque fazia sentir-se humano e ser parte de algo.


               Kanda quase riu alto quando percebeu como essa cena pareceria para outra pessoa se os descobrissem: eles estavam deitados na grama, com folhas caídas ao redor, Lavi debruçado sobre ele e o beijando. Parecia surreal como uma cena daqueles filmes românticos ruins.

– Fiquei com saudades- Lavi murmurou entro os lábios Kanda.

               Uma folha cai sobre o rosto de Kanda trazendo de volta a realidade, ao perceber onde realmente estava ele parou e rasgou o beijo de Lavi longe – Eu não vou fazer isso aqui – Comentou deixando Lavi com um olhar intrigado

               Ele sabia que Lavi não se importaria, o ruivo iria apenas pensar que era sair e fazer algo diferente, algo que iria fazer uma grande e engraçado lembrança, não se importaria se alguém os visse, mais Kanda não estava pronto para deixar sua dignidade de lado. Ainda não.

– Certo eu vou deixar você ir agora – opôs desanimado, ele tinha perdido sua chance de ter algum contato físico com Kanda; porque ele não queria que alguém os visse.

               Lavi beijou novamente Kanda, matando todos os protestos que o espadachim tentou dizer. Incomodava Kanda o fato de que Lavi podia fazer o que quisesse facilmente com ele, o deixando sem ser capaz de controlar a si próprio ou pensar com clareza com apenas beijos.

– Vá incomodar qualquer outro – Disse Kanda e se levantou, limpando a roupa, e tentando se livrar-se das folhas em seu cabelo. Sabia que seria uma confusão por causa de seu cabelo longo. Ele estava chateado, odiava o fato de ele não conseguir expressar o que realmente sentia como Lavi e suas ações estavam o incomodando. Porque na verdade ele era a...

– Você é o único que eu quero incomodar, Yuu-chan - Lavi sorriu.

               Kanda estava se sentindo desconfortável, não gostava de ter estes tipos de emoções que o fazia querer sorrir e ser feliz. Ele odiava porque não fazia parte de seu jeito e nem ele queria que fizesse. Mais havia algo em Lavi que o fazia agir de maneira diferente, e aquele sentimento crescia, mesmo que ele se recusasse a dizer isso em voz alta

              À missão dele tinha sido ruim, bem claro, ele matou um monte de akumas e encontrou a inocência e que tinha sido um sucesso, mais ele foi ferido gravemente e foi forçado a se lembrar do que Komui tinha dito a ele sobre seu tempo passando, ele precisaria ser mais cuidadoso e apreciar a vida que tinha; não agir de forma imprudente. Durante essa missão ele precisou o poder do Lótus para trazê-lo de volta. Ele havia se lembrado de Lavi e todos os momentos que tivera com ele, e tinha ainda mais um mau maior do que morrer: ele teria magoado Lavi, porque ele não falou como ele realmente era importante na sua vida. Era demais para ele entender e aceitar. Ele tinha perdido outra pétala, sua vida estava chegando ao fim, justamente quando estava começando a admitir sua derrota em livrar-se de Lavi. Ele tinha lutado e tentado negar qualquer ligações emocional com o ruivo, mas Lavi era persistente, ainda mais persistente do que ele havia sido em fugir e negar.

– Você está bem Yuu-chan? – Lavi perguntou com preocupação, Kanda tinha parado e estava apenas olhando para ele. Ele nunca tinha visto Kanda assim: como se ele estivesse vulnerável.

               Lavi tinha procurando por ele para, então, dizer todas aquelas coisas boas. Ele tinha feito tudo o que um homem fez a uma mulher que amava, tinha o irritado, insistido, e o amado. A Ordem quase perdeu um de seus Exorcistas depois disso. Mas mesmo que ele o ameaçasse Lavi sempre voltava, procurou ir no máximo de missões possíveis para evitá-lo. Kanda havia feito tudo em seu poder para tornar impossível para Lavi chegar até ele, mas mesmo assim... Ele havia falhado. Lavi não tinha desistido. Então lembrou Lavi dizer algo sobre o amor conquista tudo. Talvez aquilo pudesse ser verdade.

               Kanda olhou para Lavi, estava hesitante queria dizer ao outro o que realmente sentia. Tinha que dizer, não sabia quando seria tarde para fazê-lo. Ele queria dizer o que Lavi merecia saber, parte dele ainda dizia para ele não dizer. Ele tinha medo de perder Lavi. Mas tinha mais medo ainda de morrer sem lhe dizer.
.
– Aishiteru– murmurou em japonês, desviando o olhar.

               Lavi se levantou mais rápido do que ele jamais se moveu. Ele agarrou Kanda de seus ombros e puxou-o perto, esmagando seus lábios Era mais apaixonado e intenso do que tinha sido apenas um momento atrás. Foi igualmente desesperado e eles estavam despejando todas as suas emoções em um beijo.

               Quando Lavi finalmente afasta seus lábios dos de Kanda, ambos estavam respirando pesadamente. Eles estavam olhando para o outro, ambos estavam em silencio. Mas foi o suficiente, eles não precisam de palavras: eles só precisavam de um ao outro.

– Sabe, estava começando a pensar que você era incapaz de dizer isto para mim, mais acho que você não esta mais tão frio quando você quer que as pessoas acreditem – Sussurrou Lavi, ele estava feliz mais feliz do que ele já tinha sido.

– Só porque eu não digo isso sempre, não significa que eu não possa dizer isso- Rosnou Kanda, ele já estava a um passo de Lavi, mais o ruivo não iria deixá-lo ir – Eu digo quando eu quero dizer isto, não porque é um ditado comum à maioria das pessoas.

Lavi não tinha mais certeza se poderia sorrir ainda mais.

– Vamos comer coelhos– bufou Kanda, pegando Mugen da grama. Lado a lado os dois exorcistas voltaram para a ordem.

– Coelhos?– Lavi questionou. Mas ele não disse nada porque era Kanda. Ele poderia ser uma pessoa muito estranho se ele queria: como agir quente e frio ao mesmo tempo sem ver a complexidade nele.