Brachial escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
Brachial


Notas iniciais do capítulo

Presente de Natal para a Mel Fonseca, leitora linda de Coroner Stories. Não é grande coisa, Mels, mas espero que goste... Um paralelo com Coroner Stories.
Não leia se você não gosta de anatomia ou não aguenta explicações sobre alguma matéria.
Complementar à outra fic minha, Coroner Stories.



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“Mione, nós estamos indo.”

“Já? Mas nem são nove horas ainda! E nós nem repassamos tudo...” falou a garota, olhando para os amigos, que já estavam ocupados em lavar as mãos.

“Sim, mas isso aqui vai estar aberto amanhã de manhã,” disse Ron. “E eu ainda tenho que estudar a teoria.”

“Ron tem razão, Mione, nós passamos muito tempo vendo a prática já, está na hora de pegar a parte teórica.” Harry deu um sorriso sem graça. “Você vem?”

“Acho que vou ficar aqui mais um pouco.” A garota deu de ombros. “Juro que não vou ficar aqui até me chutarem para fora!”

“Bom mesmo, porque da última vez aquela monitora quis arrancar a sua cabeça quando você ficou aqui até o último minuto.” O ruivo riu, dobrando o jaleco e guardando-o dentro de sua bolsa. “Qualquer coisa passe lá em casa. Eu e Harry vamos, muito provavelmente, jantar e já começar a estudar.”

“Certo, eu aviso se for aparecer por lá.” Hermione sorriu, vendo os dois acenarem e saírem do laboratório, antes de voltar a olhar para o cadáver em cima da mesa de metal. Apenas olhar para ele já fazia com que a garota ficasse com uma vontade enorme de ir embora, mas ela precisava ficar ali e estudar caso não quisesse ir mal naquela prova. “Certo,” ela sussurrou enquanto usava a mão sem luva para passar as páginas do seu caderno. “Músculos foram, agora... Inervação.” A garota fez uma careta ao encontrar o que queria nas folhas. “Plexo braquial.”

Deixou o caderno em cima de uma banqueta e aproximou-se de um dos cadáveres, fazendo uma careta ao sentir o cheiro do formol parecer entranhar-se em suas vias aéreas. Puxou o braço do homem sobre a mesa para que deixasse a mostra um emaranhado de nervos e fáscias.

“Deus,” ela murmurou. “Vamos lá... Nervo mediano.” Hermione pegou o maior nervo que saía do emaranhado e descia anteriormente ao braço do cadáver. “Agora... Nervo...” Olhou para o rascunho que tinha em seu caderno e, depois, para o cadáver. “Isso é impossível. Argh, como eu odeio vocês e essa anatomia complicada.”

“Vai ficar muito tempo aí?” A garota deu um pulo e virou-se, ainda sentindo o coração acelarado, para ver um rapaz parado na porta do laboratório.

“Não se faz isso com as pessoas!”

“Eu apenas perguntei se você vai ficar ai por mais muito tempo.” O outro revirou os olhos. “Aqui fecha as dez e meia.”

“Eu sei disso,” ela falou. “E também sei que ainda são oito e meia.”

“Errado, são nove horas.”

“Nove horas!?”

“Surpresa: o tempo passa rápido aqui dentro,” o estranho falou, sem emoção alguma em sua voz.

“Estou perdida,” sussurrou Hermione.

“O que disse?”

“Disse que estou perdida. Tenho prova amanhã e não consegui repassar todo o conteúdo prático...”

“Aqui abre amanhã de manhã...”

“Eu quero estudar teoria de manhã!”

“Woah, acalme-se, garota.” Uma risada sem humor saiu da boca do outro enquanto ele se aproximava. “O que cai nessa prova?”

“Membro superior e tórax.”

“Membro superior é tranqüilo, já tórax...”

“Eu já sei toda essa parte.” Ela o interrompeu. “Estou perdida com braços.”

“Mas braço é praticamente só músculo, vasos e nervos.”

“E isso é difícil!”

“Claro que não.”

“Se acha tão fácil, será que você poderia, bom... Me ajudar aqui?” A garota perguntou. “Por favor.”

“É isso o que a gente tem que fazer, não? Só espere um pouco, vou pegar algumas luvas e meu caderno.”

“Você é monitor? Como eu nunca o vi aqui antes?” Ela perguntou, vendo-o se afastar.

“Não sou, só apareço aqui quando sobre um tempo livre ou quando alguém pede para que eu cuide das coisas.”

Hermione assentiu, vendo-o sumir pelas portas do laboratório. Voltou a olhar para o cadáver e suspirou. Deus, como ela odiava aquela matéria...

“O que você precisa saber?” Ela virou-se e viu o rapaz voltando para perto de si.

“Plexo braquial.”

“Uma vez que acha, fica tranqüilo,” ele falou, deixando o seu caderno em cima de outra banqueta e colocando as luvas. Aproximou-se do cadáver e puxou o seu braço, deixando-o ainda mais aberto. “Quem foi que dissecou isso? Está horrível.” O estranho fez uma careta, antes de tirar do bolso uma pinça e uma tesoura.

“Na verdade, fui eu.” O rapaz ergueu os olhos e, pela primeira vez, Hermione notou que eles eram extremamente azuis. Um azul tão claro que chegava a dar uma sensação ruim. “Se quiser eu posso...”

“Deixe que eu faço.” Sem hesitar, o rapaz se ocupou em, com a tesoura e a pinça, limpar grande parte do resto de fáscia e músculo que havia em volta dos nervos. “Você demoraria muito... E tempo é uma coisa preciosa para você hoje.”

Hermione não sabia se agradecia por não ter que fazer o trabalho do qual não era muito fã ou se sentia-se ofendida pelo comentário do outro. Decidiu ficar agradecida, já que, no fundo, ele estava certo.

“Você é bom nisso,” disse a garota, vendo como ele soltava os raminhos de nervos com rapidez e sem arrancar nada que era importante. “Por que não vira monitor?”

“Porque achei melhor esperar um pouco para tentar a vaga... Mas pretendo conseguir isso no próximo semestre. Pronto.”

“Certo, e agora?”

“Seguinte: nem todos os nervos do plexo vão cair na prática, é óbvio, existem alguns que nem estão mais aqui... O nervo para o músculo subclávio, por exemplo, já foi estourado. Outra coisa: caso for cair o plexo, ou vai cair nos seus cadáveres ou em peça solta... Já as olhou?”

“Já.”

“Então está certo... Aqui.” Ele pegou o maior nervo, o único que ela realmente sabia. “Nervo mediano. Você sobre por ele e vai encontrar um Y, viu?” Ela assentiu com a cabeça. “Do ramo lateral, vai ir para o nervo músculo cutâneo, viu? E do medial, para o nervo ulnar. Desses respectivos nervos vão sair, para trás, o fascículo lateral e medial. Agora, se eu levantar esses dois.” Ele usou a pinça para levantar os dois fascículos. “Você vai ver o fascículo posterior... Dele vão sair dois nervos: o de fora é o nervo axilar e o de dentro, nervo radial.... Deu para entender?”

“Sim.”

“Depois vêm os troncos: superior, médio e inferior.” Ele mostrou os três troncos com a pinça. “Será que você pode pegar uma máscara – tem uma no meu bolso – e colocar em mim, por favor? Eu te empresto uma luva, depois.”

A garota concordou com a cabeça e tirou a luva da mão direta, antes de enfiar a mão no bolso do jaleco do outro, pegar a máscara e colocá-la no rosto dele.

“Tem luvas no mesmo bolso, pode pegar um par para não gastar as suas.” Ela fez o que ele falou, mesmo que as luvas dele ficassem grandes demais em suas mãos. “O cheiro disso aqui está horrível... Como eu estava dizendo: tronco superior, médio e inferior. Eles são formados pelas raízes de C5 à T1. C5 e C6 formam o tronco superior, C8 e T1 formam o inferior e C7, sozinho, forma o médio.”

“Acho difícil eles cobrarem raiz, com tantas coisas para cobrar...”

“O primeiro semestre também acha difícil pedirem uma espinha nasal e é sempre isso que pedem.”

“Tem razão.”

“Professores adoram coisas inúteis, garota, aprenda isso. Sempre vai ter uma questão que é uma coisa que ninguém se lembra. Aliás, é isso, o plexo... Agora repasse.”

Hermione pegou a pinça da mão do outro e repassou tudo o que ele havia acabado de lhe falar umas duas vezes.

“É isso.”

“Só?”

“Só. Eu disse que era tranqüilo.” Não era possível ver a boca do outro devido à máscara, mas Hermione sabia que ele estava sorrindo pela forma como os cantos de seus olhos se franziram levemente. “Ah, tem um nervo... Cobraram na minha prova... Aqui.” O rapaz se apressou para outra mesa onde havia uma peça solta com apenas dois braços dissecados ligados à um pedaço de coluna vertebral apenas pelos nervos. “Nervo peitoral medial.” Ele mostrou um fiapinho de nervo que se inseria em um pedaço cortado de músculo.

“Como você sabe?”

“Porque eu vejo para onde vai.” O rapaz segurou o pedaço de músculo. “Peitoral menor. Tem mais alguma coisa que precisa ver?”

“Na realidade, era isso... Como eu já disse: repassei todo o resto hoje mais cedo e o que faltava era essa inervação.”

“Bom.” O rapaz observou enquanto ela tirava as luvas e ia lavar as mãos. “Quer ver mais uma coisa que pode cair na prova?” Novamente, pelo franzir dos olhos do jovem, ela pode perceber que ele estava sorrindo. “Venha aqui.”

Ela o seguiu até outro cadáver, onde ele puxou, suavemente, um fiapinho que, em sua opinião, poderia ser tanto uma veia quando um nervo que ia para algum lugar na lateral do peito do cadáver.

“T2... Nervo intercostobraquial.”

“Ele não vai... Quero dizer, ninguém nos mostrou isso.”

“Professores são sacanas, Dra... Granger.”

“Como...?”

“Está no seu jaleco.” Ele riu. “Ainda não sou capaz de ler mentes, não se preocupe. E não adianta esticar a cabeça para tentar ver o meu nome, este jaleco não é meu, é do laboratório.”

“Certo... Bom, acho que é isso.”

“Sim, é isso.”

“Ahm, muito obrigada, quero dizer, pela ajuda.” A garota sorriu, estendendo a mão para o outro, antes de lembrar-se que ele estava de luvas.

“Acho melhor poupá-la de um pouco de formol nas mãos.” O rapaz falou erguendo as mãos e mostrando como o látex branco das luvas já estava amarelado nas pontas de seus dedos, assim como o tecido branco das mangas de seu jaleco.

“Tem razão... Bom, muito obrigada...?”

“Tom.”

“Muito obrigada, Tom.”

“De nada, Granger... Ah, e me prometa uma coisa?”

“Sim?”

“Não diga que odeia os cadáveres, okay? Eles podem vir a ser úteis um dia.”

A garota franziu a testa, mas concordou, de qualquer jeito, antes de pegar as suas coisas e sair. Monitores ou aspirantes a monitores de anatomia eram as pessoas mais esquisitas que ela conhecia... O formol deveria subir a cabeça deles.


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Notas finais do capítulo

Estou com preguiça de explicar o plexo, então:
— http://pt.wikipedia.org/wiki/Plexo_braquial
— http://www.youtube.com/watch?v=TTnsRlvKcss&feature=related {não assista se não gosta de cadáveres/se sente mal vendo}
— http://www.youtube.com/watch?v=ub_qQDTFFns {idem ao de cima}
— http://www.youtube.com/watch?v=fXTyUTMv0Oo {pode assistir, é só uma músiquinha sobre o plexo}



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