A Estranha Samwoor escrita por Batatisa


Capítulo 2
Capítulo 2 - Todos a bordo, fecham-se as portas


Notas iniciais do capítulo

Sinto pela demora, tive que redigir uma apply (quem joga Neopets sabe o que é) e isso tomou muito meu tempo, já que tinha dois dias a menos para concluir por causa de uma viagem. Espero que gostem do capítulo.




// Atualizado 17/02/2014 //

Uni esse capítulo ao seguinte por motivos óbvios: Eles são o mesmo. Quando fui escrever deu alguma pane no meu cérebro e postei só metade, o que causou a indevida divisão.



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Só podia ser piada de mau gosto: Dois desmaios e duas quedas em menos (será?) de 24 horas! A única diferença entre um e outro é que a garota agora não estava acordada. Caía, o corpo inerte, movendo-se apenas por força do vento e gravidade, a boca entreaberta e os olhos virados sob as pálpebras. Não sonhava, porém, em meio a tal profundo sono que a envolvia, apenas escuridão enxergava. Como quando pequenina o tempo parecia voar, mal viu o quanto pairou pelos céus antes de chocar-se contra um telhado antiquado (parecia madeira coberta por feno, tudo um tanto primitivo). Ele se partiu com um estalo ao que fez contato, por um lado amortecendo a queda, por outro lhe ferindo as costas e tirando-a sobressaltada de sua apneia. Devia estar consideravelmente apodrecido para quebrar com tanta facilidade, ou talvez a velocidade da menina fosse tamanha que nem as mais poderosas vigas de aço seriam capazes de resistir, mas quem se importa? Nesse momento a última coisa com que Lize se preocupava era a condição bizarra de seu pouso. Afinal, onde estava agora? Pedira para voltar para casa, mas a sua, não esse edifício estranho e mal acabado! Aquela criatura, tão tendida a falar em metáforas, não podia interpretar corretamente nem uma simples oração? Agora além de perdida estava dolorida, cansada e estressada. Em toda sua irritação decidiu encolher-se ali mesmo para uma boa pestana e só depois preocupar-se em resolver seus problemas.

...

— Será que ela ainda está viva? – Murmurou uma voz desconhecida, detectada apenas por um leve milésimo de sua mente.

— Não seja idiota, Coragem! Nunca nos mandaram um cadáver, nem sei se isso é possível!

— É, mas foi quase quando a Preguiça entrou aqui, não?

— Ô, inteligência! O caso é que ela é tão lerda que nem levantar queria, não foi por estar morta.

— Mas que pareceu, pareceu.

— De qualquer modo acho melhor a levarmos para dentro. – Argumentou outra voz, pelo tom tentando apaziguar a situação.

— Tecnicamente ela já está dentro.

— Oras, você entendeu o que ela disse! Vai ficar dando uma de Preguiça, agora? Venha, ajuda a levantar a emoção!

— Como sabe que é uma? Nunca a vi em todos meus anos lá fora.

— Não é como se passasse muito por lá.

— E a tal anjinha albina já nos mandou algo diferente, por acaso? Ande rápido!

— Não precisa ser tão rancoroso, já estou indo. – Silêncio.

De repente Lize sentiu o corpo erguer-se do chão, algo lhe agarrando pés e mãos. Abriu os olhos, assustada, e soltou um grito esganiçado. Logo todos já a largavam por impulso, pares e pares de olhos concentrando-se em um único alvo.

— Que é isso?! Quer matar-nos de susto?! – Exclamou o mais alto rapaz. Era moreno, o corpo esguio e os olhos rubros. Aparentava ter uns dezessete anos, o mais velho dentre todos.

— Quer isso é você! Que porcaria de lugar é esse?!

— Olha o jeito que fala comigo, mocinha! Não sabe com quem está brincando!

— Não sei, é? Será por quê? Pois o fato de ninguém ter me dado uma única resposta direta nessa fossa toda não deve ter a mínima importância, né?!

— Iih... Parece que Raiva se subdividiu em Irritação. Qual o seu nome, pequena? – Comentou uma garota baixinha, mais ou menos de sua idade, os cabelos amarelo-claro caindo em doces cachos até os ombros. Seus olhos eram cinzas vivas e o sorriso sarcástico.

— Engraçadinha... Quero ver se continua assim depois que partir-lhe o nariz.

— Qual é o seu nome? – Exclamou Lize, ainda irritadiça. Detestava mais do que tudo essa ausência de informações, e ser tirada tão bruscamente do sono não era algo que melhorasse seu humor.

— Ah, vê se cala essa boca, Raiva! – Ela já caía na risada. – Quem é você para ter coragem de me bater, até parece que alguém ainda não sacou que você morre de medo da Razão.

O rapaz não respondeu.

— Dá para dizer logo ao menos quem vocês são? – Reivindicou mais uma vez.

— Não, eu perguntei primeiro.

— Recuso-me a responder antes de você.

— Bem... Então vou ter de adivinhar. Birra? Pirraça? Irritação? Pavio Curto?

— Que porcaria de nomes são esses?!

— Bah, dá canseira só de olhar as duas discutindo. O nome dela é Alegria, está bem? Agora diga o seu.

— Heloize.

— Helo o quê?! – Berrou quem deduzira ser Coragem. Todos a encaravam de modo diferente agora. Alguns com intriga, outros com curiosidade, todos puxando um pouco para asco e surpresa.

— Heloize. – Repetiu.

— Que tipo de emoção é essa?

— Hein? De onde é que tirou essa de emoção? Alguém pode por favor me explicar o que está acontecendo?

Um silêncio espalhou-se pelo casebre destruído, ninguém sabia o que dizer. Ele perdurou apenas alguns segundos, mas quem é o relógio para dizer o quão isso demorou na mente de Lize!

— Vamos, eu quero saber. – Insistiu.

— Olha, conto assim que eu descobrir. – Respondeu Alegria, até ela meio abalada pela a informação. Mas afinal, o que havia de mais em um nome? Por que tantos olhares assustados surgiram de repente?

— Ah, fala sério! Isso é irritante, sabia?

— Irritante? Irritante? Você cai na nossa vila sem mais nem menos, começa a armar um barraco, tira-nos de casa a essa hora e ainda acha irritante? -Esbravejou Raiva, quase avançando na pequena.

— Olha, estamos todos igualmente confusos. Que tal resolver isso mais tarde e arranjar um lugar para a... O que você é, meu bem? – Tentava apaziguar uma ruiva que acabara de entrar, aparentando já estar na meia idade. Seus olhos eram tão serenos que pareciam aquecer os corações de quem os encaravam.

— Uma garota, o que mais? Ser humano, Homo Sapien Sapiens, entende? – Respondeu, falando como se a interlocutora tivesse alguma deficiência mental.

Novamente silêncio.

— Bem... Então... Garota, não? Por que não a levamos para dentro e resolvemos depois essa confusão?

— Está louca? E se for espiã do outro lado? – Ele pronunciou as duas últimas palavras com certo temor, apesar de disfarçado.

— Para que enviariam espiões aqui, criatura? Mesmo que mandassem não teriam nada para ver, esqueceu que estacamos há anos naquele muro estranho? – Argumentou a loira.

— Mesmo assim, melhor prevenir do que remediar.

— Para de caçar pelo em ovo! Que outra escolha nós temos, se não a levar?

— Mas... Ah, que se dane! Se der algo errado não foi por falta de aviso.

— Espera, me levar para onde? Que porcaria é essa? – Perguntou Heloize, já perdida na conversa.

— Ahn... Seja bem-vinda a seu novo lar, a Campina Direita.

— Explique isso melhor.

— Não está em condição de dar ordens, garota.

Quieto, Raiva, não custa nada responder. Mais tarde você aprenderá mais sobre o lugar, criança.

— Ela não é criança, tem a minha idade. – Irritou-se Alegria.

— E então...? – Um tapa quase acertou o moreno, fazendo-o apenar sorrir.

— Parem, os dois! Ou então vão ambos para o castigo! – Isso, seja lá o que fosse, os fez fechar a boca. Ela suspirou. – Continuando, você já deve ter ouvido o básico sobre nós da Concentração Alfa.

— Quem?

— A anjinha...

— Uh, os poemas estranhos?

— Sim, isso!

— Ouvir eu ouvi, entender é que são elas.

— Bem... Então lá vou eu de novo explicar a velha história de sempre... Nós, emoções, convivíamos bem pela Central até que, sem motivo explícito, pequenas pedrinhas começaram a brotar do chão, todas unidas e impossíveis de arrancar, explodir ou qualquer coisa do tipo. Simplesmente ignorávamos, mas quanto mais se passava por elas, maiores ficavam. O resultado foi que ao atingirem um metro e meio ficou um tanto impossível ultrapassá-las e chegar à área rural, onde fica todo o solo fértil, sem usar equipamentos. Assim que o fizemos o que agora se tornava um muro cresceu impressionantes três metros, quase isolando-nos dentro de lá. Assustados, decidimos sair todos e acumular mantimentos para caso ele ainda mais crescesse. Foi só colocarmos o pé fora da vila que ocorreu mais um estirão, dessa vez incontrolável: Dez, vinte, trinta metros. Já há muito perdemos a conta, a cada dia sobe mais. Bem, ao menos não somos um daqueles infelizardos que decidiram ficar na cidade.

— Por que infelizardos?

— Oras, não é óbvio? Toda a comida está desse lado! – Intrometeu-se Raiva.

— Mas eles não poderiam simplesmente cultivar por lá?

— E quem derrubaria sua casa para fazer horta?

— É melhor do que morrer de fome.

Independente de como os de lá se viraram, – Continuou, cansada de interrupções. – o que importa é que buscamos descobrir a causa de tal muralha. E... Bem, digamos que não foi agradável.

— E o que era?

— Tudo o que não precisamos é de mais um em dúvida, se Alfa mandou-a aqui é porque no final acabaria se juntando a nós de qualquer jeito.

— Então conte! Se já sabe o fim nada vai mudar.

— ...e por isso não faz diferença eu dizer ou não. Agora me deixe continuar. – Finalizou, impaciente, mas Lize não desistiria tão fácil. "Mais tarde eu descubro, mais tarde...", afirmava a si mesma. – Digamos só que tal pedreira foi capaz de dividir-nos mais de uma vez: O grupo que queria ultrapassar a barreira sem muitos danos e o que queria vingança total e completa. Foi aí que surgiram Alfa e Beta.

— Como? Do nada assim?

— Não faço a mínima ideia. Só sei que apareceram e coordenaram toda a separação. Traçaram uma linha que cortava toda a área rural, dividia-a em duas partes. Não as acompanhamos, desistindo mais ou menos após sete quilômetros de caminhada contínua. Dividiram-nos, então, em dois grupos distintos: Os que queriam vingar-se e os que apenas desejavam voltar para suas casas. Bem, nós somos o segundo. Cada um foi para o lado indicado e ficou a dez passos de distância da reta, e ao que o ultimo decidiu-se uma nova rocha brotou do solo, tão alta quando a que bloqueava a cidade. Tentamos desde então descobrir um meio de escapar, mas a meta parece mais distante a cada dia...

— Beleza... Informação de mais. Deixa eu ver se entendi: Isso aqui é algum tipo de universo paralelo onde nada faz sentido?

— Como?

— Ah, deixa. – Suspirou, massageando a ponte do nariz. – Só quero voltar para casa.

— Estamos cercados por todos os lados, não há como sair.

— Fala sério!

— Estou falando.

— Se tem um jeito de entrar, então dá para sair. – E de repente a ficha caiu, tardia mas presente. – Pera. Você está me dizendo... Que é uma... – Gaguejou, os olhos arregalados de descrença.


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Notas finais do capítulo

Só explicando os títulos dos capítulos: Comparo a viagem de Lize em seu próprio interior com uma de trem.É cientificamente comprovado que reviews fazem-me escrever mais rápido u3u -qmaséverdade.




// Atualizado 17/02/2014 //

Praticamente não acrescentei nada, só alterei umas falas que pareciam uma mistura grotesca de formal e informal.
Ficou melhor? Pior? Espero que melhor (e acho, né? Caso contrário não teria postado), mas por via das dúvidas guardei o texto antigo.
Agora a notícia feliz: O capítulo três, que eu estou elaborando há quase dois anos (não pensem que eu fiquei sem escrever esse tempo todo), está quase pronto, wee! Isso é, se "na metade" puder ser considerado "quase pronto". Mas está ficando lindo, creio que compensará a demora (ou não, acho que nada compensa quase dois anos de hiatus).

Antes de dar tchau deixe-me responder um comentário que provavelmente virá (APENAS leia isso se você tiver notado algo estranho na narrativa, se não passe para o próximo capítulo e seja feliz – é sinal de que usei corretamente o método): "Isabela, o capítulo 1 está em primeira pessoa e o 2 em terceira. Isso é errado!"
Sim, meu caro coleguinha, mas eu tenho motivos para fazer o que fiz. E com motivos não quero dizer "ah, tem uma situação impossível de descrever em primeira pessoa", se fosse isso eu simplesmente teria passado o capítulo anterior para terceira e não estaríamos tendo essa discussão. Quero passar certa mensagem com isso (não vou falar qual, pois acho que ninguém quer spoilers spoilentos), apenas espero ser capaz de o fazer.



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