Uma semana depois...

Valerie tinha acabado de acordar naquela intragável terça-feira. O despetador fora praticamente que arremessado ao chão já que aquele crescente mau humor não queria dar trégua. Tudo piorou a parir dos crescentes pesadelos que estava tendo, todos eles com o mesmo tema: George. Aquele mala sem alça estava sendo um calo mesmo de longe e tudo o que ela queria era não ter mais o medo de que ele pudesse procurá-la de novo.

Resmungando alguns palavrões, ela tirou o cobertor de si e sentou na cama, tentando arrumar forças para finalmente levantar. Feito isso, se dirigiu ao banheiro e lá fez tudo o que tinha que fazer.

– Merda de dor de cabeça! - Resmungava a moça enquanto procurava uma roupa no bagunçado armário.

Depois de escolher uma roupa bem confortável, Valerie correu para a cozinha para literalmente ''engolir'' o café da manhã. Mas quem disse que ela estava com sorte?

– Caralho, na minha roupa não! - Devido a pressa, ela deixou o copo de chocolate quente virar todo na sua blusa branca. - Calma Valerie, respira fundo... Isso é apenas um complô contra você, vai logo passar...

Depois de limpar toda aquela sujeira, ela finalmente deixou o prédio e pôs-se a fazer o caminho que fazia todo o santo dia. Uma das melhores coisas de se ir ao trabalho caminhando é poder sentir mais de perto o ar puro da manhã e também poder ver coisas que geralmente não percebemos dentro de um automóvel. Mas, precisamente naquele dia, ela sentia que o dia não seria bom. Valerie podia perceber que sua vida havia mudado a partir do dia em que começou um relacionamento sério com George. Aquele jeito explosivo e excêntrico do rapaz era inegavelmente perigoso... E algo lhe dizia que muitas coisas não iriam ficar em aberto, como por exemplo aquele dia em que Kurt se meteu na briga dos dois. Mas só foi pensar em algo ruim acontecendo com Kurt, e ela chegou na livraria. Mas seria melhor se qualquer coisa a tivesse impedido de ir. O coração de Valerie pulou de susto ao ver que George estava parado na entrada da loja, a esperando chegar.

Valerie pensou em ir embora, fugir rápido dali... Mas o que adiantaria? Ele a seguiria por onde fosse mesmo. Então resolveu continuar seus passos e optou por entrar na loja sem olhar para George, mas ele foi mais rápido que ela.

– Aonde você pensa que vai?! - George a puxou fortemente pelo braço.

– Pergunto o mesmo a você! - Ela o empurrou com toda a força que tinha, fazendo-o quase cair. - Agora sai da minha loja!

– Eu não vou sair daqui enquanto você não me pedir desculpas!

– Desculpas?! Não seja tão ridículo! Eu não te devo nada! Muito menos desculpas! Agora dá o fora daqui!

– Eu já disse que não vou sair daqui. Você me deve desculpas por ter me largado de novo e feito todo aquele escarcéu naquele corredor... Você acha que esqueci que fui tirado de lá como se fosse um bandido?!

– Sabe o que eu acho?! Você devia era me agradecer por não te denunciar! Você devia era estar agora mofando na cadeia!

– Não vem com esse papinho velho agora! O fato é que você não pode me largar assim tão fácil como pensa que pode. E muito menos ficar dando showzinho de pobre coitada pra vizinho nenhum! Aliás, aquele cara imbecil está muito encrencado comigo... Se ele pensa que tudo acabou naquele dia... É melhor avisá-lo que ainda não acabou.

– Se você tocar em um único fio de cabelo dele... Eu juro que te mato! - Valerie ficou furiosa de repente.

– Ora, ora... Então quer dizer que já está gamadinha pelo magrelo?! - Valerie notou pelo olhar de George que ele ficara violento de repente.

– Nada mais na minha vida é da sua conta! Só te aviso que se ousar fazer alguma coisa com ele, alguém aqui terá um belo encontro com a polícia!

– Você não teria coragem de fazer isso...

– Jura?! Então testa pra ver o que acontece...

George olhava fixamente para Valerie e infelizmente percebeu algo de estranho naquelas reações. Porque ficaria tão irritada ao se tratar de um estranho? Aquilo foi um prato cheio para que ele novamente fizesse um novo alvo: Kurt.

– Valerie, Valerie... Como você ainda é idiota... Acha que não percebi que já está tendo um caso com esse imbecil?!

– Não estou tendo caso com ninguém! E mesmo se tivesse, isso seria problema meu! - Valerie gritava enquanto ele ria ironicamente.

– Acho que já sei o suficiente... Agradeço pelas novas informações. - George se virou e já saía da loja.

– Como assim?! Você ainda não ouviu tudo o que tenho pra falar!

– Apenas avise pro seu namoradinho que em breve ele terá grandes surpresas...

– Eu já disse pra não tocar um dedo nele! George, volta aqui! - Valerie gritava enquanto ele disparava pela avenida sem ao menos olhar para trás.

– Foi tudo culpa minha... Eu não acredito... - Valerie dizia isso para si mesma enquanto chorava na entrada do estabelecimento.

– Valerie, o que aconteceu com você! - Disse Susy, gerente da livraria e melhor amiga de Valerie.

– Susy... O George... Ele... Ele vai matar o Kurt! - Valerie soluçava tanto que mal conseguia pronunciar tais palavras.

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Mais tarde...

Definitivamente aquele dia tinha sido ruim demais para Valerie. O pior de tudo era que ela se sentia impossibilitada, incapaz de evitar qualquer coisa. George era um doente, um perturbado, e principalmente um cara perigoso. Ela temia que ele tentasse se vingar se ela o denunciasse... Mas também não conseguia aguentar seus insuportáveis ataques de ciúmes. O que importava naquele momento era voltar pra casa e pensar em algo. Pelo caminho havia momentos que estava decidida a entregá-lo de uma vez e a única certeza que tinha era que Kurt corria perigo.

Confusa, ela ia adentrando o prédio, sem ao menos olhar para os lados. Em sua mente só havia preocupações com Kurt. Aquilo já estava começando a virar um pesadelo. E pra piorar, um certo alguém também estava chegando em casa.

– Oi Valerie... - Kurt disse sorridente.

– Olá Kurt. - Disse ela, seca.

– Algum problema? - Kurt se aproximou e viu seus olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.

Ela apenas assentiu com a cabeça e em seguida, deixou o molho de chaves cair no chão, de tão trêmula que estava.

– Não precisa... - Disse ela ao ver que Kurt se abaixava para pegar o chaveiro. Valerie pôde sentir um arrepio ao ter a mão tocada pela dele. - Obrigada.

– Não vai me dizer porque está tão nervosa?

– Melhor conversarmos numa outra hora... Vejo que acaba de chegar da turnê.

– Eu não me incomodo que seja agora.

– Ok...