Valerie abriu os olhos com dificuldade e enxergou um teto que nunca tinha visto. Desconfiada, ela se levantou e viu que estava deitada numa cama de casal coberta com lençóis azuis. Logo levou um susto ao perceber que usava um blusão masculino.

''Merda... Será que bebi muito e transei com alguém ontem?'' - Pensou ela.

Depois, caminhou até a porta do quarto, sem esquecer de desligar o abajur que dormira ligado. Andou até o que parecia uma sala de estar e avistou o vizinho corajoso que a tinha salvo (ou pelo menos tentado salvar). Quando avistou Kurt, Valerie lembrou-se da briga do dia anterior.

– Onde estou?! - Disse ela confusa, bastante tonta.

Kurt levou um pequeno susto ao vê-la, pois estava distraído lendo jornal. Ele então se levantou da mesa e se aproximou dela.

– Está em meu apartamento... Você desmaiou ontem e não queria acordar por nada. Aí achei melhor te trazer pra cá, pelo menos até você acordar...

Antes que ela pudesse pronunciar alguma coisa, ele já foi se explicando:

– Você estava com pouca... roupa... - Kurt estava sem jeito pra dizer que ela só vestia roupa de baixo. - Então eu peguei uma roupa minha, mas quem a vestiu foi Paul... Ele disse que era quase um pai pra você... Disse que você não se importaria.

Ela riu ao ouvir aquilo. Notou que ele era cavalheiro e muito diferente da maioria dos homens, que numa ocasião dessas, com certeza iriam se aproveitar dela.

– Eu não me importo mesmo... O Paul sempre me ajuda quando preciso... É o pai que eu não tive. - Disse ela ainda encostada na parede. De repente, Valerie fica fraca e tem uma vertigem. Ela quase desmaia de novo.

– Você está bem? - Disse Kurt preocupado.

– Sim, só me sinto muito fraca...

– Melhor você comer alguma coisa... Senta aqui comigo. - Ela assentiu com a cabeça.

Eles se sentaram à mesa e, por mais que estivessem um pouco tímidos, ficaram um bom tempo conversando.

– Eu dormi um dia na sua casa e nem sei o seu nome ainda... - Disse ela tomando um gole de café.

– É Kurt... E o seu eu já sei que é Valerie... - Os dois riram.

– Engraçado... Você me disse que é morador novo aqui, mas... Eu tenho a impressão que já te vi em algum lugar...

– Eu canto numa banda, deve ter me visto cantar por aí... - Kurt queria falar pouco disso, não queria sempre ser o rockstar.

– Ah é, isso mesmo... Sua banda se chama nirvana, não é isso? - Ele apenas assentiu com a cabeça. - Vocês tocam de mais na minha livraria... Se bobear os funcionários deixam tocar o dia inteiro. - Ela disse rindo, mas ele estava incomodado, e ela percebeu isso.

– Você tem uma livraria? - Perguntou ele querendo mudar de assunto.

– Tenho... Resolvi abrir uma pela paixão por livros... E também por que eu não queria ser bancada durante minha vida toda...

– Bancada por quem?

– Os meus pais são muito ricos e por eles eu nem precisaria trabalhar na vida... Mas eu sinto que não pertenço ao mundinho de aparências que eles vivem... Então vim morar aqui.

Valerie ainda lembrou de George, seu ex-namorado que tinha causado toda aquela confusão na noite passada. Ela contou à Kurt que ele a drogou várias vezes e de vez em quando a agredia. George estava proibido de entrar naquele edifício, mas já se disfarçou várias vezes para passar desapercebido pela portaria.

– Eu queria te pedir desculpas por ele... E também queria agradecer mais uma vez por tudo o que fez... Por ter me defendido, por me trazer para seu apartamento... Por tudo mesmo.

– Não precisa agradecer... Já disse que não gosto de injustiças... - Disse Kurt um pouco tímido.

– Sinto que te devo uma... - Ela riu e se levantou em direção à porta. - Eu vou indo, não vou mais ocupar seu tempo.

– Se precisar de qualquer coisa é só chamar. - Disse Kurt com a mão na porta.

– Mais uma vez obrigada. - Ela deu um beijo no rosto dele, que corou instantâneamente. - A gente se vê.

– A gente se vê. - E acenou um tímido tchau para ela, que morava a poucos metros dele.

Kurt entrou para seu apartamento e ela entrou para o dela. Valerie andou até seu quarto e deitou na cama, com as pernas apoiadas na parede. Ela trazia aos lábios um sorriso bobo, enquanto lembrava de toda a conversa que tivera com seu novo vizinho. Ela não queria se iludir, mas sentiu algo diferente. Sentiu uma paz nele que a tempos não sentia em ninguém, e isso fez com que seu coração acelerasse um pouco.

No dia seguinte...

Kurt tinha descido para pegar uma carona com Krist e Dave para juntos irem ao estúdio. Antes, passou na portaria e foi abordado por um dos vigias.

– Senhor Kurt, a senhorita Valeire mandou lhe entregar isto. - Disse o homem com um pacote nas mãos.

– Ah sim, obrigada...

– Por nada.

Kurt caminhou mais um pouco e observou o pacote novamente. Nele continha a camisa que Kurt emprestou a ela. Olhou novamente e viu um bilhete.

'' Obrigada pela camisa. Cosegui lavá-la ontem para te devolver logo. Se quiser pode ir lá em casa pra tomar um café comigo... Sabe como é, quem mora sozinha gosta de companhia... Um beijo,

Valerie.

Kurt riu ao ler o recado e colocou o bilhete de volta no pacote. Avistou o carro dos meninos chegar e andou até ele, com a certeza de que faria uma visita mais tarde ao apartamento dela.