Minashi Yuka escrita por Youko


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/181389/chapter/1

Tudo começou no dia em que morri atropelada. Na escola eu era odiada por todos por ser feia e nerd. Não tinha amigos, só inimigos, mas, como toda garota, tenho um guri de quem eu amo. O problema é que ele sempre me odiou. Já me jogou na piscina, puxou meu cabelo, jogou livros na minha cara e já me humilhou. Claro que isso me machucava demais, mas eu não era uma garota corajosa, ficava sempre quieta no meu canto, e, às vezes, eu chorava. Deve estar estranhando eu contar minha própria vida sendo que eu já estou morta. Meu espírito perambula por aí. Faço visitas na escola e na casa de algumas pessoas. Obvio que ninguém me vê.

Enfim, esse já é o ultimo dia de escola, ultimo ano. Estou louca para ver a formatura que será hoje de noite.  O sinal de término da aula tocou. Sentei no galho da arvore da entrada para ver as pessoas saírem. Na minha mesa nunca colocaram nenhuma flor, sempre vazia. Isso me deixava extremamente triste. Meus pais mudaram completamente depois de minha morte. Minha mãe sempre reza para mim antes de sair de casa, ante de almoçar e antes de dormir, e meu pai ficou quieto, silencioso, quase não fala. Meu nome é Minashi Yuka, tenho 16 anos, cabelos compridos e castanhos escuros e olhos cor de mel. Avistei Haiko, o garoto por quem estou apaixonada , com seus amigos. O estranho é que ele não estava sorridente, estava meio triste. Quero muito saber o que houve, mas não consigo falar com ele e nem ele me ver.

- Até de noite, Haiko! – gritou seu melhor amigo antes de sair pelo portão principal.

Haiko olhou para o céu e suspirou. Ele estava comigo quando fui atropelada, afinal ele quem me empurrou para fora da calçada, só que foi eu quem...

- Haikooooooooooooo ~ - meu pensamento foi interrompido pela voz manhosa de Undra. Essa é a vadia que ama Haiko e que já me humilhou um monte na frente dos outros. Não suporto ela. – Sai comigo hoje pra ver meu vestido?

Ele olhou para ela e continuou seu caminho a ignorando. Ri tanto, mas tanto que quase cai da arvore! Amo esse cara. Desci e fui até ela.

-Bem feito,sua vaca! – falei pra ela mostrando a língua. Mesmo ela não escutando eu sei que ela sentiu um calafrio, pois abraçou seu corpo e murmurou algo. Vantagens de ser fantasma.

Assim que todos foram embora, fui pra minha casa. Minha mãe estava rezando e deixou um pratinho com algumas bolachas para mim, e meu pai comia silenciosamente.

- Querido. – minha mãe o chamou. – Quer ir pra formatura da turma da Yuka?

- Pra quê? Pra ver aqueles idiotas que mataram a nossa filha?!?! – gritou meu pai revoltado.

Minha mãe abaixou a cabeça.

- Eu vou... Quero ver se eles vão fazer algo para ela. – disse calma.

-Tsc, não vão. – deu a última garfada e se levantou. Pegou sua mala de trabalho e saiu porta afora.

Enquanto minha mãe comia, eu fui pro meu quarto. Ele permanecia limpo e arrumado, como se eu estivesse viva ainda. Era triste... Deitei na minha cama e adormeci. Também fico cansada...

                               oOoOoOoOoOoOoOoO

Acordei num susto. Minha mãe estava gritando no telefone. Sai flutuando do meu quarto indo em direção a ela.

- Se tu não for eu vou SOZINHA! –falou. Provavelmente estava falando com meu pai.

Agora que me dei conta, já era de noite, hora da formatura. Não devia ter dormido tanto...

Clicou no botão do telefone com vontade e saiu porta afora. Segui minha mãe flutuando atrás do carro. Ela estava nervosa, inquieta. Queria acalmá-la, mas não tinha como, ela não me escuta. Pela primeira vez meus cabelos estavam soltos e eu tinha esquecido disso. Eu estava vestindo uma camisola branca e de pés descalço. Chegando no local não deixei de abrir a boca em um “o”. Era inacreditavelmente enorme o lugar. Entrei junto com minha mãe e nós ficamos de olhos arregalados quando vimos o lugar por dentro. Minha mãe sentou na frente com outros pais que estavam ali presentes e eu fiquei sentada naquelas luzes que tinham em shows que ficavam no teto. Ali tinha uma ótima vista.

- Sra. Minashi. – uma mãe chamou a minha. – Meus pêsames. Sua filha era muito querida.

Mentirosa. Nunca tinha falado comigo.

- Ah... obrigada. – agradeceu minha mãe cabisbaixa.

As luzes se apagaram, dando sinal de que ia começar. Chegamos bem na hora. Vi meu pai entrar apressado. Minha mãe sorriu pela primeira vez naquele dia. Ele sentou ao seu lado e segurou sua mão, encorajando-a. Meus colegas entravam sorridentes em duas filas. Subiram ao palco e sentaram em seus respectivos lugares. A diretora iniciou. A cada fala de alguém vinham os aplausos. Começaram a chamar os alunos para entregar o diploma. Como esperado, quando chegou a letra do meu nome não falaram nada. Sorri para tirar a tristeza que corria pelo meu coração. Eles realmente esqueceram de mim. Mas no momento em que Haiko pegou o microfone e com uma voz triste começou a falar.

- Isto que vou falar foi uma iniciativa minha. – pausou. Todos ficaram em silencio, surpresos. Acho que ninguém sabia disso. – Na metade do ano, uma colega nossa morreu atropelada. Essa colega se chamava Minashi Yuka. – falou e não deixei de arregalar os olhos. Meus pais também estavam surpresos. – Nesses últimos meses depois do acidente, não parei de pensar na morte em que... fui eu...o culpado... – de repente ele começou a chorar. Algo que nunca pensei que iria fazer.  – Yuka era uma garota... – colocou a mão no rosto disfarçando o choro. - ... especial. Eu só percebi isso depois de sua morte. Queria estar no lugar dela, não consegui mais agüentar a dor que sinto só de pensar que fui eu quem a empurrou na frente do carro, fui eu a pessoa que mais humilhou ela.  – falou tirando a mão do rosto. Todos permaneciam em silencio. Eu não estava agüentando mais aquilo. Ele estava triste porque eu morri!! Não estou acreditando. Coloquei a mão na frente da boca e desabei a chorar. – Sr. e Sra. Minashi, devo minha vida a vocês. Não posso só pedir desculpa, pois fui eu quem tirou sua filha de vocês.

Haiko colocou o microfone no chão. Ele não conseguia mais falar.Não agüento mais... Não foi só culpa dele. De repente meu corpo começou a brilhar.

- OLHEEMM!! É A YUKA!! – gritou uma menina.

Pulei das luzes e abracei Haiko. Ele estava paralisado.

- Não foi! Eu quem me desequilibrei! Não foi só sua culpa! – falei. – Eu o desculpo. O que eu mais queria era te abraçar pelo menos uma vez. – me afastei dele e o olhei no rosto.

- Yuka... – sussurrou ele.

- Por favor, não se culpe. Haiko...obrigada. Nunca imaginaria que faria isso por mim.

- Filha!! – ouvi minha mãe gritar.

Olhei para ela. Me dei conta de que todos estavam me vendo. Meu corpo ainda brilhava. Será que eu estou livre? Ou é o único momento em que posso falar com eles antes de nunca mais me verem?

- Mamãe, papai. Não briguem e, por favor, voltem a ser alegres, pois todo dia eu vou estar com vocês. – falei os abraçando.

- Volte para nós! –falou meu pai.

- Não dá...

Voltei para Haiko que permanecia imóvel, não acreditava no que via.

                - Haiko, essas são minhas ultimas palavras. Quero que saiba que eu sempre quis falar meus sentimentos a você. Haiko, eu te amo e mesmo morta eu vou continuar a te amar.

Depois disso eu voltei a ser não vista. A luz do meu corpo saiu. Permanecia na frente dele, mas ele não conseguia me ver, e nem mais ninguém. Quem dera essa única chance de falar com eles não deu mais nem um minuto a mais para nós. Quem mais falou fui eu, pelo menos devo ter acalmado eles.

- YUKAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!  - ouvi a voz dele me chamando.

Tudo ficou branco.

Abri meus olhos.

- Senhorita Mina? Está tudo bem? Você desmaiou na biblioteca. – falou um homem de 31 anos que me parecia muito familiar.

Olhei para seu crachá: Touguu Haiko. Dei de ombros e coloquei a mão na cabeça. Meu nome é Miroshi Mina, tenho 18 anos, porém de alguma forma sinto que meu nome um dia foi Minashi Yuka. Quem sabe....


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!