Leticia P.O.V.

 Mikey não estava mais tão apaixonado por mim, isso era evidente. Acho que toda aquela “paixão” era apenas inicial, não começamos do modo mais convencional, ficamos juntos na primeira vez em que nos vimos e logo começamos um namoro – influenciados pelos outros, principalmente.

 Eu estava desconfiada que ele pudesse estar sentindo algo por outra, mas impressionantemente, isso não me incomodava. Talvez eu também não sentisse mais paixão por ele, talvez tenhamos confundido nossos sentimentos desde o início.

 Ele fora em meu apartamento naquela manhã, havíamos ficado noivos há dois dias.

 Ficamos abraçados no sofá, assistindo televisão. Eu sentia que algo era diferente, para mim e para ele.

 - Eu te amo – falei a ele.

 - Também te amo – ele disse, olhando para mim e sorrindo.

 - Me ama como? – perguntei.

 - Ora, que pergunta – ele riu.

 - Como... irmã? – deduzi.

 - Leticia! – ele ficou espantado. – Nós vamos nos casar, é claro que não te amo como irmã!

 - Mikey... eu preciso dizer uma coisa pra você, e dependendo do que você achar sobre isso, talvez algumas coisas mudem – lhe disse.

 - Fale – ele disse, temeroso.

 - E se... tivermos confundido os nossos sentimentos?

 - Do que você está falando? Acabou de dizer que me ama! – ele ficou nervoso. – E eu também te amo, não é o bastante?

 - E te amo, realmente eu lhe amo muito, como nunca amei ninguém, e também nunca duvidei e não duvido de seu verdadeiro amor por mim – expliquei. – Mas... eu sei, e você também sabe que é diferente. Pense bem, Mikey! Pense em tudo o que a gente viveu até aqui! Nunca foi o amor que pensávamos que era, é como se fossemos... – parei.

 - Irmãos... – ele completou, quase em um sussurro.

 Sorri, ele havia conseguido ver aonde eu queria chegar.

 Vi os olhos de Mikey se encherem de lágrimas, não pude conter as minhas também.

 Abracei-o rapidamente, ele retribuiu o abraço com força, ficamos ali por alguns instantes.

 - Talvez seja melhor assim – eu disse, tentando consolá-lo. – Se não der certo, nada impedirá que continuemos de onde paramos...

 - Você promete? Promete que se isso não der certo a gente volta? – ele perguntou, fungando.

 - Prometo – falei, afagando seu cabelo. – Não esqueça que eu te amo, Mikey.

 - Não esqueça que eu também te amo – ele disse, apertando-me mais.

 Mikey me soltou, e antes que eu pudesse evitar ele selou nossos lábios, um beijo bruto, mas ainda assim delicado, uma mistura que apenas Mikey conseguia fazer.

 Separamos nossos lábios lentamente, mantendo nossas testas unidas. Afaguei seu rosto, sem abrir os olhos, Mikey acariciava meu braço delicadamente.

 - Seremos amigos então? – ele questionou, como se perguntasse se eu realmente tinha certeza disso.

 - Sim, pelo menos até sabermos realmente o que sentimos – sorri.

 - Okay – ele pareceu sorrir também.

 Abri meus olhos e sorri ainda mais, ele sorriu apenas um pouco.

 Olhei para minha mão, onde se encontrava o lindo anel que Mikey me dera, deixei uma pequena lágrima cair, então o tirei.

 - O que está fazendo? – ele perguntou.

 - Devolvendo o anel a você – disse o óbvio.

 - Não, eu dei ele a você, é seu agora – ele recusou, impedindo que eu lhe entregasse o anel.

 - Mikey... – tentei contestar.

 - Não é definitivo, então você não tem motivos para devolver um... – ele procurou a palavra certa – presente, de um... amigo – ele pareceu ter um nó na garganta ao dizer a última palavra.

 - Okay – suspirei, colocando o anel em meu dedo novamente.

 Passamos o resto do dia juntos, conversando. Por volta de oito horas da noite Mikey foi embora, tomei um banho rápido e me joguei em minha cama. Não pude deixar de chorar, afinal, namorar Mikey fora a melhor coisa que acontecera em minha vida, mas ainda sim eu estava feliz, e era como combinamos... Não precisava ser definitivo, podíamos voltar se percebêssemos que era a coisa certa a fazer.

***

Layla’s P.O.V.

 Gerard já estava a dois dias em casa, todos haviam nos visitado no dia anterior, como o combinado. Já eram por volta das nove horas da noite, Gerard e eu estávamos jantando, quando o telefone tocou, fui até a sala e atendi rapidamente.

 - Alô? – atendi.

 - Layla? – perguntou uma voz chorosa e masculina. – Aqui é Mikey... Gee está aí?

 - Sim – respondi.

 Não perguntei o que havia acontecido, se ele quisesse mesmo me falar teria dito, apenas fui até a cozinha e chamei Gerard.

 - Mikey quer falar com você no telefone – disse, tensa. – Ele parece estar chorando.

 - Será que aconteceu alguma coisa com a mamãe ou o papai? – ele ficou nervoso, já correndo para a sala.

 Gerard conversou por alguns minutos com Mikey, fiquei na cozinha terminando meu jantar, mas conseguia ouvir Gerard dizendo diversas e repetidas vezes para Mikey respirar, se acalmar, que tudo iria passar.

 - O que houve? – perguntei quando ele voltou.

 - Leticia terminou com Mikey – Gerard disse, suspirando fundo e sentando-se à mesa.

 - Por quê? – me exaltei. – Os dois são perfeitos juntos! Eles se amam! São um casal perfeito, desde o início ele tinham que ficar juntos! – eu quase gritava.

 - Será? – ele ergueu uma sobrancelha. – Layla, eles “se deixaram levar” – ele fez as aspas com os dedos. – Ficaram juntos uma única noite, depois todos os seus amigos começaram a namorar, eles talvez pensaram que o dever deles era fazer o mesmo, ou algo do gênero.

 Tive que raciocinar como nunca para entender esse pensamento de Gerard.

 - Você quer dizer que, de alguma fora, eles podem ter se sentindo pressionados a namorar? – questionei.

 - Mais ou menos – ele sorriu, torto.

 - Que droga – murmurei.

 - O que? – ele ficou confuso.

 - Sempre pensei que soubesse o que minhas amigas precisavam, por isso incentivei tanto isso – choraminguei.

 - Que tal deixarmos eles andarem sozinhos agora? – ele riu. – Mikey mesmo disse-me que ela não deu um fim completo, apenas pediu um tempo para clarearem as ideias.

 Fiquei em silêncio por alguns instantes.

 - Mas eles iam se casar... – lembrei.

 - Vamos dar tempo ao tempo, Layla – ele sorriu novamente. – As coisas vão ser como devem ser.

 - Está filósofo hoje, hein? – acabei rindo.

 Ele apenas riu.

 Depois de terminarmos o jantar, Gerard ajudou-me a lavar a louça. Depois brincamos um pouco com os bebês, eles estavam ficando grandinhos e cada vez dormiam menos durante o dia.

 - Vou fechar as janelas – disse, vendo que a noite estava ficando fria lá fora, estranho, estávamos no verão ainda.

 - Okay – Gerard respondeu.

 Arth estava no colo de Gerard, que se encontrava sentado no sofá. Então coloquei Helie em seu carrinho e fui até a sacada para fechar tudo.

 Não resisti ao ver aquele céu estrelado, tive que ma aproximar do batente para admirá-lo. Fiquei alguns segundos ali olhando para o alto.

 Assim que abaixei minha cabeça novamente, pude avistar aquela BMW prata estacionada do outro lado da rua. Era a mesma de dois dias atrás, que se encontrava no mesmo lugar.

 Uni minhas sobrancelhas, não havia nada ali além do carro que, estranhamente, parecia-me familiar.

 Enfim, dei de ombros e entrei novamente no apartamento, fechando a porta de vidro e as cortinas longas. Terminei de fechar todas as outras janelas e nos preparamos para dormir.