X – x Um mês depois.  1 de Dezembro. x – X

 Muitas coisas havia acontecido em um mês.

 My Chemical Romance estava crescendo, começaram a fazer diversos shows e a aparecer em diversos programas de televisão. Quando eram perguntados se estavam namorando, Frank, Gerard e Mikey apenas respondiam que não queria falar sobre o assunto, pois queria que se concentrassem no trabalho deles e não na vida pessoal.

 Meu aniversário estava se aproximando, eu faria vinte e um anos no dia 17 de dezembro, e já havia anunciado que não queria festa nenhuma. Mas Gerard falou que prepararia uma surpresa para mim, então lhe disse que se fosse alguma festa ele iria ser afogado em uma banheira.

 - O que você quer de presente? – perguntou Leticia.

 - Nada – respondi.

 - Ninguém não quer nada de presente – retrucou Diana.

 - Mas eu não quero nada – falei novamente.

 - Vamos te dar alguma coisa – disse Leticia.

 - Pare de falar sobre isso e já será um lindo presente – sorri.

 Gerard chegaria hoje de uma viagem com a banda, eles haviam ido até Washington para um show em um festival.

 - Argh, que frio! – gritou Leticia, abrindo a janela da sala.

 - Fecha isso sua louca – disse Diana. – Está nevando lá fora!

 A cidade estava coberta de neve, apenas as estradas estavam descobertas, pois haviam retirado a neve umas duas vezes naquele dia.

 - Quem quer vir comigo bater algumas fotos? – perguntei.

 - Fotos? Eu estou fora, vou ficar aqui com o aquecedor, esperando meu amor chegar debaixo desse edredom quentinho – disse Diana.

 - Eu também não desço lá nem amarrada – disse Leticia.

 - Suas fracotes – respondi, pegando a câmera digital.

 Coloquei uma blusa de mangas compridas, um casaco de lã e uma jaqueta jeans; coloquei também uma calça jeans por cima de minha calça de pijama; e botas até metade da canela.

 O porteiro estava todo encasacado no hall de entrada, estava com a ponta do nariz vermelha, deveria estar gripado.

 Bati fotos de algumas árvores ali na frente, sempre adorei a paisagem de inverno, muita neve, muito frio, eu amava aquilo.

 Continuei caminhando pela calçada escorregadia, enterrando minhas botas quase que por completas na neve.

 Sem quere, deixei a máquina digital cair no chão, quando me abaixei para pegá-la perdi o equilíbrio e caí de joelhos no chão, rasgando minha calça jeans.

 - Droga, era tudo o que eu precisava agora – disse entre dentes.

 Caminhei com dificuldade até o prédio novamente.

 - Algum problema, Senhorita Layla? – perguntou Senhor Muller, o porteiro.

 - Apenas caí e rasguei a calça no joelho – expliquei.

 - É por isso que não sairei daqui hoje, não tenho mais idade para cair tombos – ele riu.

 Ele aparentava ter uns cinquenta e cinco anos ou mais, mas eu não considerava isso uma idade tão avançada.

 Subi até meu apartamento, Leticia e Diana dividiam o sofá e o edredom, estavam assistindo um filme e tomando café quente – eu podia sentir o cheiro de café dentro da casa.

 - O que ouve com sua calça? – perguntou Leticia.

 - Eu caí – respondi.

 - Falei que não devia sair – disse Diana.

 - Não, você disse que você não iria – corrigi.

 - Você entendeu o que eu quis dizer – ela revirou os olhos.

 - Alguma novidade enquanto estive fora? – perguntei.

 - Se você quer saber se Frank, Gerard ou Mikey ligaram, a resposta é não, eles são uns ingratos, nem para ligarem para avisar se estão quase chegando – fez drama Leticia.

 - Estou começando ficar preocupada – falei.

 - Vira essa boca pra lá, Layla! – gritou Diana. – Eles estão apenas atrasados.

 Fui tomar um banho quente, agora eu estava realmente com frio. Fiquei por volta de meia hora de baixo da água quente, até meus dedos começarem a enrugar.

 Me enrolei rapidamente na toalha e fui colocar uma roupa quente. Quando eu ainda estava com as peças intimas, procurando uma roupa quente em meu guarda roupas, ouvi uma batida na porta.

 - Entra, ta destrancada! – gritei, pensei que fosse Leticia ou Diana.

 Para minha surpresa, não era nenhuma das duas.

 - Oi – ele sorriu entrando e fechando a porta.

 - Gerard! – falei, surpresa.

 Corri e pulei em seu pescoço, tirando meus pés do chão. O abracei forte, nós não nos víamos há quase uma semana.

 - Estava com saudades – falei quando o soltei.

 - Também estava – ele sorriu, me beijando levemente.

 Eu estava com saudades disso também, de seus lábios tocando os meus.

 - Aqui está mais frio do que em Washington – ele disse, tremendo. – Não está com frio? – ele perguntou, percebendo o jeito em que eu me encontrava.

 - Na verdade eu iria colocar uma roupa quente agora – sorri.

 Coloquei uma calça de moletom, uma blusa de lã e uma meia.

 Gerard estava com dois casacos quentes e se impressionou com a pequena quantidade de roupas que eu coloquei.

 - É que eu sou encalorada – expliquei.

 - Nossa, eu estaria congelando – ele riu. – Mal aguentei ficar lá fora.

 - Eu saí e bati umas fotos – falei.

 - É louca mesmo – ele brincou.

 Fui até a sala e cumprimentei Frank e Mikey que estavam debaixo do edredom do Leticia e Diana. Não havia mais espaço ali, e eles falavam de mais para quem estivesse mesmo assistindo a um filme.

 Gerard e eu fomos para meu quarto novamente, agora ele havia tirado os dois grandes casacos e estava apenas com uma camisa de mangas compridas.

 Deitamos em minha cama, debaixo de dois edredons grandes, agora eu que estava morrendo de frio.

 - Como foi o show? – perguntei.

 - Foi de mais, muita gente – ele sorriu. – Só estava faltando você lá.

 - Depois de um tempo você se acostuma a ficar longe de mim – fiz uma falsa cara de triste.

 - Jamais – ele disse, tocando seus lábios nos meus. – Já pensou no que quer ganhar de aniversário?

 - Que vocês parem de querer me dar presentes – falei.

 - Porque você não quer nada? – ele perguntou indignado.

 - Porque eu não preciso de nada.

 - Você é teimosa de mais – ele disse.

 - Eu sei – dei de ombros.

 - Mas e se eu quiser fazer alguma surpresa? Posso? – ele perguntou, depois de alguns instantes de silêncio.

 - Depende, o que seria essa surpresa? – perguntei.

 - Se eu lhe disser não vai ser surpresa – ele riu.

 - Okay, desde que você não gaste nada com isso – falei.

 - Não irei gastar – ele sorriu, vitorioso.

 Ficamos um pouco mais em silêncio, eu estava quase cochilando.

 - Não foi trabalhar hoje? – ele perguntou.

 - A loja não abriu por causa da neve, também não irá abrir amanhã – respondi.

 - Ah, pensei que havia faltando no trabalho para me ver – ele brincou, fazendo uma cara de decepção.

 - Engraçadinho, mesmo que eu tivesse que trabalhar nós nos veríamos de noite – falei.

 - Eu não ia conseguir esperar até de noite, teria que ir lhe buscar mais cedo – ele riu.

 - E eu adoraria fugir do expediente com você – ri também.

 - Como dois adolescentes fugindo da escola.

 - Yeah! – ri novamente.

 - Iríamos fugir para onde?

 - Para um lugar escondido, pois ninguém poderia nos ver fora da escola em horário de aula – brinquei.

 - Tem razão – Gerard riu. – Pois poderíamos ser dedados para nossos pais.

 - Minha mãe iria me matar.

 - E a minha iria me deixar de castigo, tirar meu vídeo game e deixar de lavar minhas roupas por uma semana.

 Ficamos rindo disso, estávamos pensando realmente como dois adolescentes.