Layla’s P.O.V.

Eu estava sentada em uma poltrona na sala de espera da delegacia, junto de Mikey e Leticia, esperando Gerard que estava dando seu depoimento para o delegado há mais de duas horas.

– Isso está demorando muito – comentei, nervosa.

– É normal, Layla – Leticia tentou acalmar-me.

– Essas coisas demoram muito, eles fazem milhares de perguntas – Mikey completou.

– Mas porque Gerard precisa dar algum depoimento? Ela se matou, não está óbvio isso? – eu estava preocupada.

– Eles querem saber o que Gerard disse a ela, o que eles conversaram, para ver se, por um acaso, Gerard não tenha dito algo que a tenha influenciado a fazer isso – Mikey explicou.

– Gerard não fez isso – o encarei séria.

– Eu sei, mas a polícia precisa ter certeza de tudo o que houve naquele quarto – ele encerrou.

Eu não conseguia parar de pensar no que levara Malu a fazer aquilo. Tirar a própria vida assim, de repente, sem motivos aparentes.

Será que Gerard sabia de algo que não me contara? Ela dissera algo a ele antes de fazer tudo isso? Devia ter alguma explicação, ninguém se mata sem motivos.

– Como estão Helie e Arth? – perguntei, pela milésima vez, a Mikey.

– Eles estão bem – ele repetiu. – Quer que eu lhe traga um café ou uma água?

– Um café – pedi.

– Okay – ele disse, levantando-se e se dirigindo à máquina de café que havia ali.

Lancei um olhar para Leticia, que fora correspondido por ela com um leve aceno “positivo” com a cabeça. Ela pensava o mesmo que eu... Mikey estava escondendo algo, e era sobre Malu.

Mikey voltou rapidamente com um copo de café pequeno para mim e outro para Leticia, sentando-se ao meu lado novamente.

Beberiquei rapidamente o café e depois o encarei.

– Conte logo o que você está escondendo, Mikey – falei, séria.

– Não estou escondendo nada – ele arregalou os olhos.

– Está sim... E tem a ver com Malu – continuei. – Tem a ver com o que aconteceu naquele quarto.

– Não – ele tentou se defender.

– O que ela disse a ele? – perguntei, ignorando.

– Nada – ele insistiu.

– Então ela se matou sem motivos? – ironizei.

– Talvez ela tivesse motivos, mas não os disse – ele continuou negando que soubesse de algo.

– Mikey, se você estiver mentindo... – rosnei.

– Não estou – ele interrompeu-me. – Eu já disse tudo o que eu sei, pare de me colocar contra a parede.

Ficamos mais uma hora ali, esperando, trocando apenas algumas palavras uns com os outros, até que o delegado apareceu, e logo atrás estava Gerard.

– Vocês já podem ir – disse o delegado. – Mas o apartamento deverá ficar interditado pelo menos até amanhã.

– E pra onde vamos? – Gerard questionou, irônico.

– Podem ir para o meu apartamento – disse Leticia. – Ando me sentindo muito sozinha lá – ela deu uma leve risada.

– Não será incômodo? – perguntei a ela.

– Claro que não – ela sorriu.

*

Depois de sairmos da delegacia, passamos rapidamente em nosso apartamento para pegarmos algumas roupas e coisas necessárias. Gerard não queria que eu entrasse no quarto dos bebês, mas eu precisava ver...

O chão havia sido limpo, mas ainda se podia ver algumas manchas avermelhadas no centro do quarto.

Havia também uma pequena mancha avermelhada em um dos pés do berço de Arthur, eu queria afastar meus pensamentos, mas não conseguia evitar de imaginar tudo o que acontecera ali em minha ausência.

Depois de pegarmos tudo e guardarmos no carro, fomos até o apartamento de Ray, onde Helie e Arth estavam.

Chegamos lá e o porteiro disse que Ray já havia avisado que iríamos ali, então podíamos subir. Gerard tocou a campainha três vezes até Ray atender, não pude conter uma leve risada quando ele abrira a porta.

Ray estava com cara de quem acabara de acordar, sua camiseta estava com uma leve mancha próxima ao ombro – provavelmente Helie ou Arth vomitaram depois de mamar – e segurava uma mamadeira vazia.

– Parece que eles lhe cansaram – comentei, rindo.

– Não, eles se comportaram bem – ele mentiu.

Entramos no apartamento e pude ver uma grande bagunça na sala – algo que não fazia o estilo de Ray, que sempre fora muito organizado.

– Eles estão dormindo agora – ele sorriu.

– Choraram muito? – perguntei.

– Não, foram verdadeiros anjos – ele sorriu novamente.

Eu sabia que ele estava mentindo, Helie e Arth eram dois chorões, ainda mais se estivessem longe de Gerard – que era o único que conseguia acalmá-los quando tiravam o dia para chorar.

Ray disse-me que eles estavam em seu quarto, fui até lá enquanto ele e Gerard conversavam na sala.

Eles dormiam sobre a cama de Ray, cercados por travesseiros para que não rolassem para os lados e cobertos com uma mantinha branca que eu reconhecia. Helie vestia um macacãozinho branco com ursinhos e Arth usava também um macacãozinho, mas este era todo azul.

Havia um cobertor no chão e um travesseiro, Ray devia estar deitado ali. Enquanto as pessoinhas pequenininhas ocupavam a cama toda, ele dormia no chão... Fui obrigada a rir.

– Eles estão bem? – ouvi uma voz atrás de mim, era Gerard, e logo atrás estava Ray.

– Sim... Parecem inteiros – brinquei.

– Bem, fiz o possível para não quebrá-los – Ray brincou também.

– Fez um bom trabalho – Gerard sentou-se ao lado dos bebês. – Dá até pena de tirá-los daqui agora – ele riu.

– Podem deixá-los aqui hoje – Ray sorriu. – Eu gostei dessa coisa de cuidar de bebês.

– Melhor não – intervi, eu não queria ficar nem mais um segundo longe dos meus bebês. – E você precisa descansar, Ray.

Ele sorriu, mas também sabia que precisava descansar, bebês dão um cansaço enorme nas pessoas, ainda mais em quem não está acostumado.

Conversamos mais um pouco com Ray, depois pegamos as coisas de Helie e Arth e levamos para o carro, os colocamos dormindo nas cadeirinhas e nos despedimos rapidamente de Ray, ele precisava dormir, e nós também, já eram quase nove da noite.

Chegamos ao apartamento de Leticia cerca de meia hora depois, ofereci-me para ajudar a arrumar meu antigo quarto, mas já estava pronto, ainda estava do jeito que eu o deixei, assim como o de Diana.

Não conversamos muito, estávamos todos cansados, inclusive Leticia. Fomos logo dormir.

Helena e Arthur dormiram entre mim e Gerard na cama, nem eu e nem Gerard pregamos os olhos, ficamos conversando por um longo tempo. Eram quase duas da manhã quando finalmente consegui dormir.

**

Layla’s Dream – On

Aquela casa... Eu estava novamente lá, naquela sala, usando aquele vestido negro e antigo. Eu estava sozinha ali, mas sentia como se esperasse alguém.

– Layla... – ouvi uma voz feminina chamar.

Olhei na direção da voz e logo vi Malu, usando um vestido semelhante ao meu, encarando-me sem expressão.

– Malu... – arfei, dando um passo inconsciente para trás.

– Cuidado – ela disse, fazendo uma expressão triste.

– Com o que? – franzi a testa.

– Ele não vai desistir! – ela estava alterada agora. – Ele não vai desistir! Você precisa tomar cuidado!

– Com o que? Com quem? – voltei a perguntar, sem entender.

De repente, senti uma respiração pesada em minha nuca, a expressão de Malu passou de nervosismo para pânico.

Virei-me lentamente para trás e logo encarei aqueles olhos frios que eu já conhecia.

Brendon sorriu tortamente, mas esse sorriso não chegou aos seus olhos, ele estava irritado.

Layla’s Dream – Off