A Melhor Conselheira De Tina escrita por Rennan Oliveira


Capítulo 1
Tina está Mal.




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Poucas vezes me preocupei tanto com o bem-estar de alguém. Sei que às vezes posso parecer um pouco egocêntrica, preocupando-me principalmente com aquilo que me diz respeito, mas devo assegurar que isso não é o que parece: é a verdade. Sou egocêntrica e estou trabalhando nisso, mas pode levar um tempo.

Entretanto, nas últimas semanas, tenho me preocupado excessivamente com uma das minhas colegas de Clube Glee. Somos amigas, isso é fato, mas conversamos tão pouco quando estamos juntas... Mas aquela alegria tão peculiar que ela sempre teve não estava presente nos nossos últimos encontros, e eu precisava saber o que estava acontecendo. Mais por curiosidade do que para saber em que poderia ajudar, devo confessar.

Encontrei Tina sentada sozinha num corredor, no beiral de uma janela, comendo um lanche esquisito asiático, cujo nome eu desconhecia. Ela mastigava e olhava para um ponto no nada sem dar muita atenção ao cenário. Naquele momento, o lanche parecia a coisa mais importante para ela.

Observei-a naquele corredor vazio - era horário de almoço, então todos estavam no refeitório - e ali vi a oportunidade de perguntá-la sobre o que estava se passando. Caminhei rápido até ela, que me notou chegando a alguns metros de distância e sorriu. Afastando-se para o lado, ela permitiu que eu me sentasse ao seu lado. Com um sorriso, me ofereceu o seu lanche com o olhar, mas a cor daquele alimento não me agradou. Tentando ser o mais cordial possível, eu recusei e agradeci.

– Tina, estou preocupada com você - comecei dizendo.

– É mesmo, Rachel? - ela me disse enquanto limpava a boca.

– Sim. Sempre te achei a integrante mais alegre e positiva do grupo, mas ultimamente tenho percebido que não anda muito bem. Se quiser conversar sobre isso...

– Não, Rachel...

– Se for por causa dos solos, devo pedir desculpas. Às vezes, o meu ego tão orgulhoso me impede de dar chance a outros talentos, que, geralmente, são bons, mas não tanto quanto o meu, e que podem ser trabalhados para chegar à perfeição. Entendo perfeitamente se você não pratica canto desde muito pequena, como eu, mas são muito poucos os que realmente sabem o que querem fazer assim que nascem. É um dom para poucos.

– Não estou preocupada com os solos.

– E não devia mesmo. Não fiz parte da última seletiva, mas devo dizer que ouvi-la cantar "ABC" foi muito agradável. Tudo bem que, se fosse eu cantando, tenho certeza de que pelo menos a fileira da frente da plateia estaria chorando enquanto eu fazia a minha performance. Mas já estou acostumada com isso.

– Rachel, concordo com você, seus solos são incríveis, mas...

– Muito obrigada, Tina, mas é bondade sua. Lembro-me de quando você cantou West Side Story, foi uma performance bem marcante, chegou a ser inspiradora...

– Muito obrigada.

Em seguida, Tina ficou quieta. Aquele silêncio me deixou encabulada.

Olhei para aquele corpo curvado sobre o sanduíche e continuei a me perguntar o que podia estar acontecendo. Tina vestia um lindo conjunto de terninho, bastante formal para uma escola de ensino médio, mas moderno o bastante para que chamasse atenção nos corredores. Não havia nada de errado com ela, pelo menos fisicamente. Será que...?

Finn já havia me falado sobre isso. É uma coisa que todos os rapazes pensam e observam quando pensam numa garota ou a observam. É um detalhe sutil, mas que faz toda a diferença.

– O Mike Chang reclamou da sua "comissão de frente"?

– Como é que é?!

– O Finn já me falou sobre isso. Se ele reclamou, saiba que ele é um idiota. Tenho o mesmo problema que você, mas consigo ganhar pontos em outras coisas. A sensualidade não precisa vir, necessariamente, das suas áreas eróticas, mas sim de uma boa canção escolhida como plano de fundo ou uma roupa mais apimentada, que cria um bom clima...

– Rachel! Essa seria a última das reclamações do Mike! Estamos muito bem quanto a isso! - Tina falou e riu às gargalhadas.

Muito me espantou aquelas risadas. Perguntei-me, mais uma vez, o que elas poderiam significar e, fazendo algumas associações, cheguei a uma conclusão: ela ria da menção do Mike.

– É o Mike! - exclamei alto o suficiente para ecoar pelos corredores.

– Como assim o Mike?

– Então é verdade o que dizem sobre os asiáticos?

Tina corou tanto que quase se camuflou na parede ao seu lado.

– Estou ficando constrangida... - ela falou e começou a arrumar suas coisas para sair.

– Espere, Tina! Só me diga o que está acontecendo, então! Quero ajudar! - nem eu acreditei em minhas últimas palavras.

– Você quer saber o que está acontecendo? Eu te digo o que está acontecendo. Essas provas e trabalhos de escolas estão me matando! Não posso tirar um F asiático nos próximos testes, senão meus pais vão ter repertório para me julgar durante meses seguidos! Estou ficando acordada até tarde para estudar e isso está acabando comigo! Se ando meio desanimada pelos corredores é porque estou com sono, e não por causa de nenhum dos outros motivos que você citou.

Eu estava chocada.

– Mas essa discussão foi bem esclarecedora para mim.

– É mesmo? - perguntei aliviada. - Eu sei que disse algumas verdades sobre você, mas me perdoe...

– Não, as verdade sobre mim não foram interessantes. Não foram nada que eu já não soubesse. As verdades sobre você é que me interessaram. Você não deve ter percebido, mas disse uma série de coisas ofensivas a seu respeito. Você é louca, Rachel! - e dizendo isso, Tina se levantou e partiu pelo corredor.

Talvez eu estivesse enganada, mas eu podia jurar que ela ria como nunca.


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