Jingle Bells- Conto De Natal escrita por Junny


Capítulo 1
Uno.


Notas iniciais do capítulo

Eu li uma pequena fábula que me inspirou a escrever esse conto. Ele é curtinho, em duas partes. E eu só posto a segunda parte se vocês quiserem! Eu amei escrevê-lo. E amei a lição que ele mostra. Espero que vocês gostem!



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Era o terceiro Natal que eu passaria sozinha. E eu tinha prometido que nunca mais comemoraria qualquer data festiva. Eu merecia passar todas elas como vinha passando há três anos: sozinha. Tudo me lembrava ele. Os doces. A decoração. As luzes. A neve. As embalagens pra presentes. Até o próprio jingle de natal da Coca-Cola me lembrava ele. Era difícil. Superar uma perda desse tamanho era terrível e incrivelmente difícil. Disseram que o tempo cura tudo. Balela. O tempo piora tudo, porque a dor vai sendo substituída por saudade que trás...mais dor. E as lembranças? Tudo me fazia bem, a princípio, até as lembranças de nossas brigas tontas sobre qual filme ver no cinema ou qual restaurante almoçar, me fazem bem. E as lembranças me trazem, também, mais dor.

Ele era um passado que eu não podia, não queria, não conseguia enterrar. Suas memórias são o que ainda me mantém viva. Viva, é claro, na pior das hipóteses. Eu quase não saia. Quase não comia. Quase não sorria. Quase não...vivia.

-Hey, Emily! Eu trouxe...bolinhos.- minha melhor amiga sorria. Tentava me aconchegar com suas atitudes, com seu sorriso, com seu olhar. Ela sabia que parte disso era em vão. Todos os anos eram iguais. E não havia motivo pra esse ano ser diferente.

-Oi, Hannah.- falei desanimada, abrindo a caixa com os bolinhos e fechando-a, voltando a me jogar no sofá.

-Você tá aí há três anos aí. No mesmo lugar. No mesmo sofá. Tá vendo, Emy? Sua forma já tá marcada na espuma!

-Me deixa, Hann! Por favor. Você sabe que...eu não tenho clima mais pra nada. Estou morrendo aos poucos. Definhando. Lenta e dolorosamente.

-Emily! Por favor. Venha ceiar com a nossa família nesse Natal...Minha mãe tá preocupada contigo

-Não consigo, Hann. Desculpa...Simplesmente não dá...mais.- meus olhos já marejavam, minha boca tremia e as palavras saíam em uma quase lamúria.

-Tá...tudo bem...Eu ligo para você então...- ela torceu os lábios e seu semblante murchou. Ela me abraçou e algumas lágrimas escapuliram dos meus olhos, molhando seus enormes casacos de frio.-Coma os bolinhos, Emy!- Ela disse, dando alguns tapinhas nas minhas nádegas.- Eu vou...Vou nessa. Até, minha amiga.

-Até, Hann. Desculpa. E, mais uma vez, obrigada.- eu disse, semi cerrando meus olhos. Hannah deslizou suas mãos até as minhas e apertou-as, tentando me transmitir algum tipo de força, mesmo que em vão, eu tentei esboçar um sorriso.

Acompanhei minha amiga até a porta e voltei a jogar meu corpo no sofá.

Três anos atrás

-Aw, Justin. Está tudo tão lindo! Como você...- ele não deixou que eu completasse a frase e selou meus lábios com o seu, misturando o gosto de sua boca com a champanhe. Sua colônia estava no ar, levemente doce com notas marcantes amadeiradas. Era a primeira vez que eu ia passar o Natal com ele, já que minha família tinha ficado pra trás, na minha cidade natal- Minesota. Justin separou nossos lábios e me guiou pela mão até uma mesa de concreto, em um dos cantos de uma praça. Algumas velas estavam acesas. As árvores estavam enfeitadas com decoração natalina. Alguns sons se faziam audíveis, como o coro da igreja. Mas a única coisa que eu queria ouvir era nosso coração batendo.

Nos sentamos na mesa, Justin serviu as comidas, eu as bebidas. Rimos, lembramos de peripécias dos tempos de infância, compartilhamos causos já compartilhados trocentas vezes antes. E eu me apaixonava um pouco mais pelo garoto de gravata e suéter a minha frente, com seu cabelo perfeitamente arrepiado. Seus olhos brilhavam mais que os cristais que ele usava em seus brincos-pontos-de-luz. As vezes, no meio dos assuntos, eu me apoiava e apenas ficava lá, mirando-o, admirando-o e gravando, um pouco mais, seus detalhes no lugar mais especial da minha memória.

-Hey, Emily! Onze e cinquenta e nove. Vem aqui.- ele me chamou, me despertando de meus desvaneios em seus traços. Ele segurou minha mão, nos levantamos e, exatamente, a meia noite, nos abraçamos.- Feliz Natal, pequena! Eu te amo demais. Esse é o primeiro de muitos e muitos outros natais.

-Eu te amo muito, meu anjo, meu Justin. Feliz Natal!

-Eu tenho um presente pra você, minha pequena.- ele disse, separando um pouco nosso corpo, apalpando os bolsos de suas calças. Segurei em uma de suas mãos- a que não procurava algo em seus bolsos. Esbocei o meu melhor sorriso. Era uma tarefa fácil: sorrir quando ele estava presente.

Minha atenção foi roubada quando pneus cantaram na rua, incrivelmente alto e incrivelmente perto de nós. Eu e Justin viramos o rosto no mesmo instante para ver o por quê de tal barulho em pleno Natal. Então, sem que eu pudesse fazer mais nada, eu senti as mãos de Justin soltarem as minhas e os faróis do carro eram as únicas coisas que eu conseguia distinguir diante daquela confusão toda. Senti Justin me empurrar pra longe, e eu caí, com um baque surdo, perto de uma árvore. Então, eu ouvi um grito rouco de Justin. E tudo se escureceu.

xxx

Dor. Era tudo o que eu sentia. Eu não sabia por quanto tempo eu tinha apagado. Só sei que, quando eu acordei, a noite parecia mais fria e mais escura do que antes. Eu estava deitada de barriga pra cima. Todos os ossos do meu tórax doía e o simples ato de respirar tinha se tornado incrívelmente doloroso e torturante. Virei, com cuidado, minha cabeça pro lado, tentando me localizar e localizar Justin.

Lá estava ele.

Jogado.

Respirando irregularmente.

Com parte do rosto ensanguentada.

Nada mais me importava. Me rastejei um pouco, até chegar perto de Justin. Ele segurava seu celular em uma mão. Apoiei sua cabeça em meu colo e vi que o último número discado era o 911, o número dos bombeiros.

-Justin...Justin...Fala comigo, meu anjo.- Eu assoprava um pouco em seu rosto e dava leve tapinhas. As narinas de Justin se moviam e ele tinha o rosto surrado, arranhado e sujo, tanto de sangue quanto de terra.- Meu amor...Eles vão chegar. Você vai ver...Acorda, Justin. Fala comigo. Por favor...

Ele abriu os olhos lentamente. Tentou esboçar um sorrisinho, mas eu percebi que ele sentia muito mais dor que eu.

-Emily...- ele começou a falar, fraquinho, quase em um sussurro.

-Shhh...Meu amor, não fala. Eles vão chegar. Você vai ficar bom...Eu sei disso.- eu disse, selando de leve seus lábios.

-Me ouve, Emily...Você vai ficar bem. E haja o que houver, lembre-se que eu sempre te amarei, não importa o quão distante...Não importa se ficarmos longe ou perto, tá?

-Justin, pára de dizer isso! Tu vai ficar comigo. Teu lugar é aqui. E eu sempre te amarei. Sempre, sempre, sempre e sempre.- a essa altura, eu já chorava incontrolavelmente, fazendo com que algumas lágrimas molhassem o rosto.

-Emily. Você continua. Eu sei disso. E você vai continuar em frente. Lembre-se, isso é tudo o que eu mais quero que aconteça.

E não conseguia parar de chorar. E nem responder a Justin. Apenas segurei em suas mãos e tentei mantê-lo acordado, mas algo me dizia que não seria por muito tempo.

-Estou com tanto sono, Emy.

-Tenta ficar comigo. Não me deixa sozinha, Justin. Por favor.

-Engraçado...- ele riu fraco- Eu sonhei com nosso pequeno Tyler. Queria ter tempo de dá-lo a você, minha linda. Ele era lindo...- a voz dele ia sumindo, se tornando uma quase lamúria.

-...- murmurei. Meu choro era forte, intenso e já refletia em soluços.- Justin... Cala a boca. Você vai me dar o Tyler. Eu vou dá-lo a você. Nós vamos educá-lo. Ele será nosso. Tá ouvindo, meu amor? Nosso!

Ouvi algumas sirenes ao longe. Um sorriso se abriu no meu rosto.

-Está ouvindo, Justin? São eles. Estão chegando!

-Eu te amo, minha pequena.- ele sussurrou e apertou sua mão na minha. E fechou os olhos. Pra sempre.

-Justin?- falei, chorando e puxando-o para mim, afagando, balançando, chamando...

Em vão.


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Notas finais do capítulo

Então. Posto ou não a segunda parte?



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