Faz um mês daquele casamento entre Eleonora Korse e Jared Leto. E faz um mês que não vejo Gerard e sua turma. Nem Lady Gaga, nem as outras duas garotas. Só vejo Liesel, que se encontra com Frank as vezes, numa lanchonete. Minha velha rotina de acordar as cinco e meia da manhã, fazer café para meu pai e meus irmãos, ir para o colégio, estudar, fazer janta e depois dormir havia voltado. Voltado tristemente.

Uma tarde de sexta, feriado, meu pai tinha acabado de chegar do mercado. Eu e meus estávamos numa competição no novo game que Henri comprou. Estava sentada, esperando minha vez, quando meu genitor anunciou que tinha uma estranha novidade. Deixou o pacote na cozinha e se sentou ao meu lado. Matthew pausou o Nintendo.

-Lembram daquela casa que nunca foi alugada?

-Sei, a daqui em frente, que todos dizem ser mal-assombrada? – meu gêmeo respondeu.

- Essa mesma! Então, algum desavisado alugou! – meu pai sorriu com maldade.

Meus irmãos riram. Meu pai continuou:

- E ninguém viu caminhão de mudança. A pessoa se mudou no meio da noite, não sei. Aliás, ninguém sabe quem é.

Ficamos comentando o caso por um bom tempo.

Sábado era dia de eu e Liesel ficarmos no parque. Apesar do namoro com Frank, ela nunca abandonara nosso velho costume. Passei o dia ajudando na limpeza da casa, e as cinco horas fui tomar banho. Lavei meus cabelos, como eu fazia eventualmente todo sábado.

Combinei de encontra-la na entrada da nossa rua. Sequei meus cabelos, vesti minha meia-calça preta rasgada, minha saia preta, minha blusa de cerejinhas. Peguei meu colete jeans escuro, calcei meus coturnos de cano baixo. Dei um beijo em meu pai, e saí de casa.

Liesel estava trajando uma calça jeans skinny rasgada no joelho, uma camiseta preta com esquilos. Estava usando também o coturno, mas de cano médio. Fomos andando para o parque.

Se não fosse longe, viveríamos indo para o shopping. Mas já que, infelizmente a passagem é cara, nos contentamos em admirar adolescentes imbecis passeando apaixonados.

Não, não estou com ciúmes da Liesel.

Chegamos no parque, e pra variar, compramos coca. Sentamos no encosto de um banco. Comentamos sobre os idiotas da escola, o Frank, a comida nojenta da semana, o Frank, o aquecimento global, o Frank, a falta de água no planeta e o Frank.

Já estávamos na terceira coca, quando uma voz conhecida tapou os olhos de Liesel, e dando-lhe um beijo na bochecha. Tentei, em vão, achar Gerard.

Frank estava usando uma calça jeans folgada e rasgada, com uma blusa preta e escrito em verde-neon: “I Luv Kiwi”. Usava um all-star preto com o cadarço verde neon. Tentei parecer que estava alheia, não estava segurando vela. Mas era impossível. Frank e Liesel estava numa melação só. Eu tinha razões de me sentir rejeitada, perdoem-me o ciúme. Suspirei de tédio.

Frank parou de babação e disse que tinha uma surpresa... pra mim!

Ele puxou Liesel e mandou eu segui-lo, e pra variar, tive que ir pulando atrás dos esquilinhos.

Fomos para o outro lado do parque, onde tinha um rapaz de mais ou menos minha altura, Os cabelos negros um pouco grandes. Frank anunciou minha chegada e o jovem se virou.

Era meu anjo.

Gerard usava usando uma calça jeans preta, com uma camisa preta e um casaco de couro. Notei que usava all star preto e cadarços vermelhos.

Brotou um lindo sorriso nos lábios dele. Suas esmeraldas cintilaram.

Nos abraçamos e pude novo a fragrância que me encantava. Perguntei a Gerard por que ele sumiu por tanto tempo. Ele fitou o chão, entrecortando palavras. Frank disse que se quiséssemos chegar cedo, era bom irmos pro carro.

Chegar aonde?

Gerard rapidamente saiu em direção ao estacionamento. Tentei acompanhá-lo, mas ele era rápido demais. Frank e Liesel foram de mãos dadas.

Meu anjo abriu a porta do carona para mim. Entrei e vi Gracie, Mikey e Gaga atrás, que foram se espremendo para o casal de anões entrarem.

Reconheci as ruas, que conduziam a Times Square. Era incrível como Lady Gaga ficava animando Gracie, declarando seu amor pela cidade.

– Gracie, essa é Liesel, minha namorada. – Frank se dirgiu a menina com um sorriso.

– Ela é linda, e baixinha como você, tio Frank! – Gracie sorriu de volta. Todos nós rimos.

Olhei Gerard, que estava com uma expressão suave, e concentrado no transito. Houve um silêncio meio chato, até que Gracie, em sua inocência pura e infantil, perguntou:

– E você, tio Gee? Quando vai pedir a tia Hellie em namoro?

Fitei Gerard, sentindo meu rosto ficar quente e rubro. Ele ficara do mesmo jeito que eu. Levantou o queixo, coçou o pescoço e respondeu que não era desse jeito e completou:

– A Helena tem que querer também, tenho que pedir ao pai dela, temos que nos conhecer direito e...

– Mas eu sei que a tia Hellie quer e você também. – a menina respondeu num tom sério.

– A gente já conversou sobre isso, Gracie. – Gerard elevou um pouco a voz e segurou firmemente no volante. Eles não devem estar nem ligando para o fato de eu estar lá.

– Mas eu não consigo acreditar que você não pode...

– Chega, Gracie. – Frank interveio. – Mais tarde conversaremos. Mas você sabe; Gerard não pode e ponto final.

– Isso é injusto – ela respodeu à voz infantil.

– O mundo é cheio de injustiças – Mikey respondeu.

– Gracie... – Gerard chamou. – Um dia eu vou poder ser livre, não se preocupe.

– E então você vai namorar a tia Hellie? – Gracie disse esperançosa. Senti meu corpo TODO corar. Olhei para Gerard, que estava tão vermelho como um tomate. Confesso que senti aquelas esperanças iludidas de uma garota adolescente. Meu anjo se virou para mim, tentando, de alguma forma, voltar ao seu tom de pele cor de papel. Ele pareceu reter um sorriso, mas o resultado foi uma careta.

– Gracie... É muito feio falar sobre namorar uma pessoa na frente dela – Pude ouvir o coração de Gerard acelerar. Isso!

– OLHA A ESCOLA DE SAMBA NA SAPUCAÍ, GEEEENTE! – Frank provocou.

– Cala a boca, Frank!

Gerard vermelho como um pimentão era muito engraçado. Ele não me olhou mais.

*

Passar a noite no shopping comprando roupas e brinquedos para Gracie estava fora do campo da minha mente. Descobri que Gerard era “padrinho” da menina, que morava num orfanato. Era incrível como Gerard a tratava como irmã mais nova.

Passeamos pelas lojas, escolhendo roupinhas. Gracie ficava linda a cada roupa que vestíamos nela. Mikey, Gerard e Frank estavam dormindo num banco que tinha na loja.

Depois de passarmos em umas três lojas de brinquedo, Gerard disse que estava com fome e já era hora de jantar. Nos encaminhamos até a praça de alimentação e sentamos em uma mesa. Frank e Liesel se sentaram juntos, Mikey se sentou ao lado de Frank. Gerard se sentou ao lado de seu irmão, e Gracie ficou no meio de nós dois. Stefani se sentou estrategicamente de frente para o Way caçula.

Frank pediu sushi, Liesel e Mikey também quiseram. Lady Gaga quis comida alemã. Perguntada por Gerard, Gracie anunciou que queria Mc Lanche Feliz. Gerard me perguntou se eu gostava de comida mexicana. Respondi timidamente que sim.

Nossa comida chegou. Frank e Liesel ficaram colocando sushi na boca um do outro. Gracie estava uma fofa com um vestido cheio de babados, comendo graciosamente. Gerard teve que sentar ao meu lado, pois pedimos aqueles combos de tortilhas e enchiladas.

*

Para variar, Gerard me deixou em casa. Ele desceu, seguido de Frank que ia levar Liesel em casa. Gerard beijou minha bochecha e quando fui retribuir...

Frank virou a cabeça dele.

Beijei os lábios de Gerard. Macios e sedosos. Merda!

Frank se contorcia de rir. Gracie apareceu na janela, gritando um “finalmente!”.

Não tive coragem de olhar para ele. Meu anjo, num gesto inesperado, levantou minha cabeça e gentilmente, plantou um beijo em meus lábios. Sorrimos.

Mas o senhor Lee Morgan poderia estar na janela vendo, então era melhor meu anjo voltar pra casa.

MEU anjo!