The Black Angel escrita por Beilschbitch


Capítulo 18
Porque não se desenham suásticas




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- Hellie, telefone para você!

            Puta que pariu. Quem é o desgraçado que me liga às sete da manhã de domingo?

            - Manda ir para o inferno!

            - Alô, Gerard? A Helena te mandou para o Inferno.

            - NÃO MANDEI NÃO! Me passa esse telefone, pelo amor de Deus! – Levantei na hora, assustada. Meu pai me entregou o aparelho que segurei com as mãos tremendo

            - Bom dia, Gerard.

            - Bom dia, meu anjo. E porque estava gritando?

            - Meu pai fazendo brincadeiras bobas. – Meu progenitor riu e saiu do quarto. – E você me acordou.

            - Desculpe, minha linda. Achei que você acordava cedo.

            - Acordo em dia de semana. E ontem eu cheguei duas horas em casa. E só consegui pegar no sono umas quatro.

            -Ah, está certo. E o que achou de ontem?

            - Maravilhoso. – sorri. - E por que me ligou?

            - Recebi uma mensagem do seu irmão falando para eu te ligar que tinha um assunto muito importante.

            Arqueei uma sobrancelha.

            - Eu nem falei com ele ainda! HENRI!

            - Não, não fique nervosa com ele. – riu – mas de qualquer forma eu ia te ligar.

            - Tudo bem. – ri com ele. – não fico brava com ele.

            - Vou deixar você dormir mais um pouquinho. Bom sono, meu amor.

            Corei e respondi:

            -Obrigada. Até depois... Meu... Amor.

            Ele riu e me mandou um beijo. Mandei outro pra ele e desliguei, depositando o telefone no meu criado-mudo. Pus minha cabeça novamente no travesseiro, com a mente nas nuvens...

            -BOM DIA, HELLIE! – Henri pulou na minha cama.

            - Bom dia, minha futura cunhadinha! – Mikey pulou no outro lado.

            - MIKEY?! O que você... O que vocês estão fazendo na minha cama?

            -Te acordando, dama-da-noite.

            -Eu não quero ser acordada. – resmunguei. – E o que o Mikey tá fazendo aqui?

            - Eu dormi aqui. – ele respondeu, com a mesma expressão vazia que tem.

            - Posso saber onde e por quê? – eu estava com o rosto inchado.

            - Discuti com o Gee e como é o único lugar que posso ficar é aqui, seu irmão me cedeu o colchão dele... – Olhei para meu irmão como quem pergunta “mudou de lado???!” – O colchão reserva dele. – Mikey continuou.

            - Fiquei sabendo... Posso voltar a dormir?

            -Não, vamos tomar o café. Queremos saber sobre a noite maravilhosa de ontem!

            - Henri, se você não fosse meu irmão, eu te chamaria de filho de uma moça que presta serviços públicos. Mikey, não conheço sua mãe, mas respeito mesmo assim. Mas sintam-se ofendidos!

            - Anda logo! – Henri começou a pular na cama, tal como fazia desde dez anos atrás. Mandei os garotos retirarem-se para eu me arrumar. Tão logo saí e desci para a cozinha. Lá estava meu pai, meu irmão e meu – finalmente! – cunhado.

- E então? – Meu irmão iniciou o assunto – Como foi a noite, hein?

- Boa – sorri – e a sua? Comeu muita pizza?

- Comi. O Mikey também. E o papai também.

- E eu jantei no Blume der Hoffnung. Rá!

Eles quase cuspiram o café. Menos Henri. Ele realmente CUSPIU todo o café dele em mim.

- Obrigada, Henri. Eu estava mesmo precisando de um banho de café.

- De nada. – ele mais riu do que tentou se limpar. – Bebeu o que?

- Coca-Cola.

- AI MEU SENHOR JESUS! Você vai ao BDH e PEDE Coca-Cola??

- Posso continuar?

- Claro, filha. – meu pai deu um tapa em meu gêmeo.

- Então, comemos, dividimos a sobremesa – meu irmão fez menção de falar, mas eu o interrompi. – Depois ele me levou num... Sítio, chácara, não sei.

- Ah, o Sítio do Korse... – Mikey riu. – É um lugar lindo, adorávamos ir pra lá. Principalmente o Gerard... – Mikey sorrira. Talvez deduzisse o fim da história.

- Aí... – Henri estava impaciente.

- Aí conversamos... E ele me pediu em namoro! – Mostrei o anel.

- E VOCÊ ACEITOU, ÓBVIO.

- Não, irmãozinho. Eu roubei o anel dele.

- Que engraçadinha você, hein.

- Então eu e Helena somos cunhados? Legal, cara! – Mikey parecia feliz.

Meu pai estava rindo.

- Que foi, ve... papai?

- Então o plano dele deu certo! – meu pai riu mais.

-Que plano? – Perguntamos os três, em uníssono.

- Aquele dia do enterro do Matt. Perguntei quais eram os planos dele. E aí ele te pediu em namoro pra mim.

- Tinha que ser o Gerard – Mikey suspirou. – Um jovem com alma de velho...

- Que nada. Achei muito digno da parte dele fazer isso. Eu disse que autorizava, mas ele pediu tempo. Ainda não tinha coragem para pedir pra Hellie. E aí...

- Na segunda ele comprou o seu anel, que eu vi, Helena.

- Na minha cara?

- É por que você é uma anta, irmãzinha... Nunca ia reparar.

- Na verdade era pra ver o tamanho do seu dedo.

- Babaquice, na minha opinião. Mas já que ele pagou lanche pra Helena é bom. Ela quase não come.

- Cala a boca, Henri. Por favor. – redargui pausadamente.

            - Vou buscar o jornal. Helena namorando me dá enjoo. – meu irmão se levantou da mesa.

            - Como se você fosse ficar solteiro pra sempre, né?

            Ele parou na porta:

- Você namorando me dá enjoo. Eu, não.

            - Por que seria um milagre, né?

            - Não. E vai tomar seu café com Ovomaltine, vai.

            Continuamos a tomar café em absoluto silêncio. Dali a pouco chega meu irmão correndo. Estava assustado e esbaforido.

            - Helena, corre aqui, tipo, agora!

            - O que foi? – Perguntei sem nenhuma vontade de ir ver o que era.

            - SÓ. VENHA. – Ele me puxou da cadeira e quase caí. Pra variar. Mikey e papai nos seguiram.

            Não sabia que meu irmão era tão forte. Conseguiu me arrastar com facilidade. Ou eu seria fraca demais? Enfim, em segundos chegamos à calçada de nossa casa.

            - Que foi, Henri?

            Ele apontou pra casa da Liesel. Uma suástica GIGANTE pixada no muro dela.

            - Mas isso... Se ela ver...

            - Uma grande e enorme falta de respeito. – meu pai disse.

            - Não quero a ouvir xingando em hebraico de novo não! – meu irmão fez uma careta.

            - Ok... Eu sei que é crime apologia ao nazismo, mas... Por que a Liesel ficaria revoltada?

            - Ela é judia. – respondi – descendente de judeus que passaram pelos campos de concentração.

            - Mas ela come bacon e presunto. – meu cunhado ficou confuso.

            - Ela não é muito religiosa. - Cocei a cabeça.

            - Ah, entendo – Mikey pareceu mais confuso ainda. Liesel é uma judia que de judia mesmo, só o sangue. Mas mesmo assim, quando alguém fala algo contra seu povo, ela estressa e xinga a pessoa em quinze línguas! Fora que ela sabe falar hebraico.

            - E o que fazemos? – meu irmão perguntou por todos – com certeza não vamos a deixar descobrir isso aí sem prepará-la.

            - É...- meu pai concordou – Isso é um crime terrível. Apologia ao nazismo e preconceito... O ser, que não dá pra chamar nem de pessoa, vai ter uma bela punição.

            Ficamos em silêncio, cada um pensando numa solução.

            - Hellie... Não é melhor ligar pro Frank? – Mikey sugeriu.

            - Não tenho o número do celular dele... E duvido que ele esteja acordado agora.

            - Liga pro seu “namorado”, então. – Meu irmão recomendou.

            - Tá... – olhei para meu cunhado, que deu de ombros – Vou pegar meu celular.

            - Aquele tijolo da Idade da Pedra?! –

            - Naquela época não havia nem tijolo, Henri.

            Deixei meu pai e meu irmão filosofando sobre tijolos e épocas. Corri para pegar meu celular, que estava sob meu travesseiro. Mal esperei descer as escadas e já procurei o contato de Gerard no celular. Chamei no mesmo segundo. A minha sorte é que ele não tem o costume (que quase todo mundo tem) de voltar pra cama. Ele é do tipo que, se levanta, arruma a cama, faz o café, faz tudo o que um cara da idade dele faz (que eu não sei. Sou mulher). E depois arruma serviço, seja do trabalho ou de qualquer coisa que ele arranje.

            - Alô? Gee?

            - Oi, meu anjo! Resolveu ficar acordada nessa belíssima manhã de domingo?

            - É... Mais ou menos... Tivemos... Um probleminha.

            - Com o quê? – sua voz se alterou rapidamente.

             - Com a Liesel... Fizeram um desenho enorme de uma suástica na casa dela. E ela é judia...

            - Mas ela... Come bacon, presunto, pernil...

            - Ela é judia ocidental.

            - Ah... Vou acordar o Frank e estamos aí em pouco tempo.

            Desligou. Posso entender. Ele preocupado fica realmente sem tempo para pensar em outras coisas, em pensar no bom senso. Vou ter que me acostumar

            Os homens (teria eu que incluir Henri nessa classificação?) estavam dentro de casa já, cada qual pensando nas reações de Liesel e de tia Miriam. Certamente iam avisar o conselho judaico, a polícia. Mas daria certo? Será que conseguiríamos pegar o retardado que fez aquilo?


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Notas finais do capítulo

Vocês aguardem o próximo... Tem a história de vida da Helenita



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