O Teatro escrita por GabrielleBriant


Capítulo 29
Mais um Teatro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/18091/chapter/29

XXIX

MAIS UM TEATRO

Eles rapidamente voltaram aos seus velhos hábitos.

Apesar de tudo que ocorrera, apesar da longa e difícil separação, Linda e Severo logo se viram retomar a mesma rotina que haviam adotado no ano anterior, quando a mulher se mudara para o castelo de Hogwarts. Ele passava os seus dias trabalhando; resolvendo os problemas da escola – cada vez mais complicados, já que o ano letivo estava em seu fim. E ela ficava só; às vezes vagando pelos corredores, às vezes vagando pelos jardins... e uma vez visitando o túmulo de Dumbledore.

No entanto, ao contrário do que costumava ocorrer na primeira vez que Linda fora para o castelo, aquela situação não a aborrecia. Afinal, não existiam mais segredos. Severo não voltou a impor entre eles um muro. E, claro, porque assim que o expediente terminava, ele procurava compensar pela sua ausência, com jantares e vinhos e conversas que invadiam a madrugada.

Naquela noite, por exemplo, Severo decidira levar a esposa a Londres. Como era sábado, ele sabia que poderia passar mais tempo afastado do castelo, aproveitando com Linda aquela típica noite londrina: fria, úmida e tão nublada que era impossível se ver no céu uma estrela sequer... porém iluminada pelas luzes da cidade e aquecida pelos jovens que faziam barulho nos pubs.

Como um casal de namorados, eles assistiram juntos a uma peça e jantaram num famoso bistrô de um bruxo francês que devia favores a Severo. Quando finalmente voltaram ao castelo, já era uma da madrugada.

Linda foi a primeira a entrar na pequena sala que eles dividiam. Suspirando, jogou a sua bolsa de qualquer jeito sobre a mesa de centro.

- Isso foi divertido.

Ouviu os passos de Severo se aproximando.

- Foi, sim.

Linda não soube se o arrepio que atravessou o seu corpo foi de prazer ou surpresa. Durante a última semana, Severo viera respeitando tão bem o tempo que ela lhe pedira – para se acostumar novamente com ele; para se apaixonar de novo – que Linda não estava esperando a súbita aproximação. Sentiu o corpo dele colar no dela e as mãos grandes enlaçarem a sua cintura com força.

- Severo, eu-

Eu não posso. Eu ainda não quero. Eu não estou pronta. Era isso que a mente de Linda gritava, mas não conseguiu verbalizar. Não enquanto Severo agarrava possessivamente os seus cabelos e depositava beijos lascivos em seu pescoço.

A mente de Linda não queria. Mas o corpo a obrigou a despir o próprio casaco, de modo que ela pudesse sentir as mãos de Severo passeando pelas suas pernas, erguendo o cetim do vestido.

- Vinho. – Ela sussurrou, numa tentativa desesperada de fugir daquela situação.

- O que? – Ele perguntou, sussurrando no ouvido dela com uma voz rouca, e aproveitando para mordiscar e passar a língua quente na orelha dela.

- Vinho – Linda respondeu, daquela vez com mais convicção – Eu quero vinho.

Severo deu um longo suspiro e encostou a testa no ombro de Linda, paralisado.

- Você tem certeza?

- Sim. Por favor.

Pelo canto do seu olho, Linda pôde vê-lo assentir brevemente antes de dar um passo para trás, quebrando totalmente o contato físico entre os dois. Ela evitou observar a expressão no rosto dele – se Severo deixasse a sua óbvia frustração aparecer em seu olhar, talvez Linda não conseguisse manter a sua decisão de continuar sem tocá-lo.

- Tinto ou branco? – Ele respondeu, já na pequena cozinha à esquerda de Linda.

- Branco.

Linda passou a mão pelos seus cabelos e deixou-se desabar no sofá. Já fazia uma semana que ela estava em Hogwarts, e Severo quis que ela voltasse a ser sua mulher – em todos os sentidos – já na primeira noite. Ela havia lhe convencido, no entanto, que era sensato esperar que algumas feridas abertas durante a separação cicatrizassem melhor.

Severo estava começando a ficar sem paciência.

Linda tentou sorrir, enquanto Severo se aproximava com uma garrafa de vinho dos elfos e duas taças.

- O que foi? – Ele perguntou pacientemente, entregando uma taça a Linda e servindo-a. Ela tomou um grande gole.

- Nada. Sente-se, Severo.

Ele obedeceu, mantendo-se distante.

- Você parece nervosa.

- Eu estou. Severo, eu não acho que... Eu ainda acho que é cedo. – Severo a olhou por um tempo, tentando inutilmente esconder a sua frustração. Um pequeno nó começou a se formar na garganta de Linda. – Eu não sei se-

- Eu entendo – Ele disse rapidamente. – Essas foram as suas condições para voltar, Linda. Eu entendo. É que... você está aqui há dias e é difícil dormir ao eu lado e não poder te tocar.

Linda desviou o seu olhar.

- Eu simplesmente não posso ficar com você. Não ainda.

- Eu disse que entendo.

Mas ele não entendia, e Linda sabia disso. Linda sabia que, na opinião de Severo, eles deveriam estar tentando se reconciliar de todas as maneiras possíveis – inclusive na cama. Ela sabia que Severo acreditava que ela estava impondo aquela distância como uma forma de se vingar pelos meses que ele a deixara no escuro. E ela queria explicar a Severo que não; que ela apenas tinha medo de que, se começasse a agir como se nada tivesse acontecido, os problemas que ainda existiam entre os dois fossem novamente jogados para debaixo do tapete... Ignorar problemas foi algo que Linda já fizera antes. E tal atitude quase acabou com o seu casamento.

Linda queria explicar. Mas não encontrava palavras.

Ela mordeu o lábio inferior, querendo saber há quando tempo eles estavam em silêncio. Parecia uma eternidade.

Finalmente, na tentativa de puxar qualquer assunto que os fizesse fugir de uma conversa sobre o relacionamento dos dois, Linda disse:

- A nossa noite foi boa.

- Foi – Ele respondeu, tentando parecer animado. – Eu não pensava que Trouxas pudessem fazer algo tão interessante quanto a peça que nós vimos.

- Rent. É um musical bem famoso, Severo. Você deveria pesquisar mais sobre cultura trouxa; acho que tem muita coisa que poderia lhe surpreender.

- Talvez. Mas, por enquanto, não é muito recomendável que mostre algum interesse desse tipo.

Linda sorriu. A tensão estava se dissipando. Quase automaticamente, arrastou-se no sofá, de modo a ficar mais perto do marido.

- Mas, depois dessa guerra...?

- Depois da guerra, se o nosso lado realmente vencer, eu prometo que vou tentar entender o seu fascínio pelos trouxas.

- Você sabe que o pós-guerra será um inferno, não sabe?

Severo finalmente a olhou, com uma sobrancelha erguida em curiosidade.

- Por quê?

- Bem, você vai ficar famoso. Se nós ganharmos ou se o Lorde ganhar, não vai fazer diferença, nesse sentido. Você será muito famoso.

Severo considerou aquilo por um tempo. O corpo dele também deslizou no sofá e, agora, eles estavam perto o suficiente para as suas coxas se tocarem. Linda procurou a mão dele.

- Eu não tinha pensado nisso.

- Mas isso é inevitável; não teremos paz!... A menos, claro, se nos mudarmos para o meio do nada!

- Você faria isso? Se mudar?

- Acho que sim... Se realmente vamos ter filhos, acho melhor criá-los longe das cidades e de toda a loucura de ter um pai famoso.

- Eu concordo com você, Linda. De fato, acho que você gostaria de viver numa das casas que Dumbledore me deixou: é na Irlanda. – Severo soltou a mão de Linda e pôs a sua mão entre as pernas da esposa, acariciando lentamente a parte interna da coxa de Linda. Ela prendeu a respiração, mas decidiu permitir. – A casa é enorme, tem jardim, é totalmente isolada e perto do mar.

- Me parece uma boa idéia...

- Suponho que sim. – Ele sorriu maliciosamente. – Eu não me importo, na verdade. Só tem um problema, Linda: fazer filhos requer prática.

Dizendo isso, Severo avançou com a sua mão, alcançando o tecido da calcinha de Linda. Ela suspirou ao sentir os dedos do seu marido, tão cuidadosos, precisos e...

- Severo, por favor...

- Se você me disser que não quer, eu paro.

Ela mordeu o lábio inferior, tentando segurar um gemido.

- Eu... Eu não quero.

Ele assentiu e, sem uma palavra, se afastou.

- Eu não quero que você me pressione.

- E eu não quero que você me rejeite.

Linda fechou os seus olhos, sentindo o seu coração apertar.

- Eu não estou rejeitando você, Severo! Eu apenas- Olhe para mim, por favor.

Lentamente, ele obedeceu. Os lábios de Linda se retorceram num sorriso amargo enquanto acariciava tenramente o rosto do marido. Ele parecia tão cansado, e frustrado, e triste...

- Eu não estou rejeitando você.

- Eu queria que você me dissesse o que eu tenho que fazer! Quantas vezes eu ainda tenho que me desculpar!

- Nada. E nenhuma. Mas eu ainda preciso de tempo.

- Eu menti, Linda. Quando disse que entendia.

- Eu sei.

Severo virou o rosto, fixando os seus olhos na porta entreaberta do quarto dos dois. Ele estava dando a noite por encerrada, Linda sabia. E ele dormiria se sentindo rejeitado.

Isso Linda não podia permitir.

Quando Severo começou a se levantar, ela o impediu, pressionando a sua mão na perna dele. Ele a olhou confuso. Tentando sorrir, Linda se ajoelhou no sofá e se aproximou, até que os seus lábios tocaram a testa do seu marido. Com os olhos fechados, deslizou os lábios pelo seu rosto, até poder senti-los sobre a pele macia dos lábios de Severo; sentir a respiração quente dele como se fosse sua.

Quando abriu os olhos, viu que os olhos negros a contemplavam. Mais que isso. Eles transmitiam a ela uma mensagem clara: "Eu te amo" – eles diziam. "Eu preciso de você".

- Eu amo você – Linda respondeu verbalmente, pois sabia que os seus olhos jamais seriam tão expressivos quanto os dele.

Severo abriu um sorriso tímido e melancólico, e a sua cabeça se inclinou em direção a dela. Quando os lábios finalmente se encontraram, Linda sentiu que o coração poderia explodir e...

...e, de repente, tudo estava acabado. Severo desviara abruptamente o seu rosto e todo o seu corpo tinha ficado tenso.

- O que houve? – Ela perguntou ao perceber o semblante raivoso do marido. Severo não respondeu, levantando-se do sofá. – Severo? – Exigiu. – Severo, o que-

- Merda! – Ele quase gritou, irritado. – O Lorde das Trevas- Merda!

Linda abriu a boca, mas nenhum som saiu dela. A mera menção ao Lorde das Trevas funcionou como um banho de água fria. A ternura que ela sentia há segundos evaporou, dando lugar à preocupação e à angústia.

- Você tem que ir?

- Você sabe a resposta, Linda! – Sim, ela sabia. – Desculpe-me.

- E se... – Ela engoliu seco. – E se for agora? E se o Lorde quiser tomar posse da Varinha agora?

- Se o Lorde tivesse o garoto, ele chamaria você também. Não deve ser nada; não se preocupe.

- Severo-

- Durma – ele a interrompeu. – Tome a poção do sono. Confie em mim.

Linda suspirou resignada. Ela queria protestar; ela estava aflita... mas obedeceu. Confiava nele.

XxXxXxX

No dia seguinte, Linda acordou sentindo-se leve – um dos efeitos da poção do sono –, e até teria se preocupado com Severo, se não estivesse sentindo o braço dele pesar sobre a sua cintura. Abriu os olhos lentamente, para ver o seu marido mergulhado num sono profundo.

Com cuidado, Linda afastou a mão de Severo e levantou-se da cama. Ela tomou banho e se arrumou muito devagar, esperando que o seu marido acordasse para que pudessem conversar sobre o que ocorrera na noite anterior. Mas Severo não acordou. Então ela decidiu passar um tempo no jardim da escola.

Para a sua total surpresa foi lá que encontrou Cécile Boyer-Malfoy.

Linda ainda não sabia que aquela seria a última vez que conversaria com a sua mãe.

- Mamãe?

Os olhos azuis de Cécile a miraram e, apenas naquele momento, Linda entendeu que gostava do brilho frio e cheio de escárnio que eles geralmente apresentavam. Ela entendeu aquilo porque, pela primeira vez em sua vida, viu nos olhos da sua mãe um azul intenso, cheio de dor, preocupação e medo. Cécile parecia tão terrivelmente frágil...

- Você está feliz? – Ela perguntou, raivosa.

Linda engoliu seco.

- Estou.

- Eu não vou cruzar os meus braços e ver você acabar com a sua vida, Marie!

- Mamãe, por favor...

- Me escute! Me escute agora, porque você nunca mais vai me ver assim: transparente; verdadeira; nue. Eu sempre quis mais para você! Eu queria que você fosse uma grande mulher, mas você falhou. Nós duas falhamos. É doloroso lhe ver estragar a sua vida ao lado de um homem que só lhe traz sofrimento e não poder fazer nada! Eu sei que não posso fazer com que você perceba o mal que Severo lhe faz, mas... – Cécile soluçou. Os seus olhos se encheram de lágrimas e aquilo foi tão raro e tão poderoso que trouxe lágrimas aos olhos de Linda também. – Mas eu vou tentar, ma fille, eu vou tentar!

"Severo vai morrer. Por motivos que eu não posso lhe explicar, o Lorde das Trevas vai matá-lo, isso é certo. Não adianta fugir! Ele vai encontrá-lo! Entenda: não existe esperança para ele, Marie! Então vamos para casa! Para o nosso lar; meu e seu! Venha para a França, comigo! Vamos ficar longe disso tudo! Nós duas!"

Linda balançou a cabeça, angustiada. Enxugou inutilmente as lágrimas que teimavam em escapar.

- Eu sei, mamãe. Eu sei da Varinha das Varinhas. Eu sei o que pode acontecer. Mas não é o meu dever ficar com o meu marido até o fim?

- Eu estou me lixando para os seus deveres de esposa! Também é o meu dever ficar do lado de Marco, e eu estou disposta a ignorá-lo!... Ou você acha que o seu pai me quer aqui? Ele disse que vai me deixar, Marie, se eu fugir... – Cécile olhou para cima e se calou por um tempo, se concentrando. Ela ainda tinha o seu orgulho: não choraria na frente da sua filha. – Mas eu não me importo! Você é minha filha! Eu não vou deixar você...

- Sofrer?

Cécile a olhou novamente.

- Morrer – Ela corrigiu. – Morrer, tentando evitar o inevitável. E, se você for parecida comigo, não presenciará calada a morte do seu marido.

Linda deu um sorriso angustiado.

- O Lorde das Trevas não me mataria, mamãe. Você sabe disso.

- Não, Marie, você se engana! Se você ficar no caminho dele, ele não pensará duas vezes! Os aurores também... você é a melhor chance que eles têm de atingir o seu pai, o maior investidor desta guerra, sabia? Por ambos os lados, Marie, você está marcada para morrer! E eu não vou ficar em minha casa de braços cruzados, vendo a minha filha ser assassinada!

Cécile ofegou, se aproximando de Linda e procurando a sua mão; tentando convencê-la de que ela estava certa, e exigindo silenciosamente uma resposta. Linda, pela primeira vez em sua vida, se reconheceu nos olhos da sua mãe. Ela finalmente aceitou que Cécile estava absolutamente certa todas as vezes que dizia que Linda era o seu reflexo.

Naquele momento, Cécile estava fazendo o maior sacrifício da sua vida. Linda sentiu que também teria que fazer o seu.

- Eu prefiro morrer ao lado de Severo, mamãe, a abandoná-lo agora.

- Por favor, não diga isso. Eu lhe imploro!

- Se fosse a sua vida, não a minha... você não ficaria?

- É diferente!

- Não. Não é.

- Eu não vou enterrar a minha filha! – Cécile exclamou. Duas grossas lágrimas lhe escaparam, e ela se apressou em enxugá-las. – Nenhuma mãe deveria ter que enterrar os filhos!

Linda sentiu um aperto no seu coração. Desejou que Cécile fizesse qualquer comentário sarcástico, desejou a Cécile de antes... era tão mais fácil lidar com ela. Sem saber o que fazer, abraçou a mãe e deixou-se chorar junto com ela. Por um momento, Cécile até acreditou que Linda aceitara a sua oferta.

- Me desculpe, mamãe... Mas eu vou ficar.

O corpo de Cécile enrijeceu e, quando ela separou-se do abraço de Linda a sua expressão era dura; aristocrática. Não fossem os olhos avermelhados e a maquiagem borrada, ninguém diria que ela estivera chorando.

- Muito bem. Nesse caso, Linda Marie, não me procure até que essa guerra termine! Eu não vou enterrar a minha filha! Eu prefiro esquecer que você existe, a ter que organizar o seu funeral!

Sem mais, Cécile deu meia-volta e apressou-se até a carruagem que estava estacionada no jardim.

Quando mais a carruagem se afastava, mais só Linda se sentia. Tentar parar as suas lágrimas era inútil – ela não tinha mais a sua mãe; o seu porto seguro; o seu forte. Ela estava só. E, agora, tinha que lidar com a verdade que Cécile cruelmente despejara sobre ela: Severo morreria.

Não tinham planos que pudessem dar certo. Não tinha escapatória. De certa forma, Linda sempre soubera disso... Mas ela se acostumou a mentir. E, agora, ela fazia aquilo tão perfeitamente bem, que chegou a enganar a si mesma. Aquilo tudo era apenas mais um teatro, mais uma atuação. A verdade é que não havia esperança.

Severo morreria. E Linda morreria tentando evitar o inevitável. E Cécile enterraria a sua filha.

Cécile estava certa. Cécile sempre estava certa!

O pânico que ela sentiu foi tão forte que Linda sentiu dificuldade para respirar. Ela cambaleou para trás, em direção ao castelo, buscando apoio nas paredes de pedras, mas, antes que ela chegasse até elas, uma mão segurou a sua.

- Sra. Snape! – Linda não demorou a reconhecer a voz de Minerva McGonagall. – Linda Marie, você está bem?

Linda teve certa dificuldade para focalizar a velha professora.

- Sim, eu... Sim.

- Eu pensei que você fosse desmaiar!

- Foi só uma queda de pressão – Ela respondeu, tentando controlar a sua voz. Com a mão livre, enxugou o seu rosto. – Acabei de receber uma má notícia.

A professora deu um meio-sorriso.

- Deve ter sido uma notícia realmente ruim. Você está pálida. Vamos; eu lhe acompanho até a ala hospitalar.

- Realmente não será necessário.

- Eu insisto.

Linda preferiu não discutir.

Ao chegar à ala hospitalar, Madame Pomfrey confirmou o diagnóstico de Linda – uma pequena queda de pressão. Segundo a curandeira, Linda deveria evitar o estresse... aquilo quase a fez rir.

- Você quer que eu chame o seu marido? – Pomfrey ofereceu.

- Não. Ele vai se preocupar à toa.

- Bem... Eu vou ficar em minha sala. – Ela sorriu educadamente. – Amanhã temos jogo de quadribol, e a ala hospitalar tende a ficar cheia logo em seguida; tenho que repor as minhas poções. Em alguns minutos voltarei para checar a sua pressão. Enquanto isso, Sra. Snape, mantenha-se deitada, ok?

Linda apenas assentiu, mas, assim que a curandeira saiu, ela contrariou as suas ordens e sentou-se.

- Deite-se, Sra. Snape.

Linda olhou para trás. Surpreendentemente, McGonagall ainda estava lá.

- Eu pensei que você tinha saído.

- E eu, que você precisava de um acompanhante. Obviamente, estava certa! Deite-se.

Linda obedeceu, observando McGonagall caminhar lentamente pela ala hospitalar, até chegar a uma grande janela em seu canto esquerdo; perto da entrada da sala de Madame Pomfrey. Minerva recostou a sua cabeça a ela, olhando pensativa para o lado de fora. Naquela direção, Linda sabia, ficava o cemitério da escola.

Os olhos de Linda marejaram novamente. A sua acompanhante era uma pessoa que sabia como era perder alguém que se ama.

- O que passou pela sua cabeça quando ele morreu? – Linda perguntou, antes que conseguisse segurar a sua língua.

McGonagall suspirou.

- Eu quis morrer, também.

- Eu sinto muito, Minerva. Por tudo.

- Eu sei, Linda Marie. Eu lhe vi visitar o túmulo de Alvo.

- É por isso que você está aqui?

- Digamos apenas que se eu visse Aleto Carrow em sua situação, a deixaria desmaiar no jardim.

Linda deu um sorriso melancólico, se odiando por deixar as suas lágrimas caírem novamente.

- Eu acho que Severo não vai sobreviver.

Minerva deu de ombros.

- Pelo menos você o teve.

- Mas-

- O que você espera de mim, Linda Maire? – Minerva voltou a olhar para Linda, raivosamente. – Que eu tenha pena de você? Que eu não deseje a morte do seu marido? Alvo foi o melhor amigo que eu já tive em minha vida! O seu marido não tinha o direito de tirar isso de mim!

Linda mordeu o lábio inferior.

- Eu também não fiquei feliz com isso, McGonagall.

- Sabe o que é estranho? Dumbledore sempre teve um bom julgamento! Especialmente sobre as pessoas! Eu me lembro que quando todos pensavam que Hagrid havia aberto a Câmara Secreta, você conhece a história, Alvo foi o primeiro a clamar pela sua inocência! O mesmo com Sirius Black! Então me explique, Linda Marie, como o seu marido conseguiu enganá-lo dessa maneira?

Linda suspirou, entendendo o sentimento de impotência de McGonagall. Alguns dias atrás, Linda fazia as mesmas perguntas, afinal.

- Eu não sei – mentiu. – Severo não me conta tudo.

- Qual a sua teoria? – Linda desviou o olhar. – Estou curiosa!

- Eu não sei. Eu procuro não pensar nisso.

- Alvo me disse que você era contra as ideologias da sua família.

- Eu sou!

- E ele disse que Severo lhe contou estar do nosso lado, antes de vocês se casarem – Linda assentiu. – Foi por isso que você partiu? Rosmerta disse que você e Snape estavam separados.

- Foi por isso, sim.

- E por que você voltou?

Linda deu de ombros e olhou McGonagall por um tempo, antes de dar a resposta mais sincera possível:

- Eu o amo.

Minerva assentiu; a exasperação sumira completamente do seu olhar.

- E você acha que vai perdê-lo. – Linda assentiu. – Como eu perdi o homem que eu amava.

- O que posso fazer?

Minerva suspirou. Lentamente, aproximou-se da cama de Linda e se sentou ao seu lado.

- Eu amei Alvo por anos, e ele nunca sentiu nada parecido por mim. Eu nunca pude tocá-lo. Eu nunca o tive. Então, Linda, eu sequer tenho lembranças. Se você acha que ele vai morrer... apenas fique com ele. Fique com ele, e crie lembranças!

- Eu não posso perdê-lo!

- Pode, sim. Você pode viver sem ele. Aliás, Linda Marie, você pode acabar se surpreendendo consigo mesma. Eu sei que eu me surpreendi.

XxXxXxX

Quando Severo acordou, sentiu o peso da sua esposa sobre ele; sentiu os cabelos loiros fazer cócegas em baixo do seu nariz. O corpo de Linda estava tão quieto que ele teve certeza de que ela estava dormindo... e, sem testemunhas, ele não precisava conter o súbito impulso de ternura que lhe acometeu. Carinhosamente, ele alisou o cabelo da sua esposa e beijou o topo da cabeça dela.

- Severo?

Ele se sentiu corar. Linda preguiçosamente ergueu a sua cabeça, de forma que pudesse olhar para ele. A expressão da sua mulher estava estranhamente serena... como se ela estivesse anestesiada, ou algo assim.

- Eu pensei que você estivesse dormindo.

- Eu estava esperando você acordar.

- Por quê?

- Mamãe esteve aqui.

Severo assentiu brevemente. Ultimamente, a presença de Cécile não trazia coisas boas para ele.

- O que ela queria?

- Me levar para a França. Ela estava desesperada, Severo... O que me fez concluir que, talvez, ela esteja enxergando a essa situação mais nitidamente que nós.

- O que ela disse?

- Basicamente, que nós vamos morrer. Você primeiro. Depois eu... por tentar impedir a sua morte.

Severo calou-se por um momento. Ele já sabia daquilo há muito tempo... Ele sabia que, se sobrevivesse, teria uma vida maravilhosa e, às vezes, ele gostava de fantasiar sobre ela. Ele gostava de conversar com Linda sobre um futuro que, ele tinha certeza, não aconteceria. Ele gostava de se enganar.

Mentir, afinal, era o que ele fazia de melhor.

- Eu tenho um plano, Linda.

- Você acha que ele vai dar certo? Seja honesto.

- Eu... As chances são mínimas.

Linda sorriu placidamente.

- Nós ainda podemos fugir.

- Podemos, mas eu não quero. Essa é a minha responsabilidade, e eu tenho que, pelo menos, tentar. Eu quero me livrar da culpa. Eu quero poder viver sem nenhum fantasma me rodeando...

- Ou morrer tentando.

Ele suspirou profundamente antes de imitá-la:

- Ou morrer tentando.

Linda rolou na cama, ficando de barriga para cima, fitando o teto.

- Isso é uma merda. Eu realmente queria que minha mãe estivesse errada dessa vez.

Severo se apoiou em seu cotovelo, voltando a olhar para a sua esposa. Notando, pela primeira vez, que ela usava apenas uma pequena lingerie branca, que deixava pouco para a imaginação. Resistir ao impulso de tocá-la foi uma das coisas mais difíceis que ele fizera nos últimos tempos, surpreendentemente.

- Cécile se enganou dessa vez, sim. Nada vai acontecer a você. Eu não gosto de usar essa palavra, Linda, mas eu a proíbo de fazer qualquer coisa para interferir na minha tarefa. Você prometeu que não interferiria!

- Eu devo ficar parada, seguir o seu plano e depois enterrar você.

- Eu disse que vou tentar.

- E você também disse que as chances são mínimas.

Ele fechou os olhos.

- Mas elas existem.

Linda respirou fundo e empertigou o seu corpo, aproximando-o do dele. Severo sabia que não devia, mas não conseguiu resistir a interpretar aquilo como um convite. A sua mão esquerda logo estava no quadril de Linda, e deslizando pela sua cintura e suas costas.

- E se você morrer, Severo? E se eu construir aquela vida que nós dois sonhamos, mas com outro homem?

- Linda...

- Você consegue me imaginar em uma cama como essa, usando uma lingerie com essa, mas com outro homem no seu lugar? Me acariciando, como você só você pode? Dizendo no meu ouvido o que só você sente? Me fazendo gozar, como só você sabe? – Severo trincou os dentes e tentou ignorar a ira; o ciúme irracional. – E se eu me apaixonar por ele, Severo? E se eu esquecer o que eu sinto por você?

- Pare.

- E se ele fizer um filho em mim? E eu acabar concluindo que os anos que passei ao seu lado foram vazios?

- Pare.

- Quando eu finalmente morrer, eu vou voltar para você, ou eu vou esperar por ele?

- Pare!

- E você? Esperará por mim, ou segurará a mão de Lílian assim que chegar... do outro lado? Você se sentiria rejeitado, quando eu chegasse lá e sequer me lembrasse do seu rost-

- Cale a boca! – Dizendo isso, Severo forçou o seu corpo sobre o de Linda, subjugando-a. – Cale a boca! Por favor.

Linda deu um meio-sorriso.

- Eu também não consigo imaginar nada daquilo. Então, por favor... Faça com que o seu plano dê certo.

E, sem mais, ela o beijou.

XxXxXxX


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Teatro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.