Rose’s POV

Entrei em casa. Ou melhor, no palácio. É em um palácio que você mora quando sua melhor amiga é rainha.

Bom, pelo menos eu achava que Lissa era minha melhor amiga.

Joguei minhas malas com mais força do que realmente era necessário em um sofá. Durante o caminho todo, pude ouvir os passos apressados de Dimitri me seguindo de perto, mas para o próprio bem dele, ele ficara parado na porta de entrada.

Lissa e eu estávamos de férias da universidade e por isso ficaríamos algumas semanas na corte.

Sentei no sofá, ao lado de minha bagagem e respirei fundo. Eu precisava me acalmar.

Dimitri caminhou vagarosamente em minha direção e só parou quando estava há alguns centímetros de mim.

–Você não pode culpá-la, Roza – ele disse suavemente.

Olhei para Dimitri e me lembrei de como ele era realmente alto. Eu estava me sentindo tão pequena sentada naquele sofá. Seus olhos castanhos me observavam com cautela, mas sua expressão estava neutra.

–Nem tente me dar uma de suas lições zen de vida – eu disse rapidamente me afundando no sofá. Eu realmente não estava com vontade de ouvir. – Eu tenho todo direito de culpá-la.

Fechei os olhos em uma tentativa de me desligar do mundo, mas quando os abri novamente nada havia mudado.

–Lissa é a rainha – ele disse após uma longa pausa. – Ela iria vê-la mais cedo ou mais tarde.

–Não sei por que – eu disse friamente -, mas não acho que ela a está visitando a serviço do governo.

–Não – ele admitiu após outra longa pausa. Eu podia sentir o olhar de Dimitri em mim, acompanhando todos os meus movimentos, mas eu não tinha coragem de encará-lo. Ainda não.

–Você não pode culpá-la – ele repetiu.

–Eu não posso culpá-la? – ecoei as palavras dele. – Aquela mulher é o demônio. É uma assassina – eu disse e meu tom de voz começou a aumentar. - Ela me odeia. Ela é uma sociopata. Se dependesse dela, eu estaria morta agora. Morta! – eu parei para respirar e tentar recuperar a compostura. – Então não venha me dizer que eu não posso culpar minha melhor amiga por estar indo visitá-la.

Durante meu discurso todo Dimitri se manteve em silêncio. Se ele havia se impressionado ele não demonstrou. Calmamente ele tirou minha mala do sofá, colocando-a no chão e sentou-se ao meu lado.

–Isso também não é fácil para Lissa – ele disse. – Você não deve se esquecer que a bala que lhe acertou estava direcionada para ela.

Suas palavras me fizeram tremer. Só pensamento de Lissa em perigo me deixava com náuseas.

–Mas Lissa é uma das pessoas mais corajosas e bondosas que já conheci – ele continuou quando não respondi. - Ela se ofereceu para ir visitá-la. Ela a perdoou. E vai fazer o possível para ajudar Tasha semana que vem.

Ali estava. Tasha Ozera. A mulher que tentara me matar não uma, mas duas vezes. A mulher que por acaso era apaixonada pelo meu namorado.

Na próxima semana, Tasha seria julgada no tribunal. Seu futuro, ou falta de futuro, seria decidido em apenas uma semana.

–Ela tentou me matar, Dimitri – eu disse um pouco mais calma enquanto encostava minha cabeça no ombro de Dimitri.

–Eu sei – ele respondeu melancolicamente passando o braço ao meu redor.

–Ela tentou nos separar.

–Tentou – ele confirmou. – Mas, por mais que ela tenha feito tudo errado, ela ainda faz parte da família de Christian e consequentemente da família de Lissa.

Enterrei minha cabeça mais ainda no ombro de Dimitri. Fazia sentido o que ele estava dizendo. Era verdade que Lissa nunca apoiaria alguém que tentara me matar, mas eu conseguia a entender. E Christian... pobre Christian. Lissa estava certa em apoiá-lo.

–Oh meu Deus! – eu gritei me dando conta de uma coisa. Afastei-me de Dimitri o máximo que o sofá permitia e pude ver a confusão estampada em seu rosto. –Você! – eu disse apontando meu dedo acusadoramente em sua direção – Você foi visitar Tasha!

Ele não respondeu, mas seus olhos... sua expressão o entregaram. Pela primeira vez em muito tempo pude sentir lagrimas saindo de meus olhos. Eu estava me sentindo traída.

–Eu precisava ir vê-la – ele disse passando o dedo indicador delicadamente em meu rosto para enxugar as lágrimas.

Levantei-me bruscamente colocando distância entre nós.

–Como se atreve? – eu disse com uma voz abafada pelo choro. – Eu entendo as razões de Lissa, mas você? Você é a última pessoa que deveria ter ido vê-la.

Ele se levantou e deu um passo em minha direção, mas eu recuei. Eu estava sentindo um fogo dentro de mim que fazia meu corpo inteiro doer.

–Sou guardião de Christian – Dimitri disse – e Tasha também era minha amiga.

Não pude deixar de ouvir a afeição por trás de suas palavras. Andei até uma janela de maneira que assim estava de costas para Dimitri. Eu não queria que ele percebesse a dor que aquelas palavras me causaram.

–Sinto muito pela sua amiga – eu disse secamente. – Eu sinto muito que você não tenha feito a escolha certa meses atrás.

Eu já havia parado de chorar. Agora somente a raiva me consumia.

–O que você quer dizer com isso? – ele perguntou e eu já não achava que ele estava tão controlado quanto antes.

–O que eu quero dizer é que se você está tão incomodado com a situação de Tasha, deveria ter escolhido ser o guardião dela há muito tempo – eu disse me virando para ele. – Teria evitado muitos problemas.

Eu sabia que estava sendo perversa, mas naquele momento eu não ligava.

–Você não sabe o que está dizendo - Dimitri disse e rapidamente acabou com a distância entre nós.

Quando seus lábios tocaram os meus eu finalmente enxerguei a razão. Finalmente percebi o quanto estava sendo mesquinha e infantil.

Eu precisava de Dimitri e quando ele parou para respirar eu ainda não estava pronta para me afastar. Fiz uma trilha de beijos de sua boca ao seu pescoço enquanto ele acariciava minhas costas. Quando cheguei a seu peito parei de beijá-lo e encostei minha cabeça nele para ouvir as batidas de seu coração.

–Como pude ser tão egoísta? – perguntei. – Eu nunca pensei que era uma pessoa tão má.

Mesmo que Tasha Ozera fosse uma vadia, ela era muito importante na vida das pessoas que eu amava. E por essas pessoas eu precisava ao mínimo respeitá-la.

Também não havia motivos para eu sentir ciúmes de Dimitri. Olhando naqueles olhos castanhos, eu tinha certeza que eu era a única no mundo dele.

–Você não é má, Rose – Dimitri disse. – Você é a pessoa mais forte e justa que conheço.

–Como você sabe disso? – perguntei.

–Eu sei disso porque você foi feita para mim, Roza.

Eu sorri e mordi meu lábio.

–Eu ainda não acredito que fui feita para um russo obcecado por histórias de faroeste – brinquei.

–Eu posso fazer você acreditar a qualquer hora – ele disse e sorriu.

–Eu te amo, Dimitri – eu disse beijando a bochecha dele.

–Eu te amo, Roza – Dimitri disse fazendo arrepios percorrerem meu corpo.

Seus braços se apertaram ao redor da minha cintura e ele voltou a me beijar. Por mais que todo meu corpo ordenasse que eu ficasse lá para sempre, me despedi de Dimitri com um último beijo e caminhei em direção a porta.

–Aonde você vai? – ele perguntou.

–Pedir desculpas a Lissa – respondi.

–Roza – ele disse sedutoramente-, você tem que terminar o que começou.

–Camarada, tenha certeza que finalizaremos isso mais tarde – eu disse fechando a porta atrás de mim.