Amor Mascarado escrita por LunaCobain


Capítulo 2
Máscaras / Mardi Gras


Notas iniciais do capítulo

Estou adorando escrever, espero que vocês estejam gostando.



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Eu estava lendo no meu lugar preferido do grande salão do Teatro, sentada debaixo do primeiro camarote número 5, curtindo um pouco a minha isolação, quando ouvi uma voz aguda de doer os ouvidos a gritar pra mim.

–Cathy, Cathy, você não sabe qual é a última novidade. Na verdade é terrível! - Adrienne veio correndo, balançando sua cabecinha loira. Deu uma olhada pro camarote, flutuando, alguns metros acima de mim e depois virou os olhos aterrorizados para o meu rosto. - Conhece a história da tragédia da Ópera Populaire, certo? E do Fantasma da Ópera? - Apenas assenti. Já ouvira a história mais de mil vezes.

Acontecera com a minha tataravó, Christine Daaè , de conhecer o Fantasma da Ópera, por quem era incondicionalmente amada e esse tipo de coisa. Não duvido que esse tal de Fantasma da Ópera tenha realmente exististido - é uma possibilidade - mas isso acontecera há quase cem anos. Ninguém, mesmo um fantasma, deve conseguir viver esse tempo todo. E mesmo que consiga, não deve querer a vida eterna. Portanto, era absurdamente ridículo que as pessoas acreditassem que, só porque o Teatro Abeau tinha sido construído sobre as ruínas do Ópera Populaire, o Fantasma ainda rondasse pelo local.Contudo, um fato importante era o de que os diretores da Ópera reservavam sempre o camarote 5, o meu preferido, de modo que eu mesma nunca pude assistir as apresentações nele, apesar de este estar sempre vazio.

–O Fantasma está de volta, realmente, Cathy. Eu o vi. Não é uma caveira. É simplesmente um homem, com máscara de caveira! - continuou Adrienne.

–Raciocínio impressionante, Adrie. Como chegou a essa brilhante conclusão? - perguntei, uma pontada irônica aguda demais para minha voz de contralto apareceu na minha voz. Mas pra mim, sempre foi óbvio que, se havia algum Fantasma por aí, era uma enorme farsa.

–Catherine Daaè! Como você é maldosa! Você vai ver. Afinal, amanhã é a terça-feira gorda - mardi gras– e teremos o baile de máscaras, conforme a tradição, hoje a noite.

Não! Baile de máscaras, de novo? Será possível que todo o ano eles tem que inventar essa festa? Eu até gostava, na época em que pararam de falar do Fantasma da Ópera, mas agora que os boatos estavam de volta, provavelmente voltaria a ser um escandalo. Adrie provavelmente viu minha expressão apavorada.

–Por Deus, Cathy, você é muito reservada. Tem que se soltar um pouco, sabia? Todos os garotos da ópera só tem olhos pra você, e a senhorita nem sequer olha pra eles. - A última frase foi dita com uma mistura de malícia com inveja, característica da loirinha fofoqueira que era Adrienne.

Enfim, chegou a hora do baile de máscaras, mas eu já havia decidido que não colocaria fantasia alguma, e nem sairia do meu quarto. Infelizmente, pra mim, eles resolveram abrir os quartos para que os corredores não ficassem tão abafados quanto nas outras festa, assim, as pessoas poderiam circular ali também - e o meu quarto, que era dividido com mais três meninas, ficava bem ao lado do salão principal. Á meia-noite começou a festa e, meia hora depois, o meu quarto estava cheio. Eu já acabara de ler o livro que estava lendo de manhã, então roubei um exemplar de O Fantasma de Canterville, de Oscar Wilde da grande biblioteca que era o armário da mais nova prima dona do Teatro Abeau, a bela soprano, Matilde.

Era isso que eu estava lendo enquanto meu quarto se enchia, como uma colméia de abelhas, de rostos mascarados e desconhecidos. As coisas começaram a ficar um pouco estranhas quando entrou no meu quarto, de modo mais discreto possível, um homem com uma longa capa vermelha e por baixo, uma fantasia negra. Ele era um pouco excêntrico, devo dizer, pois ninguém naquela sala chamava tanto a atenção quanto ele. Talvez isso se devesse também ao fato de que a máscara, que imitava perfeitamente uma caveira, cobria apenas a metade direita de seu rosto - e a metade esquerda, totalmente à mostra, compunha o rosto mais absurdamente lindo que eu já tivera o prazer de ver na vida. Me senti insignificante perante a presença do homem misterioso, e não fui a única. Todos viraram para encarar seus intensos olhos azuis ou seus cabelos negros meticulosamente penteados para trás com gel, ou ainda só a máscara que, devo admitir, o deixava com um ar quase assustador. Não consegui, depois do fato, achar razão para que ele pudesse estar ali, no meu quarto, enconstado na parede sem trocar uma palavra com ninguém. Mas, por algum motivo, estava feliz que ele estivesse ali.

E foi lá que ele continuou pelo resto do baile, encostado à parede do meu quarto, com seu jeito um pouco antigo e, por muitas vezes durantes aquelas horas, percebi o olhar dele sobre o meu rosto e me senti corar. Então ele ficava com um sorrisinho torto (meio sorriso, afinal, era tudo que eu podia ver - a metade de seu rosto divino) e desviava os olhos por um momento. Não sei quando nem como, mas comecei a perceber o quarto se esvaziando e de repente, ele tinha sumido. Não pude conter um gemido de tristeza, mas tentei ser o mais discreta possível quanto a isso, pois Adrie estava no quarto, recebendo gracejos de um garoto com uma franja horrível e ignomiosa.

No dia seguinte , fiquei procurando entre os habitantes e visitantes do Teatro qualquer um que pudesse ser o dono daquele rosto tão perfeito que eu vira no baile. Mas minhas buscas foram em vão, constatei. Ele não estava em lugar algum, não que eu pudesse achá-lo.

Essa terça feira gorda passou , ainda bem, mais rápido que as outras. Estava compenetrada em meus pensamentos, portanto, fiquei extremamente ausente na minha vida real. Porque, é claro, já estava começando a achar que o homem foi apenas um devaneio da minha cabeça, um sonho. Ele não estava em lugar algum.


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