Havia se passado duas semanas e eu não falara muito com Percy. Na verdade, eu o estava evitando.

Você deve se perguntar o porque. Resposta? Tracy. 

Aquela garota estava cumprindo o que havia dito, ela estava fazendo da minha vida um inferno particular. Mas eu não deixava barato, é claro.

Eu sei me dar com pessoas desse tipo, já convivi com muitas desse tipo.

Uma vez ela tentara colocar a sua pulseira de ouro em minha bolsa, mas Thalia a pegou no flagra e lhe deu uma lição. As pessoas ainda não tinham esquecido a nossa “briga”. Muitas ainda vinham me dizer como eu me sai bem enfrentando a víbora. 

Thalia havia descoberto também as marcas dos arranhões que eu tinha feito. Ela e Bianca me deram o maior sermão já ouvido na história da humaninade, dizendo que um dia isso se tornaria uma doença, essas coisas.

Elas tinham razão, mas eu não posso me culpar, minha cabeça anda cheia demais, eu não tenho raciocinado direito ultimamente. 

Percy todas as vezes tentava se aproximar de mim, mas eu não queria. Meu coração ainda estava confuso.

Ele ficou sabendo que Mark havia me procurado, e posso dizer que ele ficou uma fera. Ele passou dois dias sem nem sequer olhar na minha cara. As estaduais foram adiantadas pra daqui a alguns dias. Bianca, Rachel, e Jully estavam treinando as novas garotas que passaram no teste todos os dias afim de que tudo ficasse perfeito.

Infelizmente Tracy também entrou pra equipe, ela era realmente boa. 

Já era noite, e teriamos uma Ed. Fisica diferente. Nesse momento, nós estavamos indo para o vestiário ir trocar a roupa normal pela roupa de fisíca da escola.

Jully havia conseguido uma  farda para mim, mas eu não estava tão animada assim para ver como ela ficaria em mim.

 – Sabe jogar vôlei? – Me perguntou Thalia.– Digamos que não sou tão boa assim com os esportes, mas eu me garanto. 

– É melhor você saber jogar, até porque você está no meu time. – Disse Thalia dando um soco um tanto forte em meu braço.

Entramos no vertiário onde Jully me esperava encostava na parede segurando um short vermelho com um blusa polo branca. 

– Esse é a minha farda? – perguntei pausadamente.

– Sim. – Disse ela sorrindo. – Só tinha essa no estoque, me desculpa.

Ela jogou as roupas para mim e virou-se. Olhei para Thalia e ela sorria para mim.

– Não tem só está roupa no estoque, certo? 

– Claro que não. – Disse ela dando os ombros. 

Rolei os olhos e fui para a ala onde ficavam os banheiros. Entrei em um e me troquei. Assim que saí, uma rajada de vento frio entrou pela janela e me fez arrepiar toda.

– Wow, se Percy já te comia com os olhos quando você vinha pra escola toda cheia de pano, imagine agora! – Disse Thalia rindo abertamente.

Minhas bochechas queimaram fortemente, o que deu mais motivo para ela rir.

– Não é verdade. – Disse timidamente. – E gente, fala sério! Esse short tem o tamanho da minha calcinha!

 Apontei para o pequeno short que eu estava usando.

 – Larga de drama guria. – Disse Bianca colocando uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha. – Está perfeito!

 – E com essas pernas, aposto que você coloca Tracy no chão. – Disse Jully piscando para mim. 

Me virei para o espelho e fiz um rabo de cavalo com a fita que Rachel havia me emprestado. Me analisei no espelho perguntando-me se não tinha nem uma calça moletom no estoque.

– Vocês poderiam me arranjar uma calça moletom. – Sugeri.

– De modo algum! – Responderam Rachel e Jully ao mesmo tempo.

 Suspirei de decepção.Uma garota com os cabelos coloridos entrou correndo dentro do vestiário dizendo que o professor já estava chamando a todos. 

Eu e as garotas andamos sem pressa alguma até a quadra. Deixei que as meninas entrassem primeiro. Eu não estava acostumada a chamar atenção por causa do meu corpo, por algum motivo, eu não gostava disso.

Olhei para a arquibancada e vi que ela já estava quase cheia. Respirei fundo e entrei. Entrei rezando para que ninguém notasse em mim, o que não adiantou em nada.

Todos os olhares estavam direcionados a mim. Alguns garotos assoviavam dizendo coisas indecentes enquanto eu abria caminho entre eles.

Até mesmo o professor me observava com a boa entreaberta. Acabei olhando de extinto para a quadra e vi que Percy também me olhava, corei bruscamente.

Seu olhar tinha algo curioso, sua boca estava em um perfeito  “o”. Para minha pequena sorte, os jogadores pareceram não me notar.

Nico do outro lado da quadra, no time adversário. Ele levantou a bola e sacou, e por pura sorte de Percy, o percurso da bola foi para a sua direção. Como ele estava desligado do jogo, a bola acabou acertando o seu rosto com força.

Não pude deixar de rir com tal cena. Finalmente encontrei Thalia, ela estava sentada no canto mais excluído da arquibancada. Me sentei ao seu lado tentando me esconder. 

– Rapaz, só dessa olhada que Percy te deu, acho que...

– Sem comentários, por favor. – A interrompi no meio da frase.

– Mas...

– Thalia. – Disse olhando severamente para ela. – Por favor.

– Falou, você pareceu a minha mãe agora. – Ela disse direcionando o olhar para o jogo. – A única diferença é que eu não a obedeço.

– Porque?

– Não vem ao caso. 

Abaixei o meu olhar até o meu braço, as marcas estavam quase imperceptíveis agora, mas não me deixaram esquecer o que aconteceu naquele dia.

Piper me ligava todo dia, mas eu deixava o meu celular quase todas as vezes desligado. Meu pai tinha comprado um celular novo para mim. 

Há uma semana atrás, eu ganhei um carro do meu pai. Era um Volvo S 60 R vermelho, era bem confortável e quase não chamava atenção. Desse modo,  eu não precisava mais da carona de ninguém, o que era um alívio. 

O professor anunciou que o grupo de Thalia – cujo eu fazia parte – e o grupo de Tracy iriam jogar agora. Thalia se levantou em um pulo, enquanto eu fiquei fazendo drama para não ir para o meio da quadra.

 Tentei ignorar os comentários enquanto descia até a quadra, passei por Percy, e por um momento nossos olhos se encontraram, mas logo desviei. Um nervosimo me tomou conta, meu estômago deu um pulo, olhei por cima do ombro e vi que Percy ainda me olhava. 

Olhei para Thalia esperando alguma instrução do jogo, mas ela apenas se posicionou na quadra, fui atrás dela e acabei me posicionando no meio da quadra na frente da rede, como a levantadora.

 Tracy se posicionou no mesmo local que eu. Revirei os olhos.

 – Eu não sabia que antas sabiam jogar. – Disse ela irritantemente.

– E eu não sabia que putas jogavam. – Retruquei. 

Ela me fuzilou com o olhar e eu a encarei, sustentando-o. 

O professor apitou e o jogo começou.

O time adversário sacou, Thalia recebeu a bola, eu me virei e levantei a bola, Rachel veio e passou a bola pra frente. A tal da Drew, amiguinha da Tracy, recebeu a bola, a garota que tinha nos chamado no vestiário levantou a bola e Tracy se preparou para passar a bola, mas eu, Thalia e Bianca preparamos um bloqueio.

Ponto para o nosso time. 

O jogo se baseou nisso: Saque, levantamento, corte e bloqueio. Acabou que o nosso time venceu. Thalia comemorou fazendo uma dança bem estranha, Percy sorriu para a gente e levantou o polegar dizendo em palavras mudas “Mandaram bem”. 

Depois que paramos com a comemoração, o professor nos liberou e fomos todos para o vestiário.Acabei me jogando no banco morta de cansada.

Ainda estava ofegante, fechei os olhos e fiquei apenas ouvindo o barulho que as outras garotas faziam: Chuveiros sendo ligados, elas gritando, secadores sendo ligados e desligados, algumas falando sobre o jogo, outras sobre roupas intimas, garotos e outras coisas banais. 

Quando todas se dispensaram, me levantei do banco e fui lavar o rosto. Thalia ainda estava terminando de se arrumar.

 – Gostou do jogo? – perguntou ela colocando a bolsa nas costas.

– Gostei sim, a gente trabalhou em equipe. – Disse eu lavando o rosto. 

– Que bom... – Ela parecia esta sorrindo. – Eu vou indo, está bem? Até amanhã.

 – Ta bom, até. – Disse eu tirando o sabão do meu rosto.

Thalia saiu do vestiário um tanto rápido. Fui até o meu armário do vestiário e peguei uma toalha de rosto. Enchuguei-o e me fitei no espelho. 

– Belo jogo. – Disse uma voz masculina atrás de mim. 

Dei um pulo e acabei pegando uma vassoura que estava ao lado da pia, fiquei em posição de ataque.

– Calma Annabeth. – Disse Percy saindo das sombras.

 Soltei uma risada nervosa. Coloquei a mão no peito e fiquei respirando fundo.

Por algum motivo, meu coração começou a bater forte. Olhei para Percy e ele estava a menos de 2 metros longe de mim. 

– O que você quer? – perguntei um tanto ríspida demais. 

– Só quero conversar. 

Andei até o meu armário, passei por Percy, abri a porta e peguei a minha bolsa. 

– Conversar sobre o quê? Percy segurou o meu pulso, me livrei para ele e cometi o erro de olhar em seus olhos.

– Para de me ignorar. Isso está me matando. – Disse ele com o olhar intenso. 

– Não estou nem um pouco afim de fazer isso. – Disse tentando manter a linha de raciocínio.

 – Porque?

– Não quero mais problemas, minha vida já está um inferno.

 – Você está se referindo a Tracy? 

Eu tentei desviar o olhar, mas não consegui.  Percy estava me olhando de forma tão intensa que eu simplesmente não conseguia dizer ao menos uma palavra.

– Sim. – Consegui dizer.

– Não deveria se preocupar.

 – Porque?

Ele não me respondeu. Eu não tinha percebido, mas Percy já estava a menos de meio metro de distância de mim. Tentei recuar, mas eu estava encurralada. 

Os olhares de Percy alternavam entre meu olhos e minha boca.

E ele foi chegando mais perto...

E mais perto... 

Acabou que Percy me presionou contra a parede, sua mão esquerda parou em minha nuca, enquanto a outra estava em minha cintura. 

– O que você está fazend... – Mas ele não me deixou terminar a frase. 

Percy me beijou, eu queria ter recusado o beijo, mas foi mais forte que eu.

Relaxei e deixei a sua lingua se aventurar na minha boca. A cada segundo que se passava, o beijo ficava mais intenso.

 A mão de Percy foi para a minha perna, ele a levantou devagar, e eu sabia muito bem o que ele queria. Levantei as minhas pernas e as prendi na cintura de Percy, sua mão foi de encontro novamente a minha nuca, mas dessa vez, ele controlava os meu movimentos.

Até que o meu pulmão pediu por ar, nossas bocas se descolaram, mas Percy se atreveu a se aventurar por meu pescoço.

Puxei o seu cabelo de leve, Percy levantou um pouco a minha blusa. Eu estava agindo por puro instinto.

Toquei o queixo de Percy e trouxe o seu rosto para perto meu. Nos beijamos novamente, só que dessa vez com mais verocidade.

 Um barulho me trouxe de volta a realidade. Eu e Percy nos separamos rapidamente.

Olhei para a porta e vi Bianca arrumando as coisas que deixara cair. 

– M-me d-desculpe. – Disse ela gaguejando. – Eu só vim buscar uma coisa que eu tinha esquecido. Não queria atrapalhar nada. 

E ela saiu correndo em direção a saída. Olhei para Percy e nós dois rimos. Meu corpo ainda estava em êxtase.

Olhei novamente para Percy. Abri e fechei a boca várias vezes, mas nem uma palavra saía dela. A única opção que me sobrou foi pegar a minha bolsa e sair correndo para o estacionamento onde estava o meu carro.

E foi essa opção que eu segui.

Deixei Percy sem falar absolutamente nada. Eu corria rápido até a saída da escola. Entrei no estacionamento e virei a esquerda, onde estava o meu carro.

Entrei, coloquei as chaves, dei a macha ré e saí da frente da Goode High. Dirigi nervosamente até a minha casa, onde parei o carro e fiquei olhando para o volante. Minha respiração ainda estava entrecortada, minhas mãos tremiam e o meu estômago teimava em ficar dando pulos.

Olhei para o retrovisor e vi que um carro vinha. Esperei mais tempo e vi que era o carro de Percy. Liguei o meu carro novamente e entrei na garagem, sai do carro e entrei em casa rapidamente.