— Você me beijou!

— Impressão tua, querida.

— Mas… mas…

— Nossa foi tão bom assim que precisou gaguejar?

— Cala essa boca, Lucas. Cala essa boca.

— Vou fechar ela sim.

Ele me beijou novamente. Eu não entendia o que ele estava fazendo ali, ou o porque daquilo tudo, mas era bom. Era boa a sensação da barba mal feita dele nas minhas bochechas, incomodava um pouco, mas ainda assim era bom. Era boa a sensação de sorrir por dentro ao ver o sorriso de satisfação dele. Mas acima de todas as coisas boas, algo me tirava do sério. Aquela risada, aquele deboche, aquela incerteza de como seriam as coisas.

— Dá pra parar de me beijar?

— Não.

— Então eu vou embora.

— Por causa de um beijo? Cresce, Alice.

— Ah, desculpa se eu não quero estragar a nossa amizade com esse erro!

— Então eu sou um erro? Bom saber.

— Não… Eu não quero te perder, eu não quero ter que fingir nada perto de ti…

— Mas que bobagem é essa? Foi só um beijo, que droga!

— Tu sabe muito bem como eu sou, tu sabe que eu vou ficar remoendo isso pra sempre…

— Não exagera.

— Tu sabe que eu vou sonhar conosco andando por ai, de mãos dadas e tudo o mais…

— Alice…

— E se a gente fosse, não seria assim, porque tu é diferente, não gosta de nada comum e tudo mais e eu sou uma romântica incorrigível então nós só ficaríamos… Nos machucando e…

— Alice!

Ele nunca havia levantado a voz comigo… Será que eu tinha entrado num daqueles surtos em que eu começo a falar e não paro nunca e ele falou alguma coisa tão importante que… Eu não ouvi?

— Desculpa.

— Só não te preocupa.

— Não é fácil.

— Alice eu gosto de ti, de verdade. Mais do que eu já gostei de qualquer namorada minha. Eu te acho linda desse jeitinho inocente e natural que tu tem. Eu gosto do teu jeito enrolado de falar, e das tuas sardas. Eu gosto dessas tuas pernas finas e do teu sorriso quando algo dá certo. Eu gosto de ti tudo bem? E mesmo que eu diga que foi só um beijo…

— Dois…

— Tá dois, tanto faz. Não foi só isso, foram dois beijos que eu vinha querendo dar há muito tempo e continuava negando pra mim mesmo…

— Por quê?

— Porque eu também tenho medo ok? Eu também tenho medo de te perder, de não ter ao meu lado a única pessoa em quem eu confio, a única pessoa que vê quem eu realmente sou e não mais um rostinho bonito.

— Convencido…… — falei baixo.

— O quê?

— Nada.

— Mas então Alice, relaxa.

— Eu também gosto de ti… por aquelas coisas banais.

— Eu sei, mas tu tem o pacote completo e ainda assim me escolhe.

— É…

— Então, relaxa.

— Obrigada…

— Pelo quê?

Enfim o calei pela primeira vez, se soubesse que um beijo seria necessário já o teria feito há muito tempo. […]