"Deus fez do arrependimento a virtude dos mortais." (Voltaire)

Depois de eu ficar muito sem graça com o que tinha acontecido entre mim e Fredd durante os últimos tempos, ele me levou até a porta de entrada e disse:

– Eu acho que te amo. De verdade. A recíproca não precisa ser verdadeira, mas eu só sei que desde quando você chegou à este mundo, eu me sinto completo. - E me encheu de beijos pelo rosto.

Eu ainda estava muito confusa. Acho que o quê eu sentia pelo Nathan não era uma verdadeira paixão, meu coração não batia mais forte nem mais rápido, e eu não senti nada naquele beijo. Beijo. Fiquei tocando a minha boca para provar a mim mesma que ela ainda estava mesmo lá, com tantos beijos que eu recebera nos últimos tempos. Eu também ainda não estava certa do que sentia pelo Fredd, não mesmo.

Cheguei à casa de Andrus, entrei, bati a porta, fui até meu quarto, bati a porta. Daqui a pouco Andrus entra com uma expressão desesperada no rosto:

– POR ONDE VOCÊ SE METEU, FILHA DE TODO O PODER? EU ESTAVA DESESPERADO TE PROCURANDO! CARL E EU VIAJAMOS A CIDADE INTEIRA À SUA PROCURA! VOCÊ DEVERIA SABER QUE SAIR POR AÍ SEM AVISAR NÃO É CERTO!

– E VOCÊ DEVERIA SABER QUE NÃO É CERTO MENTIR!

– Do que você está falando? - Perguntou preocupado, como se já soubesse aonde estava e com quem estava.

– ESTOU FALANDO SOBRE VOCÊ NÃO DEIXAR EU FICAR PERTO DE FREDD POR SEU RANCOR DE MORGANA, SUA CRIATURA ESTÚPIDA!

– Olha aqui, mocinha, você me respeite...

– RESPEITO SE CONQUISTA, E VOCÊ NÃO ESTÁ CONQUISTANDO NADA COMIGO, VOCÊ ESTÁ FRACASSANDO NA SUA MISSÃO!

– Escute Gwen....

– CANSEI DE ESCUTAR POR HOJE. SAIA!

– Gwen...

– SAIA!

– ESCUTA AQUI, EU AINDA SOU SEU TUTOR RESPONSÁVEL E ESSA CASA AINDA É MINHA, EU FICO AONDE BEM QUISER!

– Mas eu não... - E então saí da casa, para espairecer um pouco, apesar de Andrus gritar meu nome milhares de vezes.

Fui até aquela casa de novo. A casa do dragão. A casa de Morgana. A casa de Fredd, meu amigo. Será que ele ainda era meu amigo, ou precisávamos necessariamente ser algo mais? Porque naquele momento eu precisava somente de um amigo e seu ombro.

Toquei a campainha e logo estava lá o meu príncipe amigo. Antes que ele pudesse perguntar alguma coisa, eu o abracei e deitei em seu ombro. Chorei. Chorei e chorei. Depois que eu saí daquele abraço milenar, ele me levou até o sofá, fechou a porta e sentou junto comigo.

– Quer um café, um suco, alguma coisa?

Eu só balancei a cabeça negativamente. Ele parecia esperar que eu me explicasse, e então eu o fiz:

– Eu cheguei lá, gritei com ele e saí correndo, eu não tenho coragem de voltar, Fredd. - E, voltando a chorar, disse: - O quê que eu faço?

– Sabe o que eu acho, Gwen? Eu acho que você deveria ir até lá, pedir desculpas pra ele porque você estava muito nervosa e conversar com ele, com calma.

– Mas como assim? Ele fracassou comigo e você quer que eu fique calma?

– Se você quiser chegar à um acordo, precisa ser à base do diálogo.

– Eu não quero um acordo, eu quero uma explicação muito convincente.

– Bom, você é quem sabe. - E me abraçou novamente. - Se você quiser ficar aqui esta noite, por mim tudo bem. - Olhei com uma expressão assustada para ele, até que ele me explicou: - Em quartos diferentes, bobinha. - Eu não contive o riso, e também não pude recusar a proposta. Logo ele me trouxe um cobertor e um chocolate quente, porque estava muito frio, e também me encheu de abraços para me esquentar. Quando caiu a noite ele trouxe uma camisola da mãe dele, que ficou enorme em mim, tive até que amarrar a alça para não aparecer alguma coisa... E então ele me fez ficar com muita vergonha:

– Sabia que você ficou linda nessa camisola? - E, segurando na minha cintura, completou - Muito linda mesmo. - Ele ia se aproximando, quando eu o afastei.

– Melhor não, Fredd.

– Você está certa. Seu quarto é o segundo à direita. Qualquer coisa o meu é o do lado. - Abaixou a cabeça e foi assim até lá em cima. Depois eu subi e descobri que aquela casa tem mais quartos do que uma zebra tem listras! Fui até o que eu estava 'hospedada', e me apaixonei. Era um quarto bem grande com uma cama com dossel no meio, e esta me lembrou o meu quarto na casa de Andrus. O quarto não tinha nada de especial, mas os móveis eram de um bege claro, puxando para o branco, com detalhes em ouro, móveis rústicos e caros. Eu me deito e logo Fredd bate na porta e entra com uma expressão alegre no rosto e diz:

– Vem comigo. - Eu o sigo até os fundos da casa, onde naquela mesma tarde eu havia visto o dragão. Aonde ele estaria agora? Olho para trás e vejo uma edícula grande, porém aberta, como uma garagem e lá estava aquela fera com boca de fogão. Me viro novamente e vejo uma toalha estendida no chão com uma tocha acesa ao lado, e em cima da toalha tem muita comida, uma fartura. Me sento ao chão, acompanhando os movimentos de Fredd, que se senta ao meu lado. Ele pega na minha mão e olha para cima, eu também o faço. Estrelas. Por um instante eu esqueci de onde estava e porque estava ali, e de quem eu sentia falta. Só me senti feliz por estar ali, com uma pessoa em quem eu poderia confiar e com aquelas estrelas, que me faziam sentir em casa.