Lembranças Sempre Voltam

-Maldito seja o editor… - Reclamou sonolenta Lin, ao pegar o celular no qual apitava.

Ela olhou e viu que havia uma nova mensagem. “Acorde e vá trabalhar pelo amor de Kami-sama!” Era o que a mensagem dizia. Lin olhou para o lado da sua cama, seu marido ainda dormia.

Ele era um homem bonito. Possuía longas madeixas lábios carnudos e uma aparência andrógena, o típico estereótipo de um japonês lindo. For a um milagre que Lin tenha conseguido se casar com Yuuki, pois este era um famoso guitarrista de uma banda japonesa.

Em apenas dois anos morando no Japão Lin tinha uma vida boa, era casada, tinha uma casa razoavelmente grande e ganhava um bom salário, tudo ocorria absolutamente bem se não fosse o seu maldito editor. Aquele homem não era mal, seu maior problema era ser grudento, viciado nos trabalhos dela e por ser completamente neurótico com as datas de entrega dos trabalhos da moça que mesmo sempre com tanta preguiça e enrrolação conseguia cumprir os seus prazos nas datas estipuladas.

         Pois bem, só que naquele dia ela realmente estava atrasada, pois aquele trabalho seria decisivo tanto para ela quanto para o editor. Para a moça aquela seria a chance de chefe da editora avaliar se o seu trabalho era digno para que ela pudesse publicar livros, ou ficar apenas na condição de novelinhas para revistas de meninas ou roteiros de mangás. Já para o editorzinho a situação era de apenas ganhar uma promoção e engraçar a carreira literária séria junto com Lin. Mas voltando ao assunto…

         Lin não queria de jeito nenhum levantar-se da cama, tinha dormido bem tarde noite passada, por ter ficado conversando com sua amiga Mayu; As duas se conheceram através de seus maridos. O marido do Mayu era o vocalista da tal banda, e um dia qualquer elas acabaram se conhecendo e viraram muito amigas. A questão era: Lin estava morrendo de sono, sem nenhuma inspiração e a espera de um serzinho às 6 horas da tarde na frente da sua casa esperando um trabalho maravilhoso.

         Ela se levantou, desceu as escadas até a cozinha, onde se sentou na bancada e começou a pensar em alguma coisa para escrever, mas nada lhe vinha à cabeça, ela ouviu então o barulho do chuveiro no andar de cima. Yuuki devia ter levantado… Ela olhou para o relógio, 9:00h, ele havia se levantado cedo demais para um Rock Star. Para Lin estar casada com um rock star era a coisa mais normal do mundo, o que para outros era uma grande coisa. Na verdade os dois não se falavam muito por causa dos trabalhos e por ultimamente não estarem se dando muito bem.

Lin estava realmente concentrada, mas nada vinha a sua mente. Sua linha de raciocínio foi quebrada pelo toque do telefone e pelo tombo que ela levou do banco com o susto que levou. Ao se levantar atendeu o telefone, e a voz que ela menos queria ouvir disse:

-          Bom dia Lin-senpai! Já começou a escrever? – Era o maldito editor, Lin teve que se conter para não falar umas boas para aquele ser.

-          Bom dia… São 9 da manhã, como você consegue estar tão feliz?

-          Você ainda não escreveu nada?! – perguntou desesperado

-          Ahh…Claro que já! Tenho a história toda na minha cabeça!

-          Que bom!

-          Só se for pra você… - resmungou a moça baixinho.

-          Como?

-          Na-nada não! Bom, vou voltar a escrever ok? Adeus

 E desligou. Lin suspirou e olhou para a pia que ficava atrás da bancada, decidiu lavar a louça para acalmar a mente. Em quanto se preocupava em lavar tudo e não quebrar nenhum copo ou prato como era de costume, ela sentiu dois braços envolverem sua cintura e um par de lábios deixarem um beijo no seu pescoço, e soltou o prato da sua mão, que se partiu:

-          Yuuki…Você me fez quebrar o prato.

-          Desculpe… Bom dia.

-          Bom dia; você não acha que acordou cedo demais?

-          Claro que não, eu fui dormir antes de você ontem- e despejou mais um beijo na pele clara da moça.

-          Yuuki… Pare com isso vai, sai pra lá – e empurrou delicadamente o outro para trás do seu corpo.

-          Bem… então – disse o homem em um tom trite- Eu acho que vou sair…

-          Tudo bem – Lin falou sem se virar

Apenas ouviu o barulho das chaves e logo em seguida o do carro saindo da garagem. “idiota…” ela pensava sobre si mesma “por que eu fiz aquilo? Assim só vamos nos afastar cada vez mais, e ele só tentou ser amável” Mas isso ela resolveria mais tarde, quando terminou de lavar a louça, foi até a sala, olhou pela janela e voltou a subir as escadas. Subiu para uma salinha pequena onde havia várias estantes cheias de livros e o seu computador. Ela sentou a frente da tela e ligou a máquina, ficou ali esperando que aquela coisa liga-se, se levantou e deu uma volta pela sala, abriu uma gaveta e viu um livrinho pequeno, o abriu e encontrou uma flor seca na qual gostava muito.

 Olhou de volta para a máquina, fechando o livrinho em seguida da gaveta, e se sentou na cadeira novamente agora encarando a folha branca digital.

 Após um tempo olhou para o relógio, que ficava ao lado do computador, marcava 10:00h. Ela voltou a encarar a tela do computador… três minutos se passaram e nada… Ela até havia escrito algumas linhas, mas não gostará de nenhuma deletando todas as palavras. 10:15h e nada.

Lin deu um berro e se levantou da cadeira indo até seu quarto que ficava no mesmo andar se jogando na cama. Seu olhar recaiu no retrato da cabeceira. Era uma foto. Era uma foto sua e de Yuu, que for a tirada no dia seguinte que se conheceram, estavam em um parque de baixo de uma árvore, ambos rindo, pois Yuu tinha contado algo engraçado e a foto foi tirada quando após a história e bem na hora em que Yuuki aproveitou para abraçar discretamente Lin.

Ela ficou observando a foto e se recordando de como tudo naquela época era lindo e como os dois se davam bem, como riam um do outro e dormiam depois de tudo naquele parque de baixo da mesma árvore, até que sem se perceber caíra no sono.

         Lin acordou quase caindo da cama, que por sinal era grande, se remexeu no colchão e olhou as horas:

-          11h40minh! –Ela berrou.

Voltou correndo para frente do computador, mas continuou a não escrever nada, parecia que todas suas idéias tinha ido tirar umas férias e lhe abandonado em quanto ela dormia. Lin abriu outro programa, MSN… para ver se tinha alguém legal para conversar ou distrair. Olhou a lista de on-line e viu sua amiga nela. E outra janelinha abriu, era Mayu:

-          OII - as letrinhas ia aparecendo magicamente na tela

-          Oiiiii

-          Tudo bom?

-          Tudo sim… com alguns problemas, mas estamos indo né?

-          Vixii… o que foi? Brigou com o Yuuki ou com o editor?

-          Com os dois pra falar a verdade…

-          Hum.. Já sei! Vamos fazer alguma coisa hoje?

-          Claro!

-          Então vamos à sorveteria?

-          Claro! Pode ser lá pelas 15:00h?

-          Aham! Te vejo lá então! Beijinhos!

-          Beijinhos! – e fechou a janela.

Voltou a encarar a folha digital, Lin já estava ficando louca com tudo aquilo, se não escrevesse algo rápido e relativamente bom, nem ela nem o editor teriam um final muito feliz, ou seja. Sem promoções e um cara chorando o dia inteiro do seu lado, e ainda tinha que resolver as coisas com Yuuki, pois o magoara aquela manhã

         Lin sentiu a barriga roncar, era hora de almoçar, o relógio marcava 12:30h, Havia perdido o dia inteiro e nada de escrever, mas se desesperou, pois tinha esperançar de que após uma refeição suas idéias voltariam.

Ela desceu as escadas e foi até a cozinha, abriu a geladeira, pensou um pouco e foi pegar telefone… teve uma idéia, discou uns números e uma voz masculina e calma atendeu:

-Moshi moshi…?

-Yuuki?

-Sim…

-É… você quer vir almoçar em casa?

-Não vai dar Li… To cheio de trabalho, escrever letras de musica e tal… mas obrigado pelo convite…

-A bom… - ela falou triste – Yuu, tem alguém com você?

Quando finalizou a frase ouviu uma voz de mulher meio estranha chamar o nome do seu marido, era certo que ela era muito mais nova que Yuu e talvez ele tenha se casado com a pessoa errada, talvez ele devesse ter se casado com alguém mais madura, mas por que então esconderia aquilo dela?

-          Ahh. Não tem não – ele sentiu que tinha acabado de magoar profundamente a mulher que mais amava.

-          Bom… era só isso mesmo… até mais tarde… Tchau…

Desligou triste, sem deixar o outro falar mais nada, uma lágrima rolou pelo seu rosto, ela limpou e foi então preparar o almoço. Comeu ali, solitária pensando no que Yuuki estaria fazendo e escondendo dela… pensou no passado e na sua foto de cabeceira… na flor no livrinho… Após realizar sua refeição ela se deslocou até o seu quarto se jogando na cama novamente, só que dessa vez não adormeceu, simplesmente deixou que as lágrimas rolassem sobre seu rosto repousado no travesseiro.

Quando tudo aquilo passou ela olhou no relógio que não estava ajudando também não estava ajudando. 13:30h da tarde, ela ainda tinha duas horas para tentar escreve algo até dar o horário de sair de casa para se encontrar com Mayu.

Lin se levantou e ficou andando de um lado para o outro no corredorzinho que levava, do seu quarto, até as escoadas ou a salinha do computador. Por que raios nada vinha a sua cabe as escoadas ou a salinha do computador. Por que raios nada vinha a sua cabeça bem naquele dia? Justo naquele dia? Ela sentou pela terceira vez naquela maldita cadeira já com a intenção de em ligar para o editor e fazer um draminha e se desculpar com ele, porém ele foi mais rápido e ligou para a menina que levou outro susto:

         -Akayama-senpai!! – Akayama era o sobrenome do seu marido. – Eu te liguei apenas para te avisar que infelizmente eu vou ter que chegar à sua casa as 19h00minh

-          Yes!! – Ela vibrou

-          Como?

-          Nada! Foi… foi… um espirro! Perdoe-me!

-          Tudo bem então!

-          Ok! Beijinhos

E desligou. Por mais que tivesse ganhado uma hora a mais aquilo não pareceu melhorar a situação. Lin ainda permanecia aflita por ainda não ter digitado nada nem sequer uma palavrinha naquela maldita folha! 14:00h, era melhor começar a se arrumar para sair.

 Tomou um banho, se trocou. 14:30h. Saiu de casa e foi caminhando entre as ruas de Tokyo. Ela caminhava distraída e nem se quer prestou atenção direito no caminho que fazia, quando notou que estava na frente de um café que lhe era familiar… “AH! Sim..” ela se lembrou, foi ali que certa menina recém chegada com vinte anos, sem querer esbarrou em um lindo homem de 27 anos e após dois anos eles se casaram.

 Uma nova lágrima escorreu dos olhos de Lin que balançou a cabeça e voltou a andar, até chegar à sorveteria.

-          Oi Mayu! – as duas se cumprimentaram

-          E ai? Como vai de trabalho?

-          Nem me fale! Tenho que entregar uma história hoje às 19:00h e ainda não escrevi nada…

-          Vixi.. Meu deus… e o Yuuki como vai?

-          Não sei ao certo…

-          Como assim?

-          E eu não sei mais o que acontece entre mim e o Yuuki… ele anda muito estranho ultimamente… hoje eu liguei pra ele pra saber se ele queria almoçar comigo… só que eu ouvi um não como resposta e ainda por cima uma mulher chamando o nome dele… Mayu… o que eu faço? – Lin começou a chorar… - lembra como agente era feliz quando nos encontrávamos no parque? E fazíamos piquenique? Eu você e o Yuuki e o Takashi??

-          Calma Li! É apenas uma fase… tudo vai se acertar você vai ver… vai ver o Yuuki só está um pouco confuso sei la… o Taka já passou por isso…

-          Mas vocês se casaram antes… e ele parece ser tão mais atencioso… Comigo e o Yuuki é mais cada um no seu canto e não fale comigo…

As duas amigas ficaram conversando sobre os problemas de vida alheira e tomando soverte por um bom tempo. Quando Lin olhou no relógio e disse:

         -Mayu! Mil perdões, mas eu preciso ir! São 16:30h. Tenho uma história pra escrever!

-          Tudo bem! Boa sorte!

-          Obrigada pelos conselhos e por me ouvir!!

-          Hahaha de nada!!

-          Vai sair com o Takashi hoje?

-          Claro! Haha – falou Mayu abraçando a amiga e se despedindo.

Lin correu para casa, parando apenas para observar aquele café mais uma vez…

         Quando chegou em casa, ela subiu as escadas correndo e entrou na maldita salinha pela quarta vez. Olhou no relógio. 17:00h. Mais duas goras até aquele pentelho do editor chegar.

Ela sentou novamente na frente da folha digital, só que dessa vez as palavras brotavam das suas mãos e ela acabou por escrever uma história sobre uma certa menina recém chegada no Japão com apenas 20 anos, que sem querer esbarra em um homem lindo de 27 anos em um certo café. Vitória! Ele tinha conseguido! 18:59h!

Imprimiu e ficou a esperar o editorzinho que as 19:01h bateu na sua porta, ela o deixou entrar e deu seu script para que ele lesse em quanto ela preparava um chá. Serviu e tomara… ela ficou muito apreensiva em quanto o editor lia…

-          Adorei – Ele comentou – é bonita e ainda por cima parece real!

-          Que bom que gostou? – Sorriu ao dizer aquelas palavras… mas queria matar aquele pentelho

-          Bem… então eu vou indo! Obrigado pelo chá e cruze os dedos!

-          Pode deixar! – disse Lin rindo.

Porém queria chutar aquele serzinho da sua casa. Pelo menos era um problema a menos, faltava agora o problema de beleza extrema e com atuais 29 anos. Ela iria esperá-lo no sofá, só que adormeceu.

&**&

Foi acordada com beijinhos nas bochechas:

         -Yuu… Você chegou tarde hoje… O que houve, e não minta de preferência…? – perguntou esperando a pior resposta.

-          É que eu não conseguia escolher, qual flor era mais bonita para te trazer…

Lin se levantou e olhou para as mãos de homem, um lindo e enorme buquê de flores. Ela pegou o buquê e o colocou no sofá, seguindo em direção aquele homem que tanto amava, colando seus lábios nos dele.

-          Mas e as vozes de mulher que eu ouvi!?

-          Era o Koutou me zuando…

-          Tem certeza?

-          Claro! E você não notou nada de estranho naquela voz de mulher por mais que foi o Koutou quem fez ela?

-          É… tava meio estranha mesmo… fala pra ele melhorar nisso…

-          Hahahaha! Ok! Eu falo!

Voltaram a se beijar. Yuuki por sua vez pegou Lin no colo e a levou para o quarto onde teria uma noite inesquecível.

&**&

         O telefone tocou… Lin acordou e olhou para o relógio. 8:00h da manhã. Quem seria o infeliz? Perguntava-se:

         -Moshi moshi… - perguntou sonolenta indo se deitar no peito desnudo de Yuuki

-          Parabéns!! Akayama – senpai! Fomos promovidos! – aquele pentelho do editor berrou na linha

-          Que bom… - ela respondeu sem nenhum entusiasmo

-          Então pode começar a escrever o seu livro de verdade! E você tem até terça-feira para me entregar o esboço com as idéias principais ok?

-          A não…- Lin desligou na cara do serzinho e voltou a se aconchegar nos braços do seu amado , que dormia cansado.

Fim!