Acordei com o rádio relógio apitando insistentemente no meu ouvido. Já eram 7 horas de uma segunda-feira. Hora da escola! Que por incrível que pareça eu estava com saudades. Esfreguei os olhos para afastar o sono e levantei. Mas assim que os meus pés tocaram o chão, eu senti como se toda a minha força tivesse se esvaído. Apoiei-me no criado mudo e andei cambaleante até o espelho que ficava ao lado do meu guarda roupa. A imagem que vi no espelho, foi de uma garota loira com o cabelo parecendo um ninho, pálida como papel e com os olhos azuis aparentando cansaço. Eu tinha dormido bem. Então porque eu me sentia tão mal? Fiquei olhando para o espelho tentando entender o que acontecia até Alice bater na minha porta.

    - Entra! A porta está aberta! – eu disse meio rouca

Alice estava radiante e tinha um sorriso que ia de orelha a orelha. Eu nunca a vira tão feliz como naquele momento. Mas assim que ela me viu, uma sombra de preocupação cobriu o seu rosto.

    - Lana, você está se sentindo bem? – ela perguntou

    - Estou bem! – eu menti – Só preciso de um bom banho para despertar!

Alice me olhou meio desconfiada. Ok! Eu sou uma péssima mentirosa! Ela sabia que eu não estava bem, mas resolveu não discutir. Peguei uma saia de cintura alta azul escura e uma camisa sem mangas branca e fui tomar banho. Porém, assim que entrei no banheiro, corri para o vaso sanitário e coloquei tudo para fora. Cambaleei até o chuveiro e comecei a tomar banho. Enquanto eu lavava o meu cabelo, eu pensava em todas as coisas que podiam ter me levado a ficar doente, mas não encontrei nada. Era estranho! No dia anterior eu me sentira tão bem! Ao acabar o banho e vestir a roupa, passei um batom rosa escuro e blush para disfarçar a palidez e não deixar óbvio que eu não estava bem.

Depois de prender a saia com um fino cinto vermelho, calçar uma
sapatilha branca, pegar um casaco e a minha mochila, eu resolvi enfrentar o meu desafio: Fazer as minhas pernas me obedecerem para que eu conseguisse descer as escadas. Em uma situação normal, eu teria ignorado a escada e dado um pulo com uma pirueta em direção ao chão, mas essa não era uma situação normal. Agarrada firmemente no corrimão, eu desci a escada com dificuldade. Arrestei-me até a cozinha e vi meu pai no fogão fazendo ovos com bacon. Alice estava sentada na mesa e usava uma saia jeans com pregas, meia calça preta, uma camisa de mangas listrada de preto e rosa, uma sapatilha brilhante preta, o colar de palheta prateada e brincos em formato de laço que combinavam com a tiara rosa de lacinho que ela usava no cabelo. Havia menos delineador, sombra e lápis de olho pretos em seus olhos e mais brilho em seus olhos. Vê-la feliz me deixava animada! Dava-me esperanças! Nada e nem ninguém podia estragar aquele dia para ela! E se alguém tentasse fazer isso iria levar uma surra, não importando se eu estivesse doente ou não. Após comermos o café da manhã, ouvimos a buzina do ônibus e corremos para fora com nossas mochilas. AH! Eu me esqueci de dizer uma coisa! No final de semana, meu pai matriculou a Alice no mesmo colégio que eu. A sorte dela era que a Clarisse tinha saído da escola, senão não haveria vaga para ela.

Assim que entramos no ônibus, todos os olhares se voltaram para nós. Uma garota que estava logo nos primeiros bancos e que tinha o caderno repleto de fotos da Taylor Swift ficou olhando para mim e para o caderno o tempo todo com cara de besta. Ignorei os olhares da garota e guiei Alice até os bancos onde Gwen e Julie geralmente sentavam. Mas, o meu lugar estava ocupado. Nele havia uma garota loirinha de cabelos até os ombros, olhos azuis bem claros e que usava cadeira de rodas. Ela vestia uma saia preta, uma camisa polo branca e um casaco vermelho amarrado nas costas.

    - Oi Lana! Oi, Alice?! – Gwen disse meio confusa

Nós duas acenamos para ela e eu apresentei a Alice a Julie.

    - Ah! Lana, essa aqui é a Emily! – Gwen disse me apresentando a garota de cadeira de rodas – Ela é minha amiga pianista.

A garota deu um sorrisinho tímido e me deu um “Bom dia!”.

    - Lana? – disse uma voz conhecida atrás de mim – Achei que você nem vinha mais para a escola!

Eu virei e dei de cara com o Mike! Eu achei que ele tinha saído da escola junto com a Clarisse!

    - Mike! – eu disse surpresa – Achei que você tinha ido embora com a Clarisse!

    - Esse é seu amigo sátiro? – Alice perguntou olhando para mim

Mike arregalou os olhos e desfez o sorriso que tinha no rosto.

    - Como você... Não fala isso alto de novo! Por favor! – Mike disse – Sentem aí vocês duas!

Nós duas sentamos ao lado dele e nós pedimos explicações para a Alice.

    - O Jake é um sátiro, e o pai dele também, depois de dois anos morando com eles, ficou bem óbvio para mim. – Alice respondeu

     - Quem é o pai desse tal de Jake e como você o conheceu? – Mike perguntou

    - O nome dele é Gleson Hedge. E eu conheci o Jake na escola. Ele achou que eu era uma meio-sangue, mas eu acho que era porque eu andava com uma garota chamada Piper McLean e eu tenho quase certeza que ela era uma meio-sangue. – Alice respondeu

    - McLean? Por acaso ela era filha do Tristan McLean? Aquele ator famoso? – eu perguntei

    - Acho que sim, mas ela não gostava muito de falar no assunto.

    - Ok, né? – eu disse

O ônibus parou e nós descemos nos separando de Mike e nos juntando com a Julie, a Gwen e a Emily. Por coincidência, os armários de todas nós ficavam próximos. Alice inaugurou o armário dela com um pôster do Simple Plan e ficou mais feliz que antes ao descobrir que iríamos ter a primeira aula juntas.

As aulas para mim passaram mais rápidas do que o The Flash correndo em alta velocidade. O recreio foi um pouco mais lento, pois a Alice ficou o tempo todo falando do quanto ela gostava de Muffins e Cupcakes, justamente o que tinha para o lanche da escola. Depois do recreio, veio a educação física. O professor de karatê faltou a escola e a Gwen, a Alice e eu, tivemos que fazer a aula com todo o resto da série. O professor mandou que déssemos três voltas na quadra. Três voltas na quadra para mim era moleza, mas mal como eu estava me sentindo, resolvi não arriscar na velocidade. Corri no ritmo das meninas, mas na metade da primeira volta, eu comecei a ver tudo girando e caí no chão desmaiada.

Quando acordei, estava na enfermaria do colégio com uma enfermeira ao meu lado. Minha cabeça doía, assim como o meu corpo todo. Eu sentei na cama devagar e a enfermeira olhou para mim com um ar de desaprovação.

    - Você não devia ter feito educação física nesse estado, Srta Johnson. Não devia nem mesmo ter vindo a escola! Da próxima vez fique em casa! – a enfermeira disse

    - Quanto tempo eu fiquei apagada? – eu perguntei

    - Meia hora. Seu pai está lá fora te esperando.

    - Meu pai está aqui? – eu disse surpresa – Eu estava tão ruim assim?

    - Não é nada disso. Só fazemos questão de avisar aos pais quando algo de ruim acontece. Pegue sua bolsa e vá para casa. Você precisa descansar!

Eu peguei minha bolsa, levantei da cama e encontrei meu pai lá fora com a maior cara de preocupado.

    - Você está bem meu amor? – ele disse me abraçando

    - Estou! Só quero ir para casa! – eu disse

Depois que voltei para casa, fui tratada como uma rainha. Fiquei o dia todo na cama sem fazer nada além de comer e dormir. Eu parecia até um neném. Agora a dúvida que ainda ronda a minha cabeça é: O que realmente está acontecendo comigo?