Ele estava ali, parado diante daquela porta, como se fosse a atitude mais difícil que já tomara em sua vida.

Com certeza não era, mas aquilo devia estar entre seus maiores desafios.

Não bateu e não avisou que estava ali. Apenas continuou fitando os vincos da madeira, um braço pendurado na tipóia enquanto a outra mão descansava no bolso da calça. O cigarro entre seus lábios já ia pelo fim sem que ele parecesse notar. Viera sozinho; os outros soldados já tinham voltado para a sede do Shinsegumi. Não o questionaram quando o viram desviar para o Distrito Kabuki ― eles não eram loucos de se meterem nos assuntos do Segundo Comandante.

Gin percebeu a presença do lado de fora e se aproximou da porta, desconfiado. Era um fim de tarde tranquilo e solitário, no qual ele não esperava a visita de clientes nem cobradores. Os garotos estavam no dojo de Tae-san, e seus planos para as próximas horas resumiam-se a ficar sozinho e acompanhado apenas de suas reflexões e lembranças. Ou no máximo, de uma garrafa de saquê para espantar ambas.

De súbito percebeu que conhecia aquela presença, que o calor e cheiro que seus sentidos podiam captar lhe eram mais do que familiares. Algo estranho fez seu estômago esfriar e ele se perguntou o que aquele miserável estava esperando ali.

― Estou esperando você abrir, desgraçado― Toushirou disse num resmungo, atirando a ponta do cigarro na rua lá embaixo.

O Shiroyasha puxou a porta de vez, com força, a respiração sôfrega. Aquilo era verdade, certo? Ele não tinha ouvido errado, tinha?

Não tinha.

A expressão do moreno ao fitá-lo era indistinta. Impassível, enquanto dentro dele tudo se revolvia furiosamente.

Era aquele sentimento agindo, aquele sentimento odioso que oprimia seu peito dolorosamente e o fazia se perguntar como raios podia se permitir gostar daquilo.

Como raios podia gostar daquele homem? Ele não era masoquista, era? Sempre achou que estivesse mais para sádico, embora não tanto quanto o capitão da 1ª divisão; mas masoquista era algo que realmente ia contra seu caráter. Mas nos últimos dias ele teve tempo para assentar como certeza aquilo que lhe atormentava como uma dúvida. Aquele sentimento existia. E era correspondido.

Do que mais precisava?

Gin o encarava de volta, sem saber muito bem o que fazer.

Logicamente não havia pensado muito naquele momento. Mesmo tendo mandado a carta primeiro, vinha se pegando ansioso e mesmo com um pouco de receio sobre o momento em que Toushirou o confrontaria. Porque mesmo pensando antes, não conseguia imaginar o que fazer naquela situação.

Mas agora que ela chegara, via que tinha sido bobagem se preocupar. Não precisava. E antes mesmo de pensar, seu corpo se movia por conta própria e a mão estendia-se para tocar o braço livre do moreno.

― Está vivo― ele disse simplesmente, e um sorriso feliz se desenhou tranquilo em seu rosto.

Toushirou piscou sem entender. Gin não falou mais nada, apenas o puxou para dentro de casa, para junto de si, para seus braços.

― Argh, minha costela está quebrada― Toushi resmungou quando o outro enlaçou suas costas.― Tome cuidado.

― Tomar cuidado? O que você entende disso?

Ele murmurou algo indistinto em resposta; estava cansado demais, até par discutir. Deixou-se ficar nos braços do mais alto, o rosto pressionado contra a curva de seu pescoço. Gin espalmava as costas do moreno com cautela para não machucá-lo, sentindo a mão dele se apoiar em seu ombro, ainda hesitante sobre onde deveria ficar. Estavam em silêncio, quietos, envolvidos no calor um do outro. Até que Toushirou ergueu o rosto lentamente.

― Você disse na carta que queria que eu lhe explicasse uma coisa, não foi?― indagou num murmúrio.

Gin encarou os olhos pequenos e profundos que lhe interrogavam.

E tudo no que conseguia pensar era que estava tudo bem. Estavam nos braços um do outro e estava tudo bem outra vez, mesmo não estando realmente. Não era mais o que ele pensava, mas o que sentia.

― Foi, eu disse― ele sussurrou, antes de tomar os lábios dele nos seus calmamente. ―Mas não precisa mais.