Sempre fomos felizes naquela cidade. Eu amava isso, mas tinha segredos que não queria me lembrar, me traziam uma uma enorme angústia. Segredos daquele período de minha adolescência que vivi lá juntamente de minhas amigas. Hunf! Tolices que qualquer adolescente é capaz de fazer...

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Ele fechou a porta vagarosamente. Virei-me para o balcão e escorei despejando sob ele o peso de meus braços. Minha mãe relia atentamente algumas contas.

– Então, mãe... Eu queria te pedir uma coisa

– Não. Eu não posso tomar seu celular. Foi uma regra de seu pai, esqueceu?

– Mas... Não é bem isso...

– Diga então, se puder lhe ajudo.

– E foi assim... Ela não deixou!

– Não acredito! Então, você não poderá ir na festa de Matt? - Ariel disse fixando seu olhar em mim.

Claro, contei tudo de uma maneira diferente. Nada daquelas mensagens anônimas poderia chegar até elas. Muito menos os segredos que ainda escondia daquela pequena cidade...

Flash Back - Passado

– Corram antes que alguém nos veja!

Corremos e silenciosamente entramos em um celeiro abandonado, lá ficamos por algumas horas, escondidas. Estava escuro e não havia chances de alguém nos encontrar. Teias de aranha, objetos enferrujados e toras de madeiras amontoadas formavam a decoração obsoleta do local.

– Não acredito que fizemos isso...

– Fizemos... E agora, temos que esconder tudo! Vocês prometem isso?

– Sim, prometemos...

Fim de Flash Back

– Não... estou de castigo... - disse abaixando os olhos.

– Calma, esse não é o fim do mundo! Ela vai sim, basta encontrar uma desculpa! - Sarah disse animando a mim e a todas as três. Rimos juntas e, logo levantei-me cautelosamente para me despedir. Ao entrar no extenso corredor, pude ouvir o sinal tocando, enfim estava em silêncio, quieto. Segui até os primeiros armários, era lá que se encontrava o meu.

" Então, vai contar seus segredos à suas novas amigas ou quer que eu mesmo(a) faça isso? "

Ao abrir o armário, um papel rasgado caiu escorregando pelo piso de limestome francês. A mensagem novamente fora enviada pelo anônimo. Respirei fundo e, rapidamente a guardei entre as folhas do caderno.

" Sim, prometemos..." Essas palavras me vinham a cabeça enquanto caminhava até a próxima aula. Eu não podia, era um segredo que jamais poderia ir além de nós. Prometi a minhas amigas, não poderia contar para outras pessoas, mesmo que fosse minhas recentes amigas.

O sol do final da tarde projetava longas sombras em meu quarto. Naquele dia não tinha as várias atividades extra-curriculares. Era quinta feira e, amanhã seria a festa de Matt. Abri a gaveta vagarosamente e peguei uma pasta nomeada de "Para Sempre".

Aquela pasta trazia todas as recordações de quando vivi em Colville no estado de Washington. Foi lá que passei toda a minha infância e parte da adolescência. Foi lá que passei os melhores momentos de minha vida. Foi lá que conheci Carrie, Nicole e Katy.

Flash Back - Passado

– Então, se chamará Para sempre, pode ser?

– Hum. Pode...

– Toma, já recortei essas fotos!

– Vai ficar lindo...

– Vai mesmo... Aliás, cadê a cola?

– Na estante sua esquecida...

– Ah, qual é? Eu só...

– Só esqueceu! - rimos juntas, era mais uma noite que passávamos na casa de alguma delas. Desta vez, era na casa de Carrie.

Era exatamente 22h, a rua estava escura, apenas alguns fios de luz passavam entre a cortina de seu quarto e iluminava um pedaço da calçada. Carrie sempre tinha medo de olhar pela aquela janela, temia trocar olhares com Gavin, seu vizinho de frente.

Aproximei da janela e tirei um pouco do tecido da cortina de minha visão, pude ver a rua quieta e algumas das casas próximas.

– Candy, feche a cortina!

– Ah! Desculpe eu esqueci.

– Odeio aquele garoto... Eu até já tentei trocar de quarto com meu irmão, mas ele nunca quis... - completou Carrie se ajeitando no puff.

– Mas, por que? Você nunca disse!

Ela levantou-se encerrando a conversa e me convidou para ajudar na colagem das fotos.

Fim de Flash Back

Uma lágrima escorreu em meu rosto ao lembrar de Carrie. Abri a pasta e lá encontrei um diário, também com o mesmo nome. Olhei para todo o quarto, nada mais era igual. Repentinamente tive uma vontade enorme de voltar para aquele antigo quarto, onde todas as lembranças estavam lá, como se ainda aqueles momentos estivessem vivos.

– Eu posso saber no que minha maninha está pensando?

Sorri e enxuguei uma lágrima que caía em meu rosto. Ele aproximou-se e sentou em minha cama me abraçando.

– Queria voltar para Colville?

– Como quero... Sabe, eu já fiz amigas por aqui, mas... - ele me interrompeu.

– Nicole, Katy e Carrie... Nossa, como eram amigas, todos os dias tinha um bilhetinho delas para você lá na varanda. Sério, chegava até a dar nojo...

Ele acabou provocando uma risada em mim, respirei fundo e continuei:

– Mas no fundo, elas ainda existem aqui para mim... Entende?

– Entendo... Assim como meus jogos também existem aqui.

– Seu palhaço! - sorri e fiz uma pausa - Mas é claro né? Aliás, você é muito sortudo sabia?

Quando mudamos para Nova York, alguns de seus amigos também vieram, já que seus pais eram da mesma companhia que o meu. Na verdade ele não os conheceu no colégio e sim e uma festa da empresa. A partir daí, sempre se encontraram para uma partida de jogo. Ele era muito sortudo mesmo...

– Olha, vou indo maninha... To indo encontrar com eles. "Falou"!

– Hum. "Falou" então...

Ele saiu do quarto fechando a porta. Sorri e voltei minha atenção para o diário, eram inúmeras fotos e inúmeras recordações...

Após algum tempo, o sol já havia se escondido. Já era preciso ligar as luzes. E foi isso que fiz, mas apenas o abajur, ele era o necessário. Ao sentar-me novamente na cama, analisei a janela na parede direita. Algo fazia barulho e se esforçava contra o vento para permanecer ali mesmo.

Era um papel, rasgado como sempre, uma mensagem anônima como sempre. Peguei-a e me assustei ao ler a frase escrita à lápis.