Volto Por Ti! escrita por river song


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Recomendo ler ouvindo essa música.
http://www.youtube.com/watch?v=6jamJM8dpnE&feature=relmfu
Me inspirei muito nela pra compor a fic *-*
Espero que gostem!



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Neji, 1948




O cheiro ocre do sangue espalhado pelo chão combinava perfeitamente com o medo estampado na face de meus companheiros e também na minha, a guerra já se arrastava por meses a fio e suas chances de acabarem logo eram mínimas, todos nós no front de guerra sabíamos muito bem o que aquilo tudo significava, mais mortes e mais dor, milhares de lares destruídos em nome de um governo que nos considerava apenas estatísticas, nas noites daquele inverno rigoroso nossas respirações se misturavam com o ar frio formando pequenas nuvens no ar, não havia fogueiras e sequer uma única lâmpada podia ser acesa, nossa posição era uma informação mais valiosa do que alguns de nossos membros perdidos por hipotermia, eu podia claramente ver o horror nos rostos jovens dos recrutas que acabavam de chegar, quando trazidos para cá a única coisa que podíamos fazer por nossa segurança era rezar, rezar para estar vivo quando o fim desta guerra chegar, rezar por um futuro que para alguns nunca chegaria, mesmo que se fechasse os olhos ainda era possível ver a claridade das bombas misturado ao vermelho do sangue, não era preciso muito para encontrar corpos completamente mutilados e descartados como lixo em um canto qualquer, o gosto amargo da derrota me assolava a cada vez que um dos nossos morria em combate, e toda noite ao fechar os olhos tremendo de frio eu buscava imagens de meu passado tranqüilo para ajudar a suportar o dia seguinte, não podia impedir que lágrimas escapassem de meus olhos ao pensar que talvez futuro igual nunca chegaria, que nunca mais veria a garota que assolava meus sonhos em todas as noites, desde sempre. Certa vez escrevi para ela uma pequena nota, onde seu principal significado era que soubesse que eu ainda estava vivo, ainda me lembro perfeitamente das palavras ‘‘ Olá Hinata, tudo está muito bem por aqui, considerando o fato de que eu estou inteiro. Nossa posição é segura, não se preocupe. Eu te amo. Neji. ’’ Quanta mentira em tão poucas palavras ainda que eu estivesse vivo, nossa posição era longe de estar segura, muito pelo contrario, há algumas noites fomos descobertos em uma emboscada e quase metade me meus companheiros havia morrido na batalha, mas ela nunca soube disso, porque não consegui mais mandar nenhuma palavra, só esperava que ela estivesse bem, na verdade eu implorava aos céus para que se fosse preciso me machucasse, mas deixasse minha pequena em paz.



Hinata, 1949




O hospital era bom para mim, não em deixava ter pensamentos ruins, pelo simples fato de que não tinha tempo para pensar nem por um minuto, todos os dias vários feridos chegavam do front de guerra, muitos deles com a vida por um fio, sempre que mais alguém chegava éramos todos levados para a sala de atendimento tentando recuperar da melhor forma possível mais uma vida, durante a noite os leitos eram uma visão assustadora para quem não estivesse avisado, dezenas de homens gemendo em agonia travavam uma batalha interna pela sobrevivência, durante o dia era possível ver várias enfermeiras chorando a medida que os nomes dos mortos eram divulgados, isso apertava meu peito de tal forma que em algumas vezes era impossível de respirar, eu também tinha alguém na guerra, e todas as vezes que uma nova lista era colocada no mural eu corria com o coração apertado de medo para checar os nomes ali, enquanto algumas começavam a chorar, eu suspirava por não ser daquela vez que meu mundo desabaria, ainda tinha e provavelmente sempre teria esperança de que ele voltasse para mim, eu não tinha família e havia sido criada em um orfanato, Neji era a única pessoa que eu tinha de ligação com o mundo, não suportaria perde-lo para a morte.

Em uma manhã nublada que denunciava uma tempestade se aproximando mais um ferido havia chegado seu estado era de calamidade o corpo todo ensangüentado e parte dos dedos de uma das mãos estava faltando, o sangue pingava dali por entre as bandagens improvisadas e sujas de terra, as roupas puídas tinham diversos buracos e por um deles escorria um filete de sangue de um ferimento a bala, ainda assim ele andava, mesmo que amparado por uma das enfermeiras, seus pés descalços estavam completamente imundos, mas tudo o que eu vi quando entrei na sala de atendimento foram seus cabelos longos e escuros, por um momento a chama da esperança se reacendeu em meu peito, enquanto um dos médicos retirava a bala de seu peito o mais rápido possível por causa da respiração difícil do rapaz, meu corpo estava paralisado na porta, fiquei assim por muito tempo, enquanto todos corriam a minha volta eu não conseguia sequer pensar direito, somente quando todos já voltavam aos seus postos passando por mim parada na porta e a respiração do homem de cabelos compridos já havia voltado ao normal é que eu finalmente saí de meu transe, andando com passos hesitantes até a maca da área de emergência, temia que minhas expectativas terminassem em nada, mas precisava verificar com meus próprios olhos, encostei uma das mãos no aço frio da cama, levantando os olhos que estavam fixados no chão com medo do que veria, e vejo o rosto mais bonito que eu já podia ter visto, o rosto daquele por quem eu havia esperado durante todo esse tempo, seus olhos se abrem vagamente mostrando para mim aquelas orbes como a lua cheia, depois de piscar várias e várias vezes um sorriso dolorido se forma – Hinata ... – Ele diz cansado, sorrindo com lágrimas nos olhos eu coloco um de meus dedos em seus lábios o impedindo de continuar o que quer que fosse tentar dizer – Shiii, eu estou aqui meu amor – Seu rosto estava coberto de cicatrizes, uma queimadura de aparencia feia cobria parcialmente seu rosto e um corte no lábio ainda estava se fechando, sem me importar com a sua aparência, me abaixo sorrindo de leve, encostando meus lábios nos dele em um beijo calmo e cheio de saudades, enquanto uma lágrima que insistia em cair dos meus olhos escorria pelo meu rosto até chegar ao dele.



Cinqüenta anos depois.


O aroma doce vindo da panela de barro formava aspirais de fumaça branca e a colher de pau segurada pela mulher já idosa completavam o cenário daquela humilde cozinha no meio da fazenda, o sol batia nas janelas de vidro refletindo os milhares de pontos luminosos e mais além o brilho dos cabelos brancos e bem cuidados, ali era facilmente perceptível a presença constante de vida, as paredes coloridas em tons de amarelo suave deixavam a mostra os utensílios de cozinha velhos, mas muito bem lavados, retratos e mais retratos dos filhos e netos adornavam o resto da parede, mostrando as fases de uma vida, a mulher passando uma das mãos pelos cabelos muito bem presos em um coque no alto da cabeça olhou para a janela em uma busca silenciosa pelo marido, não encontrando sua silhueta em lugar algum, suspira derrotada voltando a prestar atenção no doce que mexia no fogão de barro, para os netinhos que chegariam ao final da tarde quando começariam as férias.

A porta se abriu com um estrondo assustando a mulher antes serena em sua tarefa, o homem ostentava um chapéu negro de cowboy na cabeça e uma camisa com as mangas arregaçadas até os cotovelos, uma calça jeans desbotada pelo uso quase diário nas tarefas da fazenda e botas igualmente usadas, os cabelos longos e brancos que outrora ostentavam um negro como a noite estavam escondido em baixo do chapéu. Assim que o viu a mulher com um brilho nos olhos sorriu e sua face enrugada pelos anos assumiu o tom jovial de uma garotinha recebendo um presente inesperado, simplesmente porque ele estava ali. Porque seu Neji havia voltado para casa depois de mais um dia.



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Notas finais do capítulo

Merece review ?
Adorei fazer essa fic, pra mim ela mostra que o amor supera tudo, que o amor é paciente e que não se desgasta ao primeiro sinal de problemas.
To torcendo pra ganhar o desafio, mas se não der .. Pelo menos eu dei o meu melhor. ^.^