- Nana! – Era a voz de Pedro Lanza. – Mariana? – chamou novamente. A garota suspirou e abriu a porta. Ela não conseguia nem ficar no banheiro em paz? 
- O quê? – perguntou com raiva. – Não posso sofrer sozinha? – disse, irritada, e saiu do banheiro, parando no meio da cozinha, se virou para o amigo. – O que foi? 
- Bom, eu achei que você precisava de um amigo... – ele deixou a frase no ar, se sentiu mal por parecer que estava o tempo todo atrás dela. Só queria que ela ficasse melhor, Pedro não estava agindo da maneira correta. Acima de tudo eles eram amigos, não eram? E amigos ajudam uns e os outros. Por que Pedro não podia deixar a honra de lado e abraçá-la? Aliás, honra? Ela que a perdera, não ele. Pedro Gabriel abaixou a cabeça, esperando à amiga dizer alguma coisa. Mariana se sentiu mal pelo modo que tratou o amigo, suspirou cansada e deu dois passos pra frente. 
- Desculpe, Pedrinho – pediu. – Não sei como agir – soltou, sincera. Foi até a banqueta da cozinha e se sentou na mesma, apoiou a cabeça nos braços, fixando um ponto qualquer da pia a sua frente. – Eu não sei o que fazer, não sabia qual reação esperar de Pedro. Por um momento pensei que ele entenderia, e no outro ele me ofende – conforme as palavras iam saindo, as lágrimas da garota a invadiam novamente. – Ele me machucou por tanto tempo que pensei isso não ser nada pra ele. Eu que sou suja? Sendo que foi ele que me traiu? – ela suspirou e jogou a cabeça na pedra gelada que revestia a bancada. – Eu não sei o que pensar. 
Pedro Gabriel observou a amiga e suspirou, ele não era bom em conselhos, simplesmente soltava uma piada e a fazia rir, mas não era isso que ela precisava agora. Ele chacoalhou a cabeça e pensou no que diria, se dirigiu até ela, sentando-se ao seu lado, pegou uma de suas mãos e as apertou. 
- O que você está sentindo, Nana? O que seu peito pede pra você fazer? – ele perguntou calmamente, quem sabe estava fazendo a coisa certa. A morena se espantou com a pergunta e calmamente se levantou, e olhando Pedro Gabriel prestou atenção no que sentia. 
O peito ardia, a dor da perda era tão grande... Ela se sentia vazia, seu segredo fora descoberto e ela se sentia nua, exposta. Seus dedos começaram a tremer, mas Pedro Lanza continuou a segurá-los. Voltou sua atenção pra dentro: o sangue pulsava cada vez mais rápido, seu coração pedia que voltasse atrás, que perdoasse, que sentisse. 
- Ele diz pra eu voltar atrás, Pedro Gabriel – a morena respondeu com a voz falha. – Dói, mas ele pede pra eu voltar atrás – ela repetiu, eles sabiam do que estavam falando. Ela suspirou e se jogou nos braços dele. – Mas e se não for certo? E se... 
- Shh – Pedro Gabriel a acalmou fazendo carinho em sua cabeça, de novo – Você nunca vai saber se não tentar – ele terminou. 
O silêncio reinou entre os dois, e na sala também, pois eles não escutavam nada, nenhum som, nem vídeo-game. Mariana entrou em conflito interno, analisando suas opções. Ela já tinha dado tantas chances pra Pedro que não sabia se valeria à pena de novo. Só que ele não tinha se relacionado com ninguém durante um ano, ao menos ninguém importante. Ele tinha escrito uma carta a ela. Ele tinha pedido perdão. E ela? O que ela tinha feito? Apenas o culpado e o machucado. Quem sabe ela devesse perdoar também, mas então se lembrou que agora era Pedro que não a queria mais. Soluçou. Pedro Gabriel continuava segurando-a. Então, quando ela finalmente tinha decidido o que fazer, seu nome foi chamado. 
- Mariana? – ela levantou no mesmo momento, olhando para a porta da cozinha com um pouco de esperança, porém não era Pedro. – Vamos? – Koba perguntou com uma expressão não muito boa. A garota murchou, acenou com a cabeça e se levantou da banqueta. Limpou as lágrimas do rosto de qualquer jeito com as mãos. Despediu-se de Pedro Gabriel e foi até Koba. Este se encontrava com os braços abertos, fazendo Mariana se enterrar neles sem nenhuma vergonha. 
Os dois se acompanharam para fora da casa, Pedro Gabriel e Thomas continuavam lá dentro, quem sabe pra conversar com Pedro, ou simplesmente porque queriam – eles eram amigos, apesar de tudo. 
- Vou te deixar em casa – Koba ofereceu e a morena só concordou. Não sabia o que dizer, não sabia mais o que fazer. Os dois não trocaram uma sequer palavra até Lucas a deixar na porta do apartamento. – Você vai ficar bem? – perguntou, já sabendo a resposta. 
- Eu vou sobreviver – ela sorriu e em seguida a porta se fechou entre os dois. Ela não se sentia mal por Koba, sabia que ele sabia que adiantaria nada ele ficar com ela nesse momento. Ela só queria dormir, dormir e dormir. E foi o que fez.